CONHECIMENTOS, VALORES E
VIVÊNCIAS DE ADOLESCENTES ACERCA DAS DOENÇAS DE TRANSMISSÃO SEXUAL E AIDS
Edir
Nei Teixeira Mandú[1]
Aurea Christina de
Paula Corrêa[2]
Maria
Aparecida Vieira
Apresentação
As discussões presentes neste artigo
referem-se à problemática das DSTs e AIDS na
adolescência. Inicialmente, refletimos sobre conhecimentos, valores e práticas
de adolescentes mulheres de segmentos populares frente a tais problemas, a
partir da comunicação de dados de pesquisa, e, de modo complementar, tecemos
algumas considerações acerca da educação sexual como alternativa ao seu
enfrentamento.
Esta produção relaciona-se a nossas
experiências com educação sexual em escolas de comunidades pobres de Cuiabá,
Mato Grosso. Em 1997, buscando uma abordagem apropriada da questão via práticas
educativas, desenvolvemos um estudo voltado à compreensão dos simbolismos e
vivências de adolescentes mulheres frente às DSTs/AIDS e anticoncepção. Neste artigo, apresentamos
apenas parte dos dados analisados, os relacionados à questão das DSTs/AIDS e práticas sexuais de prevenção de riscos, e a
partir destes, valorizando a inter-relação saúde-sexualidade-educação,
debatemos alguns elementos essenciais a serem considerados no encaminhamento de
práticas de educação sexual junto ao grupo.
A
problemática das DSTs/AIDS na adolescência
A importância da temática em foco pode
ser evidenciada, a princípio, a partir de dados epidemiológicos relativos ao
modo como as DSTs/AIDS atingem a população e,
especificamente, os adolescentes.
A AIDs é uma epidemia cujo crescimento
mundial não pode ser desconsiderado. O Brasil encontra-se, hoje entre os quatro
países com maior número de casos registrados, segundo dados do Programa Global
de AIDS da Organização Mundial da Saúde. As notificações realizadas junto ao
Ministério da Saúde, até fevereiro 1998, revelavam 129.000 casos de AIDS, (dado
Sem Correção de atraso de notificação) em todo o território nacional (BRASIL,
1998).
Inicialmente considerada uma doença de
homo e bissexuais, hoje a AIDS atinge os diferentes sexos. Dados estatísticos
revelam não só a sua extensão a heterossexuais, como também a sua rápida feminização. No Brasil, até 1984, 69% dos casos de AIDS
notificados eram relativos à subcategoria de exposição homo e bissexual. Em
1996, esse percentual caiu para 44%. Em 1985, a proporção de casos homem/mulher
era de 28/1 e em 1997/98 essa proporção diminuiu para 2/1 (BRASIL, 1998),
No período de 1980-1997, a AIDS no Brasil
atingiu, na faixa etária de 10 a 14 anos, 276 homens (0,3% do total dos homens
acometidos) e 72 mulheres (0,3% do total de mulheres acometidas); na faixa
etária de 15 a 19 anos, atingiu 1843 homens (2,0% do total de homens
acometidos) e 688 mulheres (2,8% do total de mulheres acometidas). Entre os
casos ocorridos entre 10 e 14 anos, 18 foram relacionados a práticas
heterossexuais, 10 a relações homo e bissexuais e 5 ao uso de drogas e relações
homo e bissexuais; entre 15 e 19 anos, 464 casos foram relacionados a relações
heterossexuais, 235 à exposição a relações homossexuais, 141 a relações
bissexuais e 87 ao uso de drogas e relações homo e bissexuais (BRASIL, 1997a).
Inicialmente, a maioria dos adolescentes
que se contaminou pelo vírus da AIDS era do sexo masculino, através da
transfusão sangüínea. Para as adolescentes mulheres, até recentemente, o uso de
drogas injetáveis era o mais importante fator de risco. Contudo, esse perfil alterou-se.
Não só aumentaram os casos de AIDS/contaminação pelo HIV na adolescência de
homens e mulheres, como também as relações sexuais (hetero
e homossexuais) aparecem como a principal via de contaminação (BRASIL 1997a). A
partir de então, evidencia-se, de modo incontestável, a relevância da relação DSTs/AIDS - exercício da sexualidade na adolescência,
Segundo o Ministério da Saúde, desde o
início da epidemia, o grupo etário mais atingido tem sido o de 20 a 39 anos,
correspondendo a 71% dos casos notificados até fevereiro de 1998, com
progressivo aumento da freqüência relativa entre os mais jovens (20-29 anos) e
tendência à estabilização após 1991 (BRASIL, 1998). Em todo o mundo, estima-se
que, em 1997, ocorreram 16.000 casos novos de infecção pelo HIV - mais de 50%
entre a faixa de idade de 16 a 24 anos (BRASIL, 1997b). Estes dados são
significativos e permitem inferir, ao se levar em conta o período de incubação
do vírus HIV, média de 10 anos, que a contaminação pelo vírus ocorreu,
provavelmente, na adolescência.
Em Mato Grosso, os casos diagnosticados
de AIDS até o ano de 1998 chegaram a 1.453. Entre os anos 1987 e 1998, foram
registrados 1.301 casos na faixa etária de 13 a 45 anos - 930 casos entre
homens e 371 entre mulheres, numa razão por sexo de 3/1 (MATO GROSSO, 1999). No
ano de 1987 foram diagnosticados 23 casos, numa razão homem/mulher de 22/1
(MATO GROSSO, 1997); em 1998, foram notificados 139 casos, modificando-se a
razão por sexo para 21/1 (MATO GROSSO, 1999). Segundo o Ministério da Saúde, os
casos notificados representam apenas 25% dos casos de AIDS existentes e, para
cada caso existente, estima-se que haja mais de 5 pessoas infectadas pelo HIV.
Assim, calcula-se que o Estado possua em torno de 5.812 casos de AIDS e cerca
de 29.060 soropositivos (que não constam das estatísticas oficiais).
Considera-se o Estado de Mato Grosso como
de média endemicidade entre 1990-1997 a incidência
média de AIDS entre a população foi de 7,2 casos/100.000 habitantes, a sétima
entre as maiores do País. Entretanto, o rápido crescimento da AIDs no Estado
coloca-o como o segundo de maior crescimento em todo o território nacional - de
1,51 casos ano/100.000 habitantes (BRASIL, 1997a).
Entre todos os casos ocorridos no período
1990-1998, um total de 1.453, as relações heterossexuais foram a principal via
de contaminação pelo HIV, tanto para homens - 347 casos, quanto para mulheres -
183 casos; as relações homossexuais foram o segundo tipo de exposição mais
freqüente para os homens - representando 108 casos, e o tipo
heterossexual/hemofílico para as mulheres - representando de 58 casos. Estes
dados, contudo, não abrangem 246 casos entre os homens e 94 entre mulheres
(23,3% do total de casos), que têm a via de contaminação ignorada (MATO GROSSO,
1999).
A doença registrada no Estado de Mato
Grosso atinge principalmente o município de Cuiabá. A incidência média de casos
de AIDS na capital, entre 90-97, encontra-se em torno de 21 casos/100.000
habitantes, correspondendo a 60% dos casos notificados no Estado para o período
(BRASIL, 1997b). Entre 1980 e 1988 foram diagnosticados 49 casos de AIDS no
município, número que se ampliou para 193 só no ano de 1996, correspondendo a
um aumento de incidência de 18.8/100.000 hab. para 41.6/ 100.000 hab. (BRASIL,
1997a).
No período de 1980-1998 foram
registrados, em Mato Grosso, 83 casos de AIDS na faixa etária de 13 a 19 anos e
550 casos entre 20-29 anos. A principal via de contaminação para essas faixas
etárias foi a heterossexual e hetero/hemofílico,
correspondendo respectivamente a 28 e 11 casos, entre 13 e 19 anos, e 191 e 89
casos entre 20-29 anos. Nestas faixas etárias, também, o
desconhecimento da via de contaminação é alta, chegando a 24 e 127 casos,
respectivamente (MATO GROSSO, 1999).
Os dados de Mato Grosso também revelam a feminização da doença e a via sexual (hetero
e homossexual) como a mais freqüente no desenvolvimento da epidemia da AIDS. Os
casos, cuja contaminação pelo HIV provavelmente ocorreu na adolescência (os da
faixa etária de 20-29 anos), representam um número significativo entre o total
dos casos de AIDS no Estado. Nos anos 80-98, entre menores de 12 anos, há
registros de 43 casos; na faixa etária de 13 a 29 anos encontramos 633 casos;
acima dos 30 anos há 778 casos diagnosticados (MATO GROSSO, 1999).
No que se refere às demais DSTs, as estatísticas nacionais e estaduais existentes não
permitem a identificação do modo como adolescentes estão a elas expostas. Em
1998 foram notificados 20.010 casos de DST em todo o Estado. Só em dezembro de
1998 ocorreram 1.214 casos, sendo 186 casos em Cuiabá (MATO GROSSO, 1999). Em
1997 foram notificados 46 casos diagnosticados de DST na faixa etária de 13 a
19 anos, 19 destes em mulheres (MATO GROSSO, 1997).
Podemos aventar, no entanto, que o número
de DSTs na adolescência no município é muito mais
significativo, se considerarmos que há uma sub-notificação
por parte dos serviços, que nem sempre o diagnóstico dessas doenças é realizado
corretamente e que o grupo em questão (assim como outros) nem sempre recorre
aos serviços para diagnóstico e resolução de seus problemas de saúde. Estudo
realizado em 1996, com adolescentes de 12 a 17 anos que viviam nas ruas em
Cuiabá, aponta que 83,3% possuíam algum tipo de DST e que 33,3 % eram positivos
para o HIV (CORRÊA DA COSTA, 1996).
As repercussões das DSTs/AIDS,
para o acometido, são inúmeras. Elas incluem a culpa, a discriminação, o
sigilo, o não tratamento dos problemas, mudanças de comportamento social e
sexual e complicações orgânicas, que podem levar à morte (CANELLA, 1988). No
âmbito social, os impactos desses problemas vão além do que os números por si
podem indicar. No mundo todo, sobretudo a AIDS tem gerado transformações
socioculturais e envolvimento político-económico. Políticas envolvendo
pesquisa, produção de tecnologia de diagnóstico e tratamento e a implementação
de ações e estratégias têm consumido significativos recursos humanos e
financeiros dos vários países (PARKER, 1997).
Embora os dados apresentados não
expressem as diferenças derivadas das condições sociais dos adolescentes,
sabe-se que entre os das camadas mais pobres as repercussões das DSTs/AIDS são maiores, em função da falta de.acesso que
esses grupos têm a recursos médico-sociais. Os grupos desfavorecidos
economicamente, como é o caso das adolescentes que participaram desta
investigação, têm a sua vida limitada por inadequadas condições (incluindo
dificuldades de acesso aos serviços de saúde, à educação, à renda, entre
outras), o que pode significar que, entre estes, as conseqüências dos problemas
de saúde mencionados são certamente mais difíceis de serem enfrentadas
As DSTs/AIDS
não se constituem problemas isolados do contexto de vida dos vários grupos
sócio-etários. Entre os adolescentes, eles relacionam-se a processos
socioculturais que, direta ou indiretamente, articulam-se às suas vivências.
O acometimento das DSTs/AIDS,
nesta fase da vida, é resultado da complexa interação entre saúde, sexualidade
adolescente e contexto sociocultural (ARILHA & CALAZANS, 1998; PIMENTA,
PASSARELLI, SANTOS & NEGRÃO, 1998).
Um dos processos do contexto que se pode
evidenciar é o de mudanças culturais no campo da sexualidade, em curso em nossa
sociedade, sobretudo após os anos 60. Transformações culturais relativas ao
exercício da sexualidade têm resultado em novos valores e comportamentos
sexuais entre os diferentes grupos e, no que nos interessa aqui, entre os
adolescentes (CAVALCANTI, 1988). Pode-se destacar, desse conjunto, o início
cada vez mais precoce das atividades sexuais, que vem colocando os jovens em
contato com novos desafios e problemas no campo da saúde-doença. A
"liberação" do relacionamento sexual entre adolescentes, a despeito
do que se considere conquista, é um dos processos relacionados à difusão das
doenças transmitidas através de práticas sexuais, sobretudo porque uma maior
precocidade na vida sexual e a experiência com diferentes parceiros não se fez
acompanhar por um equivalente acesso à educação e ao acompanhamento da saúde
sexual.
As DSTs/AIDS na
adolescência articulam-se ao modo como se dá o exercício da sexualidade. Este
campo, por sua vez, abrange conhecimentos, valores, desejos e comportamentos
definidos e redefinidos na estrutura familiar e, mais amplamente, no campo
social (PARKER, HERDT & CARBALLO, 1995).
A construção da sexualidade é um processo
que ocorre ao longo da vida, sobretudo de modo assistemático, nos contatos da
criança com os pais, familiares e com outros, quando valores e comportamentos
sexuais socialmente estabelecidos se definem/redefinem. A sexualidade não se
estrutura na adolescência mas ao longo do desenvolvimento da criança, nas
vivências - na interação com o meio, nos contatos físicos, nos vínculos
afetivos com os pais e outros, no brincar, nos jogos sexuais, nas descobertas,
na criação, no processo de estruturação de relações de
dependência/independência no processo de estruturação da identidade
masculina/feminina (SILVA, 1995).
Desse ponto de vista, evidenciam-se a
participação da família, da escola, dos meios de comunicação, do setor saúde e
de outras instituições sociais, embora se possa destacar que o modo como a
família lida com as questões ligadas ao exercício da sexualidade condiciona
fortemente a aprendizagem das crianças e adolescentes. Pode-se dizer que a
preparação para o seu exercício começa na infância e depende largamente dos
pais (CONCEIÇÃO, 1988).
Assim, a forma como os adolescentes
encaram e lidam com o próprio corpo, com o corpo do outro, com afetos, com
desejos e, numa perspectiva mais global, o modo como eles vêem o mundo e seus
processos, e o modo como eles se comportam no campo sexual, leva-os a se
defrontarem ou não com as DSTs/ AIDs e à
possibilidade de preveni-las.
Um outro processo intrinsecamente
relacionado às DSTs/AIDS na
adolescência refere-se à qualidade da assistência médico-sanitária (PIMENTA, PASSARELLI,
SANTOS & NEGRÃO, 1998). Na maioria dos municípios brasileiros (e aqui se
inclui Cuiabá), a assistência pública à saúde do grupo (assim como a dos
demais) é precária. Os adolescentes não encontram nos serviços de saúde e em
outros o suporte adequado, seja em relação à educação sexual, a recursos
preventivos das doenças em questão ou ao acompanhamento de sua saúde.
Em relação ao grupo feminino, essa
problemática incorpora ainda o fato de os serviços de saúde freqüentemente
desconsiderarem necessidades e problemas derivados das desigualdades de gênero,
como largamente denunciado pelos movimentos feministas, o que atinge de modo
específico a saúde e o exercício da sexualidade de
adolescentes mulheres. Geralmente, as medidas públicas de prevenção das DSTs/AIDS, encaminhadas através dos serviços de saúde, não
só são desarticuladas de ações mais globais voltadas à saúde sexual e
reprodutiva das mulheres (assim como à saúde dos homens), como também
desconsideram o modo como se reproduzem as relações de
dominação da mulher e as repercussões sobre sua saúde.
Mas, esses são alguns dos fatores
socioculturais relacionados às DSTs/AIDS
na adolescência. Não se pode obscurecer o fato de que esses problemas de saúde,
em última análise, articulam-se ao acesso a determinadas condições sociais - a
recursos e bens sociais em geral que conformam as condições de vida e saúde e o
exercício da sexualidade humana/adolescente.
Saberes
e práticas de adolescentes a cerca das DSTS/AIDS – dados de pesquisa
O estudo que apresentamos, de natureza
qualitativa, partiu das seguintes indagações: como adolescentes mulheres, que
vivem em uma dada realidade, interpretam e vivenciam a possibilidade de
adquirir uma DST/AIDS? Que contradições estão presentes em seus discursos e
práticas?
Buscava-se reconhecer e analisar os
saberes e vivências desse grupo no campo da sexualidade, particularmente os
seus conhecimentos, valores e práticas relacionadas às
DSTs/AIDS, através do olhar sobre o seu universo
discursivo.
Tomamos por referência empírica o
discurso de 24 adolescentes do sexo feminino das camadas populares, com idade
entre 13 e 19 anos, moradoras de uma área periférica da cidade de Cuiabá - o
Pólo Osmar Cabral [3]. Os critérios pré-estabelecidos para constituição dos
sujeitos desta pesquisa foram: ter idade entre 10 e 19 anos; ser do sexo
feminino; residir na área do Pólo Osmar Cabral; aceitar participar do estudo.
Na eleição desses critérios considerou-se o fato de que adolescentes com esse perfil
constituíam parte do grupo para o qual planejávamos o desenvolvimento de
práticas educativas no campo da sexualidade.
Para captar os conhecimentos e valores
desse grupo, em relação à problemática eleita, utilizamos como técnica a
entrevista aberta, orientada por um roteiro contendo questões em torno de
quatro temas básicos: experiências sexuais; vivências com os problemas DSTs/AIDS ; conhecimentos acerca das DSTs/AIDS
(doenças, problemas decorrentes, transmissão, prevenção) práticas sexuais
preventivas.
A seleção do grupo de adolescentes
ocorreu a partir da intermediação de agentes comunitárias de saúde que atuam na
localidade ou se deu através de uma abordagem direta em escolas e no centro de
saúde local. Utilizamos como estratégia inicial um contato informal, tendo em
vista a constituição dos sujeitos da pesquisa. Para a coleta das informações,
estendemos esse com ato a um segundo momento, ocasião em que realizamos
formalmente a entrevista proposta.
A classificação dos dados subjetivos foi
realizada de acordo com as questões de pesquisa e objetivos construídos. Para
tal, tomamos por referência analítica uma compreensão ampla da sexualidade
adolescente, referida ao universo cognitivo, afetivo e ao contexto
sociocultural específico do grupo.
No processo de classificação dos dados
fizemos uma análise cuidadosa do material escrito, valorizando palavras,
frases, articulação de idéias e sentido geral do texto. Na classificação e
interpretação dos dados, adotamos os seguintes passos (GOMES, 1994): organização
inicial mais abrangente; classificação minuciosa orientada pelas questões de
estudo e outras construídas junto ao próprio texto; formação de conjuntos de
informações segundo a heterogeneidade das comunicações (que resultaram nas categorias/sub-categorias
empíricas apresentadas em conhecimentos, valores e vivências das adolescentes
sobre DSTs/AIDS); confronto contínuo com a teoria.
Participaram da pesquisa onze
adolescentes com idade entre 13 e 15 anos e treze com idade entre 16 e 19 anos
(selecionadas a partir dos critérios apontados acima). Por ocasião do
levantamento dos dados, seis das participantes tinham completado ou faziam a
primeira etapa do primeiro grau (primeira a quarta
série); quinze ainda não haviam terminado a segunda etapa (quinta a oitava
série); três cursavam o segundo grau. Treze adolescentes estavam fora da
escola. As que estudavam, o faziam em escolas públicas locais. Cinco das
adolescentes entrevistadas já participavam do mercado de trabalho. Estas, não
só tinham abandonado a escola, como não viam a possibilidade de retomar os
estudos.
Oito delas tinham um companheiro (marido,
parceiro ou namorado com quem mantinham relações sexuais); nove já eram mães
(estavam grávidas ou já tinham filhos). Apenas quatro adolescentes tinham suas
próprias famílias; as demais viviam com os pais ou mãe. Entre todas, quatorze
já tinham tido ou mantinham atividade sexual. Entre cinco adolescentes, as
práticas sexuais tinham sido iniciadas antes dos 15 anos de idade. Apenas as
que tinham um companheiro referiam práticas sexuais regulares.
DSTs/AIDS- problemas (des)conhecidos? Informação
e desinformação
As DSTs não são
problemas completamente desconhecidos para o grupo que participou deste estudo.
Porém, informação e desinformação misturam-se nos depoimentos analisados. À
pergunta sobre o que sabiam a respeito das doenças transmitidas através das
relações sexuais, suas respostas foram curtas, parciais e, às vezes, equivocadas.
Referiram apenas ter ouvido falar de algumas das DSTs
(a AIDS, a sífilis, a gonorréia e o cancro mole), reportando-se a supostas
manifestações orgânicas e ao modo como podem ser transmitidas/evitadas:
"Bem, a que eu mais conheço é a AIDS, mas tem também a sífilis. A gente pode pegar uma através do sexo, quando não usa camisinha " (Entrevista 9).
"Eu
já ouvi falar dessa crista de galo, ela cresce o caroço e quando cai fica
aquele buraco, então ela vai virando uma ferida e ela acaba pegando câncer " (Entrevista 4).
Para algumas, as DSTs
são praticamente desconhecidas, pois chegam a negar qualquer informação sobre o
modo como estas podem ser adquiridas, sobre os problemas que podem causar ou
mesmo sobre o modo como podem ser percebidas ou evitadas:
"Eu sei que pega (as DSTS) quando transa, não é mesmo? ... Só assim. Mas eu não sei mais nada não " (Entrevista 2).
As DSTS, à exceção da AIDS, são problemas
que parecem praticamente não fazer parte das vivências das adolescentes. Quando
lhes perguntamos se além de ouvir falar já tinham tido contato, visto ou
adquirido o que chamam de doença venérea, apenas algumas delas responderam que
conheciam alguém com o problema, mas que nunca tiveram um contato mais próximo
com o problema.
Sobre as DSTs
percebemos que o grupo detém poucas informações, além de não ter qualquer
experiência mais próxima. Manifestam uma certa negação da possibilidade de elas
fazerem pote de suas vidas, mesmo entre as adolescentes que já haviam iniciado
as atividades sexuais. As DSTs, ainda que
reconhecidas como um possível problema para a saúde, são referidas como algo
distante, sobre as quais pouco têm a dizer, não
representando para suas vidas uma possível ameaça.
O mesmo não ocorreu em relação à AIDS. No
material analisado, encontramos a AIDS como a mais conhecida entre as doenças
de transmissão sexual ou a que mais se aproxima da vivência das adolescentes.
Sobre ela as entrevistadas apresentam falas mais afirmativas, um maior número
de informações e mostram-se mais à vontade para conversar sobre o que sabem,
sentem ou pensam acerca do problema.
É provável que, em parte, esse achado
possa ser explicado pelo fato de a AIDS representar o risco de morte e por vir
acompanhada de um conjunto de estereótipos em relação ao exercício da sexualidade,
que a colocam em evidência. Também, entre as DSTs, a
AIDS tem sido uma das mais abordadas pelos meios de comunicação, sobretudo pela
televisão, que chama atenção (nem sempre de modo adequado) para a gravidade do
problema (CASTRO, 1995). Diferentemente do que ocorre em relação às DSTS em geral, vários meios de comunicação socializam
conhecimentos sobre a AIDS (e a sua gravidade) entre a população, através da
divulgação de casos ocorridos entre pessoas públicas, pela exposição a riscos e
medidas de prevenção, mediante a divulgação de tecnologias para o seu
enfrentamento, entre outros processos.
A AIDS é percebida pelas adolescentes
como uma doença progressiva, associada inevitavelmente à morte. É vista por
elas como um problema grave, perigoso e feio:
"A AIDS é uma doença venérea, que vai matando a gente
por dentro, vai com o tempo, ela não é dessas doenças que a gente pega e
já morre na hora, ela vai matando a gente devagarzinho por dentro, vai
destruindo tudo por dentro da gente" (Entrevista 19).
"É
uma doença muito feia, ela consegue acabar com a pessoa a qualquer hora " (Entrevista 18).
Este achado é similar ao encontrado em
estudos como o de GUIMARÃES (1994), que refere a menção de mulheres adultas à
presença de sentimentos de medo e a percepção de fatalidade ligados à AIDS, e o
de OLIVEIRA (1992), que refere expressões sobre a AIDs como "feia,
ruim, maldita, que dá medo, teimosa''.
Sobre os conhecimentos das entrevistadas
acerca do modo como pode se dar a contaminação pelo
HIV, a principal referência encontrada foi à via sexual. Algumas acrescentam a
esta, a via perinatal e a sangüínea. Encontramos
também menção ao contato direto com pessoas ou objetos como uma possível via de
transmissão:
"...
tem um cortado, por exemplo, se encostar o dedo a gente pega ... aí tem que
afastar um pouco para não pegar na sua família, porque você pode cortar seu
dedo, tem uns que pegam na toalha ... Se eu tivesse AIDS eu me afastava da
minha família, para não pegar neles " (Entrevista 2).
Os meios de comunicação têm
freqüentemente divulgado os modos pelos quais a doença em questão é
transmitida. Na busca de romper com o preconceito que gera isolamento das
pessoas com AIDs, chama-se atenção para o fato de que a proximidade/o contato
não sexual é seguro e desejado no enfrentamento da epidemia. Mas, o que pudemos
constatar nesta pesquisa é que ainda está presente a idéia de que é necessário
distanciar-se das pessoas que têm a doença pelo risco que estas oferecem.
Os modos de prevenção da AIDS mencionados
pelas adolescentes correspondem às vias de contaminação conhecidas. As
adolescentes referem à necessidade de: conhecer a pessoa com quem se transa; de
usar a camisinha; de evitar proximidade com portadores da doença; de evitar
contato com secreções contaminadas; de realizar exames periódicos. Entre essas
várias formas de prevenção a que destacam é o uso da camisinha coerentemente
com a associação mais direta que fazem entre AIDS e contato sexual.
Encontramos, em certos momentos, a
percepção de que a AIDS é uma doença a que todos estão sujeitos, mas também a
negação da possibilidade de ela fazer parte da própria vida.
Uma das entrevistadas expressa uma certa
contradição em relação a esse aspecto, como se pode observar no diálogo abaixo:
a AIDS está perto ou longe de você?
"Não
sei ... Eu conheço os caras, acho que eles não tem
essa doença. Depois camisinha é segura ". (Obs: usa esporadicamente
a camisinha);
Quem você acha que pode pegar AIDS?
"Eu
não sei. Tem hora que a pessoa tem o vírus e não aparece
".
Os
namorados com os quais você transou podem ter o vírus?
"Eu
acho que não. Dá para ver quem está aidético " (Entrevista 8).
Para algumas das adolescentes, a AIDS
revela-se na aparência externa comprometida, especialmente no emagrecimento :
"a
pessoa vai ficando magro, magro e vai e morre. Foi o caso de duas pessoas que
eu já vi. Esse da Legião Urbana tava bonzinho, aí só foi emagrecendo e morreu
rápido (de AIDS). Pelo menos eu acho " (Entrevista 15).
Esses últimos dados sugerem a compreensão
de que é possível o reconhecimento dos possíveis
transmissores da doença e a seleção dos parceiros, leitura que certamente
amplia a vulnerabilidade [4] das adolescentes à doença.
Tal entendimento desconsidera o fato de a
transmissão do vírus HIV ocorrer ainda que a doença não se desenvolva e se
manifeste externamente. Por um lado, identificamos entre o papo um certo
reconhecimento da doença e de sua gravidade, o que se pode considerar
vantajoso, por outro, percebemos que o discurso acerca da AIDS é acompanhado de
estereótipos e de uma certa negação, sobretudo da possibilidade de ela
constituir-se em um risco próximo,que requer medidas de prevenção.
Isso é particularmente importante quando
se coloca a questão do autocuidado preventivo. O não
reconhecimento da AIDS como um problema a que todos estão sujeitos, de algum
modo, freqüentemente resulta em práticas sexuais descuidadas, que expõe ao
risco das DSTs/AIDS Na medida em que se supõem
distante tais problemas, não há razão para se prevenir contra eles. A AIDs é,
por vezes, expressa como uma doença próxima, possível de ser adquirida pelas
depoentes, mas, igualmente, encontramos a compreensão de que só estariam
sujeitas à doença se mantivessem relações sexuais com qualquer
ou vários parceiros, numa possível traição do companheiro, ou se não
fizessem uso da camisinha:
"..,
você pode pegar aids se você transa com qualquer um, transa com um, transa com
outro, é perigoso
" (Entrevista
17).
"Tem
que se cuidar tem gente que não tem cuidado; tem marido que sai com essas
mulheres de fora, não tem cuidado e pega essas doenças. Eu dou uma confiadinha no meu " (Entrevista 22).
"Qualquer pessoa pode pegar AIDS, se
não se cuidar Talvez você acaba
conhecendo o rapaz, gostando dele, por um motivo ou outro você não sabe que ele tem, então se você não se prevenir você pode pegar AIDS" (Entrevista 4).
No discurso das adolescentes
participantes deste estudo chama atenção o fato de, freqüentemente, não usarem
o pronome na primeira pessoa. Não dizem se eu não usar a camisinha posso
adquirir o vírus da AIDS dizem: "se ela", "qualquer
pessoa", "se você'', referindo-se sempre a um
outro, o que reforça o entendimento de que a AIDS, enquanto uma possibilidade,
vem acompanhada de medo e negação.
Frente a esses achados, uma questão que
se coloca diz respeito ao que é, para essas adolescentes, o parceiro que
oferece riscos, uma vez que estão presentes,
claramente, as idéias de que aqueles que não têm manifestações externas da
doença (AIDS) não são possíveis transmissores, de que o namorado ou o marido -
aquele que se conhece (pela convivência), aquele de quem se gosta - não são
possíveis agentes de contaminação (das DSTs/AIDs).
Parece que para essas adolescentes o fato
de conhecerem o companheiro é suficiente para que se sintam protegidas. Também,
vivenciando situações onde supostamente esteja presente a monogamia. O seu
entendimento é o de que por serem casadas ou por não terem relações sexuais com
qualquer um não estão sujeitas ao vírus da doença. Certamente, o conhecer a
pessoa com quem se transa não é garantia contra a AIDS ou qualquer outra DST.
Porém, para essas adolescentes, morar junto, ter contato há algum tempo, ter um
parceiro único ou estar casada, de algum modo as protege do problema.
Identifica-se, então, que a atitude
preventiva depende, pelo menos em parte, mais da identificação dos riscos a que
estão sujeitas, do que propriamente das informações que tenham acumulado acerca
do modo como as DSTs/AIDs podem ser sexualmente
transmitidas/prevenidas, o que nos leva a questionar as razões pelas quais tais
adolescentes negam a possibilidade de alguém conhecido ser um possível
transmissor.
Para o grupo estudado a idéia de risco
mostra-se incompatível com o afeto, o que nos leva a considerar que, em nossa
cultura, comumente, a sexualidade feminina é exercida através da permissão do
amor e da negação de si (BARBOSA & VILLELA, 1996). Evitar situações de
risco implicaria em uma atitude ativa da adolescente, de auto-valorização,
de cuidado com a própria vida, e isto se contrapõe à visão predominante de amor
que valoriza a negação de si em função do outro.
Os adolescentes, em nossa sociedade,
estão também conquistando independência e aprendendo a lidar com ela, e
certamente seus comportamentos manifestam-se repletos de contradições, entre o
desejo/fantasia de serem protegidas (pelo outro) e o
autocontrole/responsabilização pelos próprios atos (CAVALCANTI, 1988).
Isto é ainda mais complicado para
adolescentes mulheres, pela educação que recebem, que as submetem, em alguma
medida, aos valores masculinos e à negação de seus próprios desejos e
necessidades. A dicotomia sexual homem/mulher, com
desvalorização do feminino, concede ao homem a condução das relações
afetivo-sexuais (GIFFEN & LOWNDES, 1995). Assim, no campo das relações
interpessoais, é geralmente o companheiro quem dita as regras para o
relacionamento.
A problemática da prevenção das DSTs/AIDS evidencia-se ainda mais quando olhamos para as
experiências das adolescentes sujeitos deste estudo, especialmente das que já
iniciaram a atividade sexual. No campo do vivido as contradições sobre a
prevenção das DSTs/AIDS, reveladas nos discursos,
apresentam-se mais agudamente.
Por um lado, encontramos entre todas a
referência à camisinha como forma de prevenção de riscos e, entre algumas, a
compreensão de que o sexo com muitos parceiros ou com alguém desconhecido é
menos seguro, por outro, identificamos que a camisinha eventualmente fez ou faz
parte das experiências do grupo que havia iniciado relações sexuais.
O que constatamos em nosso estudo é que
adolescentes acumulam certas informações sobre os meios de prevenção em relação
à transmissão sexual das DSTs/AIDS. Referem
afirmativamente a importância do uso da camisinha - sabem para quê e como se
usa – mas não a utilizam continuamente como prática preventiva em suas relações
sexuais. Contrariamente, acreditam que a necessidade existe para outros, nem
sempre se vendo em situações de risco, tanto que entre as que iniciaram
práticas sexuais, encontra-se a negação do uso de preservativo ou o uso
esporádico.
O uso da camisinha é mencionado em
situações em que não se conhecia o parceiro ou em função da preocupação com uma
possível DST ou gravidez:
"Só
quando eu não conhecia. Quando eu fazia com o pai do meu filho eu não ligava
muito não. Acho que confiava nele " (Entrevista 10).
"Eu usava para evitar gravidez, não podia engravidar antes do casamento.
Ele falou também que era para evitar doença se ele tivesse. Só que ele não tem " (Entrevista 13).
LOYOLA (1995) e GUIMARÃES (1994) também encontraram em seus estudos que o uso da camisinha nas relações sexuais ocorre sobretudo em função da preocupação com uma possível gravidez e não para a prevenção das DST/AIDS, uma vez que aquela é vista como mais provável e porque tal preocupação é mais aceitável pelos companheiros.
Entre algumas das adolescentes que
entrevistamos, contudo, nem mesmo a preocupação com uma possível gravidez as
levou ao uso do condon (ou outro recurso); a condução
do que fazer para evitá-la parece ter sido colocada nas mãos do companheiro,
tanto que apresentaram como justificativa para o não uso do preservativo o
incômodo referido pelo parceiro ou o fato de terem um par fixo e serem cobradas
a confiar nele:
"...
ele não usa não. Ele fala que se fosse rapaz da rua, solteiro, que pegasse
menina de boate, aí sim era perigoso " (Entrevista 22).
Os dados encontrados revelam que entre as
adolescentes que já tinham experiência sexual, a maioria a iniciou sem
planejá-la; algumas clandestinamente. Várias não usaram preservativo na
primeira relação. Para algumas, a preocupação maior girava em torno do que
seria ou o que sentiriam no ato sexual.
A questão da prevenção parece-nos ainda
mais problemática pelo fato de algumas adolescentes revelarem que se sentem
inibidas para conversar com seus parceiros sobre sexo, sobre seus desejos,
necessidades e sobre a prevenção das DSTs/AIDS ou
mesmo de uma gestação não desejada.
A ausência de diálogo acerca do exercício
da sexualidade, presente na sociedade, associada aos preconceitos, estereótipos
e moralismos em torno da questão (CONCEIÇÃO, 1988; RIECHELMANN, 1993),
certamente demarcam tal dificuldade e interferem no modo como as adolescentes
lidam com a troca em torno de sua sexualidade/sexo e a questão da prevenção das
DSTs/AIDS. Constatamos, entre as informantes que
participaram do estudo, um certo desconhecimento especialmente sobre a AIDS e
sua prevenção. Este é um problema não desejado por elas. Em alguma medida,
vêem-se em possíveis situações de risco. Entretanto, a prevenção através do uso
da camisinha, na maioria das vezes, não fez ou não faz parte das suas
experiências. O fato de as adolescentes entrevistadas possuírem um mínimo de
informações não as levam a atitudes coerentes.
Esta é uma constatação fundamental quando
se pensa a questão da prevenção das DSTs/AIDS e a
explicação para a dissociação entre ter a informação e a prática da prevenção,
ainda que complexa, precisa ser buscada.
A adolescência, em nossa sociedade, é
fase em que ocorrem profundas e rápidas transformações - físicas, emocionais,
relacionais, de identidade e expressão da sexualidade. É uma época rica em
manifestações emocionais, caracterizada pela ambigüidade de papéis
(infantil/adulto), pela mudança de valores e por dificuldades frente à busca de
independência (CAVALCANTI, 1988). A adolescência é vivida com inúmeras
incertezas, com independência-dependência, com medos, enfrentamentos e recuos,
coerências e incoerências. Quase tudo é novo para os adolescentes e isto
dificulta o lidar com a própria vida e a de outros. Contrariamente, identificar situações de risco e adorar medidas preventivas
coerentes exigem uma postura ativa, certa maturidade emocional, que, em
nossa cultura, encontra-se em construção nessa fase da vida.
No campo da sexualidade, as relações
afetivas na adolescência ganham novas características; a curiosidade e o
impulso para o sexo aumentam; os adolescentes lidam com novas cobranças
internas e externas - de desempenho de papéis sociais (femininos/masculinos).
No geral, agem impulsionados por seus desejos; submetem-se às cobranças de seu
grupo social, nem sempre dimensionando implicações ligadas ao seu
comportamento. O medo que sentem é muitas vezes gerador de uma certa
onipotência, de modo que negam problemas, agem de forma imediatista e crêem
firmemente que se isentarão de determinadas complicações (CAVALCANTI, 1988;
TOLOSA, 1988).
Assim, as atividades sexuais na
adolescência são quase sempre não planejadas, o que acaba sendo incrementado
pelo fato de serem clandestinas (como encontramos neste estudo). A
instabilidade emocional presente nesta fase da vida, a dificuldade de decidir a
respeito do que se quer, a dificuldade de lidar com o próprio corpo e o do
outro, o pensamento idealizador de soluções e negador de possibilidades reais,
entre outros aspectos, possivelmente são fatores que, em alguma medida, acabam
por delimitar o modo como o grupo em questão comporia-se frente às DSTs/AIDS.
Além disso, é preciso considerar que as
mulheres são educadas para a passividade, para acatar as decisões masculinas.
Assim, projetam o cuidado de si no companheiro; têm dificuldades para dizer
não, para colocar os seus limites. Como vivemos em uma
sociedade culturalmente machista, na qual desde cedo a mulher é educada para
viver segundo valores masculinos, muitas vezes ela é subjugada pelo
companheiro, vendo-se forçada a acatar suas idéias e praticar o sexo conforme
sua decisão (GIFFEN & LOWNDES, 1995). Sabemos que tal situação já foi mais
marcante no passado e que, hoje, em alguma medida, a mulher vem conquistando
espaço para se colocar e a suas idéias e vontades. Porém, nesse sentido, ainda
há muito a transformar. No campo da sexualidade, como constatamos através do
discurso das adolescentes que entrevistamos, o homem ainda se sente no direito
de negar o uso do preservativo e a adolescente na obrigação de não exigi-lo. A
dificuldade em dialogar sobre sexo, afetos, desejos, cuidados com a própria
saúde ainda parece ser muito presente. Certamente essas são razões que
explicam, em parte, o acometimento das DSTs/AIDS
entre mulheres adolescentes - o que reforça a necessidade de se abrirem espaços
para a reeducação sexual, nos quais a adolescente mulher resgate/conquiste
autocontrole da própria vida e corpo, adquirindo condições para dialogar com
seus companheiros, colocando-lhes limites e a si mesmas, protegendo a própria
vida e saúde e a de outros.
Prevenção
das DSTs/AIDS: questão de informação ou educação?
Vimos que o reconhecimento de problemas
como as DSTs/AIDS, e sobre modos de preveni-las,
entre as adolescentes entrevistadas, não resulta necessariamente em práticas
preventivas, uma vez que encontramos tanto a ausência quanto a presença de
informação combinando-se com práticas sexuais descuidadas.
Obviamente tal achado não fala contra o
acesso à informação, pois este é essencial quando se coloca em questão a
prevenção dos problemas em foco. Porém, informação não é tudo. Se levarmos em consideração os
dados apresentados nesta pesquisa, mais do que acesso à informação revela-se essencial
o acesso à educação ou reeducação sexual, baseada na interação entre
conhecimentos, valores e ações. Devemos, então, questionar que educação
favoreceria tal inter-relação.
Nesse sentido, é preciso considerar que
há um tipo de educação, instalada em nossa sociedade, que se volta para a
inserção harmoniosa dos sujeitos em sua estrutura. Trata-se de uma educação que
se volta à reprodução do sistema social dominante. Segundo FREIRE (1987), esta
é uma educação que gera alienação, a ausência de questionamentos dos diferentes
interesses, das divisões, hierarquias e desigualdades sociais.
Mas, numa outra direção, encontramos
também uma educação (não predominante) voltada à formação de
homens conscientes, ativos, situados em relação às contradições existentes e
engajados na luta e resistência à dominação e discriminações de qualquer
ordem (de classe, gênero, etnias, e outras). Trata-se de uma educação voltada
para a cidadania e construção de uma sociedade mais democrática. Esta educação,
apontada por FREIRE (1987), preocupa-se com a ação crítica do homem sobre a
realidade, pois crê que este é sujeito que constrói e reconstrói a vida. Seu
instrumento central é a conscientização, que propicia condições para mudar o
estabelecido, na direção da libertação dos homens da rede social de
opressão-repressão. Nela, os seres humanos são vistos como inseridos em
contextos socioculturais específicos, como seres da praxis,
que ao agirem/refletirem tornam-se mais conscientes e comprometidos com a
transformação. Os sujeitos não são meros armazenadores de informações, mas
construtores da cultura, pela atividade crítica e criadora, produzida com a
reflexão e conscientização sobre a realidade vivida.
No que se refere à sexualidade, a
educação, da primeira perspectiva, é a que se volta para o controle e repressão
de seu exercício, com a finalidade de manter harmonia com as regras
estabelecidas (CONCEIÇÃO, 1988). Trata-se de uma educação que anula o
questionamento, as diferenças, e modela o uso do
corpo, a manifestação dos afetos, dos desejos e as inter-relações entre pessoas
e grupos. Nela, a sexualidade livre de repressão é vista como ameaça à ordem
social estabelecida. Sexualidade responsável é sinônimo de
resposta a padrões sociais estabelecidos para o sexo, corpo, relações afetivas,
entre outros processos. As diferentes instituições sociais têm tido um papel
importante nesse tipo de educação - através do reforço aos estereótipos que
confrontam e hierarquizam o masculino e feminino, através da negação do corpo sexualizado, do reforço à relação sexo-família-reprodução e
do olhar biologizante sobre a sexualidade.
Da segunda perspectiva, a educação para o
exercício da sexualidade é baseada na valorização do ser humano, no
questionamento e libertação dos padrões sociais de dominação e opressão sobre
os sujeitos (CONCEIÇÃO, 1988). Diz respeito a uma educação voltada para a
conquista do direito ao prazer, para a prática sexual segura, sem preconceitos
- contra a limitação do sexo à reprodução, contra a hierarquização sexual e
discriminação das diferenças. É uma educação que busca a conscientização pelo
questionamento, pela participação, pelo posicionamento crítico e responsável.
O enfrentamento de problemas como as DSTs/AIDS, considerada a sua relação com a sexualidade e a
educação formal, requer a formação de indivíduos capazes de conviver de modo
crítico e responsável com a própria sexualidade e a de outros. Identificamos
nesta pesquisa que a percepção e a prevenção de riscos para os problemas em
questão têm suporte em uma subjetividade que integra conhecimentos, afetividade
e aspectos socioculturais. Assim, quando se pensa a educação sexual
sistemática, dirigida a adolescentes, essa subjetividade precisa ser
considerada. Quando se intenciona a prevenção de
situações de risco, o trabalho educativo deve articular informação, crítica aos
padrões culturais e consideração à afetividade presente no campo da
sexualidade, de modo a desenvolver o respeito a si e a necessidades de outros,
uma relação natural com o corpo, com o prazer, com o sexo, e o questionamento
dos estereótipos e preconceitos. SCHALL & STRUCHINER (1995) chamam atenção
para o fato de que a educação para a mudança, no campo da sexualidade, requer
consideração ao universo dos valores, experiências e afetos em suas articulações
com aspectos socioculturais que os organizam.
No encaminhamento dessa prática educativa
a abordagem e o modo de conduzi-la são fundamentais e um aspecto a ser
considerado é o da distância entre o saber cognitivo e o fazer, como nos alerta
o discurso anteriormente analisado. O primeiro nível de conhecimento certamente
é importante, mas, no geral, insuficiente para provocar novos padrões de ação.
A consideração aos aspectos afetivos/interativos, ligados ao comportamento
humano/adolescente, é essencial para engendrar novas atitudes e ações.
O desenvolvimento da auto-estima e da
responsabilidade social, que significa fortalecer a base emocional da
consciência, é fundamental para a mudança de valores e comportamentos (SCHALL
& STRUCHINER, 1995). Nesse sentido, a construção de novos conceitos deve se
dar a partir de situações de autovalorização e de
inserção dos sujeitos em situações semelhantes às vividas, através do
compartilhamento e busca de soluções conjuntas frente a situações em que se
avaliem os códigos sociais a que se está submetido. No
que se refere aos adolescentes, é preciso lembrar que estes estão fortemente
pressionados pelo grupo, buscando auto-armação, daí ser importante a
valorização de situações que trabalhem o universo das emoções e a avaliação dos
padrões sociais e grupais vividos.
Não que seja possível estabelecer uma
correlação direta entre educação e mudança de comportamentos. Segundo
BINSWANGER (apud BRASIL, 1994), os comportamentos possuem: uma dimensão íntima
– relacionada à sua predisposição/motivação para o fazer; uma dimensão
interativa - fruto do feedback do(s) grupo(s) de contato; uma dimensão social -
advinda de normatizações, controle social, de novos
valores e suporte social para o agir, e uma dimensão física - derivada das
influências do habitat. Contudo, entendemos que a educação (ou reeducação)
sexual que favorece mudanças comportamentais é aquela que valoriza a dimensão
interpessoal, pautada no respeito, na liberdade própria e do outro de
estabelecer seus próprios parâmetros e comportamentos.
Nesse sentido, cabe ao educador valorizar
os adolescentes como sujeitos com potencialidades, respeitando os seus
conhecimentos, valores e comportamentos. O estabelecimento de
um vínculo afetivo e relacionamento de confiança é fundamental, a partir
da consideração às condições de vida e subjetividades do grupo (SAYÃO, 1997).
A comunicação dialógica, a partir das
percepções, vivências e interesses do grupo é a mais adequada a esta forma de
relação (MILET & MARCONI, 1993; SCHALL & STRUCHINER, 1995). Ela inclui
a participação dos adolescentes na definição dos conhecimentos a serem
construídos e reconstruídos. Abrange, também, uma comunicação
horizontal, baseada no respeito ao saber, interesses e potencialidades
dos adolescentes, no estímulo contínuo, respaldado em informações necessárias à
compreensão/exame dos temas postos em discussão em suas várias interpretações.
Trata-se de uma comunicação que aceita a forma como os adolescentes
freqüentemente reagem ao tema, com uma linguagem própria, permeada pela
malícia, brincadeiras e gozações (SAYÃO, 1997).
O trabalho educativo deve caracterizar-se
como participativo. O processo todo deve dar-se com base no compartilhamento de
idéias, trocas, questionamentos, expressão de experiências e valores dos
adolescentes. Isto, particularmente, através da reflexão sobre situações reais,
para novos entendimentos e identificação de alternativas frente aos problemas,
necessidades e processos vividos no campo da sexualidade.
A escuta é muito importante, o perceber
nas entrelinhas, para possibilitar uma fala que favoreça ao adolescente
encontrar-se e se compreender; o espaço do anonimato também, para permitir que
a dúvida seja esclarecida, quando se quer privacidade, quando se quer evitar
gozações e comentários sobre a própria intimidade (SAYÃO, 1997).
Além do pensar, refletir, discutir, as
experiências que envolvem o sentir, o brincar, o se emocionar, o tocar, o se
solidarizar também são fundamentais para a formação de uma visão e prática mais
integrada no campo da sexualidade (MILET & MARCONI, 1993).
Abrir espaço para a exposição de medos,
convicções, curiosidades e valores de relevante importância, pois a informação
nova só será significativa se responder ao universo das vivências e motivações
dos adolescentes (SAYÃO, 1997).
Para que o processo seja educativo é
preciso considerar que os adolescentes com os quais se trabalha vivem uma
determinada história, desejam, pensam, sentem – substratos a partir dos quais o
diálogo deve ser encaminhado. Para isto, a educação precisa estruturar-se a
partir das características gerais e específicas do grupo e de seus interesses e
necessidades, a serem levantados inicialmente e ao longo do processo (SAYÃO,
1997). Respostas a questões, como: em que condições econômicas, culturais,
familiares vivem os adolescentes que participarão de um programa educativo,
qual a faixa etária desses adolescentes, quais os padrões de identidade
feminina/masculina a que estão sujeitos, que informações eles dispõem, quais
são seus interesses, quais seus conhecimentos e valores, entre outras, são
básicas ao encaminhamento de uma prática educativa sistemática.
Os educadores não podem colocar-se como
modelo, como os que sabem, como os únicos que tem o que ensinar. Os homens
educam-se entre si (FREIRE, 1987). Assim, os profissionais devem abrir-se para
aprender com os adolescentes, com suas ousadias e criatividade. Através da
relação dialógica educador e educando devem colocar-se como sujeitos de um
mesmo processo - o de crescimento.
Tudo deve ser considerado educativo: os
conhecimentos, as relações estabelecidas, as posturas, os processos de
ensinar-aprender (SAYÃO, 1997). Nesse sentido, os educadores precisam
desenvolver a coerência para oferecer uma educação libertadora, valorizando a
abertura, a troca, a criticidade, a criatividade, a solidariedade - elementos
educativos em si mesmos.
Considerações
finais
O contato com as idéias, valores e
práticas relacionados às DSTs/AIDS
e sua prevenção, a partir do discurso de adolescentes mulheres, permite reafirmar
a compreensão de que o trabalho educativo no campo da sexualidade, como uma
alternativa ao enfrentamento daqueles problemas, deve ser contínuo e o mais
amplo possível, abrangendo atividades integradas entre os diferentes setores
sociais - serviços de saúde, escolas, meios de comunicação e famílias.
Educar em sexualidade é processo que
exige o estabelecimento de parcerias e trabalho interdisciplinar. A articulação
dos vários campos de saber e práticas e entre os profissionais da saúde e de
outras áreas sociais, poderá permitir uma visão e abordagem mais ampla em tomo
da questão. Essa inter-relação é necessária ao enriquecimento das visões e
práticas a serem encaminhadas.
Somente através de um exercício saudável
da sexualidade é possível pensar a prevenção de problemas como as DSTs/AIDS. É, portanto, necessário que se estabeleça um amplo processo educativo, voltado às diferentes fases do
desenvolvimento e aos diferentes segmentos sociais, visando a formação
de indivíduos responsáveis frente ao exercício da sexualidade.
Voltado para os adolescentes, o trabalho
educativo em sexualidade não deve se constituir em transmissão de crenças,
valores e preconceitos sexuais ou em imposição de “verdades". Ao
contrário, deve favorecer trocas sem dogmatismo, de forma que os sujeitos
adolescentes possam expressar, refletir, discutir, questionar e optar livre e
responsavelmente acerca de suas condutas no campo da afetividade e,
especificamente, de sua vida sexual.
Amplamente, é preciso considerar que o enfrentamento dos problemas e necessidades debatidos neste artigo
não podem se dar fora do contexto das formulações políticas voltadas à
saúde do adolescente, em função do alargamento das situações de risco a que
está sujeito este segmento da população.
As mudanças econômicas e sociais das
últimas décadas (industrialização, urbanização, avanço da ciência, tecnologização, revolução nos costumes e valores) têm, de
algum modo, comprometido a saúde dos diferentes grupos sociais e, em
particular, dos adolescentes, exigindo medidas amplas para a sua superação.
É necessário que o grupo em questão seja
alvo de ações integradas, desenvolvidas tanto por instituições governamentais,
envolvendo os níveis federal, estadual e municipal, como por instituições não
governamentais. Projetos devem ser encaminhados - focalizando suas condições de
vida e necessidades que dela derivam, considerando o acesso diferenciado a bens
e recursos sociais. Saúde, sexualidade e prevenção das DSTs/AIDS
- questões importantes da adolescência - estão intimamente relacionadas e
exigem um enfrentamento conjunto e extensivo às diferentes etapas da vida.
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[1] Enfermeira, doutoranda em enfermagem docente da
Faculdade de Enfermagem e Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso.
[2] Enfermeiras, mestrandas em enfermagem em saúde pública,
docentes da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso.
[3] O pólo Osmar Cabral compreende os Bairros São João Dei Rey, Osmar Cabral, Fortaleza e Santa Laura, numa extensão
de aproximadamente 1.000.000 metros quadrados. São bairros periféricos, com
pequena infra-estrutura urbana, situados a cerca de 20 Km do centro de Cuiabá.
Sua população estimada em 1997 era de cerca de 13.831 habitantes. (Cuiabá,
Fundação de Saúde, 1998).
[4] O terno vulnerabilidade diz
respeito ao controle sobre o risco de adquirir o HIV ou outra DST; refere-se a
maior ou menor chance de se infectar ou de se proteger (PIMENTA, PASSARELLI,
SANTOS & NEGRÃO, 1998).
Fonte
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transmissão sexual e AIDS.