ALIMENTAÇÃO DE
BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS EM CONTEXTOS COLETIVOS: MEDIADORES, INTERAÇÕES E PROGRAMAÇÕES EM EDUCAÇÃO INFANTIL
Viviane Morelli**
Rosa V. Pantoni***
Maria Clotilde
Rossetti-Ferreira****
O cuidado e educação
de bebês em ambientes coletivos, em regime de tempo integral, constitui um
fenômeno relativamente novo em nossa sociedade. Nos últimos vinte anos tem
havido um número crescente de experiências e estudos sobre a organização de um
ambiente coletivo adequado às necessidades da criança nos primeiros anos de
vida, que possibilite uma boa integração entre a família e as educadoras responsáveis
pela criança e que favoreça um desenvolvimento harmonioso da criança em seu
grupo de convivência na creche. A Creche Carochinha - COSEAS/USP,
no Campus de Ribeirão Preto, e o Centro de Investigação sobre Desenvolvimento e
Educação Infantil (CINDEDI) têm participado conjuntamente de algumas dessas
investigações e experiências, com o objetivo de fornecer subsídios para urna
organização do espaço físico da creche e do planejamento pedagógico que,
sistematizados, promovam melhores condições para o desenvolvimento integral da
criança. Têm procurado também contribuir para o trabalho de formação do
educador, agente fundamental do processo educativo (ROSSETTI-FERREIRA et al. 1991; OLIVEIRA et al.,
1992; VITÓRIA & ROSSETTI-FERREIRA. 1993).
Este artigo tem por base a experiência
prática acumulada pelas educadoras e técnicos da Creche Carochinha
nestes últimos anos e uma pesquisa recentemente realizada pelo Centro de
Investigação sobre Desenvolvimento e Educação Infantil (CINDEDI) com o objetivo
de registrar e analisar os processos de adaptação de bebês, seus familiares e
as educadoras, durante os primeiros meses de freqüência à Creche Carochinha (1)
(ROSSETTI-FERREIRA et. al. 1994).
Pretendemos trazer alguma contribuição para uma discussão
sobre como a creche e a família podem trabalhar conjuntamente de forma a
favorecer o processo de aquisição de novos hábitos alimentares, tanto no
momento que o bebê começa a freqüentar a creche, como no decorrer do seu
desenvolvimento nela.
Faz-se necessário ressaltar que a importância deste
trabalho foi estimulada inicialmente pela nutricionista Iara Mattos, diretora
da Divisão de Creches da Coordenadoria de Assistência Social (COSEAS) - USP, ao
introduzir em algumas creches dessa Universidade e, particularmente na Creche
Carochinha, uma maneira inovadora e original de encarar a introdução de hábitos
alimentares na educação coletiva de crianças pequenas em instituições tipo
creche.
A partir de uma reflexão sobre o alimento como
construção social e simbólica, procuraremos analisar o que seria uma dieta
equilibrada e balanceada e qual seria sua função no desenvolvimento da criança.
Apresentaremos as diretrizes que orientam nosso trabalho nessa área,
enfatizando a importância do envolvimento da família e do respeito devido à
criança enquanto sujeito ativo do processo de aquisição de hábitos alimentares.
Discutiremos alguns elementos norteadores para elaboração do cardápio,
discriminando procedimentos e etapas seguidas na introdução de modificações
particularmente quando essas coincidem com o período de integração da criança e
da família à creche. Serão referidas algumas situações especiais que requerem
procedimentos específicos. Para concluir, teceremos alguns comentários sobre a
formação do educador, questão básica quando se quer garantir uma educação de
qualidade, como também apresentaremos algumas estratégias que vêm sendo
utilizadas pela instituição referida, visando articular dentro da proposta
pedagógica as ações vinculadas à alimentação.
A Creche Carochinha existe há dez anos e conta com uma
clientela que envolve famílias com vínculo de trabalho com a Universidade,
constituída por funcionários (70%), docentes (15%), estudantes de graduação e
pós (15%). Nesse período, a direção da creche tem conseguido elaborar o papel
social e pedagógico dessa instituição. Concebida como local complementar ao
cuidado da família com quem compartilha a responsabilidade de educação da
criança, ela oferece um contexto coletivo especialmente planejado para promover
o desenvolvimento infantil. Organiza-se enquanto um espaço onde as interações
das crianças são favorecidas, tanto com os adultos como com as outras crianças,
compreendendo a necessidade de que o processo de integração ocorra de forma
mais adequada possível tanto para a criança como para sua família. Na fase do
ingresso das crianças, a creche prepara-se de forma a promover o conhecimento e
a confiança mútua, favorecendo assim a integração e o estabelecimento de
vínculos entre estas e as educadoras. Para isso programa cuidadosamente o
ingresso das crianças e respectivas famílias à creche. Inicialmente é realizada uma reunião com todas as famílias para se discutir
o processo de adaptação e agendar as entrevistas de matrícula, nestas busca-se
inúmeras informações quanto à história da criança no que se refere à saúde,
hábitos alimentares, relação com outras crianças e adultos, e comportamentos em
geral (como dorme, como se alimenta, reações de medo, estranhamentos etc).
Esses dados são fundamentais para evitar alterações bruscas na rotina da
criança. O ingresso é feito progressivamente, duas crianças por semana em cada
turma, cada criança iniciando em um período do dia, o que dá às educadoras uma
maior disponibilidade no atendimento ao bebê e sua família. No período de uma a
duas semanas é solicitado que algum dos familiares permaneça com a criança na
creche. O tempo de permanência do bebê vai aumentando progressivamente à medida
que diminui o tempo de permanência do familiar, até o bebê ficar tranqüilamente
o período integral (a chegada à creche dá-se entre 7:20 e 8:30 hs, e a saída entre 16:30 e 17:30 hs.).
A pesquisa em que se baseia este artigo acompanhou 26
bebês (faixa etária de 4 meses a 1 ano e 5 meses), que começaram gradualmente a
freqüentar a creche em março-abril de 1994. Os dados foram coletados através de
entrevistas, fichas diárias de freqüência, de estado de saúde, registros de intercorrências médicas e observações da criança durante o
primeiro ano de freqüência na instituição, envolvendo para tal as
educadoras e respectivas famílias.
O homem, diferentemente de outros animais, não ingere
alimentos apenas para saciar suas necessidades fisiológicas. Além da sensação
de satisfação obtida pela saciação da fome, o comer
supre outras necessidades advindas das significações sociais que cada indivíduo
vivencia em seu grupo social.
Dessa forma, o comer também constitui no homem uma
atividade simbólica, mediada tanto por fatores socioeconômicos, quanto
culturais e psicológicos. Assim sendo, está permeado por diferentes valores e
significados, dos quais os indivíduos vão se apropriando ao longo do seu
desenvolvimento.
Na literatura há referências freqüentes ao papel do
alimento como representante de inúmeras gratificações e, associado a isto, a
idéia deste como elemento simbolizador de afeto. É bastante
freqüente em nossa sociedade o presentear doces e outras guloseimas a
pessoas queridas (bombom no dia dos namorados e das mães, o chocolate
“surpresa” dado à criança na entrada ou saída da creche etc), sem falar da
grande importância que a refeição adquire nas comemorações religiosas (o almoço
da Páscoa, a Ceia de Natal, etc.). Podemos ainda observar o quanto é importante
a presença de alimentos em jantares de negócios,
banquetes de casamento, visitas, etc.
Já do ponto de vista político-econômico, podemos dizer
que o alimento é freqüentemente usado em nossa sociedade como forma de
influência e domínio. Não são raras as situações onde é utilizado para obter
votos ou manter a tradição de políticas fisiológicas, sendo um elemento
importante que contribui para a manutenção das disparidades entre as diferentes
classes sociais. Sendo assim, o alimento acaba por adquirir um poder de
demarcar diferentes espaços (status) para as diferentes camadas sociais.
Diante dessas considerações, o alimento deixa de ter
apenas a finalidade de suprir as necessidades nutricionais, para tornar-se uma
mercadoria de consumo, e, como tal, gera um investimento maciço por parte da
mídia em geral, com o objetivo de propagarmos chamados alimentos “mais
adequados” ou associar determinados alimentos a este ou aquele padrão de
consumo. Parafraseando um famoso comercial de jeans, podemos dizer que: “o
mundo trata melhor quem come bem”.
Entretanto, este padrão dito
mais adequado nem sempre preconiza dietas apropriadas do ponto de vista
nutricional. Em termos nutricionais podemos definir como adequada uma dieta
equilibrada e balanceada que supre as necessidades fundamentais para a
manutenção e preservação da vida. Segundo Mattos, para cumprir estes objetivos
a alimentação precisaria cumprir algumas leis propostas pela Ciência da
Nutrição:
Lei da Quantidade: deve cobrir as exigências energéticas
do corpo e manter seu equilíbrio.
Lei da Qualidade: deve ser completa, contendo os
nutrientes necessários a cada indivíduo e permitir um bom funcionamento do
metabolismo.
Lei da Harmonia: os nutrientes que a compõem devem
guardar entre si relação de proporção e de harmonia em relação à consistência e
à cor.
Lei da Adequação: precisa assegurar o perfeito
crescimento e desenvolvimento, ou seja, adequar-se às necessidades de cada
faixa etária e ao estado de saúde.
Com base nessas colocações, podemos refletir que, apesar
da diversidade de hábitos alimentares nas diferentes culturas, é possível
definir uma certa regularidade nos elementos que compõem o conceito de dieta
adequada. Pode-se e deve-se observar e respeitar as diferenças no que se refere
às receitas e pratos típicos que compõem o cardápio de cada grupo social, as
formas de manusear e preparar os alimentos, de se comportar durante as
refeições etc. Todavia, do ponto de vista biológico, é importante considerarmos
os conhecimentos da Nutrição, da Fisiologia e de outras ciências, quando nos
propormos a realizar uma definição de dieta adequada.
Retomando a questão dos alimentos como mercadoria de
consumo, podemos perceber que muitas das representações prevalentes em nossa
sociedade no que diz respeito aos alimentos ou ao papel da alimentação na vida
das crianças distanciam-se muito dessa definição. Um exemplo disso é pontuado
por WOISKI (1988, pg. 107): “a ilusão do aumento de peso como sinal de saúde
leva freqüentemente ao hábito de aumentar as concentrações de hidratos de
carbono (sendo mais popularmente utilizado o açúcar refinado), desenvolvendo
maus hábitos alimentares que se prolongam por toda vida”.
Associada a essa idéia positiva de
aumento de peso, percebemos como prevalente a representação da
“boa mãe” como sendo aquela que possui leite em abundância para oferecer ao
filho, estabelecendo-se no imaginário a seguinte relação: bebê saudável
equivale a bebê gordinho (fofinho). Isso pode ser verificado em um trecho de
entrevista com uma das mães do grupo pesquisado:
“Eu tenho uma preocupação
assim muito grande em relação à comida, eu tenho porque ela é
magrinha... come pouco... então eu me preocupo demais, quando eu vejo a criança gorda, forte... então cê
já não tem uma preocupação de alimentação: agora como ela não é... então fico
super preocupada” ( S, mãe de X, 9 meses. 28.04.94).
Podemos perceber que, em nossa sociedade, esse ponto é
muito explorado pela mídia. Inúmeras propagandas (de leite, iogurtes etc)
associam bebês gordinhos com frases que indicam bons cuidados. Muitas delas
centralizam o discurso em aspectos relacionados aos sentimentos de culpa
vivenciados pelos pais em situações de alimentação, reforçando o embate criança
versus adulto. Um exemplo sutil desse embate pode ser observado em cenas onde a
ação da criança, ao burlar uma determinada combinação (por exemplo, mudar um
prato de arroz e feijão por um prato de batata frita) transmite a tão difundida
idéia de levar vantagem.
Esse contexto reforça o sentimento de fracasso (embora
pouco externalizado socialmente) que muitas mulheres
vivenciam quando não conseguem amamentar ou quando possuem um filho de
estrutura longilínea (maior altura que ganho de
peso).
Partindo dessas considerações, o presente artigo visa
trazer algumas contribuições no que se refere à introdução de hábitos
alimentares de crianças de 0 a 6 anos que freqüentam instituições de cuidado e
educação coletiva em tempo integral.
O principal pressuposto que orienta essa reflexão é o de
que uma orientação dietética adequada, desde o inicio da vida, é de suma importância
para o desenvolvimento saudável do indivíduo, e, portanto, para sua sobrevida
em boas condições de saúde, como para a formação de bons hábitos alimentares. A
não ocorrência de procedimentos adequados durante este período torna esta
última tarefa difícil em idades posteriores. A prática educativa tem mostrado,
por exemplo, que crianças com 4 anos de idade, que já constituíram o hábito de
comer apenas arroz e feijão no almoço e/ou jantar,
apresentam dificuldades para incorporar legumes ou verduras às suas refeições.
1. Além da preocupação com relação ao oferecimento de dietas adequadas
do ponto de vista nutricional, o trabalho realizado junto às crianças tem também
incorporado conhecimentos advindos da Fisiologia e da Fonoaudiologia.
Assim, tem-se também a preocupação com o desenvolvimento adequado das funções neurovegetativas: respiração, sucção, mastigação e
coordenação dos órgãos fonoarticulatórios (língua,
lábios, bochecha e palato), dado que o desenvolvimento dessas funções tem
grande importância para o desenvolvimento da fala, e, conseqüentemente,
socialização da criança.
2. O respeito à
criança enquanto ser ativo no processo de aquisição de conhecimentos.
Com base na concepção sócio-interacionista
construtivista de desenvolvimento, sabemos que o desenvolvimento humano ocorre
nas e através das inúmeras interações que a criança estabelece, desde muito
pequena, com o meio físico e social (ou seja, com os objetos, espaços, adultos
e crianças, com os quais convivem), agindo ativamente na construção de seus
conhecimentos (OLIVEIRA, et al.. 1992). Segundo as
autoras, essa atitude ativa faz com que, ao mesmo tempo, a criança modifique o
meio físico e social e seja modificada por ele.
Nesse sentido entendemos que, com relação à alimentação,
o trabalho da instituição também deve ser o de incentivar procedimentos que
favoreçam níveis cada vez maiores de autonomia da criança, no que se refere ao
processo de apropriação de hábitos alimentares. Ou seja, que ao longo desse
processo, a criança possa ir definindo o ritmo e a velocidade com que deseja
comer, tendo acesso a um repertório variado de alimentos, para que,
gradativamente, possa reconhecer suas preferências, escolhendo inclusive perto
de quem deseja realizar suas refeições etc.
3. Realização de um trabalho compartilhado com a
família.
Com base então na concepção acima mencionada e
considerando o desenvolvimento global da criança, temos a preocupação de
realizar ações que possam ser compartilhadas com o núcleo familiar, procurando
organizar estratégias que possibilitem só realizar conhecimentos e refletir
conjuntamente com as famílias a respeito dos procedimentos que a creche se
propõe a realizar.
Entendemos que a creche ou outra instituição educativa
deve realizar um trabalho complementar e compartilhado e não de substituição à
família, pois ambas possuem responsabilidades e papéis específicos frente à
educação e cuidado da criança.
4. Elementos norteadores para elaboração dos cardápios.
O primeiro ponto a ser colocado refere-se à
cobertura das necessidades nutricionais que deveriam ser supridas durante o
período que a criança passa na creche. Considerando o tempo de permanência
diário (cerca de 9 a 10 horas) e a capacidade de absorção do organismo no
respectivo intervalo de tempo, na Creche Carochinha a elaboração do cardápio se
propõe a suprir cerca de 70% das necessidades nutricionais diárias, sendo o
restante de responsabilidade da família.
O segundo ponto refere-se à elaboração dos
cardápios, conjuntamente com o planejamento e a organização das refeições. Além
das considerações realizadas anteriormente (leis da nutrição), são priorizados
produtos que não contenham conservantes e aromatizantes artificiais, sendo
feitas considerações especiais quanto à quantidade de sal, açúcar e óleo.
Especialmente no momento de introdução de algum alimento novo, a prática de se
evitar o uso de aromatizantes e conservantes tem como finalidade evitar-se uma
avaliação equivocada no caso de ocorrência de reações alérgicas ou adversas
relacionadas a essa introdução (2).
Procedimentos de inserção da criança e da família à creche e a oferta de alimentos durante o processo de adaptação
Assim como a alimentação de forma geral, a introdução e/ou modificação de hábitos alimentares são ações bastante
complexas, que envolvem aspectos políticos, econômicos e culturais, entre
outros, cuja repercussão acarreta interrogações, questionamentos, desconfiança
e muita ansiedade por parte das pessoas envolvidas no processo.
Várias mulheres sentem-se incompetentes quando seu filho
se recusa a comer a refeição feita por elas com tanto carinho ou quando, por
algum motivo, a criança apresenta reações adversas durante o período de
introdução de algo novo.
Imaginemos então essas ações ocorrendo nos primeiros
dias em que a criança e seus familiares freqüentam um ambiente novo e
desconhecido (período de inserção na creche).
Um exemplo retirado
de entrevista de uma mãe do grupo pesquisado (S. mãe de X, 9 meses. 18.05.94)
pode ilustrar um pouco a situação de desconfiança frente à instituição durante
este período:
“Na... nessa creche eles dão muita coisa diferente e ela não está acostumada a comer muita coisa misturada”. “Para suprir assim... dela não comer na creche, chego em casa, eu faço a janta, tento dar alguma coisinha pra ela se não comer dou uma frutinha ou uma vitamina, uma coisa assim”.
Esse discurso revela o quanto essa mãe desconfia da
aceitação do alimento oferecido à criança na creche e tenta oferecer-lhe o
máximo possível de refeições a fim de sentir-se segura. Assim como esta muitas outras desconfianças e ansiedades aparecem
durante as primeiras semanas em que a família freqüenta a instituição:
desconfia-se de que a criança não comeu, mesmo quando a educadora falou que
comeu; desconfia-se de que o cardápio elaborado e à disposição dos familiares
não é igual ao oferecido, duvida-se das quantidades ingeridas, da forma de
oferecimento etc. Para contornar essa desconfiança, o planejamento e a organização
relacionados aos processos de introdução e ou a modificação de hábitos
alimentares precisam ser efetuados de forma muito cautelosa distante o período
de adaptação, pois as ações realizadas acabam por interferir intensamente tanto
na rotina familiar, como nas representações das famílias acerca da alimentação
e do papel da creche neste processo.
A primeira etapa da realização dessas ações ocorre por
ocasião da matrícula da criança onde, através de um roteiro detalhado de
entrevista semi-estruturada, são investigados seus hábitos alimentares:
horários, quantidades, alimentos de maior ou menor aceitação, formas de
oferecimento, local e participação da criança no momento da refeição etc.
Com base nesses
dados a creche procura parcialmente oferecer o alimento da forma mais
semelhante possível ao da família, seguindo seus horários, forma de
oferecimento e produtos. Na medida do possível, gradativamente, são
introduzidas as modificações necessárias, visando cumprir os objetivos expostos
anteriormente (retirada de carboidratos, redução de alimentos que contenham
corantes, aromatizantes e conservantes, diminuição de açúcar e do sal,
modificações nos horários de oferecimento, na forma e velocidade da oferta,
etc.).
Durante esse processo é feita a
elaboração de um cardápio próprio adequado a cada idade, com introdução
gradativa de ingredientes (que varia de 2 a 3 por vez), sendo ainda
observados aspectos como: quantidade, consistência, reações pós-oferta, etc..
Se a criança está com aleitamento materno exclusivo nessa etapa, a introdução
de alimentos complementares ocorre a partir de orientações pediátricas
individuais, respeitando-se assim a idade em que o médico da criança avalia ser
mais adequada para iniciar a complementação. De modo geral, temos observado que
esta complementação tem sido iniciada entre o 40 e 60
mês de idade da criança.
Com relação às
primeiras modificações referentes à consistência dos alimentos, com crianças de
4 meses a 1 ano e 6 meses, o trabalho realizado na creche sofre variações em
função da adaptação da criança e da família ao novo espaço e às novas pessoas,
de orientações médicas e também em função de condições fisiológicas e de
maturação dos órgãos responsáveis pela mastigação. Essas modificações podem ter
início logo no segundo mês após o ingresso da criança na instituição ou demorar
um pouco mais. Trata-se de um processo demorado, na medida em que se procura
respeitar o ritmo de desenvolvimento de cada faixa etária e de cada criança
individualmente.
Com relação ao adulto, que lida diretamente com as
crianças, nos é necessário considerar a influência de suas representações
sociais nas ações e interações que estabelece com as crianças e famílias.
Analisando aquelas representações que vinculam o doce ao afeto, podemos
perceber que a grande maioria dos adultos vivenciam
sentimentos de dó pelo fato das crianças estarem ingerindo alimentos com sabor
natural, como o leite por exemplo, menos adoçados do que aqueles que ingerem em
casa. Nas situações de diminuição do açúcar, os adultos muitas vezes não lidam
de forma positiva, na medida em que a percepção dessa ação é tida como castigo
ou punição, e não como algo bom, capaz de prevenir problemas e favorecer um
desenvolvimento saudável.
É importante lembrar que existem no meio
científico várias pesquisas sobre alimentação, revelando que a adição
excessiva de açúcar, carboidratos, sal, condimentos, entre outros,
relacionam-se diretamente com distúrbios orgânicos e doenças degenerativas do
organismo. Assim procuramos, ao longo do período de permanência da criança na
creche, retirar ou diminuir (em conjunto com as famílias) os hábitos de
ingestão excessiva desses componentes. Um exemplo disso são os sucos, dentre os
quais apenas os de teor mais azedo recebem a adição do açúcar (numa proporção
de 3% do volume total). Outro exemplo é o leite. Se a criança está
habituada a ingerir uma mamadeira com 2 colheres de açúcar, a creche passa a
colocar uma e meia, depois uma, depois meia, até que finalmente a criança
consiga ingeri-la sem açúcar.
Essas etapas vão ocorrendo gradativamente durante o
período de adaptação. Nesse sentido, é importante lembrarmos que para algumas
crianças o ingresso à creche coincide com o período de transição do leite
materno para o leite de vaca. Assim, as orientações pediátricas de introdução
do leite de vaca prevêem modificações como a diluição do leite em água,
acrescida de 5 a 7% de açúcar. Esse procedimento tem como objetivo
diminuir a quantidade de proteína do leite, concomitantemente ao aumento do
suporte calórico, no sentido de aproximá-lo da composição do leite humano e
torná-lo assim compatível com a capacidade digestiva do bebê. Tais orientações
são respeitadas e, gradativamente, vai-se negociando com a família, o pediatra
e a criança, havendo modificações com o crescimento e desenvolvimento da
criança.
Segundo MITCI-IELL et al
(1978), a introdução de alimentos suplementares à lactação sofreu grandes
mudanças nos últimos 30 anos. Antigamente se preconizava que esta introdução
não deveria ocorrer antes do 1º ano de vida. Nas décadas de 70 e 80 chegou-se a
procedimentos opostos, com, por exemplo, introduzir semi-sólidos já no primeiro
mês de vida.
“A experiência aliada aos melhores instrumentos de nutrição vieram mostrar que a alimentação láctea exclusiva, prolongada até um ano de idade, não atendia a todas as exigências do organismo em desenvolvimento especialmente no que diz respeito às vitaminas e sais minerais”. (WOISKI 1988)
Através da literatura da área, pode-se observar que as
idades mais adequadas para se realizar essas introduções seguem orientações
diversas no que se refere aos vários tipos de alimentos e variam entre os
diferentes autores. Porém todos concordam quanto à necessidade de se realizar
uma introdução gradual de modo a “tatear” a tolerância
individual e estar atento às condições fisiológicas de mastigação, digestão e
absorção destes alimentos.
O fato de a criança ter tido a oportunidade (ou não) de
passar por um processo de aleitamento materno e a época de ocorrência do
desmame também são fatores orientadores sobre a melhor época para realizar
essas introduções.
A liquidificação de papas, durante o processo de
introdução de alimentação semi-sólida, não é recomendada, visto que uma
consistência liquida pouco ajudará no processo de fortalecimento dos músculos
faciais, dificultando assim, a emergência do padrão mastigatório. A princípio,
então, as papas são peneiradas e, de acordo com o desenvolvimento dos primeiros
esboços de mastigação e a erupção dos primeiros dentes (que ocorre em torno dos
6 meses), passam a ser amassadas e não mais peneiradas. Nessa fase, a
alimentação com a colher vai se tornando cada vez mais facilitada, uma vez que
já existe uma ação labial mais coordenada e desenvolvida, juntamente com uma
melhor coordenação mãos - olhos.
É importante salientar que nesta fase a criança já tem
condições de ter experimentado todos os ingredientes que compõem a alimentação
do lactente (feculentos, carne, gema de ovo, caldo de
feijão, leguminosas, folhas e cereais). Em torno dos 7/8 meses podem ser
claramente observados alguns movimentos de mandíbula e língua, que caracterizam
uma atividade preparatória para a mastigação. Assim, embora ainda não tenha
sido introduzida a alimentação sólida para a criança, é possível oferecer-lhe
pedaços de pão e bolachas e/ou outros alimentos de
consistência mais dura. A criança leva este alimento para a parte lateral da
boca e realiza uma série de movimentos: suga, abre e fecha as mandíbulas em
movimento de protrusão, participando tanto do
amolecimento como, depois de retirado um pedaço, da lateralização
do alimento. Dessa forma, ela estará sendo estimulada a ir preparando a
mastigação de sólidos nas refeições.” (GOMES et al., 1991)
Neste período é possível também oferecer, entre outros
alimentos, frutas amassadas ou raspadas (nas sobremesas e lanche). O treino
dessas atividades vai levando a um progressivo aperfeiçoamento e o esboço do
mastigatório sofre modificações. A papa, de amassada pode ser misturada com
alimentos sólidos (“papa meio a meio”) e, progressivamente, aproximar-se do
padrão alimentar do adulto, o que ocorre quando a criança está com
aproximadamente 3 anos, segundo as autoras acima mencionadas.
A
mudança no padrão mastigatório ocorre em função da modificação dos movimentos
de mandíbula, que anteriormente eram apenas verticais e, posteriormente,
tornam-se verticais e horizontais.
Durante a introdução dos alimentos semi-sólidos é
importante estar atento à quantidade de alimento por colherada e a
velocidade de oferta, procurando respeitar o ritmo individual de cada criança.
Ao conceber a criança como ser ativo neste processo, é possível estimular
gradativamente maiores níveis de autonomia. Inicialmente, o educador lhe dá a
refeição, estimulando-a aos poucos a participar, oferecendo-lhe outra colher
concomitantemente à utilizada pelo adulto. Nesse momento, é possível permitir à
criança explorar este objeto e aos poucos auxiliá-la em suas primeiras
tentativas de levá-lo a boca, o que exige movimentos cada vez mais coordenados,
estimulando assim um maior desenvolvimento psicomotor.
Pode-se observar que, por volta dos 2 anos, após todo
esse processo, a criança já se apresenta apta a realizar esses movimentos autonomamente,
determinando a quantidade e a velocidade de sua refeição. Nesse período é comum
ela selecionar alguns alimentos. O educador assume então uma função importante
de mediar a construção progressiva de um repertório alimentar mais amplo
possível.
É importante lembrarmos que na creche todo esse processo
está ocorrendo num ambiente coletivo, onde a estruturação e organização do
espaço físico e dos objetos, bem como das ações dos adultos precisam ser
pensadas de acordo com as necessidades dos diferentes grupos de crianças,
geralmente de faixas etárias variadas, respeitando as diferenças individuais.
Assim, o educador tem um papel fundamental enquanto mediador e promotor desse
desenvolvimento. As interações entre as crianças desempenham um
papel importante, interagindo com companheiros que se encontram em diferentes
fases e níveis de desenvolvimento, e através da observação e imitação
dos seus comportamentos, as crianças têm inúmeras oportunidades de construir
novos conhecimentos, aprimorar suas habilidades e avançar em seu processo de
desenvolvimento.
Procedimentos complementares que visam o desenvolvimento dos órgãos fono-articulatórios
Como já dito anteriormente, a introdução e/ou modificação de hábitos alimentares visa também um
desenvolvimento adequado das funções neurovegetativas.
Nesse sentido, além dos aspectos salientados como importantes durante a
introdução de alimentos semi-sólidos e sólidos, a creche realiza outros
procedimentos que auxiliam a maturação dos órgãos responsáveis pelas funções neurovegetativas.
Sabemos que a respiração inadequada ou bucal se instala
por diversas causas como, adenóides aumentadas, rinites crônicas, sinusites,
etc; muito presentes em nossa região (Município de Ribeirão Preto/SP)
em função do clima e das queimadas de cana-de-açúcar. Ela pode surgir também em
conseqüência de maus hábitos alimentares. Exercícios de estimulação
respiratória podem estimular o desenvolvimento de um padrão correto de
mastigação. Assim, para a realização de um trabalho preventivo, a creche
oferece às crianças, desde muito pequenas, oportunidades para exercitarem esse
padrão correto de respiração, oferecendo-lhes apitos, flautas e outros
instrumentos (objetos de sopro), bem como oportunidades para fazerem bolhinhas com água e sabão, uso de canudos e outras
atividades afins.
Outra função importante, particularmente em bebês, é a
sucção, que é responsável pelo crescimento da mandíbula, pela sustentação do
pescoço e pela estimulação da deglutição, mastigação e fala, bem como pela
promoção à maturação dos órgãos fonoarticulatórios.
A amamentação natural é a forma mais adequada de
desenvolver a sucção. Quando esta não ocorre, é importante oferecer às
crianças estímulos semelhantes, ou seja, bicos de mamadeira com furos que
imitem o fluxo de leite do seio materno (4).
O uso das chupetas também precisa ser pensado. A maioria
das existentes no mercado tem auréola invertida, não mantendo contato com o
lábio, o que interfere no bom desenvolvimento do padrão de sucção e deglutição.
Inverter a auréola da chupeta constitui uma alternativa que temos sugerido e
usado para superar esse problema.
Outro procedimento utilizado para desenvolver essas
funções é a utilização de canecas com furinho “chup chup”, que permitem que a criança aprenda a beber em goles,
sendo intermediária entre a mamadeira e a caneca comum. Este
tipo de caneca pode ser introduzida a partir dos 9 meses, época em que
também é possível introduzir canudos, outra forma de estimular a sucção de
maneira prazerosa e divertida, além de favorecer o desenvolvimento de postura
mais adequada, ou seja, sentada.
O uso exagerado de chupetas, sucção de dedos, fluxo
muito grande de leite na mamadeira, consistências inadequadas de papas,
velocidade rápida de oferta, ingestão de quantidades exageradas de comida por
colherada etc, são fatores que interferem na deglutição. É importante lembrar
que esta, embora constitua um ato reflexo nos recém-nascidos, torna-se um
padrão aprendido com o transcorrer dos meses. Outro aspecto importante a ser
observado durante o desenvolvimento dessas funções, especialmente no
período de transição de alimentos semi-sólidos para sólidos até o
aperfeiçoamento do padrão mastigatório é o tamanho da colher. Sugerimos a de
papa inicialmente (tamanho da colher de chá) e posteriormente a de sobremesa.
Algumas situações
especiais durante o processo de introdução de novos hábitos alimentares
Nem sempre os procedimentos realizados pela creche
coincidem com os hábitos alimentares das famílias que ingressam ou freqüentam a
instituição, seja no que se refere ao tipo de alimento oferecido, à
consistência, à forma de oferecimento etc. Nesse sentido, mesmo a creche
acompanhando atentamente as ações realizadas durante esse processo, este não se
faz sem conflitos, dificuldades, imprevistos.
Durante o processo de inserção das novas crianças e
famílias, especialmente no primeiro ano de vida do bebê, essas diferenças são
ainda mais delicadas, pois ainda não foi construído um vínculo de confiança
entre creche e família. Além disso, outras variáveis interferem, como por
exemplo, a reação de estranhamento da criança aos novos educadores, ao novo
ambiente, às novas preparações.
No dia a dia é possível observar inúmeras situações
conflituosas que devem ser objeto de reflexão por parte da creche, no sentido
de buscar estratégias que visem aproximar as famílias, explicitando o papel da
creche, suas características específicas enquanto contexto de educação
coletiva, e as limitações necessárias para o bom desenvolvimento do trabalho
coletivo da mesma.
Tentaremos aqui, a partir da análise de alguns trechos
de entrevistas com mães e educadoras do grupo estudado, ilustrar as sutilezas
destas situações com alguns exemplos de variáveis que podem interferir neste
processo.
Situação 1 - algumas famílias, já conhecendo
anteriormente o trabalho da creche, omitem ou falseiam informações durante a
matrícula:
Fala da educadora: “... Hoje
nós descobrimos que para X (‘criança’)..., o leite de soja... ele é bem... com
bastante açúcar... que na entrevista não foi passado isso”. A mãe entrou em
contradição na hora que ela foi experimentar pôs a mão na boca e disse “-
Ah! ZUS não tem açúcar aí.” Continuando o trecho temos: “ - Mas na pasta não tem, cê não
contou (fala da educadora)”. E a mãe
responde:
“- Aí eu não contei? Não contei?” E a educadora continua:
“Ai nós começamos a colocar
açúcar... A partir de hoje já mamou uma mamadeira inteirinha”.
(Trechos extraídos de entrevista com
educadora A, na primeira semana de freqüência da criança X de 7 meses, na
creche em 24.03.94).
Esse tipo de postura, por parte da família, pode ocorrer
por vários motivos, mas o que nos parece mais plausível é um certo medo de que
seu filho(a) não seja aceito na creche, ou deste não
se adaptar por ter uma rotina alimentar diferente. Mesmo quando se deixa claro
qual a função da entrevista e da adaptação, algumas famílias não se sentem
seguras para compartilhar algumas informações. Somente aos poucos, convivendo
com as educadoras durante o processo de adaptação, estabelece-se o vínculo afetivo
necessário para uma troca mais íntima e informações mais fidedignas.
Situação 2 - Refere-se ao modo como o educador segura a
criança ou o alimento durante a refeição e a sua interferência na aceitação:
“... mas nós temos o problema da MI,
(criança de 8 meses) que ela não pode ver o teu rosto (no diálogo
está se referindo ao momento da refeição), você cata no colo e deixa virada
pro outro lado, ela alcança e fica, agora se ela te vê... tem uma posição pra
ela tomar mamadeira, com outra ela não toma”.
(Trechos extraídos de entrevista com
educadora V. em 24.03.94)
Esses exemplos mostram o quanto a criança,
durante o processo de adaptação, precisa habituar-se tanto com as
características dos alimentos, por exemplo: cheiro, cor, sabor, consistência,
como também com as características do educador: feição, voz, movimentos, enfim
as várias ações que envolvem diretamente a interação com a criança. Em nossas
observações essas reações foram mais evidentes nas crianças de faixa etária
próxima aos 7 meses. Note-se que tanto pesquisadores como pediatras e outros
profissionais que atendem crianças referem que, em torno dessa idade, as
crianças tendem a reagir mais diante de estranhos, mostrando nítida preferência
pelo conhecido, particularmente quando se encontram em situações novas, pouco
familiares. ROSSETTI-FERREIRA (1984) faz uma discussão a respeito, em sua
revisão sobre o apego e as reações da criança à separação da mãe.
Pode-se dizer que durante esse processo o educador tem
duas tarefas básicas: usar estratégias mais parecidas possível com as quais a
criança está habituada, a fim de possibilitar segurança e a construção de um
bom vínculo afetivo e, aos poucos, ir modificando-as em função da rotina da
instituição, de suas características pessoais e das próprias necessidades da
criança, que vão se alterando ao longo do tempo. Nesse processo, o vínculo
construído entre educador e cada criança é único e segue uma trajetória
singular.
Situação 3 - Crianças com hábitos alimentares diferentes
daqueles oferecidos na instituição:
“... Ela não tá acostumada a comer muita coisa misturada. E eu já
percebi que mesmo em casa, que eu faço assim... coisa misturada ela não
come... mas se eu cozinho legume separado, arroz e feijão, uma coisa separada
da outra e ponho no prato, aí ela come. Ela não gosta de misturar... Então
a gente já conversou, a À (técnica dietética da
creche) vai passar a dar separado... Diz que ontem no almoço, separado ela
comeu melhor.”.
(Trecho extraído de entrevista com mãe
de G. de 1 ano e 7 meses, no segundo mês de freqüência à creche, 18.05.94)
Essa situação reflete a busca constante por parte da
instituição em procurar adequar-se inicialmente aos hábitos da criança, visando
urna maior aceitação alimentar e o estabelecimento de um bom vínculo da família
com a creche, para posteriormente inserir modificações. Entretanto, nem sempre
é possível adequar alguns hábitos individuais com o trabalho desenvolvido para
o coletivo, seja por questões de infra-estrutura, seja pela própria concepção
da instituição quanto às dietas adequadas ao desenvolvimento das crianças.
Situação 4- Quando a creche desconfia da
informação da família:
“Ele fica muito bravo... eu
cheguei até a pensar... a achar que ele nunca tinha tomado, mamadeira, que ele
até engolia o leite que escorria pela boca mas ele se recusava a pegar a
mamadeira. Aí eu tive um papo com ela (mãe), ela disse que não, que tomava
sim o leite, naquele dia à tarde ele tomou unta mamadeira inteirinha com
ela...”.
(Trecho extraído de entrevista com educadora 7, na primeira semana de freqüência da criança L,
de 4 meses, na creche, 24.03.94).
Essa situação retrata que durante o processo de
construção de um vínculo de confiança entre as duas instituições, tanto as
famílias como educadores estão aprendendo a se conhecerem uns aos outros e,
nesse processo, aparecem desconfianças dos dois lados, que precisam ser
averiguadas e trabalhadas. O que poderia acontecer, caso a educadora não
tivesse tido a oportunidade de verificar, checar sua hipótese - de que a
criança ainda não tinha tido contato com mamadeira? A educadora poderia julgar
a mãe mentirosa, criando-se um desencontro e afastamento entre creche e
família, com algum prejuízo para o bom desenvolvimento da criança. Isso vem
reforçar a proposta desenvolvida na creche, quanto à importância da
participação ativa das famílias no momento de ingresso da criança na creche.
Nestas situações, elas têm oportunidade de verificar e observar a rotina, os
procedimentos e ações realizadas pela creche e, por outro lado, a creche tem
oportunidade de apreender as formas variadas com que cada família educa e cuida
dos seus filhos.
Situação 5 - Diferenças quanto às formas de oferecimento
dos alimentos realizadas pela família e pela creche:
“O comer (referindo-se
ao comer da criança) é bem diet, bem pouquinho...
então eu tento assim... colocar comida assim forçosamente, fico assim um
espaço muito grande dando alimento mia mia numa casa
e forço mesmo... às vezes, coisa que na creche acho que não pode, então termina
autorização(5) para eu forçar se bem que na creche eu
tenho observado que tá melhorando”.
(Trecho extraído de entrevista com mãe de X,
criança de 9 meses, no 20 mês de freqüência à creche,
28.04.94).
Situação 6 - Estado de humor da criança
interferindo na aceitação dos alimentos:
“E quando ele fica nervoso, não
adianta, ele não come... ele faz... então ele não come e dorme... ele
fica que nem um...”.
(Trecho extraído de entrevistas com as
educadoras V. e M., com relação à criança R, de 1 ano e 2 meses, abril de
1994).
As situações em que a criança se recusa a comer sempre
trazem ansiedade para pais e educadores, mesmo quando se consegue avaliar o
motivo da ação da criança (como por exemplo: estados de humor - irritação,
sonolência - ou quadro febril, ocorrência de alguma doença, etc.). Nesse
sentido, a creche tem um papel importante de ajudá-los a controlarem sua
ansiedade. Considerando que o desenvolvimento se dá nas e através das
interações, podemos observar que uma postura mais ansiosa por parte do adulto
no momento da refeição pode induzir ansiedade na criança e, às vezes,
contribuir para que ela continue a apresentar esse comportamento como forma de
controle, de chamar sua atenção. Freqüentemente é necessário instrumentalizar o educador, para que possa avaliar o
desenvolvimento global de cada criança, ajudando-o a compreender os motivos que
podem estar contribuindo para a falta de apetite da criança, esclarecendo que a
ocorrência ocasional de um episódio destes é diferente de dias seguidos sem se
alimentar. Ajudá-lo também a perceber que existem necessidades individuais de
ingestão, em função da estrutura física, histórico de vida e
momento atual de saúde da criança, as quais devem ser respeitadas.
Situação 7- Interferência do novo espaço físico na
aceitação dos alimentos:
“Nos dois primeiros dias ela
ficou assim eufórica com a diferença né, do local... aquele
monte de brinquedos... Então eu vi que caiu um pouco a alimentação sabe... mas
isso porque ela não parava... ela não queria parar pra mamar, pra comer... porque era tudo novidade... mas a partir
do 3º dia já achei que estabilizou...”.
(Trecho extraído de entrevista com mãe
da criança L, com 1 ano de idade, na 2ª semana de freqüência à creche,
28.03.94).
Esse exemplo vem colaborar com a reflexão a respeito da
situação anterior, ilustrando o quanto pode ser complexo o processo de
aquisição de novos hábitos alimentares no que se refere às variáveis que podem
interferir no apetite e/ou na aceitação dos
alimentos, no momento da adaptação da família e da criança na creche, bem como
as diferentes reações de cada criança diante das mesmas.
Além dessas
situações, muitas outras podem ocorrer. Algumas permeadas por
uma maior ou menor ansiedade por parte dos familiares, crianças e
educadores lembrando sempre que cada caso é um caso, cada família é uma
família, cada educador é um educador e cada creche é uma creche, com suas especificidades
e singularidades próprias. Cada um vivenciando mais ou menos intensamente cada
uma das situações. O que parece ser mais comum durante esse processo é que,
enquanto a família e creche não conseguem construir uma
relação complementar, que possibilite compartilhar as ações realizadas junto à
criança, o alimento passa a servir como instrumento de disputa entre as
duas instituições. Cada uma tenta demonstrar maior competência para alimentar a
criança, ou melhor, para cuidar e educar a mesma.
Assim, os comportamentos da criança frente às refeições
podem estar a serviço de outros desejos, tanto da família quanto dos
educadores, tais como: de controle, de maior atenção, etc. As observações
feitas durante esse período revelam que, ao mesmo tempo, as famílias ficam
aflitas quando a criança diminui a aceitação de algum alimento, sentem-se
também inseguras quando ocorre o contrário. Por exemplo, quando, na creche, a
criança passa a ingerir ou aceitar melhor determinados
alimentos que não aceita em casa, o receio fantasioso de perder o amor do filho
para a instituição se instala. Isso faz com que o alimento deixe de ser mais do
que matéria orgânica e inorgânica colocada no prato (MARCONDES & LIMA.
1980), para tornar-se mediador importante na relação creche e família.
Nesse contexto, o educador assume um papel
importantíssimo, pois ao mesmo tempo representa para a família uma figura de
confiança e de ameaça.
Assim, as interações cotidianas entre educadores e
membros da família tornam-se o grande palco que pode aproximar ou afastar as
duas instituições.
Podemos perceber, a partir das considerações feitas
sobre o papel do educador neste processo, que um trabalho de qualidade em
instituições de cuidado e educação infantil, preocupado em promover a
apropriação de bons hábitos alimentares pela criança, exige um investimento
sério na formação de seus educadores. Essa formação, tanto inicial quanto
continuada em serviço, enfrenta o grande desafio de criar oportunidades para
que os educadores se conscientizem da importância de seu papel e do papel da
instituição como um todo, no que se refere ao atendimento das crianças e
respectivas famílias. Deve também oferecer um suporte teórico e metodológico, o
qual instrumentalize os educadores para lidarem com
as difíceis situações que surgem a todo momento.
Faz-se necessária a criação de momentos específicos
para reflexões e avaliações das ações realizadas, com a preocupação de
acompanhar a construção das relações entre creche e família. Quanto mais essas
ações forem compartilhadas, melhor será o desenvolvimento das crianças que
freqüentam a creche.
É importante salientarmos que um projeto desse tipo não
pode ser planejado e executado isoladamente, sem envolver outras áreas de atuação
ou outros projetos da creche. Como se pode deduzir, envolver as áreas de
relação creche e família e a de formação continuada é imprescindível, porém não
é suficiente. O planejamento das ações a serem realizadas junto às
crianças e famílias precisa estar articulado com a proposta psicopedagógica,
com o funcionamento das diferentes rotinas, enfim com todo o programa da
creche.
A articulação entre ações de cuidado e educação em
ambiente coletivo - o desafio da alimentação
Embora tenhamos colocado ênfase no período de adaptação,
é importante ressaltar que o processo de aquisição de hábitos alimentares
acontece durante todo o período em que a criança freqüenta a instituição. Nesse
sentido, o planejamento do trabalho, dentro de uma perspectiva educativa,
envolverá necessariamente a articulação do comer com as atividades pedagógicas
afins. Ou seja, as situações que envolvem alimento precisam criar também
oportunidades para a construção de conhecimentos. Realizar essa tarefa,
buscando articulá-la com uma estrutura de atendimento coletivo que ao mesmo
tempo respeite as diferenças individuais, nem sempre é uma tarefa fácil.
As ações começam desde a confecção do cardápio, o qual é
elaborado com base na média de idade das crianças, um para crianças de até 1
ano e outro para crianças maiores, até o planejamento das atividades a serem
realizadas com cada turma de criança, além de eventos envolvendo a participação
das famílias.
Tentaremos contar algo sobre algumas ações que a Creche
Carochinha vem desenvolvendo, lembrando que o resultado atual é fruto de um
trabalho coletivo realizado por educadores e equipe técnica, o qual vem sendo
avaliado, refeito e reavaliado anualmente, ao longo de seus 10 anos de
funcionamento. Realização de um cardápio individualizado nos casos de alergia
alimentar, acompanhamento de anemias, obesidade, baixo peso, entre outros.
Inicialmente chamada
de Feira de Alimentos, surgiu com a preocupação de incentivar a criança a
conhecer e valorizar diferentes tipos de alimentos, bem como construir hábitos
saudáveis no que se refere à alimentação. A primeira feira foi organizada em
1989, com o objetivo de proporcionar às crianças e educadoras oportunidades de
confeccionarem juntas diferentes pratos e degustarem os novos preparos,
especialmente aqueles de pouco conhecimento e de baixa aceitação. Mais tarde, a
feira foi integrada ao Projeto Pedagógico da Etnia Brasileira, e a confecção
dos pratos vinculou-se aos costumes das diferentes culturas de onde provém.
Assim, durante os três anos posteriores, foi desenvolvido junto às crianças de
3 a 7 anos um trabalho envolvendo pratos indígenas, portugueses, africanos.
Neste ano, a vinculação foi com relação à cultura ribeirão pretana
- município onde se localiza a creche, resgatando os hábitos alimentares dos
imigrantes que para cá vieram.
Durante o desenvolvimento deste projeto, através de um
trabalho integrado com a pedagogia, é possível a criança conhecer diferentes
culturas, apropriando-se não apenas dos hábitos alimentares, mas de outros
aspectos, tais como: danças, jogos, lendas, entre outras coisas. Isso amplia o
seu repertório e o contato com a diversidade, e permite a construção de uma
visão mais diversificada do mundo e dos costumes e valores sociais, estimulando
um maior respeito às diferenças.
Com relação à alimentação, especificamente, pudemos
observar como resultado desse trabalho, uma ampliação da aceitação de uma maior
variedade de alimentos.
Esse trabalho surgiu com o objetivo de ajudar a criança
a tomar-se mais autônoma durante as refeições, tendo maior noção do que e do
quanto comer, bem como reconhecer os diferentes sabores, cores e formas que
compõem os diferentes pratos.
Esse trabalho surgiu
com o intuito de melhor articular o binômio cuidado-educação através de uma forma lúdica e
prazerosa para as crianças e adultos. Através da linguagem dramática
(faz-de-conta) propicia-se às crianças oportunidades para conhecerem a
importância da alimentação, características e funções de diferentes alimentos.
Para sua realização, o educador fantasia-se de determinado personagem e conta
estórias para os diferentes grupos de crianças. Os temas e conteúdos variam em
função das diferentes faixas etárias e também das diferentes necessidades de
cada grupo.
Nesta ocasião, a
criança responsável pela ajuda fica encarregada de levar os pratos e/ou talheres para os colegas. O ato de servir faz com que
a criança valorize o momento da refeição. Essa estratégia possibilita, além da
construção do senso de responsabilidade e companheirismo, uma diminuição do
tempo de espera no momento das refeições, facilitando e melhorando a qualidade
das interações entre as crianças.
Este trabalho visa oferecer às crianças maiores de 3 anos, oportunidades
de vivenciarem práticas sociais relacionadas à alimentação, bem como ajudá-las
a construir noções de desperdício. O trabalho consiste em organizar um
restaurante (mesas, cadeiras, menus, as educadoras tornam-se garçonetes com
distribuição prévia de dinheiro de faz de conta). Cada criança utiliza o
dinheiro para comprar uma ficha que lhe dá direito a uma refeição com repetição
e outra que lhe dá direito à sobremesa. A quantidade em dinheiro é maior que o
valor da refeição. Sendo assim, sempre sobra troco. Este troco serve para
repetição da sobremesa ou para pagar o lixeiro (personagem que cobra uma taxa
para levar o resto de alimento do prato). Isso faz com que a criança atente
para o que e para a quantidade que escolhe comer.
Essa estratégia surgiu a partir da constatação de que um
grande número de famílias vem construindo o hábito de não se alimentar pela
manhã. Essa prática vem se avolumando entre a população, especialmente nos grandes
centros urbanos, onde o local de trabalho é bem distante da residência, com
precárias condições de transporte. Isto faz com que, muitas vezes, as
famílias saiam correndo pela manhã, sem dar a devida atenção à importância
dessa refeição para um desenvolvimento em boas condições de saúde. Essa
atividade costuma ocorrer na Creche Carochinha pelo menos uma vez por ano, por
ocasião da programação da semana da primavera. Além de incentivar as famílias a
construírem esse hábito, as agradáveis interações entre crianças, pais e
educadoras, nessas ocasiões, tem contribuído para melhorar a relação entre
creche e famílias.
Este trabalho vem sendo desenvolvido com quatro grupos
de crianças de 3 a 7 anos e tem como objetivo reduzir o resto de comida e
conseqüentemente a quantidade de lixo orgânico, bem como oferecer oportunidades
para as crianças ampliarem o repertório alimentar. As atividades são realizadas
semanalmente com os grupos de crianças durante o almoço. Após estas passarem
pelo self-service e também ao término da refeição, o
prato de cada criança é pesado. De acordo com as quantidades ingeridas, cada
criança recebe cartões de diferentes cores (verde: mais de 90 gramas; amarelo:
de 45 a 85 gramas e azul: menos de 45 gramas). As anotações são
realizadas em quadros (um para cada turma), pelas crianças e adultos. Os
quadros permanecem durante um mês para que pais, crianças e funcionários
acompanhem a ingestão. Os resultados apontam índices de redução de sobras,
possibilitando às crianças levantarem diferentes hipóteses sobre noções de
quantidade, numerais (por exemplo, o zero). Esse trabalho tem possibilitado a
observação de três grandes pontos:
1. Observação
coletiva dos diferentes grupos e de cada criança individualmente,
diagnosticando melhor a aceitação. Sabemos que nos diferentes grupos sempre
haverá diferenças individuais quanto à quantidade e variedade de alimentos.
2. Observação da
diminuição (considerável) do lixo orgânico.
3. Observação da
mudança de comportamento das crianças no que se refere a ter maior atenção na
quantidade que vai colocar no prato.
Essas são algumas
das atividades desenvolvidas pela creche. É importante dizer que o resultado
das mesmas só tem sido possível em função do trabalho conjunto e
interdisciplinar, no qual a contribuição de cada funcionário tem sido
fundamental. A princípio pode parecer muito sofisticado para algumas
realidades, nesse sentido é importante lembrarmos que o resultado dessas ações
é fruto de um trabalho de 10 anos, durante os quais foram realizadas várias
sistematizações e avaliações. Nossa aposta, contudo, é que a melhoria da
qualidade de atendimento às crianças deve ser uma busca contínua. Cabe a cada
instituição avaliar seu momento atual e ir definindo metas a curto, médio e
longo prazo para que esse aperfeiçoamento aconteça. Seguramente não ocorrerá da
mesma forma para cada uma. Nossa intenção, ao socializar a fundamentação
teórica bem como as práticas aqui descritas é contribuir
para essa busca.
GOMES. L. C. D.; PROENÇA, M. G. ; LIMONGI, 5. C.
Avaliação e terapia da motricidade oral. In: GOMES, L. C. D. et al. Temas de fonoaudiologia.
São Paulo, Edições Loyola, 1991.
MARCONDES, E. ; LIMA, L. N. Dietas em pediatria
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MITCHELL, 11.8. RYNBERGEN, L. ; DIBBLE, M. V. Nutrição.
São Paulo, Interamericana, 1978.
OLIVEIRA, Z. M. R.; MELLO, A. M.; VITORIA, T.;
ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Creches: crianças, faz-de-conta & cia. Petrópolis,
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ROSSETTI-FERREIRA, M. C. O apego e as reações da criança
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ROSSETTI-FERRE1RA. M. C.; CAMPOS
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WOISKI, J. R. Nutrição e dietética em pediatria. Rio
de Janeiro, Atheneu, 1988.
Notas
(1) ROSSETTI-FERREIRA. MC. Processos de adaptação de
Bebês à Creche Ribeirão Preto. 1994. Projeto de Pesquisa - Centro
Brasileiro de investigações sobre Desenvolvimento e Educação Infantil
(CINDEDL). Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto-LSP.
(2) MATTOS. 1. Contexto da alimentação na história do
homem. São Paulo. COSEAS/USP. 1994. Trabalho não
publicado.
(3) Essa linha de trabalho baseia-se também no fato de
que, cada vez mais, um grande número de famílias recorrem
ao consumo de ‘fast food’
(atualmente encontrado em abundância no mercado), em função da praticidade e
rapidez de preparação e consumo do mesmos.
Esses alimentos geralmente contêm aromatizantes e
conservantes. Nesse sentido, a creche, ao evitar sua utilização e, ao mesmo
tempo, oferecer um tipo de alimentação diferente, pode contribuir para que a
criança tenha acesso a um repertório mais amplo e variado.
(4) Segundo orientações técnicas, os bicos mais
adequados para isso são os ortodônticos, cujo gotejamento seja de 22 a 30 gotas/minuto, independente da consistência.
(5) Para uma adequada compreensão desse discurso é
importante entender a rotina do berçário, que esta criança freqüenta. No
horário das 12h00min às
13h00min é permitida a visita de pais e/ou outros
familiares ou amigos. Nessas visitas, pode coincidir da criança estar
almoçando. Então o combinado com os pais é de que, caso queiram, podem oferecer
a refeição à criança. Nesse sentido, a creche estimula a ocorrência de momentos
prazerosos durante as refeições para as crianças. Quando isto não ocorre, nos
casos em que alguns pais forçam a criança a comer, há uma interferência da
creche com conversas, explicando o porquê de não aceitarmos esse tipo de ação.
Caso a família não concorde, ela pode vir normalmente fazer a visita diária,
mas quem oferece o almoço é o educador.
Nota sobre o texto
AMARAL, M. F. M. MORELLI, V.; PANTONI, R. V.;
ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Alimentação de Bebês e Crianças Pequenas em Contextos
Coletivos: Mediadores. Interações e Programações em Educação Infantil. Rev.
Bras. Cresc. Desen: Hum., São Paulo, 6
(1/2), 1996.
** Viviane Morelli é técnica
em nutrição e dietética da creche Carochinha - COSEAS/USP
- Ribeirão Preto/SP.
*** Rosa V. Pantoni é
psicóloga da creche Carochinha - COSEAS/USP -
Ribeirão Preto/SP.
**** Maria Clotilde
Rossetti-Ferreira é professora titular da Faculdade de Filosofia e Ciências e
Letras de Ribeirão Preto - Depto. de Psicologia da Universidade de São Paulo.
End.: Av. Bandeirantes, 3900- Ribeirão Preto/SP CEP: 14040-900.