IMAGENS DA ADOLESCÊNCIA FEMININA NA REVISTA
CAPRICHO
Wanessa Gonçalves dos Santos Couto[1]
Paulo
Rogério Meira Menandro[2]
Introdução
Há mais de quatro décadas, a indústria
cultural vem dando especial e crescente atenção à juventude e à adolescência.
Mudanças desencadeadas no pós-guerra, que se refletem em processo de
modernização social desencadeado na década de 50, colaboraram com a criação de
uma cultura juvenil. Segundo ABRAMO, 1994, entre tais mudanças estão: o novo
ciclo de desenvolvimento industrial, a diversificação da produção e a criação
de novos bens de consumo, o pleno emprego, os benefícios do welfare state e a valorização social do tempo
livre, vinculada à redução da jornada de trabalho. Outras mudanças atingiram
mais diretamente adolescentes e jovens, como o aumento do período escolar. Para
outros setores sociais além das classes burguesas (que amplia o contingente
social abrangido pela noção de juventude), a extensão da escolaridade
obrigatória e o aumento da oferta de empregos para os jovens recém-egressos da
escola.
O aumento do poder de consumo destes
jovens empregados tomou um novo segmento de mercado, ocasionando rápida
resposta da indústria, que passou a gerar bens específicos para tal público,
sobretudo bens de diversão. São produtos que se tornam marcas juvenis de novos
padrões de comportamentos, que remetem à conquista de mais autonomia e
liberdade e à contestação ao mundo adulto diferente do deles. Neste contexto,
conflito geracional e rebeldia passaram a serem
considerados como aspectos inerentes à condição juvenil (ABRAMO, 1994).
Essa cultura
juvenil - voltada para prazer e divertimento, e com forte ligação com o
consumo - propagou-se por cinema, rádio, TV e imprensa, proporcionando
"experiências culturais simultâneas em diferentes partes do mundo"
(MIRA, 2001, p, 153) e fez da globalização um pressuposto para esse segmento de
mercado. SODRÉ (1992) atribui à noção de adolescência uma ligação direta com
interesses de mercado, uma vez que a administração atual do espaço social tem
forte influência dos meios de comunicação de massa, que “descobriram” os
adolescentes no início dos anos 60 e 'acolheram' parte de sua rebelião como
espetáculo (p. 83).
Alguns autores localizam na transição
entre os séculos XIX e XX o momento em que grupos juvenis passam a adotar
comportamentos não usuais, contrários às normas sociais vigentes,
problematizando o processo de transmissão das mesmas, fazendo com que a
juventude despertasse interesse acadêmico e tivesse maior visibilidade (ABRAMO,
1994).
Alguns autores, como discutido por GROPPO
(2000), sugerem o uso sociológico no plural do termo juventude, o que melhor se
ajustaria à diversidade de realidades em que pode ser vivida tal fase de
transição à maturidade. Seria possível dizer, então, que a juventude, como
categoria social, é uma representação e uma situação social simbolizada e
vivida com muita diversidade na realidade cotidiana, devido à sua combinação
com outras situações sociais - como a de classe ou estrato social -, e também
às diferenças culturais, nacionais e de localidade, bem como às distinções de
etnia e de gênero (GROPPO, 2000, p. 15).
Mesmo partindo da premissa de que a noção
de juventude é socialmente variável, é possível identificar características
comuns aos grupos de adolescentes ou jovens de sociedades distintas. ABRAMO
(1994) apontou três aspectos básicos que caracterizam a condição de jovem na
maior parte das sociedades (inclusive ajudando a entender porque muitas vezes
ela pode se manifestar como condição potencialmente problemática).
O aspecto da transitoriedade é um deles, já que o período em discussão
representa, na maioria das vezes, a passagem de uma condição social mais
dependente a uma outra mais ampla, a vida social adulta; uma passagem que se
subdivide em muitas outras. Tendo em vista a indefinição dos limites de início
e término dessa passagem, como também de direitos e deveres da condição
juvenil, ela é também caracterizada por ambigüidade. Mesmo quando a juventude
se torna mais extensa e percebida como portadora de identidade e cultura
própria, ela ainda é vista também como um período de passagem, transitório e
ambíguo, em relação à condição de cidadania plena do adulto, o que constitui
uma condição de suspensão da vida social.
Vale registrar que esses aspectos estão
potencialmente presentes na adolescência, mas não são exclusivos dela, podendo
se manifestar em alguns estilos de vida adulta. Pode estar em jogo a maior
probabilidade de repercussão de tais aspectos na adolescência. GROPPO (2000)
sugeriu, examinando a produção da psicologia sobre adolescência (ou juventude),
que a concepção primordial é a de um estágio da vida no qual é definida uma
identidade particular.
STEINBERG e MORRIS (2001) destacaram
algumas conclusões gerais sobre comportamento problemático na adolescência que
emergiram e que têm moldado a pesquisa sobre o tópico. Referem-se ao
reconhecimento da necessidade de: a) distinguir entre experimentação ocasional
e padrões duradouros de comportamentos perigosos ou potencialmente causadores
de problemas; b) distinguir entre problemas que têm suas origens e início
durante a adolescência e aqueles que têm raízes em períodos anteriores; c)
reconhecer que muitos dos problemas vividos por adolescentes têm natureza
transitória e são resolvidos pelo início da vida adulta, com poucas
repercussões de longo prazo.
Esses mesmos autores (STEINBERG &
MORRIS, 2001), na revisão que compreende investigações sobre adolescência
feitas durante treze anos, destacaram a tendência de estudo do desenvolvimento
adolescente em contexto, isto é,
tomando como foco principal não o desenvolvimento e o funcionamento individual,
mas sim os contextos nos quais esse desenvolvimento se dá, incluindo família,
grupo de pares, escola, situações de trabalho, e toda a diversidade de informações
sobre esses contextos que circulam na sociedade. Nosso trabalho se pretende
incluso em tal tendência.
Enfocar a adolescente feminina responde a
interesse especial de pesquisa. GROPPO (2000) ressaltou a existência de
vivências diferenciadas da juventude por adolescentes homens e mulheres,
"mesmo quando se trata de indivíduos de uma mesma classe ou estrato
social, do mesmo ambiente urbano ou rural, etnia, etc," (p. 6). É possível
falar em mais acesso dos homens a um maior leque de atividades, em maior controle
físico e psicológico e maior volume de interdições sobre a mulher, em vigência
de uma dupla moral sexual, entre outras diferenças. Isso toma o papel da
imprensa feminina dirigida às adolescentes proeminente já que pode fornecer
informações que estão interditadas por outras vias e ampliar horizontes sobre a
vida adulta feminina, explorando novas possibilidades sociais; embora também
possa contribuir para reforçar estereótipos e posturas conservadoras.
Jornais e revistas têm sido utilizados em
ciências humanas como fonte de material para estudos e pesquisas, por
proporcionarem caracterização tão detalhada quanto possível de ocorrências
sobre as quais pouca informação existe além daquela contida no registro
jornalístico. Além disso, a imprensa escrita tem importância histórica, por
anteceder o rádio e a televisão, e prática, por ser muito diversificada e
permitir acesso facilitado devido ao baixo custo de arquivamento e recuperação.
A imprensa feminina teve e tem expressiva
participação na construção social do que se entende como "natureza"
feminina no âmbito da cultura brasileira e do que se espera em relação aos
comportamentos femininos em várias esferas da vida social, pelo menos para a
mulher de nível sócio econômico médio ou superior, que é a mais visada pelos
veículos femininos, assim como a mulher jovem, "servindo para estimular o
mercado ao exigir eterna renovação" (BUITONI, 1186, p. 78). A pesquisa
brasileira produziu diversas análises das características e do impacto da
imprensa feminina em diferentes momentos da história do país (BUITONI, 1981,
1986; BASSANEZI, 1996; PARK, 1999; MARTINS, 2001).
MINAYO
et al. (1999) e
MIRANDA-RIBEIRO e MOORE (1997) constataram que meios de comunicação como a
televisão e as revistas estão entre as principais fontes de informação para os
jovens, destacando-se o seu caráter impessoal como favorecedor desta
preferência.
No caso das adolescentes a revista tem ainda mais relevância, pois
além de trazer informações para consumo individual sobre relacionamentos e
sexualidade, apresenta prescrições de comportamentos conectadas com a
atualidade, já que deve responder às dúvidas e necessidades reais da
adolescente daquela geração. Tais revistas contribuem não só para legitimar,
mas também para transformar e recriar padrões de comportamentos, interesses e
valores relativos à adolescência e, especialmente, à adolescência feminina.
Nosso estudo pretendeu identificar,
organizar e analisar interesses, comportamentos e valores retratados em
matérias jornalísticas publicadas em determinadas seções temáticas da revista Capricho, de forma a construir um
panorama das imagens com que a adolescência feminina é ali representada e
idealizada. Pressupõe-se que essas imagens da adolescência guardem
correspondência com as experiências da vida da adolescente brasileira de
família com renda média e, portanto, com as questões, preferências e
dificuldades dessa adolescência feminina real e atual.
Método
A fonte de dados utilizada foi a revista Capricho,
há algumas décadas destinada especificamente ao público adolescente, mas que,
quando de seu lançamento (junho de 1952, Editora Abril), era também destinada
às mulheres adultas. Nesta época, com conteúdo de fotonovelas, basicamente,
ganhou a preferência das leitoras, tornando-se a revista feminina mais
importante e com volume de vendas jamais igualado por qualquer publicação
feminina brasileira (BUITONI, 1986, p. 48).
Capricho é a mais conhecida revista brasileira
para adolescentes (MIRA, 2001), Sua fórmula editorial em vigor a partir de 1982
enfatiza moda, beleza e comportamento adolescente, incluindo sexo, drogas, e
relacionamentos interpessoais e intergrupais.
Pelo fato de muitos dos temas abordados,
dos exemplos citados e das soluções sugeridas nas matérias deixarem evidente
que a interlocução pressupõe uma leitora de razoável poder aquisitivo,
assumimos que a revista está mais direcionada para adolescentes de classes
média e alta (embora a revista não assuma tal interpretação). Isso não impede
de considerarmos que Capricho tem
importância destacada, já que tais adolescentes compõem um modelo ideal
aspirado pela maioria das adolescentes, inclusive as de classes populares (ver
ABRAMO, 1994). Trata-se de modelo que pode ser muito influente como gerador de
comportamentos e interesses potencialmente adotáveis, pois também está presente
em outros canais de informação.
Para ser vendável e atrair mercado de
leitoras e de anunciantes, a revista tem que estar inteirada das necessidades,
interesses e comportamentos da adolescente atual. Para isso, Capricho, hoje, conta não só com as cartas
das leitoras, mas também com a comunicação e as pesquisas através de seu site.
Procedimentos
adotados na coleta dos dados
Estabelecemos dois blocos cronológicos
com os quais trabalhamos: 1993 a 1995 (que chamamos de Primeiro Período); e
1999 a 2001 (que chamamos de Segundo Período). Definimos como alvo de análise
uma revista por trimestre em cada um desses seis anos, totalizando 24 edições
da revista Capricho.
Os conteúdos veiculados por Capricho podem ser classificados, quanto
à temática predominante, em oito conjuntos: 1) moda ou beleza, novos produtos
em geral, sempre com informação mesclada à publicidade; 2) matérias biográficas, cada vez mais com artistas; 3) material publicitário; 4) cartas de leitores com opiniões sobre
diversos assuntos veiculados em edições anteriores; 5) testes de conhecimento
ou de maturidade sobre diversos assuntos em um âmbito que, de forma geral,
poderia ser designado como circunscrito ao universo da vulgarização dos
processos psicológicos; 6) processos sociais ou políticos em destaque a partir
de algum evento recente, e que têm interesse geral; 7) facetas da diversidade
cultural, com abordagem que enfatiza a relação dos jovens com as diferentes
situações retratadas; 8) aspectos do cotidiano relativos a relacionamento
afetivo, amizades, relacionamento familiar, vida escolar, sexualidade, saúde e
prevenção de doenças, preconceitos, diferenças entre gêneros e
profissionalização.
Utilizamos o recurso metodológico da
Análise de Conteúdo, como proposto por BARDIN (1977). A técnica tem importante
função heurística, ao enriquecer as estratégias exploratórias, aumentando a
propensão à descoberta. Seguimos os três pólos cronológicos propostos: 1)
pré-análise; 2) exploração do material; e 3) tratamento dos resultados,
inferência e interpretação (p. 95).
A pré-análise indicou que a investigação
poderia ser conduzida de forma pertinente e com muitos subsídios a partir das
matérias reunidas nos blocos 6, 7 e 8, mencionados acima. Essas matérias constituíam
os relatos com mais menções aos interesses das adolescentes, às suas
preocupações, às prescrições de comportamentos, às ênfases em determinados
valores, às características pessoais ou comportamentais valorizadas ou
desvalorizadas, às implicações das ações de cada um em termos de seu universo,
pessoal, familiar e social.
Tais matérias constituíam uma mesma seção
da revista. De 1993 a 1995, tal seção intitulava-se Comportamento. Em 1999, passou a chamar-se Sua Vida. Nos anos 2000 e 2001 a mesma seção ganhou o nome Vida Real.
Para selecionar uma edição em cada
trimestre, utilizamos um triplo critério: aquela com matérias mais ricas em
discussões e prescrições de comportamentos, que ao mesmo tempo incluísse
matérias mais típicas do acervo geral da revista e que apresentasse ainda uma
boa diversidade de matérias na seção sob exame.
Para organizar as informações colhidas
nas matérias, foi confeccionada uma ficha de coleta de informações, composta
dos seguintes itens:
Para a classificação das matérias,
utilizamos um conjunto de categorias construído a partir da exploração do
material e das afinidades das palavras-chave descritoras de tais matérias. Tais
categorias, que chamamos de Grandes Temas, são: I) Conquista, ficar, namoro,
relações sexuais; II) Conquista, ficar, namoro, relações sexuais (ótica
masculina); III) Individualidade, normalidade, auto-valorização,
habilidade social; IV) Relações familiares; V) Profissões; VI) Diferenças de
gênero, comportamento masculino (geral); VII) Drogas; VIII) Turma; IX)
Religião, crenças; X) Política XI) Estudo, escola; XII) Violência sexual; XIII)
Relacionamentos pessoais mediados pela Internet; XIV) Viagens, aventuras; XV )
Ídolo; XVI) Outros.
Em muitas matérias é possível perceber a
ênfase em determinadas formas de comportamento, tomadas como mais razoáveis, ou
mais prudentes, ou mais aceitáveis, por corresponderem aos modelos preferidos
ou recomendados por segmentos sociais que se encontram no âmbito de influência
e de consumo da revista. Isso nos levou à estratégia de verificar, em cada
matéria jornalística analisada, quais valores estavam sendo representados e
privilegiados, quando fosse o caso.
TAMAYO (1997) afirmou que:
Do
ponto de vista da compreensão psicológica, o sentido com o qual são usadas as
palavras na linguagem quotidiana é mais importante do que o sentido técnico das
mesmas. A palavra valor diz respeito à oposição que o ser humano estabelece
entre o principal e o secundário, entre o essencial e o acidental, entre o
desejável e o indesejável, entre o significante e o insignificante. Ela
expressa a ausência de igualdade entre as coisas, os fatos e os fenômenos ou as
idéias. Desta forma, a palavra valor
aplica-se em todas aquelas circunstâncias em que uma delas é julgada superior à
outra, em que uma delas é objeto de uma preferência. O valor implica, portanto,
o rompimento da indiferença do sujeito diante dos objetos, dos eventos ou das
idéias. A manifestação de preferência por algo ou por alguém é, talvez, o
comportamento mais comum da vida cotidiana. Nesse sentido, a palavra valor
expressa uma experiência comum a todo ser humano (TAMAYO, 1997: 116).
Verificar que tipos de valores são
privilegiados por um veículo de imprensa dirigido a adolescentes é
especialmente importante por este ser um grupo em formação, do ponto de vista
social, no qual a adesão a valores ainda está parcialmente em processo.
Para considerar as menções a valores
diluídas nos textos, utilizamos como ferramenta na organização e na análise de
nossos dados o modelo de representação de valores desenvolvido por TAMAYO e
SCHWARTZ (1993). Não nos ocupamos com a discussão teórica em torno de valores,
mas apenas utilizamos as categorias (Grupos de Valores) de um modelo já
disponível como recurso metodológico complementar.
Apresentamos a seguir o Quadro 1 que
mostra os dez Grupos de Valores, sua associação com os fatores de ordem
superior, os tipos de interesses a que servem, e um conjunto de exemplos de
fenômenos e situações abrangidos em
cada caso.
Quadro
1. Demonstrativo de
Grupos de Valores, com os respectivos Fatores de Ordem Superior e Interesses a
que servem.
Resultados
e discussão - Informações iniciais
Foram analisadas 123 matérias publicadas
em CAPRICHO. As Tabelas 1 e 2 resumem
as freqüências de matérias que mencionam cada um dos Grupos de Valores, por
Categorias de Grandes Temas (para o Primeiro e o Segundo Período,
respectivamente).
Tabela
1. Freqüências das
matérias que mencionam cada um dos Grupos de Valores, por Categorias de Grandes
Temas – Primeiro Período 1993 a 1995.
* Na categoria XVI - outros, a matéria
encontrada é sobre o tema Aborto.
É possível dizer, inicialmente, que, no
Primeiro Período (1° P), representado por 55 matérias, houve 216 menções a
Grupos de Valores (média de 3,9 Grupos por matéria). No Segundo Período (2° P),
representado por 68 matérias, houve 264 menções a Grupos de Valores (3,9 Grupos
por matéria), evidenciando surpreendente equivalência.
Com relação às categorias de Grandes
Temas, destacou-se o fato de que a diversidade temática no 2° P aumentou
grandemente em relação ao 1° P (8 Categorias no 1° e 15 no 2°). Em relação à
questão da maior variedade temática percebida no 2º P, é possível que faça
parte de uma tendência atual que vem aumentando os temas de relevância social
em diversos tipos de periódicos ou suplementos juvenis conforme identificado
pela Pesquisa Os Jovens na Mídia (ANDI / IAS / UNESCO,
1999).
Tabela
2
* Nesta Categoria foram consideradas 5
matérias, mais partes de 2 matérias da Categoria I.
* * Na categoria XVI - Outros, as 6
matérias encontradas são sobre os temas: Festas, Violência, Preconceito, Distúrbios
Alimentares, Meio Ambiente e Culturas.
Enquanto a maioria das menções a Grupos
de Valores no 1° P se deu nas quatro primeiras Categorias de Grandes Temas
(85,7%); no 2° P, apenas 31,4% das menções ocorreram nessas Categorias, ou
seja, os 68,6% restantes das menções a Grupos de Valores distribuíram-se nas
outras 11 Categorias.
Destacou-se ainda uma Categoria com
acentuada relevância no 1° P, a Categoria III de Grandes Temas -
Individualidade / Normalidade / Auto-valorização /
Habilidade Social (18 matérias no 1° P e 1 no 2° P), na qual houve grande
concentração das menções a Grupos de Valores (74 menções ou 34,3% de todas as
menções do 1° P).
São matérias que apontam a necessidade da
adolescente refletir sobre si mesma, sobre auto-valorização,
sobre preservação das suas especificidades, sobre manutenção das suas vontades
frente às vontades alheias, mas, ao mesmo tempo, enfatizam comportamentos de
conformidade e tolerância em várias situações.
Uma característica peculiar nos textos do
2° P foi a ênfase em prescrições a partir de consulta
a especialistas (foram consultados 22 especialistas no 1° P e 47 no 2°). Não é
improvável que essa participação mais efetiva de especialistas tenha
contribuído para a redução de textos argumentativos, que forçam a reflexão,
gerando textos com respostas às questões mais diretas e baseadas em
conhecimentos legitimados "cientificamente".
Grupos
de valores mais citados
O Grupo de Valores mais citado em ambos
os períodos foi o Grupo denominado Benevolência.
Verificamos que foi um Grupo de Valores bastante enfatizado no 1° P no contexto
das relações da adolescente com as pessoas próximas: familiares, amigos,
vizinhos, namorados e "ficantes". Já fio 2°
P, as menções à Benevolência recaem
em assuntos relacionados ao namoro e ao "ficar". Auto-determinação
foi o segundo Grupo de Valores mais mencionado, em ambos os períodos.
Apesar de algumas diferenças de menções a
certos Grupos de Valores dentro de Categorias de Grandes Temas, como veremos a
seguir, foi observada grande semelhança nas menções aos Grupos de Valores,
entre os dois Períodos, quando considerados os "fatores de ordem
superior" associados (Auto-promoção, Abertura,
Conservação e Auto-transcendência) e os "interesses a que servem" (individuais,
Coletivos ou Mistos ), como pode ser visto nas Tabelas 3 e 4.
Fica evidente a estabilidade nas
características dos Grupos de Valores mencionados nas matérias de Capricho, nos dois períodos analisados.
Menções
aos grupos de valores por categorias de grandes temas
A) CONQUISTA – FICAR – NAMORO - RELAÇÕES
SEXUAIS - Categoria com a maior quantidade de matérias (29) e de menções a
grupos de valores (91) considerando-se os dois períodos analisados. O número de
matérias e o percentual de menções a valores foi equilibrado nos dois períodos.
A diferença mais expressiva entre os dois períodos, foi a
diminuição, no 2° P, das menções ao Grupo de Valores Realização.
B) CONQUISTA - FICAR - NAMORO - RELAÇÕES
SEXUAIS (Ótica Masculina) - Categoria com uma interessante diferença quanto aos
grupos de valores citados. No 1º P, houve predominância marcante de menções aos
Grupos de Valores Benevolência e
Hedonismo. Já no 2° P, observou-se o surgimento de outro destaque: Tradição, seguido de Benevolência e Hedonismo.
Tabela
3. Freqüências e
Percentuais de Menções aos Fatores de Ordem Superior Associados aos Grupos de
Valores - Primeiro Período: 1993 a 1995; e Segundo Período: 1999 a 2001.
Tabela
4. Freqüências e
Percentuais de Menções aos Interesses a que servem os Grupos de Valores -
Primeiro Período: 1993 a 1995; e Segundo Período: 1999 a 2001.
As menções ao Grupo de Valores Tradição
explicam-se pela acentuada desvalorização de atitudes femininas que revelam
excessos de liberação sexual e de inversão dos papéis de gênero mais aceitos em
nossa cultura.
C) INDIVIDUALIDADE - NORMALIDADE – AUTO-VALORIZAÇÃO – HABILIDADE SOCIAL - Devido à diferença marcante entre os
períodos quanto ao número de matérias e de menções aos valores, comparações
quantitativas entre eles perdem sentido. Os Grupos de Valores mais citados
nesta Categoria foram Autodeterminação,
Benevolência e Segurança.
D) RELAÇÕES FAMILIARES - Categoria
de Grandes Temas pouco abordada (6
matérias no 1° P e 3 no 2° P). Os Grupos de Valores mais citados, nos dois
Períodos, foram Tradição e Benevolência.
Em 1993/1995 verificamos ênfase maior nas
conquistas que a adolescente pode realizar junto aos seus familiares (Grupo de
Valor Realização), envolvendo mais liberdade, privacidade, auto-direção
e independência (Auto-determinação) e que se tornam mais fáceis de alcançar com
uma boa dose de conformidade, de aceitação de condições, e não de revoltas ou
discussões.
O Grupo de Valores Tradição, nos dois Períodos, foi muito mencionado pelo fato da
segurança familiar ser algo valorizado na maioria das matérias sobre a
Categoria de Grandes Temas "Relações Familiares".
No período 1999/2001 os Grupos de Valores
mais enfatizados foram Tradição e
Benevolência.
E) PROFISSÕES - Categoria com apenas uma
matéria (bastante abrangente) no 1° P. No 2° P apareceram seis matérias, a
maioria tratando de profissões específicas, como modelo, atriz ou cantora. É
interessante notar que são profissões compreendidas por muitos como
"mágicas", pois dependeriam de habilidades pessoais que dispensam
treinamento específico, além de estarem sujeitas a fatores casuais como
"ser descoberta", visão que a revista contesta.
O Grupo de Valores Realização foi enfatizado nos dois Períodos. No 1° P, relacionou-se
mais ao êxito e a “obter o que se propõe”. Já no 2° P, foi acrescentado ter
ambição e obter sucesso, tendo em vista que riqueza e sucesso são aspectos que
envolvem as profissões enfatizadas neste Período. Tais aspectos estão também relacionados
ao Grupo de Valores Poder Social, enfatizado apenas neste Período.
No 1° P valorizou-se o aproveitamento,
pela adolescente, de todas as oportunidades possíveis (Estimulação) visando alcançar seus objetivos, sem deixar de lado os
momentos de lazer e descontração (Hedonismo).
Manter a estabilidade pessoal e ter vida organizada (Segurança) também foram pontos valorizados neste Período. Ter
responsabilidade, cumprindo seus deveres e obrigações, também foi destacado (Conformidade).
F) DIFERENÇAS DE GÊNERO - COMPORTAMENTO
MASCULINO (GERAL) -
Categoria abordada como tema central
apenas no 1° P. Os temas desvalorizados, na comparação entre os sexos,
incluíram algumas características femininas como a menstruação e o
sentimentalismo ou sensibilidade maior da mulher. Foram também desvalorizados:
o machismo, o preconceito contra a mulher no trabalho, e a tese do homem ser
intelectualmente superior à mulher.
Conclusões
possíveis
Um trabalho investigativo da natureza do
que realizamos não permite falar em conclusões, pelo menos da forma como tal
expressão é entendida em algumas outras modalidades de atividade científica. Ainda
assim, é possível fazer considerações reunindo as constatações mais expressivas
sobre as imagens da adolescência feminina na revista e sua relação com a
formação de identidade, pessoal e de gênero, da adolescente.
Para efetuar estas relações, enfatizamos
os temas abordados no modelo ideal (perfil) da adolescente identificado na
revista Capricho por entendermos que
se relacionam aos fatores cruciais que interferem no desenvolvimento das
características pessoais que definem a individualidade, e na formação da
identidade. São eles: a) Família; b) Amigos, Turma; c) Namorar, Ficar,
Relacionar-se sexualmente; d) Escola, Profissionalização.
Foi possível constatar algumas mudanças
na imagem / perfil da leitora de 1993/1995 para aquela de 1999/2001, apesar do
pouco tempo decorrido.
No 1° P, a grande ênfase na Categoria III
(Individualidade – Normalidade – Auto-valorização - Habilidade
Social) indica um perfil de adolescente que costuma agir por influência dos
outros, se sentindo pressionada, tendo dificuldade em estabelecer seus limites,
em se afirmar como alguém única com opiniões, desejos, preferências e
necessidades próprias, o que equivale à dificuldade de constituir uma
identidade bem definida. No 2° P parece comparecer uma leitora que recebe com
mais naturalidade as transformações pelas quais passa, pois não deu um “salto
radical” da infância para a adolescência, uma vez que já vem se informando e
vivenciando aspectos da nova fase. Assim, sentimentos de inadequação ou de
anormalidade deixam de ser tão freqüentes, pois, presume-se, não há um grande e
brusco estranhamento de si mesma.
Acreditamos que isso se deva, em grande
parte, ao maior acesso às informações e oportunidades
possibilitas não só àqueles que chamamos de pré-adolescentes, mas também
às crianças, consumidoras de jogos inteligentes, vídeo-games e computadores,
sobretudo quando se fala de classe sócio-econômica com poder de consumo.
A própria televisão, meio de comunicação
mais popularizado, veio trazer a diversos lares novas abordagens do mundo
adolescente, proporcionando mais conversas e debates sobre assuntos pertinentes
a esta fase (MIRA, 2001).
Talvez por isso a adolescente de Capricho do 1° P, que ainda não fora
coberta por essa avalanche de informações sobre a adolescência (e
pré-adolescência), recebia da revista mais informações, para fazer com que
compreendesse toda a série de mudanças que lhe percorrem a constituição física,
o psiquismo e as relações com o ambiente social, e que estariam na origem de um
possível - mas não inevitável - estranhamento. Era visto como necessário que
esta adolescente entendesse tais mudanças e aprendesse a importância de
realizar suas próprias escolhas, tomar decisões, agir pelas próprias vontades,
crenças e possibilidades (limitações em relação às pessoas e às condições
materiais e culturais, entre outras). Ao mesmo tempo, foram enfatizados
comportamentos de conformidade e tolerância em várias situações.
A existência de dois pólos de ação em que
ora a adolescente deve se preocupar com sua auto-valorização
e com a realização de suas vontades, ora deve ser tolerante e conformar-se com
as limitações impostas, aproxima-se do que postula ANYON (1990) sobre
desenvolvimento de gênero. A autora discorda da “visão prevalecente de que o
desenvolvimento de gênero seja um processo unilateral de imposição, pela
sociedade, de valores e atitudes internalizados pelas meninas” e entende que
esse desenvolvimento “envolve tanto recepção passiva quanto resposta ativa às
contradições sociais”, o que vai gerar “uma série de tentativas no sentido de
se assemelharem a - e solucionarem mensagens sociais contraditórias visando o
que elas deveriam fazer ou ser” (p. 14).
Em relação à Família e às Relações
Familiares, foi extremamente valorizada uma política da boa convivência, em
ambos os períodos investigados. No 1° P, valorizou-se principalmente a
estratégia da adolescente negociar suas conquistas, buscar conversar com os
pais (ensinando e aprendendo), promover debates sobre questões polêmicas
(perguntando aos pais sobre eventos de sua juventude) e ter paciência com o
aprendizado e as mudanças dos pais. Medidas autoritárias foram desvalorizadas,
tanto as de iniciativa dos pais, como as da adolescente, quando tenta impor sua
vontade a qualquer custo.
No 2° P, as matérias sobre relações
familiares pouco mudaram, mas abordaram a situação da adolescente diante de
pais separados. De novo, enfatizou-se a boa convivência e, no caso da
separação, não se culpar, não tomar partido nas brigas ou julgar o casamento
dos pais. É importante separar a relação com os pais dos papéis desses como
cônjuges.
Questões do âmbito de Amizades e Turmas
foram abordadas em matérias que destacaram a importância de respeitar
diferenças e a importância de não transformar relações de amizade e de grupos
em situações de dependência. O bom humor foi destacado como importante para a
saúde do relacionamento com os pares.
A abordagem dos temas relacionados a
namoro e sexo foi freqüente. Dúvidas sobre comportamento afetivo-sexual são
(ainda) extremamente relevantes, considerando as expectativas das adolescentes
femininas e a definição de papéis de gênero.
No 1° P destacou-se a possibilidade de
"viver e ser feliz de várias maneiras", mesmo sem namorado. Ainda
assim, namorar foi muito valorizado. É preciso não ter pressa ou ansiedade, ser
cautelosa na conquista e não se precipitar em transar. Não se deve, ainda,
iludir ou magoar as pessoas nas relações.
Observamos, nos dois Períodos, que o
namoro foi privilegiado em relação ao "ficar", ANDRADE e NOVO (2000)
afirmam que, da mesma forma que os jovens, alguns adultos (e pesquisadores)
trazem consigo uma garra de valores que norteiam suas interpretações e análises
sobre o adolescente. "Alguns tendem a avaliar, por exemplo, a ausência de
compromisso do ficar com um esvaziamento do sentimento, aliando, desta forma,
sentimento a permanência ou continuidade, herança do amor romântico instituído
no século XIX" (p. 104). Esta associação entre sentimentos e relações
duradouras não é "natural", ela foi construída historicamente e pode
influenciar a valorização do namoro em detrimento do "ficar", já que
buscar relações duradouras pode trazer, para a adolescente, benefícios
valorizados socialmente.
No 1° P frisou-se que a adolescente não
deve ser excessivamente desconfiada com o namorado, que ela deve "entender
a cabeça masculina" e que, no "ficar", coloque limites e
controle a ansiedade e o ciúme, não criando muitas expectativas.
Em tais prescrições, evidencia-se a
ênfase na existência de um universo
masculino e um universo feminino,
cabendo à mulher entender não só o seu próprio universo de significados,
crenças e comportamentos, mas também o do homem, o que sugere um aparente (e
sutil) poder feminino implícito na possibilidade de entendimento dos dois universos. É possível estarmos
diante de viés decorrente do fato de Capricho
ser uma publicação feminina. Ainda assim, a solução editorial não precisaria
ser sempre desse tipo.
No 2° P, as menções a comportamentos de
liberação sexual feminina ocorreram com freqüência aumentada, sendo destaques
como temas desvalorizados. São exemplos: agir sem princípios ou não ter
critérios de escolha para ficar com garotos, ter fama de "fácil",
além de transar por influência das amigas ou por pressão do menino.
Mesmo percebendo a conotação negativa de
tais comportamentos, a revista não os aborda de forma moralista, confirmando
estilo editorial que parece considerar que, se hoje a mulher adquiriu um certo
nível de independência e de iniciativa nas áreas profissional, familiar, social
e econômica, pode parecer incoerente para a adolescente que, no âmbito sexual e
afetivo, ela ainda tenha que esperar pela escolha masculina.
Nos dois Períodos, relacionar-se
sexualmente foi valorizado (mais no 2° P), mas no momento certo, quando se
sentir pronta, com consciência, naturalidade e intimidade, e com alguém que
represente interesse genuíno. A preocupação com gravidez e com AIDS (e outras DSTs) foi constante, com a camisinha sendo destacada como
prevenção eficaz.
As matérias de Capricho apresentam
abordagem bastante condizente com os oito pontos básicos para o conteúdo sexual
responsável nos meios de comunicação, relacionados por STRASBURGER (1999). Tais pontos são: 1) Reconhecer o sexo como uma parte saudável e
natural da vida; 2) Encorajar as discussões sobre sexo entre pais e filhos; 3)
Discutir ou mostrar as conseqüências do sexo sem proteção; 4) Mostrar que nem
todos os relacionamentos resultam em sexo; 5) Indicar que o uso de
contraceptivos é essencial; 6 ) Evitar ligar a violência com o sexo; 7)
Exibir o estupro como um crime de violência, não de paixão; 8) Reconhecer e
respeitar a capacidade para dizer "não".
Os temas associados à questão da
Profissionalização e da Escola apontaram a necessidade da adolescente
aproveitar as oportunidades que têm, quase sempre relacionadas às condições
sócio-econômicas das classes média e alta, porém, conciliando sempre os estudos
com lazer e diversão.
No 1° P enfatizou-se a busca de objetivos
e foi lançada uma edição especial sobre Profissões em setembro de 1995. A
adolescente deve ser paciente e não pular etapas, o que pode indicar mais
ansiedade percebida nas adolescentes neste Período. No 2° P, as matérias
abordaram profissões específicas, ligadas à fama, em paralelo à noção de cultura juvenil voltada ao prazer e ao
entretenimento.
Os dados permitem esboçar uma síntese das
características do “modelo ideal” de adolescente feminina que a revista
apresenta e que, supostamente, não deve estar longe do que as próprias
adolescentes gostariam de ser. Esse “modelo ideal” não seria idêntico nos dois
períodos, mas também não seria fundamentalmente distinto. Tal modelo é
compatível com a ênfase em determinados Grupos de Valores, como Benevolência, Autodeterminação e Segurança. É compatível, também, com as
preocupações muito mais reduzidas com outros Grupos de Valores, tais como Poder Social, Estimulação e Tradição.
Um amplo panorama das características da
adolescente modelo incluiria:
NO ÂMBITO DE SUA
INDIVIDUALIDADE: 1) Agir pelas próprias opiniões, desejos, necessidades, mas
considerando as possibilidades e as conveniências, ou seja, considerando
limitações; 2) Ter o próprio espaço, conquistado através de boas relações,
deixando claras suas discordâncias, mas sem se tornar rebelde, explosiva ou não
adaptada; 3 ) Ser
simpática, cordial e diplomática; 4) Cultivar o direito de ser diferente, mas
aceitar as diferenças entre as pessoas; 5) Refletir sobre as crises para descobrir,
aprender e crescer sem culpar os outros por elas; 6) Gostar de si mesma e se
valorizar, para viver e ser feliz de várias maneiras; 7) Ser divertida, ter bom
humor; 8) Ser independente e responsável.
NO ÂMBITO DE SUAS RELAÇÕES FAMILIARES: 9)
Manter boas relações familiares apoiadas em diálogo, ensinando e aprendendo,
negociando conquistas.
NO ÂMBITO DAS AMIZADES: 10) Cultivar
amizades com base em afinidades reais, sem passar por cima de seus valores e de
suas convicções.
NO ÂMBITO DO NAMORO E DO RELACIONAMENTO
SEXUAL: 11) Agir com liberdade, pautando-se num equilíbrio entre ousadia e
discrição; 12) Valorizar-se, fugir de toda vulgaridade, e ser conseqüente; 13)
Saber controlar expectativas, ansiedades e ciúmes; 14) Evitar agir de forma a
aumentar a chance de produzir mágoas, discussões e brigas; 15) Agir a partir de
razões e reflexões próprias, e não por influência ou pressão de outros; 16)
Relacionar-se sexualmente (inclusive na primeira vez) com consciência de estar
com parceiro com quem tem afinidades, o que proporciona naturalidade e
intimidade; 17) Conhecer e exercer cuidados de prevenção.
NO ÂMBITO DA ESCOLA / PROFISSIONALlZAÇÃO:
18) Não ficar esperando que as coisas aconteçam sem sua interferência e
colaboração; 19) Conhecer vários aspectos da realidade para poder formular
objetivos; 20) Aproveitar as oportunidades que se apresentem, sem a preocupação
de queimar etapas e garantindo tempo para lazer e descontração.
STRASBURGER (1999) destacou que os
adolescentes, em um período curto de tempo, precisam dominar um complexo
conjunto de tarefas: 1) estabelecer um senso de identidade; 2) estabelecer sua
independência em relação aos pais; 3) aprender a estabelecer relacionamentos
com os próprios companheiros e com o sexo oposto; 4) terminar a escolarização
formal; 5) começar a avaliar o próprio lugar na sociedade moderna e formular
planos para uma carreira ou emprego. Exatamente dessas demandas é que fala uma
publicação como a que analisamos.
É razoável pretender que as adolescentes
que lêem as matérias de Capricho contam com um meio a mais para ampliarem seus
conhecimentos, meio esse que supera as dificuldades de gerarem motivação
suficiente para conseguir atrair e garantir a atenção que alguns outros meios
enfrentam. Em outras palavras, a revista é buscada pela própria adolescente, sem
necessidade de procedimentos que gerem motivação, como muitas vezes a escola
precisa fazer (nela sempre com sucesso).
O processo investigado é de mútua
influência. O material publicado pretende estar em sintonia com a realidade das
adolescentes. A realidade das adolescentes sofre transformações relacionadas
com diversos fatores (inclusive a partir do processamento das informações
disponibilizadas pelos meios de comunicação). Tais transformações realimentam
todo o processo de reflexão, de re-elaboração cultural e de produção e difusão
de novas informações.
Lembramos que foram analisadas matérias
da seção em que a revista é menos limitada, não sendo possível avalizar como
interessante tudo que a revista publica. Ainda assim, acreditamos que é
possível dizer, pelo que constatamos nos dados, que a adolescência feminina é
vivida, mais recentemente, com menos dificuldades e imposições, e com mais
diversidade, criatividade e perspectivas do que já foi vivida não faz muito tempo.
Estaria se desenhando um quadro com mulheres cada vez menos “talhadas” para a
submissão. Seriam mulheres preparadas para lidar com o controle pleno de suas
próprias vidas e para exercer a cidadania com todas as exigências que isso
envolve. É um caminho ainda em construção, mas que parece apontar para um
padrão mais saudável de relações de gênero e de redução de algumas modalidades
de discriminações na vida social brasileira.
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Psicologia, 1:113-134, 1997.
Nota
sobre os autores
[1] Programa
de Pós-Graduação em Psicologia Universidade Federal do Espírito Santo - UFES.
WANESSA
COUTO: Rua Padre Antônio Ribeiro Pinto, n° 38 .- Bloco C, Apt°
309 Praia do Suá - Vitória -
ES - CEP: 29052-290 Telefone: 2357679. Endereço Eletrônico: wanessasantos@terra.com.br
[2] PAULO
MEANDRO: Rua Constante Sodré, 869 - Apt° 201 - Praia do Canto - Vitória - ES - CEP: 29055-420
Telefone: oxx27 32257165. Endereço Eletrônico:
menandro@escelsa.com.br
Toda
correspondência deve ser enviada para o endereço de Paulo Menandro.