A CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO NA TRÍADE PARENTAL

 

 

Sônia Waltrick Ramos
Mestranda em Serviço Social, RS.

 

 

Introdução

A abordagem aqui proposta supõe uma atitude que aceita retroceder no tempo, no que se refere ao início do processo de formação do ser humano, interessada com o cuidado e o respeito pelo futuro, desde o período pré-natal – que se inicia mesmo antes da concepção até o nascimento, pois todas as experiências biológicas vividas pelo ser humano recebem registros/inscrições, positivos e negativos, que se manifestam em seu agir, através dos sentimentos e emoções que o constituem.

 

Na primeira parte do texto, faço um breve resgate de história do ser humano, do século XVII ao século XX no que diz respeito às relações existentes entre pais e filhos, visando demonstrar quanto o dito "amor materno" e o vínculo afetivo eram um sentimento que precisava de inúmeras condições para aflorar e se constituir como tal.

 

A segunda parte procura demonstrar quanto, a história de vida de cada um em suas respectivas famílias, a história desse encontro para formar um casal, associada à concretização da gravidez, desempenham um papel muito importante na construção do vínculo afetivo na tríade parental. Para que uma gestação "vingue" é necessário que os três desejos estejam bem entrelaçados!

 

Na terceira parte, trabalho os aspectos do psiquismo pré-natal demonstrando quanto as novas descobertas tecnológicas e das neurociências têm lançado luz sobre essa etapa da vida, comprovando que, desde muito cedo, já somos seres inteligentes, sensíveis e possuímos várias habilidades e competências. Destacando que a atenção voltada àquele bebê que está desenvolvendo-se, ajudará os pais a estabelecerem com ele uma relação de amor e respeito, desde o início da gravidez.

 

Nessa parte do trabalho, considero de grande importância demonstrar quanto o bebê precisa da mãe para se desenvolver física e emocionalmente. Isso, porém, não determina uma simbiose porque ele tem desejos, necessidades e competências que devem ser compreendidas e respeitadas, para que possa desabrochar como ser especial que é.

 

A Haptonomia, uma nova abordagem que faz, nesse período gestacional, uma intervenção psicotátil na mãe, auxiliando os pais a construírem um vínculo afetivo confirmante profundo com seu bebê, ainda "in útero". Ela favorece igualmente a acolhida do bebê no momento do nascimento e após este. Muito cedo a criança adquire uma segurança de base que a convida à autonomia, à comunicação e à confiança.

 

Assim, estamos, cada vez mais, deparando-nos com situações em que o ser humano precisa sentir-se confirmado afetivamente em sua autenticidade e singularidade. Na expectativa de favorecer a ampliação dos espaços do campo científico e o da intervenção com "casais grávidos", apresenta-se esse novo enfoque.

 

1. Considerações sobre a história do "amor materno"

É importante fazermos uma breve reconstituição das transformações do "amor materno" no decorrer de alguns séculos, porque o amor não é simplesmente uma regra para o ser humano, pois nele se entrelaçam inúmeros fatores e nem sempre essa regra será respeitada. Começamos, então, a perceber como o desejo de ter um filho é complexo, difícil de precisar e de isolar de toda uma rede de fatores psicológicos e sociais. Esse sentimento existe desde a origem da humanidade, mas não necessariamente existe em todas as mulheres, lembrando que, em alguns países tolerava-se e, ainda hoje se tolera, que se matem as crianças do sexo feminino ao nascer.

 

"O amor materno foi por muito tempo considerado "instinto", independentemente do tempo ou do meio que cercam essa mulher. No olhar da sociedade, ao se tornar mãe, ela vai encontrar em si mesma todas as respostas, e as competências vão desabrochar naturalmente para suprir as exigências de sua nova condição. Como se uma atividade pré-formada, automática e necessária, esperasse apenas a ocasião de emergir e colocar-se em funcionamento. Observando-se a evolução das atitudes maternas, constata-se que o interesse, a dedicação à criança e as diferentes formas de expressar "o amor materno", vão manifestar-se variando em grau e intensidade em cada mulher, porque ele é apenas um sentimento humano e, como tal, é frágil , é incerto, é imperfeito.

 

Os vários estudos das sociedades "primitivas", evidenciaram que o pai pode ser mais maternal do que a mãe ou até, em muitos casos, que as mães são indiferentes e até cruéis com seus filhos, mas essas evidências não conseguiram alterar realmente a nossa visão sobre esse sentimento. Pode-se compreender esta função do pai, através do significado da palavra "couvade " no dicionário Littré: "couvade, ação de couver" (ação de chocar). "Do bizarro costume em virtude do qual, quando uma mulher da à luz, o marido vai para a cama, toma a criança e recebe os cumprimentos dos vizinhos"(THIS,1987, p.143).

 

O autor descreve ainda que o recém-nascido humano, na época da couvade, não era abandonado num berço colocado à parte; era colocado nos braços de seu pai, que cuidava dele com todo carinho e eficiência. Este contato pele a pele entre filho/pai, extremamente precoce, propiciava segurança afetiva à criança, que passava do acalanto no corpo materno ao acalanto paterno. Considera-se atualmente que esse contato tátil e a relação que se vai construindo entre pai e filho, é essencial ao desenvolvimento emocional da criança, desde o período "in útero". A relação triangular não é apenas um fato psicológico, mas também uma realidade social. É em função das necessidades e dos valores dominantes de cada sociedade que se determinam os papéis respectivos do pai, da mãe e do filho.

 

Em seu livro Badinter relata que, na Europa do século XVII, a morte da criança é coisa banal. A mortalidade das crianças de menos de um ano é sempre sensivelmente superior a 25% num grupo de mil, e a curva mais elevada é no primeiro mês de vida. O abandono dos filhos chegou a ser uma prática muito comum.

 

No século XVII, e sobretudo no século XVIII, a educação da criança das classes burguesas ou aristocráticas e das classes populares seguem quase o mesmo ritual, e a autora destaca três fases distintas: a colocação na casa de uma ama, o primeiro ato de abandono, ocorre alguns dias, ou mesmo algumas horas, após o nascimento da criança. Pode-se dizer, então, que o filho do comerciante, ou o do artesão, como o do magistrado, ou o do aristrocrata da corte, conhecerá uma solidão prolongada, sofrendo uma falta de cuidados básicos e um verdadeiro abandono moral e afetivo. Depois, o retorno ao lar com quatro ou cinco anos de idade, e, por fim, a partida para o convento ou internato, entre oito e dez anos.

 

No fim do século XVIII, o amor materno aparece com um conceito novo, ocorrendo uma espécie de revolução das mentalidades; a maternidade para muitas mulheres, torna-se um papel de destaque, gratificante, e a presença física e o devotamento à criança são uma constante, porque estão agora impregnados de ideal. A mãe é sagrada, a "rainha do lar" e é usualmente comparada a uma santa. Engendra-se o mito, que continuará bem vivo duzentos anos mais tarde: o do instinto materno, ou do amor espontâneo de toda mãe pelo filho.

 

Os conselhos de J.J. Rousseau jamais foram plenamente seguidos. O sistema das amas-de-leite prosperará até fins do século XIX. Sugere-se que a generalização, em 1811, do sistema de "roda" nos asilos, que permitia à mãe deixar ali seu filho, sem revelar sua identidade, somada ao aleitamento artificial sob a forma de mamadeira de leite de vaca, possibilitado pelos progressos da esterilização, substituirá a amamentação mercenária. Tal sistema libera aquelas, que o desejam, dos encargos da maternidade, sem pôr em perigo a saúde do filho. Mas, alguma coisa mudou profundamente: as mulheres se sentiam cada vez mais responsáveis pelos filhos e, portanto, quando não podiam assumir seu dever, consideravam-se culpadas.

 

Também no Brasil, a tendência a culpar a mulher foi um aspecto importante na história da medicina do país. Combateu-se o emprego da ama-de-leite mercenária, incitando a mãe a cumprir seu dever de amamentar "instintivamente" seu filho. E no século XX, especialmente sob a influência da psicanálise, reforça-se a tendência de responsabilizar a mãe pelas dificuldades e problemas que surgem nos filhos. Muitos teóricos da psicologia acabam tendo uma atitude acusatória e de culpabilização em relação à mulher, acentuando-se a imagem de devoção e de sacrifício que caracteriza a "boa mãe".

 

2. Desenvolvimento do psiquismo pré-natal

Antes de engravidar "de verdade", o casal passa por todo uma processo de se imaginar tendo um filho: como seria ele, se gostaria de tê-lo já ou somente mais tarde, o que se espera como pais, o que um filho representaria para a sua vida. Nem sempre tudo isso é claramente pensado e discutido dentro de si mesmo ou sequer muito conversado entre o casal. É, deste modo, que podemos dizer que a construção do vínculo afetivo entre os país e o bebê começa muito antes do nascimento, até mesmo muito antes da fecundação.

Não seria, de forma alguma, um exagero afirmar que o relacionamento pais-bebê, na realidade, começou na própria infância dos adultos que hoje pensam em ter um filho "de verdade": a menininha empinando a barriga e dizendo que tem um neném lá dentro; os meninos e as meninas brincando de papai e mamãe, brincando de trocar fraldas, de dar comidinha e banho nas bonecas; e depois, adolescentes olham para as mulheres passeando com seu bebê e se imaginam nessa situação. Outras vezes ou mesmo aborrecidos com as restrições que seus pais lhes impõem, juram para si que, quando tiverem seus próprios filhos, irão criá-los de maneira totalmente diferente. Um filho pode representar muitas coisas conscientes e inconscientes para nós e são inúmeros os motivos pelos quais queremos ou não concretizarmos esse desejo (MALDONADO,1991).

 

Todas as histórias são particulares, e nenhuma deve ser interpretada fora desse contexto específico. A história de cada um , com os seus conflitos, resolvidos ou não, e o lugar que ocupam em suas próprias famílias, podem possibilitar a realização de um encontro. Estes matizes, porém, vão ser determinantes neste encontro do homem e da mulher dando a ele seu tom e determinando seu futuro. Seja qual for a maneira ou circunstâncias em que se formará esse casal, para cada um, esse encontro adquire sentido em sua própria história e vai fazer também parte da pré-história de onde emergirá o filho.

 

Um filho é inicialmente o desejo de um homem, o desejo de uma mulher e do encontro desses dois desejos nascerá um terceiro desejo, desejo de vida que vai encarnar-se no corpo do filho. De fato, "para que um filho nasça, é preciso ser três, isto é: o pai, a mãe e o filho. Sem esses três desejos, não haverá nascimento, porque cada um depende dos outros dois"(SZEJER,1997, p.55).Do encontro dos dois desejos, o do homem e o da mulher, vai nascer um projeto. E esse projeto, seja ele consciente ou não, faz parte da pré-história do filho. Seja qual for a configuração, essa origem marcará a criança e fará parte de sua história. Isso porque essa origem está inscrita no inconsciente parental como uma verdade que se refere a essa criança.

Para um homem, desejar um filho não significa o mesmo que para uma mulher. As palavras são as mesmas, mas o contexto que dá sentido a essas palavras é muito diferente. Pode-se dizer que o desejo de ter um filho é uma coisa, o projeto de ser pais é outra bem diferente, mas com certeza preexiste à concepção do filho. Quando se deseja um filho, é o filho que se projeta, imaginariamente, no futuro. Ter um projeto de ser pais é projetar a si mesmos no futuro, como pais desse filho. A prova de que existe uma diferença entre estas duas situações é que se pode ter um desejo de ter filhos e nunca se elaborar um projeto de ser pais.

 

Cada gravidez evoca, para o pai e para a mãe, sua própria história e os remete a ela. Se, por exemplo, a mãe é a primogênita, sua relação com seu primeiro filho será marcada pela forma como ela mesma viveu este lugar de primogênita. Assim, o lugar singular de cada filho do casal fará eco aos diferentes irmãos. Um eco muitas vezes inconsciente, mas nem por isso menos real, porque o lugar que cada um ocupou e ocupa ainda em sua linhagem deixa marcas, faz parte de cada um e é em função desse lugar que cada um deles se estruturou, portanto, a concepção situa-se na pré-história como inscrição, na ordem do biológico, do encontro de desejos conscientes e inconscientes do pai e da mãe"(SZEJER,1997).

 

O psiquismo pré-natal é tão antigo quanto o ser humano, porém novos estudos e descobertas estão surgindo nesta área. Quando se fala em psiquismo pré e perinatal se refere à existência de vida mental no feto e no recém-nascido e, também, de registros de experiências nesse período, tanto traumáticas quanto não traumáticas, na mente humana.

 

Como diz Wilhein, o período pré-natal, vai de antes da concepção até o nascimento. Acredita-se que todas as experiências biológicas pelas quais passa o ser desde sua experiência como espermatozóide e óvulo recebem inscrição, que ele manifestará mais tarde em seu agir, através dos sentimentos e emoções. Portanto, todas as vivências pelas quais passa o ser no período pré-natal irão fazer parte de sua bagagem inconsciente, exercendo influência tanto sobre sua personalidade pós-natal como sobre a sua conduta e o seu comportamento.

 

Os conhecimentos referentes ao período pré-natal nos últimos trinta anos obrigam-nos a ter um outro entendimento sobre o feto, o bebê e a criança .Por um lado, o emprego do ultra-som nos exames pré natais, as técnicas de fecundação in vitro e o emprego da fotografia intra-uterina, permitiram a observação do feto em seu habitat natural, iluminando um mundo cheio de mistérios. Por outro lado, as pesquisas voltadas para o campo da memória tentam explicar como as experiências vivenciadas no início da nossa existência biológica são memorizadas, bem como identificar como surgem as emoções provocadas pela interação fisiológica entre o organismo da mãe e o do feto .

 

O campo da psiconeuro-endócrino-imunologia também tem ajudado muito a lançar luz sobre a vida fetal, revelando dados importantes sobre a experiência intra-uterina como o desenvolvimento das funções senso-perceptivas (táteis, olfativas, gustativas, auditivas, visuais), das funções motoras do feto e também sobre seu comportamento e a sua personalidade.

 

Pesquisadores dos EUA descobriram como o feto consegue "desligar" parte do sistema de defesa da mãe contra infecções, evitando ser vítima do sistema imunológico materno. Ou seja, antes mesmo de nascer, ele já sabe "se virar", defendendo-se habilmente contra um "inimigo" que poderia rapidamente matá-lo: sua própria mãe. (NETO, Ricardo Bonalume. Folha Mundo de São Paulo- p. 14 - 03/09/1998). Outra evidência é a de que um embrião de oito semanas já revela atenção dirigida, pois, durante um exame de amniocentese, foram observados movimentos para afastar ou apanhar com a mão a agulha introduzida. Isto prova que o feto está atento, alerta e tem percepção de perigo, ou seja, a capacidade de atenção é inata.

A psicanalista italiana Piontelli fez algo inédito até então: observou fetos (singulares e pares de gêmeos) dentro do ventre, através do ultra-som, durante o nascimento e, também, acompanhou essas crianças até os quatro anos de idade. E diz:" só recentemente na história da humanidade foi outorgado aos bebês a dignidade de seres humanos, dotados de complexa gama de sentimentos e emoções" (Piontelli,1995, p.20).

 

Os investigadores que acompanham o desenvolvimento das capacidades do feto concordam em dizer que o bebê, antes de nascer, é um ser inteligente, sensível, apresentando traços de personalidade próprios e bem definidos. Tem uma vida afetiva e emocional que pode estar vinculada à sua experiência relacional com sua mãe, já que está em comunicação empática, fisiológica e de comportamento com ela, captando os seus estados emocionais e sua disposição afetiva para com ele. O bebê também, poderá estabelecer um vínculo afetivo com o pai, através dos carinhos que o homem oferecer à mulher.

 

Vamos ver cada uma das comunicações, começando pela via da fisiologia. Já é consenso que a placenta não funciona como barreira protetora nem filtra todas as substâncias tóxicas ou nocivas ao bebê dentro do útero da mãe. As perturbações do dia-a-dia ou estados de maior tensão, provocam stress porque as células passam a secretar grandes quantidades de hormônio na corrente sangüínea, produzindo sensações psicológicas associadas ao temor e à angústia. Quando presentes na corrente sangüínea da mãe, chegam até o feto pelo cordão umbilical, e ele terá o mesmo sentimento dela: temor e angústia. Pela via empática, perceberemos que a disponibilidade afetiva é de fundamental importância, porque, se o estado emocional da mãe não favorece tal disponibilidade, retirando sua libido do contato com o bebê, ela o deixa abandonado a uma situação de injusta sobrecarga e desamparo. A disponibilidade afetiva da mãe é fundamental para que ocorra o desenvolvimento do vínculo afetivo da tríade, porque é através da mulher que o homem pode entrar em contato com seu bebê. A terceira via é a do comportamento, pode efetivar-se através de um contato deliberado e direto com seu bebê, em vários momentos do dia, isto é, conversando com ele, tocando-o, acariciando-o através de seu ventre, contando-lhe histórias ou ouvindo músicas (WILHEIN, 1997).

 

Por toda sua natureza, a mulher é criada para acolher , portar nela e gestar uma vida nova e, de certa forma, no período gestacional, a mãe é para a criança o mesmo que o solo é para a planta ou para a semente de uma planta. Para crescer, desabrochar e se desenvolver, uma planta precisa enraizar-se ao solo e retirar dele os nutrientes básicos para a sua vida. É assim, na condição de profunda dependência de sua mãe que a criança começa a sua vida, mas aos poucos vai ganhando autonomia e se tornando cada vez mais independente , tanto física quanto psicologicamente, revelando-se um ser humano único, que tem uma personalidade marcante e bem definida.

 

 pai que é o co-criador e protetor, contribui igualmente para fazer surgir e germinar esta vida, o que implica o dever de criar as circunstâncias que garantam um estado ótimo de desenvolvimento dessa vida em todas as suas dimensões. Juntos, o pai e a mãe são os pais. Os que vão colocar no mundo um novo ser, dando origem a uma futura nova geração. Ambos encontram-se diante de uma missão da mais alta responsabilidade, porque é fundamental que este encontro óvulo-espermatozóide possa ser a primeira história de amor na vida desse novo ser.

 

3. Novas contribuições ao acompanhamento da tríade parental

Estudos revelam que o Brasil ainda tem grandes falhas na atenção ao pré-natal e ao parto, tendo como conseqüência um alto índice de mortalidade infantil (17 mortes por 1000 nascidos vivos), em relação aos índices europeus (06 mortes por 1000). Essas mortes são por conta de problemas perinatais e, entre as principais causas, estão a prematuridade e o grande número de cesárias marcadas. Esses procedimentos não se aproximam do que é postulado pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS), quando define "parto natural" e conceitua "Maternidade Segura", estabelecendo práticas demonstradamente úteis associadas ao nascimento. Uma delas, básica, é de que existe necessidade de um bom monitoramento ao bem-estar físico e emocional da mãe. A OMS reconhece que o estado emocional da mãe muda radicalmente o prognóstico materno e fetal. A própria OMS afirma que, ao optar-se pela cesariana, deve existir um motivo válido para se perturbar esse processo natural que habitualmente é tão bem conduzido.

 

As falhas durante o pré-natal, entendido aqui como período anterior à concepção até o nascimento, também são muitas, pois não são levadas em consideração as competências e as habilidades do pequeno ser em desenvolvimento e, inclusive, de sua grande necessidade afetiva, desde sua concepção para que possa crescer e se desenvolver em todos os sentidos.

 

Neste momento, é oportuno destacar os conhecimentos da Haptonomia, também denominada pelo seu fundador "Ciência da Afetividade", uma abordagem muito recente, que faz uma intervenção direta no período gestacional, auxiliando o "casal grávido" a construir um vínculo afetivo forte com seu bebê, desde a concepção.

 

As reflexões do holandês Frans Veldman começaram há mais de cinqüenta anos, após ter este passado por experiências muito dramáticas relacionadas com a deportação para campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial. Aos poucos, ele foi sistematizando suas reflexões até que cerca de vinte e cinco anos atrás, mudou-se para  uma pequena cidade do sul da França, nos Pirineus Orientais. Lá criou o Centre International de Recherche et Developpement de L’Haptonomie - C.I.R.D.H.

 

Sua formação médica, filosófica, psicológica e artística o levou a teorizar sua descoberta, a partir de uma grande experiência clínica e hospitalar, fornecendo provas da necessidade de uma confirmação afetiva existencial, desde o início da vida, isto é, desde a concepção do ser humano.

 

Vamos conhecer a origem do termo Haptonomia "ciência da afetividade" que é intitulada por seu fundador "ciência das interações e relações afetivas humanas".

"HAPSIS" – Designa o tato, a sensação, o sentimento.

"HAPTO" – do verbo ‘haptein’ quer dizer: eu reúno, eu toco, eu estabeleço relacionamentos, eu me vinculo a ...

"NOMOS"- que designa a lei, a regra, a norma, isto é, eu estabeleço tatilmente um contato para ajudar a ficar saudável, para curar, para tornar inteiro, para confirmar o outro em sua existência.

 

Essa etimologia sublinha a intenção da abordagem Haptonômica, que é a de considerar a pessoa em sua integridade e de confirmá-la afetivamente pela qualidade de um contato muito específico, dito "psicotátil". Esse contato, que não é de forma alguma reduzido a um toque, mas requer: presença, prudência, transparência e muito respeito. Neste contexto, seu fundador distingue três maneiras de reconhecer a existência humana. A primeira é a afirmação existencial, isto é, a aceitação da existência da outra pessoa, reconhecendo que ela está ali e dizendo sim a sua existência. Essa afirmação é o requisito mínimo que permite estabelecer, aceitar e tolerar a presença no mundo de outra pessoa. Esta abordagem reconhece que todos têm um lugar no mundo, sem que lhes seja feita qualquer discriminação de raça, origem, cor de pele, etc.

 

A confirmação racional da Existência é a validação intelectual da existência concreta da outra pessoa, um reconhecimento que implica a justificação de sua existência, de sua presença natural e de sua realidade funcional, seu modo de existir mediante representação. É nas trocas sociais, em qualquer nível, que os seres humanos confirmam a si próprios e aos outros em variados graus e de muitas maneiras, nas suas qualidades e capacidades. A base do convívio é dupla, não obstante, os dois fatores formam uma unidade: por um lado, cada um aspira a ser confirmado pelo que ele é, ou até mesmo pelo que ele pode vir a ser, e, por outro lado, pela aptidão potencial, inata em cada um, para proporcionar essa confirmação junto com os outros.

 

A terceira é a confirmação afetiva, que vai muito além da confirmação racional da existência, uma vez que revela e confirma a verdadeira e essencial natureza do ser humano, isto é, o seu bem pessoal e individual e seu valor. "A confirmação afetiva Haptonômica não se limita, portanto, ao reconhecimento e a validação do outro, no seu funcionamento existencial, leva em conta e o afirma na sua essência: reforça, afirma e confirma na sua autenticidade e funda o estado de (re)afirmação da segurança" (VELDMAN,1998, p.47).

 

Nessa abordagem, a criança é percebida como um ser desejante com enorme abertura para o mundo, desde o período gestacional. Porém a criança que não foi afetivamente convidada/chamada a comunicar-se de maneira adequada às suas necessidades, aborrece-se e retira-se decepcionada, vê-se e se sente depressiva. São as crianças hipodesejantes. Elas crescem, engordam, exprimem-se, mas de uma maneira rude e pouco investida. Os estragos ficarão perceptíveis só bem mais tarde, na época da aprendizagem da leitura e da escrita, por exemplo, quando ela demonstra pouco interesse, passividade e incapacidade de fazer laços afetivos duráveis e sólidos.

 

Em seu texto, Dolto-Tolitch destaca que o neurocientista A. Damásio com suas descobertas vem fortalecer o que a haptonomia também acredita, isto é, a mente e o pensamento, em se estruturando, formam as redes neuronais necessárias a seu funcionamento em função do que se oferece a eles. E vai mais longe, dizendo que no embrião, as interações entre células, determinadas pela atividade que se desdobra ao longo de sua evolução pessoal vêm modular a expressão dos gens que controlam fundamentalmente seu desenvolvimento. Seria assim, da concepção até o fim da vida. Por estas razões, a importância das interações precoces e do meio ambiente em geral, durante a gestação, infância e a adolescência como base.

 

Neurofisiologistas demonstram, em se tratando da sensibilidade tátil que existe durante a gestação (sete semanas e meia mais ou menos), os plexos nervosos funcionam como receptores antes de serem trocados, no plano funcional, pelos órgãos específicos. "Do ponto de vista neurofisiológico, ficou claro que as redes neuronais de comunicação preliminar à linguagem, estão aí solidificadas no encontro afetivo. Pode-se pensar que esses encontros freiam os caminhos dos circuítos neuronais, que estabelecerão mais tarde a linguagem e depois a língua" (DOLTO-TOLITCH,1995, p.122).

 

O acompanhamento haptonômico tem um objetivo profilático desde o início do desenvolvimento do ser e da relação mãe/pai/bebê. Ele não pode ser comparado às preparações do parto, porque seu projeto é muito mais amplo. Se trata de um acompanhamento que começa bem cedo na gestação e termina quando a criança inicia a marcha autônoma. Ele "favorece o desenvolvimento dos laços afetivos entre a mãe, o pai e a criança, permitindo-lhes viver uma relação de carinho desde o ventre materno, permitindo que a criança adquira muito cedo uma segurança de base, princípio de autonomia, capacidade de se comunicar, confiança em si e nos outros"(DÉCANT-PAOLI,2002, p.75).

 

No decorrer do acompanhamento, os pais descobrem com o profissional como "se encontrar" e "se comunicar" com seu bebê através do contato psicotátil afetivo-confirmante, pleno de carinho e de amor. Esse contato é, freqüentemente, muito emocionante e muito alegre para os pais quando descobrem, pela primeira vez, que o bebê vem ao seu encontro respondendo ao seu convite. Essa troca solicita um engajamento afetivo da parte dos pais e deve continuar a se repetir em casa, para amadurecer e se desenvolver porque implica numa progressão, adaptando-se às diferentes fases da gestação.

 

Não é pensável, do ponto de vista haptonômico, estabelecer um contato com o bebê no ventre materno se a mãe não participa e não se sente ela mesma presente, acolhida e confirmada. Há diversas formas carinhosas e lúdicas de ir ao encontro do bebê. Por essas respostas, ele mostra que memoriza, reconhece a voz e os convites e espera estes momentos de encontro. Graças a esses contatos, ele recebe uma confirmação afetiva, essencial para seu desenvolvimento e, por suas respostas, ele confirma seus pais e toda a tríade é transformada por essa dinâmica.

 

Nas gestações difíceis, o acompanhamento haptonômico se revela muito precioso e um apoio para os pais e para o bebê. Permite o desenvolvimento mais favorável do potencial do bebê, qualquer que seja sua patologia, na segurança dos laços com seus pais. Assim, a vivência dos pais pela notícia/informação de malformações, ameaças de parto prematuro, os dramas que afetam os pais ou um membro da família, encontra-se totalmente transformada. Eles descobrem que se pode acompanhar o bebê em direção à saída do ventre, se houver a necessidade de uma interrupção medical da gravidez, exatamente como fizeram desde o início do acompanhamento(DÉCANT-PAOLI,2002).

 

Em geral, podem-se prever oito ou nove sessões para o período pré-natal. O acompanhamento pré e pós-natal não pode, em nenhum caso, ser realizado em grupo, porque toca no mais íntimo da relação do casal, da história da concepção do bebê e dessa singularidade (familiar e sexual) de cada futuro pai, que tem necessidade desse espaço íntimo com o acompanhamento profissional para se entregar com toda a confiança e segurança. Ele pode ser o lugar de momentos emocionais muito intensos referentes a traumas sexuais, de segredos da família e de casais, à perda de uma criança, ou a uma interrupção da gravidez terapêutica.

 

3.1. O "lugar" do pai no acompanhamento haptonômico

A presença do pai no decorrer desse acompanhamento pré e pós-natal é essencial, porque ele toma sem retardar seu lugar na relação triangular, em benefício dos três membros da tríade. Muitos pais se sentem excluídos nesse período e o vivem como um affaire das mulheres, onde eles se sentem deslocados. Com a haptonomia eles descobrem que têm um papel muito importante. Com efeito, o pai, que era o genitor ou simplesmente o companheiro que toma simbolicamente esse lugar, nesse trabalho é ele que constitui os recursos afetivos da mãe, pois a apóia, a acompanha e a acolhe, com gestos bem precisos que a ajudam durante a gravidez e no momento do parto. No jogo de contato com o bebê, o seu lugar de terceiro é primordial, permitindo ao bebê viver desde sua vida pré-natal como membro de uma tríade e não um binômio com sua mãe. Muito cedo ele discerne a presença de seu pai e se aproxima do lado de sua voz quando ele fala.

 

Se o pai não deseja esse acompanhamento, é necessário recusar o acompanhamento sem ele. Isso poderia ser nefasto para a relação entre o pai e o bebê, para esse casal e a família. Não respeitar o pai na sua recusa, é também não respeitar seu filho, e a haptonomia se pauta sempre numa ética de respeito. Ao contrário, se o acompanhamento é desejado pela mãe e não pode ser conduzido na presença do pai, porque a abandonou ou faleceu, a mãe e o bebê podem e devem ser acompanhados por uma pessoa próxima da mãe. Essa pessoa pode ser um homem ou uma mulher, ela estará na posição de quarto, não representando, em hipótese alguma, o pai.

 

Na comunicação afetiva estabelecida no decorrer do acompanhamento, os pais aprendem a sentir e a escutar seu bebê. Tudo isso os ajuda a facilitar e diminuir os tempos de sua descida no canal vaginal e, longe de ser "expulso" como um corpo estranho no nascimento, "ele se faz nascer" com o apoio de seus pais.

 

As mulheres descobrem, também, a "caminhada" do bebê para o nascimento, que elas acompanham com uma comunicação afetiva (pré-lógica e pré-racional) e não o abandonam, mesmo na dor mais forte. Mesmo que o parto se revele mais medicalizado que o previsto, mesmo que uma cesariana seja necessária, o bebê se sente apoiado e não abandonado na solidão para nascer. Qualquer que seja a situação, a mãe pode guiá-lo em direção à abertura, numa atenção intensa feita de proteção e de amor. As mulheres bem acompanhadas evitam, em geral, o "baby bules" do pós-parto, muito freqüentemente banalizado e considerado como psicofisiológico. Quando o laço foi estruturado assim, na tríade e com segurança afetiva, o desligamento da mãe e do bebê e a entrada na maternagem se fazem mais facilmente (DÉCANT-PAOLI,2002).

 

No momento do parto, o pai desempenha um papel maior de acolhimento do bebê. Após alguns minutos sobre o ventre materno, é o pai o primeiro a pegá-lo em seus braços e o apresenta ao mundo exterior, de maneira haptonômica. É a primeira separação, "de importância capital para o desdobramento da corporalidade, da individuação e do estabelecimento de uma autonomia sentida, ressentida e vivida". Assim ele ajuda a mãe e o bebê a sair, com toda a segurança, da relação pseudo-simbiótica na qual ele viveu ao logo da vida intra-uterina.

 

3.2.  O acolhimento ao recém-nascido

Esse acompanhamento da relação afetiva entre pais e bebê deve, imperativamente, continuar após o nascimento, num trabalho pós-natal. O que o recém-nascido sentiu durante a gravidez constitui toda uma vivência afetiva de presença e de encontros, numa experiência de prazer. Após o grande evento que constitui o nascimento, é importante a continuidade de seu acompanhamento, pois sua curta vida já é rica em impressões e ele tem necessidade de reencontrar esse ponto de referência e de segurança. Ele perdeu a convivência segura com sua mãe, os ritmos de seu coração e sua respiração, o calor, o gosto e a doçura do líquido amniótico, as pulsações, o som, o contato e o odor da placenta e do cordão umbilical. Ele descobre o frescor do ar em sua pele, experimenta a força da gravidade que não é reconfortante, seus olhos se abrem à luz, e logo virão a primeira fome, as dificuldades digestivas, o funcionamento dos intestinos, a solidão (DÉCANT-PAOLI,2002).

 

A maneira de se carregar um bebê é significante como uma linguagem. Um bebê carregado como se faz habitualmente nas culturas, sem convite a se segurar e a se mover por si mesmo, recebe implicitamente uma educação que valoriza a passividade, a submissão, e inibem a intencionalidade vital, causando prejuízo para seu desenvolvimento psicoafetivo e sensoriomotor e, por conseqüência, para a sua inteligência na acepção mais ampla do termo. Para um bebê bem acompanhado, essa maneira de agir constituirá uma verdadeira frustração.

 

Os encontros pós-natais seguem os estágios do desenvolvimento do bebê. Quatro sessões são habitualmente necessárias, sendo a primeira, o mais tarde em quinze dias após o nascimento, depois um mês, três meses e meio (que corresponde ao aniversário da concepção). A última sessão, indispensável, faz-se na aquisição da marcha, período crucial para o desenvolvimento da autonomia. Na prática, a freqüência dos encontros se ajusta aos casos particulares, segundo a necessidade dos pais e do bebê (DÉCANT-PAOLI,2002).

 

Os bebês bem acompanhados nascem com um bom tônus de postura, eles seguram rapidamente sua cabeça e, sobretudo, sua presença é muito particular. Eles são calmos, espertos, sorridentes, agradáveis. Eles choram pouco e se fazem facilmente compreender. O sentimento de segurança interiorizado depois de meses, torna-os muito autônomos.

Como afirma Veldman é fato comprovado que as crianças contatadas durante a gravidez pela abordagem haptonômica são muitas vezes mais presentes, mais curiosas, mais atentas, mais observadoras, mais comunicativas, mais exigentes, mais alegres, mais tranqüilas... que a média das crianças depois do nascimento. Um despertar foi antecipado para elas por essa forma de diálogo pré-natal a três (VELDMAN,1998).

 

Pode-se dizer que são bebês precoces e "é isso que nos anima a pensar que, se o desenvolvimento de um bebê que tem simplesmente vivido a segurança afetiva é assim tão transformador ou, se são os outros que são artificialmente retardados por um contexto de insegurança, considerado infelizmente como a norma" (DÉCANT-PAOLI,2002, p.85).

 

Dispõe-se, nos dias de hoje, de uma medicina fetal muito sofisticada e, contrariamente ao que se poderia crer, é importante conciliar um trabalho de equipe entre estes profissionais e os haptoterapeutas. Quando isso se faz, há um respeito mútuo na preocupação de acompanhar melhor os pais e o bebê, descobre-se, então, uma sintonia entre a eficácia técnica e a função de um trabalho com mais humanidade e com acompanhamento afetivo. Longe de se combaterem, a afetividade e efetividade devem ser complementares, ajudando os pais e o bebê a enfrentarem a angústia do abandono, nesses momentos difíceis. Portanto, "as seqüelas psico-afetivas na tríade e, sobretudo no bebê, se encontram espantosamente diminuídas com o acompanhamento haptonômico"(DÉCANT-PAOLI,2002, p.85).

 

A ciência haptonômica tem muito a colaborar com o desenvolvimento das futuras gerações, como um instrumento para fortalecer os laços afetivos entre pais e filhos, e assim possibilitar a construção de uma sociedade mais justa, mais respeitosa, mais segura, enfim, mais humanizada.

 

Considerações Finais

No decorrer do texto procurou-se destacar que, em algumas épocas, o foco ideológico ilumina o pai , em detrimento da mãe e do filho, e, em outras épocas o foco ideológico se volta para a mãe e o bebê, deixando o pai quase que num total esquecimento. Este trabalho tenta resgatar e dar a devida importância a cada elemento da tríade, sem deixar nenhum na obscuridade. Muito pelo contrário, cada um precisa desempenhar seu papel para que um se fortaleça no outro, construindo uma base afetiva consistente que possa perdurar por toda a vida da criança podendo, a partir disso, ser edificada uma vida mais feliz, mais segura, mais confiante, apesar de todas as adversidades que, certamente, vão surgir no decorrer da mesma.

 

Essa ciência haptonômica concebe a criança como um ser desejante, em busca de sentido e de comunicação desde a vida intra-uterina, tendo um objetivo preventivo. Pois, desde o período gestacional a mãe pode construir um relacionamento extremamente sutil com seu bebê. O pai, nesta abordagem, resgatou seu papel e pode entrar em contato e estabelecer com seu filho um vínculo afetivo, pelos acalentos que oferecer à mãe, e também à criança englobada indiretamente. A presença do pai no decorrer do acompanhamento pré-natal é de fundamental importância para todos, pois permite que ele ocupe o mais rápido possível seu lugar na relação triangular. Em troca, o bebê com suas respostas, confirma afetivamente seus pais. Sinal de uma dinâmica muito especial na tríade parental – pai/mãe/bebê.

 

O profissional permite aos pais descobrirem essa linguagem afetiva "transmitindo-lhes um "saber-fazer" e os ajudando a amadurecer um "saber-ser" para desenvolver um "saber-cuidar, os três juntos", resguardando, garantindo a possibilidade de instaurar o processo de formação de competências que procura dar conta da complexidade do ser em desenvolvimento. Graças à "confirmação afetiva" que recebe, a criança desenvolve um sentimento de segurança básico que perdurará muito tempo depois do nascimento.

Portanto, o acompanhamento pré e pós-natal haptonômico favorece o desenvolvimento dessas relações afetivas entre a criança , a mãe e o pai, permitindo-lhes viver uma relação de carinho e afeto quando o bebê está ainda no ventre da mãe, possibilitando o desabrochamento do sentimento de parentalidade, de responsabilidade afetiva dos pais em relação à maneira de ser do seu bebê. Eles descobrem que podem apoiá-lo no seu desenvolvimento físico, psíquico e afetivo, dando-lhe um lugar bem antes do nascimento.

Esse contato precoce faz um apelo à libido vital, reativado quando a pessoa pode viver seus sentimentos sem temor, podendo descobrir que seus atos são justos e que ela mesma é digna de confiança e amor. Cada ser humano é originariamente dotado de faculdades/recursos que lhe permitem adquirir sua autonomia afetiva. Entretanto, para que essas faculdades/recursos possam desenvolver-se, é preciso que sejam oferecidas as incitações, apoios, encorajamentos, reconforto, atenção afetiva necessária e adequada fazendo com que a pessoa seja confirmada em sua existência tanto quanto em sua essência.

 

E, se forem levados em conta os conhecimentos do psiquismo pré e perinatal, das descobertas das psiconeurociências, das novas tecnologias, associados aos conhecimentos da abordagem haptonômica e sua forma de intervenção através do toque psicotátil confirmante, estará enriquecendo sua práxis e propiciando um atendimento de forma integral ao novo ser humano e seus pais, entrelaçando efetividade e afetividade.

 

 

Referências Bibliográficas

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