MUDAR A FORMA DE ENSINAR E DE APRENDER COM
TECNOLOGIAS
Transformar as aulas em pesquisa e
comunicação presencial-virtual
José Manuel Moran
Professor de Novas Tecnologias na Pós-Graduação da ECA-USP
e da Universidade Mackenzie.
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Apresentação
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Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
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Transformar a aula em pesquisa e comunicação
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Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
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Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala
de aula?
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Educar o educador
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Educação para a autonomia e para a cooperação
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Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
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Alguns problemas no uso da Internet na educação
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Conclusão
Apresentação
"Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca
ter aprendido a comunicar-se, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a
raiva e outros sentimentos negativos” (Carl Rogers).
Educar é colaborar para que
professores e alunos - nas escolas e organizações - transformem suas vidas em
processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua
identidade, do seu caminho pessoal e profissional, do seu projeto de vida, no
desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes
permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos.
Educamos de verdade quando
aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos,
tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em
todos os espaços em que vivemos na família, na escola, no trabalho, no lazer,
etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o
presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e
emoção.
De tudo, de qualquer
situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que
nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já
sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo
Na educação - nas
organizações empresariais ou escolares - buscamos o equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de
liberdade) e a organização (onde há
hierarquia, normas, maior rigidez). Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos às
diferenças individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar
as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização, buscamos
gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os
custos, estabelecemos os parâmetros fundamentais. Avançaremos mais se
soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando
conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em
uma comunidade de investigação.
Ensinar de formas diferentes para pessoas diferentes
Com a Internet estamos começando a ter que modificar a forma de ensinar e
aprender tanto nos cursos presenciais como nos de educação continuada, à
distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente - num curso empresarial
ou escolar - quando acontece algo significativo, quando
aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas
casas. Muitas formas de ensinar hoje não
se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos
muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como
alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos
muito tempo.
Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais
compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda
participação dos alunos, individual e grupalmente, onde as tecnologias nos
ajudarão muito, principalmente as telemáticas.
Ensinar e aprender
exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de
grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de
comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação,
a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em
espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade
em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da
nossa mente e da nossa vida.
A aquisição da informação,
dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer
hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor -
o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a
relacioná-los, a contextualizá-los.
Aprender depende também do
aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real significação
que essa informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente,
emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal -
intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente significativa, não
será aprendida verdadeiramente.
Hoje temos um amplo conhecimento horizontal - sabemos um pouco de muitas
coisas, um pouco de tudo. Falta-nos um conhecimento mais profundo, mais rico,
mais integrado; o conhecimento diferente, desvendador,
mais amplo em todas as dimensões.
Uma parte das nossas
dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no
nível organizacional e interpessoal formas de gerenciamento autoritário,
pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação, que
buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia
principal.
O professor é um
facilitador, que procura ajudar a que cada um consiga avançar no processo de
aprender. Mas tem os limites do conteúdo programático, do tempo de aula, das
normas legais. Ele tem uma grande liberdade concreta, na forma de conseguir
organizar o processo de ensino-aprendizagem, mas dentro dos parâmetros básicos
previstos socialmente.
O aluno não é unicamente
nosso cliente que escolhe o que quer. É um cidadão em desenvolvimento. Há uma
interação entre as expectativas dos alunos, as expectativas institucionais e
sociais e as possibilidades concretas de cada professor. O professor procura
facilitar a fluência, a boa organização e adaptação do curso
a cada aluno, mas há limites que todos levarão em consideração. A
personalidade do professor é decisiva para o bom êxito do ensino-aprendizagem.
Muitos não sabem explorar todas as potencialidades da interação.
Se temos que
trabalhar com um grupo, não poderemos provavelmente preencher todas as
expectativas individuais. Procuraremos encontrar o ponto de equilíbrio entre as
expectativas sociais, as do grupo e as individuais. Quando há uma diferença
intransponível entre as expectativas grupais e algumas expectativas
individuais, incontornáveis a curto prazo, ainda
assim, na educação, procuraremos adaptar flexivelmente as propostas, as
técnicas, a avaliação (prazo maior, diferentes formas de avaliação). Somente no
fim deste processo podemos julgar negativamente - reprovar o outro. É cômodo
para o educador jogar sempre a culpa nos alunos, dizendo que não estão
preparados, que são problemáticos. A criatividade está em encontrar formas de
aproximação dos alunos às nossas propostas, à nossa pessoa.
Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos
com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo. Tem alunos que
estão prontos para aprender o que temos a oferecer. É a situação ideal, onde é
fácil obter a sua colaboração. Alunos mais maduros, que necessitam daquele curso
ou que escolheram aquela matéria livremente facilitam nosso trabalho, nos
estimulam, colaboram mais facilmente.
Outros alunos, no início do
curso podem estar distantes, mas sabendo chegar até eles, mostrando-nos
abertos, confiantes e motivadores, sensibilizando-os para o que eles vão
aprender no nosso curso, respondem bem e se dispõem a participar. A partir daí
torna-se fácil ensinar.
Existem outros que não estão
prontos, que são imaturos ou estão distantes das nossas propostas. Procuraremos
aproximá-las o máximo que pudermos deles, partindo do que eles valorizam, do
que para eles é importante. Mas se, mesmo assim, a resposta é fria, poderemos
apelar para algumas formas de impor tarefas, prazos, avaliações mais
freqüentes, de forma madura, mostrando que é pelo bem deles e não como forma de
vingança nossa. O professor pode impor sem ser autoritário, sem humilhar,
colocando as tarefas de forma clara, calma e justificada. A imposição é um
último recurso do professor, não primeiro e único. Sempre que for possível,
avançaremos mais pela interação, pela colaboração, pela pesquisa compartilhada
do que pela imposição.
Transformar a aula em pesquisa e comunicação
Vejo as aulas nas organizações - como processos contínuos de comunicação e de
pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento em
um equilíbrio entre o individual e o grupal, entre o
professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos.
Aula-pesquisa, onde professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para
sensibilizar o aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da
participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com participação ativa
avança mais, facilita todo o nosso trabalho. Depois da sensibilização - verbal,
audiovisual - o aluno, às vezes individualmente e outras em pequenos grupos,
procura suas informações, faz a sua pesquisa na Internet, em livros, em contato
com experiências significativas, com pessoas ligadas ao tema..
Os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados
pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às
vezes todos simultaneamente; às vezes, em grupos; às vezes, individualmente.
Uma parte da pesquisa pode
ser feita "ao vivo" (juntos fisicamente); outras, "off line" (cada um pesquisa
no seu espaço e tempo preferidos). Ao vivo, o professor está atento às
descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam,
escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda,
problematiza, incentiva, relaciona.
Ao mesmo tempo, o professor coordena as trocas, os alunos relatam suas
descobertas, socializam suas dúvidas, mostram os resultados de pesquisa. Se
possível, todos recebem uma seleção dos melhores materiais descobertos pelos
alunos, junto com os do professor (textos impressos ou colocados a disposição
pelo professor ou indicados em sites
da Internet).
Os alunos levam para casa os
textos, onde aprofundam a sua leitura, fazem novas sínteses, colocam os
problemas que os textos suscitam, os relacionam com a sua realidade.
Essa pesquisa é comunicada
em classe para os colegas e o professor procura ajudar a contextualizar, a
ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos
significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de ida e volta,
onde todos se envolvem, participam é fascinante, criativo, cheio de novidades e
de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência se
torna muito mais forte e definitivo em nós.
Junto com a pesquisa coletiva, o professor incentiva a pesquisa
individual ou projetos de grupo. Cada aluno
-pessoalmente ou em dupla - escolhe um tema mais específico da matéria e que é
do interesse também do aluno. Esse tema é pesquisado pelo aluno com orientação
do professor. É apresentado à classe. É distribuído aos colegas. É divulgado na
Internet.
É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar
todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada
instituição, por cada classe. Vale a pena descobrir as
competências dos alunos que temos em cada classe, que contribuições podem dar
ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa
com as grandes diretrizes delineadas e onde vamos
construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos - professor
e alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento.
Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais com virtuais, períodos de
pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos com a orientação
virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências,
experiências, idéias.
Quando vale a pena encontrar-nos fisicamente numa sala de aula?
Como regra geral, no começo
e no final de um novo tema, de um assunto importante. No início, para colocar
esse tema dentro de um contexto maior, para motivar os alunos, para que
percebam o que vamos pesquisar e para organizar como vamos pesquisá-lo. Os
alunos, iniciados ao novo tema e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do
professor e voltam a aula depois de um tempo para
trazer os resultados da pesquisa, para colocá-los em comum. É o momento final
do processo, de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de
complementar, questionar, relacionar o tema com os demais.
Vale a pena encontrar-nos no
início de um processo específico de aprendizagem e no final, na hora da troca,
da contextualização. Uma parte das aulas pode ser substituída por
acompanhamento, monitoramento de pesquisa, onde o professor dá subsídios para
os alunos irem além das primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas.
Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o
professor.
Na medida em que avançam as
tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se
altera. Podemos ter professores externos compartilhando determinadas aulas, um
professor de fora "entrando" por videoconferência na minha aula.
Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde cada um colabora em
algum ponto específico, muitas vezes à distância.
O conceito de curso, de
aula, também muda. Hoje entendemos por aula um espaço e tempo
determinados. Esse tempo e espaço cada vez serão mais flexíveis. O
professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e
responder mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da
Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez
mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços
diferentes, quando tanto professores quanto os alunos estão motivados e
entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, supervisionados, animados,
incentivados pelo professor.
Poderemos também oferecer
cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso
dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de cobrir falta de
profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor especialistas de
outras instituições que seria difícil contratar.
Educar o educador
De um professor espera-se,
em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a
matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os
seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado,
cooperativo, produtivo.
Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar
determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação
desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço
importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que
alta.
Na educação, escolar ou
empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas
de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que
saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a
compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender,
de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações
pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a
construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas.
As mudanças na educação
dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e
emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e
dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele
saímos enriquecidos.
Os grandes educadores atraem
não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula
chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas
relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas.
Enquanto isso, boa parte dos
professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses.
O contato com educadores
entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos
alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos.
As primeiras reações que o
bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o
entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem.
As mudanças na educação
dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais
abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo
pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores
inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano,
contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e
comunicação.
As mudanças na educação
dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o
processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se
interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador.
Alunos motivados aprendem e
ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm
de famílias abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam afetivamente os
filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais
rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas.
Educação para a autonomia e para a cooperação
A educação avança pouco -
nas organizações empresariais e nas escolas - porque ainda estamos
profundamente inseridos em organizações autoritárias, em processos de ensino e
aprendizagem controladores, com educadores pouco livres, mal resolvidos, que
repetem mais do que pesquisam, que impõem mais do que se comunicam, que não
acreditam no seu próprio potencial nem no dos seus alunos, que desconhecem o
quanto eles e seus alunos podem realizar!
Um dos eixos das mudanças na
educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação
autêntica, aberta entre professores e alunos, principalmente, mas também
incluindo administradores e a comunidade (todos os envolvidos no processo
organizacional). Só vale a pena ser
educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo,
vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a
pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária.
Pode até ser mais eficiente a curto prazo - os alunos
aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a
ser pessoas, a ser cidadãos.
Sei que parece uma
ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente
competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das
vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de
desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que
quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais
significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará
crescer mais, estar mais atentas às mudanças
necessárias.
Com ou sem tecnologias
avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de
ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação
mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as
possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num
processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada
pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as
dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as
habilidades disponíveis do professor e do aluno.
É importante educar para a autonomia, para que cada
um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante
educar para a cooperação, para
aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de projetos, realizar
pesquisas em conjunto.
Só podemos educar para a
autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais
urgentes é educar o educador para uma nova relação no processo de ensinar e aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada
aluno, das habilidades específicas de cada um.
O caminho para a autonomia
acontece combinando equilibradamente a
interação e a interiorização. Pela interação aprendemos, nos expressamos,
confrontamos nossas experiências, idéias, realizações; pela interação buscamos
ser aceitos, acolhidos pela sociedade, pelos colegas, por alguns grupos
significativos. Pela interiorização fazemos a integração de tudo, das idéias, interações, realizações em nós, vamos encontrando nossa
síntese, nossa identidade, nossa marca pessoal, nossa diferença.
A tecnologia nos propicia
interações mais amplas, que combinam o presencial e o virtual. Somos solicitados
continuamente a voltar-nos para fora, a distrair-nos, a copiar modelos
externos, o que dificulta o processo de interiorização, de personalização. O
educador precisa estar atento para utilizar a tecnologia como integração e não
como distração ou fuga.
O educador autêntico é
humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não
sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a sua
ignorância, suas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a
diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza
provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses.
Experiências pessoais de ensino utilizando a Internet
Venho desenvolvendo algumas
experiências no ensino de graduação e de pós-graduação na Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Criei uma página pessoal na
Internet, no endereço www.eca.usp.br/prof/moran. Nela constam as disciplinas de
pós-graduação - Redes eletrônicas na
Educação e Novas Tecnologias para uma
Nova Educação - e três de graduação -
Novas Fronteiras da Televisão, Legislação
e Ética do Radialismo e Mercadologia de Rádio e Televisão - com o programa e alguns textos
meus e dos meus alunos. O roteiro básico é o seguinte: no começo do semestre,
cada aluno escolhe um assunto específico dentro da matéria, vai pesquisando-o
na Internet e na biblioteca. Ao mesmo tempo, pesquisamos também temas básicos
do curso. O aluno apresenta os resultados da sua pesquisa específica na classe
e depois pode divulgá-los, se quiser, através da Internet.
Disponho de duas salas de
aula com dez computadores em uma e quatorze em outra, ligados à Internet por
fibra ótica, para vinte alunos, em média. Utilizamos essa sala a cada duas ou
três semanas. As outras aulas acontecem na sala convencional.
O fato de ver o seu nome na
Internet e a possibilidade de divulgar os seus trabalhos e pesquisas, exerce
uma forte motivação nos alunos, os estimula a participar mais em todas as
atividades do curso. Enquanto preparam os trabalhos pessoais, vou desenvolvendo
com eles algumas atividades.
Começamos com uma aula
introdutória para os que não estão familiarizados com a Internet. Nela
aprendemos a conhecer e a usar as principais ferramentas. Fazemos pesquisa
livre, em vários programas de busca. Cadastramos a cada aluno para que tenha o
seu e-mail pessoal (na própria
universidade ou em sites que oferecem
endereços eletrônicos gratuitamente).
Num segundo momento, todos
pesquisamos um tópico importante do programa. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste
momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai
pesquisar, o fará com mais rapidez e eficiência. O
professor precisa estar atento, porque a tendência na Internet é para a
dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados, a
supervisão do professor podem ajudar a obter melhores resultados. Eles
vão gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em disquete e
também fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão
salvando. As descobertas mais importantes são comunicadas aos colegas. Imprimem
os textos mais significativos. No final, os alunos comunicam os principais
resultados da sua busca e encontramos os principais pontos de apoio para analisar
o tema do dia. Professor e alunos relacionam as coincidências e divergências
entre os resultados encontrados e as informações já conhecidas em reflexões
anteriores, em livros e revistas.
O meu papel é o de acompanhar cada aluno, incentivá-lo, resolver suas
dúvidas, divulgar as melhores descobertas. As aulas na Internet se
alternam com as aulas habituais, onde acrescentamos textos escritos, vídeos
para aprofundar os temas pesquisados inicialmente na Internet. Posteriormente,
cada aluno desenvolve um tema específico de pesquisa, que ele
escolhe, conciliando o seu interesse pessoal e o da matéria. É
interessante que os alunos escolham algum assunto dentro do programa que esteja
mais próximo do que eles valorizam mais. Essas pesquisas podem ser realizadas
dentro e fora do período de aula. Estou junto com eles, dando dicas, tirando
dúvidas, anotando descobertas. Esses temas específicos são mais tarde
apresentados em classe para os colegas. O professor complementa, questiona,
relaciona essas apresentações com a matéria como um todo. Alguns alunos criam
suas páginas pessoais e outros entregam somente os resultados das suas
pesquisas para colocá-los na minha página.
Além das aulas, acontece um estimulante processo de
comunicação virtual, junto com o presencial. Eles podem pesquisar em uma
sala especial em qualquer horário, se houver máquinas livres. Os alunos me
procuram mais para atendimento específico na minha sala, e também enviam
mensagens eletrônicas. Como todos têm e-mail,
envio com freqüência textos, endereços, idéias, sugestões em uma lista que crio
para o curso. Isso estimula, principalmente na pós-graduação, o intercâmbio, a
troca também entre colegas, a inserção de novos materiais trazidos pelos
próprios alunos.
A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso
para não deter-se, diante de tantas possibilidades, em
todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A
intuição é um radar que vamos desenvolvendo de "clicar" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que
procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às
vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se
estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página
esclarecedora. O gosto estético nos ajuda a reconhecer e a apreciar páginas
elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto.
Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de
atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente
selecionada, pesquisada.
Ensinar utilizando a
Internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas
possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o
necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de
tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens
e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos,
lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em
seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado
dos outros, sem a devida triagem.
Creio que isso se deve a uma
primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet
oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas do que analisá-las,
compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias,
assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma
atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver
equivale, na cabeça de muitos, a compreender e há um certo ver superficial,
rápido, guloso sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de
cotejamento com outras leituras. Os alunos se impressionam primeiro com as
páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens
animadas exercem um fascínio semelhante às do cinema, do vídeo e da televisão.
Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser deixados
em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de
grande valor.
A Internet é uma tecnologia
que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades
inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a
faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais
que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a
capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de
confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que
atua.
O aluno desenvolve a
aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A
interação bem sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma
competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no
conjunto, a cooperação prevalece.
A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a
adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações
vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas".
As conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos interconectados,
mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a
flexibilidade, porque a maior parte das seqüências são imprevisíveis, abertas.
A mesma pessoa costuma ter dificuldades em refazer a mesma navegação duas
vezes. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa
individual, em que cada aluno vai no seu próprio ritmo
e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa.
Na Internet também desenvolvemos formas novas de comunicação,
principalmente escrita. Escrevemos de forma mais aberta, hipertextual,
conectada, multilingüística, aproximando texto e
imagem. Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A
possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma
grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos.
Todos se esforçam por escrever bem, por comunicar melhor as
suas idéias, para serem bem aceitos, para "não fazer feio".
Alguns dos endereços mais interessantes ou visitados da Internet no Brasil são
feitos por adolescentes ou jovens.
Outro resultado comum à
maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as
amizades, as trocas constantes com outros colegas, tanto por parte de
professores como dos alunos. Os contatos virtuais se transformam, quando é
possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a criação de amigos em
diferentes países se transforma em um grande resultado individual e coletivo
dos projetos.
Alguns problemas no uso da Internet na educação
Há uma certa confusão entre informação e conhecimento.
Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados
estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura
determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso
paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não
se passa, o conhecimento se cria, se constrói.
Alguns alunos não aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e
de aprender. Estão acostumados a receber tudo pronto do professor, e
esperam que ele continue "dando aula", como sinônimo de ele falar e
os alunos escutarem. Alguns professores também criticam essa
nova forma, porque parece uma forma de não dar aula, de ficar
"brincando" de aula...
Há facilidade de dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de
possibilidades de navegação. Não procuram o que está combinado deixando-se
arrastar para áreas de interesse pessoal. É fácil perder tempo com informações
pouco significativas, ficando na periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem
integrá-los num paradigma consistente. Conhecer se dá ao filtrar, selecionar,
comparar, avaliar, sintetizar, contextualizar o que é mais relevante,
significativo.
Constato também a impaciência de muitos alunos por mudar
de um endereço para outro. Essa impaciência os leva a aprofundar pouco as
possibilidades que há em cada página encontrada. Os alunos, principalmente os
mais jovens, "passeiam" pelas páginas da Internet, descobrindo muitas
coisas interessantes, enquanto deixam por afobação outras tantas, tão ou mais
importantes, de lado.
Conclusão
Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação
presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há
momentos em que vale a pena encontrar-nos fisicamente no começo e no final de
um assunto ou de um curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no
seu espaço habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para
intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação permanente. Ensino a distância não é só um "fast-food" onde o aluno vai
lá e se serve de algo pronto. Ensino a distância é ajudar os participantes
a que equilibrem as necessidades e habilidades pessoais com a participação em
grupos presenciais e virtuais onde avançamos rapidamente, trocamos
experiências, dúvidas e resultados.
Tanto nos cursos
convencionais como nos a distância teremos que
aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesquisando
muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente
na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e
transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas idéias, sentimentos e
valores onde se fizer necessário.
É importante sermos
professores-educadores com um amadurecimento intelectual,
emocional e comunicacional que facilite todo o processo de organização
da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a
busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a
crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de
comunicação.
Necessitamos de muitas
pessoas livres nas empresas e escolas que modifiquem as estruturas arcaicas,
autoritárias do ensino escolar e gerencial. Só pessoas
livres, autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a
liberdade, podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador.
Faremos com as tecnologias
mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos
mais, para interagir melhor. Se somos pessoas
fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva,
superficial. Se somos pessoas autoritárias,
utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação não está
fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas mentes.
Ensinar com as novas mídias
será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino,
que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um
verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de
comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a
modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender.
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