REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE MÃES ACERCA DA FAMÍLIA
Aila Cabral
Lia Lordelo
Roberta Mascarenhas
O homem é, caracteristicamente, um ser
social, e, como tal, sobrevive em grupos. Isto pode ser constatado desde os
primórdios, onde existiam os grandes agrupamentos nômades, com uma distribuição
estável das funções (MINUCHYN, 1984). Tais imensos grupos foram reduzidos às
famílias. Embora estas possuam uma função biológica, que é a própria
reprodução, não são exclusivamente naturais, pois a família é, também, uma
instituição criada na relação entre os seres humanos e estruturada de diversas
formas, em situações e tempos diferentes, visando responder às necessidades
sociais (REIS, 1997). Embora tenha mudado no plano histórico, não há registro
de que alguma sociedade tenha existido sem a sua formação.
A família está presente desde o início
da vida e é marcada por fortes componentes emocionais que estruturam de forma
profunda a identidade de seus membros (CHAVES e col., 1993). Ela é a dimensão
coletiva da existência humana e responsável pela formação da primeira
identidade social, assim como o focus privilegiado
da constituição da subjetividade. A construção dessa subjetividade
desenvolve-se em uma dimensão social a qual, em um primeiro momento, é a
família, remetendo à idéia de uma construção dentro de um contexto, somente
podendo ser compreendida analisando-se as práticas histórico-culturais
características deste contexto (LEONTIEV, 1978). E certo, então, que a família
é um dos espaços de mediação entre os indivíduos e a sociedade, no qual o ser
humano aprende a perceber o mundo e a se situar nele.
A compreensão dos papéis sociais da
família suscita pontos de vista divergentes:
para uns, ela é a
base da sociedade; para outros, é um entrave ao desenvolvimento social. Assim,
as concepções de família oscilam entre responsabilizá-la pelos males do nosso
século ou idealizá-la como focus de
preservação da integridade, do bem estar e da qualidade de vida (BASTOS, 1999).
Tais divergências revelam o caráter social da função da família, configurada
como uma construção histórico-social.
Historicamente, é possível pensar
inicialmente, na família medieval, a partir de ARIÈS (1978). Segundo ele, essa
família era uma realidade moral e social; não possuía uma função afetiva,
conquanto o amor nem sempre estivesse ausente. A educação confundia-se com a
inserção das crianças nas atividades da comunidade. Desse modo, a criança,
considerada como um pequeno adulto era educada, em
grande parte, nas ruas, a partir do convívio com as pessoas mais próximas. As
trocas afetivas e comunicações sociais eram realizadas em um meio mais amplo do
que a família, caracterizando o que alguns historiadores franceses, de acordo
com ARIÈS (1978), chamariam de “sociabilidade”.
Situando-se no tempo e na História,
surgiram novos modelos de família e distinções significativas entre o modelo de
família aristocrática e o de camponesa. Todavia, ambos partilham, em maior ou
menor grau, as características do modelo medieval. Com o advento da propriedade
privada e da Revolução Industrial - o inicio da era capitalista - a comunidade
que circundava a família e era co-responsável pela criação dos filhos, começou
a se distanciar desta. Segundo ARIÈS (1978), a família se estendeu à medida em que a sociedade retraiu-se. A partir desse
período, emergiram referências a sentimentos como intimidade, discrição e
isolamento. É o prenúncio da família nuclear moderna, com função mais afetiva,
onde saúde e educação passam a ser valores mais importantes. Dentro de cada
casa, em cada cômodo, agora separado por paredes inteiras, um membro da família
e, do lado de fora, no mundo que começava a partir da porta de cada casa, a
sociedade cada vez menos “sociável” e mais distante.
Na atualidade, entretanto, não há mais
só um tipo de organização da família; o clássico pai/mãe/filhos cedeu espaço
para formas heterogêneas. De acordo com MELLO (1995), há três tipos básicos de
laços de família na sociedade brasileira: a família nuclear própria; a família
composta por várias famílias nucleares que, por questões de sobrevivência,
habitam juntas e a família que inclui parentes de parentes e compadres sem
laços consangüíneos.
Por tudo isso, é impossível entender o
grupo familiar sem considerar a sua diversidade enquanto fenômeno culturalmente
contextualizado. há de se levar em conta a complexa
trama social e histórica que o envolve.
Nas três últimas décadas, o modelo da
família nuclear burguesa perdeu o seu espaço único pois, neste período, a
mulher se inseriu no mercado de trabalho de forma mais incisiva, ganhando
autonomia financeira e alterando as relações de poder na família. Tudo isso
propiciou o surgimento de outros tipos de família (MELLO, 1995). Tal
diversidade de modelos enfatizada por MELLO (1995), ao afirmar que quanto mais se afasta das famílias da classe média
e se aproxima das famílias das camadas mais pobres, o modelo burguês torna-se
mais rarefeito, para dar lugar a outros modelos que passaram a ser considerados pela própria sociedade como desorganizados,
por fugir de um padrão já existente. Esta afirmação, dentre outras, simboliza a
grande diferença estrutural entre o modelo de família nuclear e a família
realmente vivida.
Nas famílias, independente da
diversidade de estruturas, o papel da mãe tem sido considerado vital para o
desenvolvimento das crianças. Para BADINTER (1992), o instinto materno nada
mais é do que um mito construído, o que se verifica com o estudo do papel da
mãe ao longo da história. De uma mãe medieval completamente desapegada às suas
crianças, das quais muitas, provavelmente, morreriam até o primeiro ano de
vida, em que a própria condição de mulher era a de subjugação à autoridade
masculina, chega-se ao século XVIII, que provoca uma transformação radical na
separação de sexos e papéis. O pai, na sociedade industrial, sai de casa para
trabalhar, provocando um distanciamento de seus filhos e até mesmo uma relação
de frieza com estes. Com a revolução feminina em curso, já no século XX, a
mulher passa a ganhar importância, enquanto mulher e enquanto mãe, a um só
tempo exigindo desempenhar tarefas antes reservadas aos homens e trazendo para
si a responsabilidade de criar os filhos.
Considerando as concepções de família
que persistem e o lugar das mães nestas, é possível afirmar que as idéias
acerca da família e de mãe encontram-se bastante difundidas no senso comum, já
que fazem parte do cotidiano de cada pessoa. Isto posto,
definiu-se como objetivo deste estudo: analisar a expressão da representação
social de família, com base em relatos coletados através de entrevista com
mães.
De acordo com MOSCOVICI (1988), as
representações sociais são teorias do senso comum, através das quais realidades
sociais são interpretadas e construídas. São estruturas de conhecimento
cognitivas, afetivas e avaliativas, oriundas da relação de reciprocidade entre
o indivíduo e a sociedade, que facilitam e orientam o processo da informação
social.
ABRIC (1998) propõe que as
representações são estruturadas em um núcleo central e em elementos
periféricos. Considera que a organização de uma representação social apresenta
uma característica, a de ser organizada em torno de um núcleo central,
constituindo-se em um ou mais elementos, que dão significado à representação.
O núcleo central ou núcleo estruturante, conforme ABRIC (1998), é determinado pela
natureza do objeto representado e pelo tipo de relação que o grupo mantém com
este objeto (sistema de valores e normas sociais). Desse modo, o núcleo central
é o elemento mais estável da representação, assegura continuidade em contextos
móveis e evolutivos, permite o estudo comparativo das representações e fornece
significado à representação.
De acordo com ABRIC (1998), os
elementos periféricos se organizam em tomo do núcleo central. Seus componentes
são mais acessíveis, vivos e concretos; dependentes do contexto; concretizam a
ancoragem da representação à realidade e permitem a formulação da representação
em termos concretos, imediatamente compreensíveis e transmissíveis. Os
elementos periféricos são, portanto, mais flexíveis que o núcleo central e
permitem a integração de experiências e histórias individuais, admitindo a
heterogeneidade do grupo e as contradições.
O núcleo central, conforme ABRIC
(1998), garante a homogeneidade da representação e possibilita a comunicação.
Podemos falar em família, por exemplo, porque existe um núcleo central às
representações individuais; essas variam quanto aos elementos periféricos.
Estes elementos possuem um caráter mutável, flexível e
individualizado. Uma variação nestes elementos não altera a
representação social em si.
Enquanto formas de compreensão, serão
estudadas as representações que as mães têm acerca da instituição família,
destacando o núcleo central.
Para obter informações por parte das
mães acerca da sua representação social de família, a técnica escolhida para
coleta de dados foi a entrevista. A entrevista foi
compreendida, conforme HAGUETTE (1997), como “um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas,
o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro,
o entrevistado.” (p.86)
Utilizou-se, neste trabalho, a
entrevista de levantamento, que consiste, simplificadamente, na coleta de
informações, opiniões e atitudes acerca de um objeto, conforme RUMMEL (1974).
Foram entrevistadas, no espaço de três
meses, 12 (doze) mães de diferentes classes sociais, arranjos familiares,
estados civis e idades. O roteiro das entrevistas foi construído em torno dos
seguintes aspectos, considerados relevantes dentro do estudo: a composição da
família; suas vantagens e desvantagens; a concepção de família ideal, o que as
mães projetam para as famílias de seus filhos; os papéis familiares
desempenhados pelo pai e pela mãe e as suas funções (financeira, moral,
afetiva).
Ao perguntar sobre a composição de
família, ou seja, quais as pessoas consideradas parte da família, Andréa [1]
(23 anos) incluiu irmãos, tios e primos na composição de sua família;
entretanto, quando perguntada sobre o poder de decisão dentro desta, ela
respondeu que este poder cabia a ela; neste caso, entretanto, ela estava
considerando o núcleo mãe-pai-filho. No caso das mães entrevistadas, com baixa
renda e pouca escolarização, a maioria foi clara ao dizer que: “Todas as pessoas que moram na sua casa é
sua família. Meu companheiro, meus 10 filhos e 2 enteados” (Alessandra, 38
anos).
Embora muitas entrevistadas tenham para
si que existe um núcleo composto de mãe, pai e filhos, a família é composta
pelas pessoas que estão mais próximas. A palavra convivência apareceu mais de
uma vez nas entrevistas. Além de colocar a convivência sob o mesmo teto como
condição para fazer parte de uma família, Miriam (47 anos) acrescentou: “E todos os amigos que ajudaram nos momentos
difíceis são da família.“
A idéia de um núcleo contraposta à uma concepção mais ampla de família aparece claramente no
discurso de Letícia (44 anos) quando declarou: “...minha família eram pessoas que eu tinha afinidade, proximidade, então
eu tinha amigos, amigas, e algumas pessoas da minha família, mas pessoas que eu
tinha afinidade. Então a minha família cresceu, se ampliou muito, então hoje em
dia, eu sei que meu núcleo familiar sou eu e meus filhos, mas eu tenho uma
noção de família bem mais ampla.”
Milene (58 anos) também declarou que a
família inclui os amigos.
Taiane (36 anos) apresentou uma visão de mãe como mulher mais independente em
nossa sociedade atual, pois responde a esta pergunta excluindo o marido com quem vive, mas incluindo os irmãos que moram no
interior. Diante desta discussão, será possível confrontar esta visão mais
moderna de família com a concepção de família ideal. Contudo, é possível
pensar, a partir das respostas das mães, em duas idéias presentes nas
diferentes falas: em uma, a idéia de um núcleo familiar, composto da mãe, do
pai e dos filhos; em outra, a concepção de uma família onde o parentesco não é
definido pelo sangue, mas sim, pelas relações de afeto, apoio,
afinidade e convivência estabelecidas entre as pessoas. E provável ainda
que essas duas noções não se contraponham, mas se complementem, integrando um
conceito de família menos fechado.
Referindo-se às vantagens de se viver
em família, nas resposta das entrevistadas, os temas
mais freqüentes foram: apoio, afetividade, união, referencial e proteção. O tema
apoio aparece nas respostas, de forma geral, como ajuda nos momentos de
necessidade, observado no relato de Milene (58 anos), que assegura: “Um ajuda o outro na hora de qualquer
precisão... qualquer coisinha um socorre o outro...”
Evidencia-se, também, o tema proteção,
estando o mesmo ligado à noção de união e afetividade. Entretanto, o discurso
de Alessandra (38 anos) aparece de forma diferenciado das outras entrevistadas.
Para ela, as vantagens de se viver em família revelam-se pela segurança de ter uma
casa e alimentação.
Já a noção de afetividade permeia todas
as respostas; porém, para as mães com um estilo de vida economicamente mais
favorecido, essa noção aparece descrita ligada aos sentimentos, como expresso
por Lima (46 anos), que afirma: “As vantagens
são os laços de afetividade e cooperação; o sentimento de proteção, de
pertencer, estar rodeado.“
As mães mais pobres apresentaram mais
dificuldades de expressar a questão da afetividade.
A família aparece também como
instituição referencial que prepara a pessoa para viver em sociedade, conforme
expresso na declaração de Miriam (47 anos): “A
família é o principal da vida. É o
começo de tudo. Sem família não se tem nada “.
Nas respostas referentes às
desvantagens, os temas de maior relevância relacionaram-se aos conflitos, porém
estes são descritos como algo que faz parte do relacionamento familiar, levando
até mesmo ao crescimento pessoal. Miriam (47 anos) afirmou: “...os conflitos que ocorrem normalmente de
relacionamento são conflitos saudáveis que têm que existir para o ser humano
crescer.”
Além desta noção apresentada
anteriormente, os conflitos também são relacionados às exigências,
responsabilidades e interferências, observado em declarações como a de Letícia
(44 anos), que disse: “É que às vezes é
um pé no saco, no sentido de que existem responsabilidades e exigências. Essas
responsabilidades são muito pesadas pra gente em determinados momentos. Acordar
uma da manhã (exemplificando), essa é uma fase que tem peso.”
Em relação ao poder de decisão, a
maioria das entrevistadas, independente de grupo social, afirmou que as
decisões na família devem ocorrer bilateralmente; de maneira que o homem e a
mulher entrem em acordo nas resoluções familiares. Contudo, foi observado na
declaração de mães mais pobres que o marido tem prioridade nas decisões, como
Bianca (37 anos), que afirmou: “A
primeira decisão tem que partir do marido. Só depois entra em acordo com a
mulher, a primeira atitude é do marido.“
No que diz respeito ao provedor da
família, a maioria afirmou que a responsabilidade é do casal ou daquele que
está trabalhando, como declarou Miriam (47 anos): “Se o marido se desemprega, as mulheres vão procurar uma .faxina, uma
roupa para lavar.“
Mães com baixa renda familiar destacam,
ainda, que os filhos também devem ajudar na manutenção da casa. É importante
ressaltar que, para a maioria, na atualidade não há como manter a antiga norma
em que apenas o homem é o responsável pelo sustento familiar.
Em relação ao papel da mãe, ocorreu uma
diferença significativa nas respostas de acordo com o grupo social das
entrevistadas. As mães com maior poder aquisitivo destacaram a educação e o
afeto para com os filhos, como sendo a mais significativa de todas as funções
maternas; considerando a mãe como a base, o apoio fundamental para toda a
família, o que é enfatizado por Milene (58 anos), quando falou: “Eu acho que a mãe é o sustento da família.
O papel da mãe é consolidar e acalmar, é ajudar em tudo! Eu acho tão bonito,
tão gostoso, apesar das brigas, das diferenças. A mãe sente tudo: a filha
distante, a carência da filha.”
As mães com um baixo nível econômico
colocaram como funções maternas primordiais àquelas relacionadas às tarefas
práticas e cotidianas - como, por exemplo, levar os filhos ao médico, dar banho,
levar à escola etc. - demostrando, deste modo, a influência dos aspectos
vivenciados na formação da representação social acerca do que é ser mãe, como
pode ser observado na fala de Dinorá (16 anos): “Dar banho nos filhos, cozinhar, arrumar a
casa, lavar roupa e quando o marido chegar não encontrar a casa suja, nem o
filho sujo e comida sem fazer carinho no filho e no
marido, dar educação a eles para não roubar e não xingar os mais velhos.”
Nas referências feitas ao pai, este
aparece como importante; porém, a sua ausência pode ser, de uma certa forma,
suprida.
Independentemente das suas idades, as
mães destacaram que a diferença básica entre elas e suas mães como mães é a
liberdade que hoje os filhos têm, seja relacionada ao diálogo existente ou ao
desrespeito que os jovens têm pelos pais. Sobre esta questão, Miriam (47 anos)
declarou: “Os filhos antigamente
obedeciam mais aos pais e estes tinham uma educação mais dura. Atualmente, tudo
está mais liberal.”
Analisando as respostas dadas às
diversas questões nas doze entrevistas realizadas, pode-se
destacar características das famílias das entrevistadas e da família idealizada
para os seus filhos. A família que as mães gostariam que seus filhos tivessem
assemelha-se muito à sua família de origem com as qualidades que identificam na
família atual.
A família pressupõe apoio, união,
escuta, cooperação, amor, proteção, atenção e respeito. As entrevistadas
apontaram ainda como característica de família ideal a presença de diálogo,
conversas, participação de todos os membros nas decisões e um maior poder
aquisitivo. Natália (40 anos) expressou-se da seguinte forma sobre o que
considera uma família exemplar: “Posso
dar um exemplo? ... Eu tenho uma
irmã, a mais velha. Ela tem uma convivência muito boa com o marido e com os
filhos e tudo para eles é na base da conversa..., eles conversam em tudo em
qualquer situação... Então é um exemplo de família para mim.”
As mães que já não vivem com os pais de
seus filhos, pois passaram por um processo de separação, não desejam que os
seus filhos tenham a mesma experiência, ou seja, gostariam que eles
permanecessem no primeiro casamento, como afirmou Bianca (37 anos): “E que no casamento de meus filhos não
aconteça separações, como aconteceram comigo.”
Comparando-se às suas próprias mães, as
entrevistadas afirmaram que passam pouco tempo com seus filhos, o que ocorre
devido à mudança econômica e cultural, pois a mulher precisa ocupar o seu lugar
no mercado de trabalho. Mas isso não as satisfaz plenamente; gostariam que suas
filhas dedicassem mais tempo aos futuros filhos, mais que elas próprias
dedicam. Juliene (35 anos) afirmou que sua mãe tinha mais tempo e dedicação aos filhos
porque não trabalhava fora. Letícia (44 anos) apresentou uma posição semelhante
ao afirmar: “... minha mãe era uma pessoa
cuja vida era completamente voltada para cuidar dos filhos... então eu tentei
não fazer isso... na realidade, embora eu tenha todo esse esforço de não seguir
este modelo, agora nesse momento eu me pego muito... , como eu gostaria de ficar com eles mais tempo.”
Esse resgate de uma concepção mais
tradicional de família, no qual os pais permanecem casados, sustentando o
núcleo pai-mãe-filhos, contrasta com a composição familiar realmente vivida. No
lugar de uma família cujos laços são definidos por convivência, amizade e
afinidade de modo geral, as mães desejaram para seus filhos uma
família nuclear estruturada e estável, enfatizando a importância da compreensão
e do afeto familiares.
Um dos objetivos deste estudo era o de
investigar, além das representações sociais de família, também a importância da
mãe na referida instituição. Foi possível observar uma certa concordância
quanto a esta importância; as próprias mães, aos se referirem a si próprias,
frisaram sempre a importância da presença da mãe na família e na criação dos
filhos, enquanto que o pai aparece como importante sem ser, entretanto,
imprescindível.
Outro aspecto destacado foi a possibilidade de trabalhar com entrevistas. As respostas
dadas pelas mães pareceram mais significativas, no sentido de que as
entrevistas permitiram um maior aprofundamento, ainda que o viés proveniente da
relação entrevistador-entrevistado estivesse mais presente.
Finalmente, a imagem da família como um
núcleo relativamente estável de apoio, afeto e educação se
apresenta como provável núcleo central desta representação social, visto
que todas as mães mencionaram, uma vez ou outra, alguns desses aspectos. Os
elementos periféricos ficam por conta das peculiaridades de cada mãe, e das
diferenças entre as respostas que, pode-se inferir, variam de acordo com a
idade, escolaridade, nível sócio-econômico e outras características que
contribuem para a construção da identidade de cada mãe.
CHAVES, A.M.; CABRAL, A.; RAMOS, A.E.;
LORDELO, L.; MASCARENHAS, R. Representação social de
mães acercada família. Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., S. Paulo, 12(1), 2002.
NOTAS SOBRE OS AUTORES:
[*] Universidade Federal da Bahia,
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia / End.
Rua Aristides Novis, 2, Estrada de São Lázaro - Cep:
40.210-730 - Salvador - Bahia. Apresentado no II Congresso Norte-Nordeste de
Psicologia, Salvador, Bahia, maio/2001. Autor responsável: Antonio Marcos
Chaves Av. Otávio Mangabeira, 11.881, M4-06 - Cep:
41.650-000 - Salvador Bahia. E-mail: amchaves@ufba.br
NOTAS:
[1] Todas as entrevistadas são mães e
estão identificadas com nomes fictícios, para preservar as suas identidades.
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