A CRIANÇA DE/NA RUA TEM
FAMÍLIA: UMA FAMÍLIA EM CRISE[1]
Moneda Oliveira Ribeiro[2]
Enfermeira.
Introdução
Está equivocado quem pensa que a criança de rua está nessa condição porque não tem família. Todas elas têm. O problema reside no fato de que, em geral, sua família está em crise, sem estrutura para resolver seus próprios problemas. Isso não significa que, necessariamente, seus pais sejam incompetentes para criar seus filhos. A questão ultrapassa o limite da sensatez. A família da criança em situação de rua compõe uma parcela da sociedade que não recebe apoio do Estado porque este não implementa política sociais e de saúde efetiva para dar o suporte que as famílias mais carentes necessitam para exercer seu papel de provedores do desenvolvimento de seus filhos. O descaso do Estado, contudo, não exclui a parcela de responsabilidade dos pais na criação de seus filhos, mas também não se pode julgá-los como os únicos responsáveis pelo elevado número de crianças que estão vivendo da rua.
Por essa razão, qualquer profissional que
se dispõe a incorporar-se na luta pela defesa dessa categoria de crianças,
precisa levar em conta que a família delas também precisa de ajuda. Do
contrário, todo esforço para estimular a criança a retomar seu convívio
familiar será em vão. Essa questão ficou evidente no estudo que desenvolvi
comum grupo de crianças (de 8 e 12 anos) que viveram na rua.
O objetivo do trabalho consistiu em
identificar a representação social sobre a trajetória de vida (especialmente
sobre as situações de desatendimento à saúde) de um grupo de crianças (em idade
escolar) que viviam na e da rua. O intuito foi conhecer a criança em situação
de rua para que o profissional de saúde possa consolidar propostas alternativas
de assistência e de ensino com vistas à promoção do desenvolvimento desse grupo
específico. Além disso, pretendi sensibilizá-lo para o fato de que a atenção a
essa categoria transcende o âmbito da assistência à saúde, consiste também em exercício
da cidadania.
No referido estudo foi possível apreender
que o ponto de partida dos relatos sobre a trajetória de vida das crianças
começa com as fugas de casa. Elas vão para as ruas e estabelecem relações muito
significativas (positivas ou negativas) com os amigos, as drogas e a polícia.
Quando necessitam suprir suas necessidades básicas, recorrem aos abrigos.
Assim, esse percurso é caracterizado por um movimento de ir e vir: das que
retornam para casa ou para os abrigos, e destes fogem novamente, seguindo um
caminho sem um destino bem definido e sem perspectivas de um futuro vindouro.
Estratégia
metodológica
Para atingir o objetivo proposto,
selecionei crianças em idade escolar (de 7 a 12 anos) que viviam na cidade de
São Paulo e utilizavam a rua como meio de sobrevivência e espaço para seu
desenvolvimento. Considerei que a criança nessa faixa etária tem capacidade
para comunicar- se através da linguagem e, desta forma, emitir sua
representação do mundo e a compreensão que tem da realidade que a cerca. Por
essa razão, a entrevista semi-estruturada foi a
estratégia escolhida para obter os dados que permitissem identificar sua
representação em relação a si mesma, a sua família, ao meio onde vive e aos
demais enfoques por ela revelados. Os dados, então, foram coletados através de
entrevistas realizadas individualmente com catorze crianças que freqüentavam
dois refúgios públicos da cidade de São Paulo: um abrigo vinculado a uma
instituição estadual e um albergue da prefeitura administrado por uma entidade
não governamental.
A autorização para realizar as
entrevistas com as crianças que tinham história de vivência na rua e atingiam
os requisitos pretendidos ocorreu em duas instâncias: junto aos responsáveis
pelos refúgios (guardiãs legais) e através das próprias crianças. Estes foram
devidamente esclarecidos sobre: o objetivo da pesquisa, o procedimento das
entrevistas, a utilização das informações das crianças e o caráter sigiloso do
estudo. Assim, manifestaram o consentimento informado conforme preconizado
pelos princípios éticos das pesquisas com seres humanos (BRASIL/1996).
As entrevistas iniciavam com uma pergunta
aberta como "conte-me sobre sua experiência na rua" ou "como
você se sente estando na rua" e transcorriam com algumas intervenções com
o intuito de estimular as crianças a continuarem falando. Assim, as entrevistas
evoluíam como um diálogo espontâneo. Em geral, as crianças eram prolixas,
somente algumas necessitavam de estímulo para se expressarem. Nesse caso, eu as
estimulava com perguntas que surgiam do próprio contexto enfocado pela criança,
buscando esclarecer pontos obscuros ou buscando obter mais informações a
respeito do tema em vigor. Além disso, teve a preocupação de usar uma linguagem simples e concreta, compatível com a fase do
desenvolvimento das crianças. Estava atenta para usar somente os termos
triviais empregados por elas. Evitou-se, assim, todo tipo de conceitos cujas
abstrações ultrapassassem a compreensão delas.
O instrumento principal utilizado para
obter a representação social do indivíduo é seu discurso. Este, expresso
através da linguagem, possibilita sua decomposição e reconstrução tomando
possível a compreensão do conteúdo da mensagem. A linguagem é um recurso que
viabiliza o intercâmbio social e, como resultado deste, o indivíduo constrói
sua representação social.
Uma vez que a linguagem revela o
pensamento, o registro do discurso das crianças decorrentes das entrevistas com
a autora foi o meio pelo qual se obteve a versão delas em relação ao objetivo
do estudo. Assim, os dados foram registrados por meio de gravação e transcritos
na íntegra. Na apresentação de partes das entrevistas, "P" refere-se
ao pesquisador e as demais letras referem-se às iniciais dos nomes fictícios
atribuídos às crianças.
A "sistematização
dos dados empíricos" (do texto discursivo) foi organizado conforme as principais normas de
validade da "análise temática'', uma das técnicas de Análise de Conteúdo,
referidas por MINAYO (1993). Assim, os dados foram sistematizados de modo a
manter o conteúdo do pensamento e o significado da mensagem manifestado pela
criança. A "análise dos dados" foi realizada segundo as perspectivas
teóricas da Representação Social conforme preconizado por BARDIN (1979),
JOVCHELOVITCH (1998), SPINK (1993), entre outros.
Segundo esses autores, a representação é
um ato do pensamento resultante da relação do sujeito com o objeto (seja este
coisa, pessoa, acontecimento ou idéia). É através dela que se torna possível captar
a realidade subjetiva do indivíduo em relação à realidade objetiva. É nessa
perspectiva que se trouxe à tona a visão da criança de/na rua em relação ao
objetivo proposto. Como o estudo foi pautado em um enfoque psicossocial, os
referenciais teóricos que nortearam a análise dos dados foram selecionados
tendo em vista os efeitos da realidade sobre a representação social do
indivíduo. Por isso, a abordagem teórica foi pautada em autores que consideram
a determinação social na visão de mundo do indivíduo que, por sua vez,
influencia suas condutas nas relações sociais. A análise dos dados foi
fundamentada, também, segundo autores que realizaram estudos relacionados ao
desenvolvimento infantil numa abordagem humanista e histórica.
Em suma, os temas significativos
destacados dos dados empíricos foram agrupados em categorias. A interpretação
dos dados foi realizada em função dos temas emergentes que representaram a
reconstrução das dificuldades enfrentadas por elas em seu processo de
desenvolvimento. Assim, uma das unidades temáticas que surgiu da análise do
discurso das crianças entrevistadas originou a categoria "família".
Apresentação
dos dados
A família foi um tema comentado por todas
as crianças entrevistadas. Algumas falavam pouco a
respeito, mas todas contaram o motivo que as levaram a fugir de casa. As razões
apresentadas foram devido à "ausência da mãe", às "agressões dos
genitores" e à "miséria e desagregação familiar". De modo geral,
as crianças referem uma história de crise na estrutura familiar que as levaram
buscar a fuga como alternativa para livrarem-se do tratamento austero, negligente ou agressivo de seus genitores ou responsáveis.
As crianças relataram várias fugas de casa porque as autoridades as levavam de
volta à suas famílias quando encontradas na rua. Mas, em casa, enfrentavam os
mesmos problemas que motivaram a fuga e, assim, retomavam à
rua. Os relatos das crianças, apresentados adiante, elucidam os motivos das
fugas.
a)
A ausência materna
A ausência da mãe, seja devido à sua
morte, abandono ou separação dos pais, foi uma das causas principais relatadas
como geradoras de crise na vida de algumas crianças. Essa perda da mãe
tomava-se um problema quando a figura substituta (madrasta, avó, tia ou pai)
não supria as necessidades da criança, ou quando o responsável a tratava com
descaso e agressividade. Para essas crianças, o mito da madrasta má dos
contos-de-fada é realidade.
J.
Minha mãe morreu, fui pra casa da minha madrasta. Aí fui pra rua. Aí eu vim pra
cá agora (no abrigo). Não quero voltar" pra casa.
O SOS me levou pra casa mais de cinco vezes e eu fugia de novo.
P.
O que acontecia?
J.
Minha mãe (madrasta) me batia. Ela me batia muito, me fazia de empregada, não
me deixava ficar dentro da minha casa. Aí eu fugia, fugia. Eu não queria voltar
mais pra casa, nem vou voltar
Uma das crianças manifestou essa situação
de conflito com a madrasta. Ao ser questionada sobre o que significava
"saúde" para ela, explicou o termo relacionando-o ao bem-estar
familiar, dando um sentido de "acolhimento" ao expressar que saúde é
ser "cuidada" pelos pais. A vida saudável que ela tinha deixou de ser
realidade com a ausência da mãe, resultando em sua fuga de casa.
V.
(Saúde) é quando a gente está melhor se alimentando bem. Quando gente está com
os nossos pais, as nossas mães. Quando eles estão cuidando da gente direito,
quando eles alimentam a gente.
P.
Isso acontece com você?
V.
Acontece, mas só que minha mãe morreu... aí meu pai...aí minha madrasta começou
a me bater aí eu fugi de casa.
P. E você foi pra onde?
V.
Eu fui pra rua, aí as polícias me pegaram. Aí eu fui
pro S.O.S. e depois
vim
pra cá (p/ o abrigo).
Essa criança representava a figura
materna, apesar de ausente, como referência das suas experiências, fossem estas
boas ou más. Tudo de bom relacionava-se à presença da mãe, e tudo de mal relacionava-se à sua ausência. A figura paterna surge como
"cúmplice" da madrasta, não atenuando a sensação de desamparo da
criança.
P.
O que de ruim lhe aconteceu que você nunca esqueceu?
V.
Quando minha mãe morreu. Faz um ano.
P.
Você lembra dela?
v.
Lembro. (Estava cabisbaixa)
P.
Sente saudade?
V.
(Não respondeu, continuava cabisbaixa).
P.
O que de melhor já lhe aconteceu?
V.
Quando minha mãe fez festa pra mim, bolinho. Ela nunca esqueceu do meu
aniversário, mas meu pai não faz aniversário pra mim por causa da minha
madrasta. Ela não gosta que ele faz aniversário pra
mim. (Pausa)
P.
Conte-me um sonho que você teve.
V.
Tive um sonho chato depois que minha mãe morreu. Ela aparecia e desaparecia. (Batia o fio do microfone agitadamente). Aí ela foi no banheiro e estava nascendo
chifre nela e ela saiu correndo.
P.
Você ficou assustada!
V.
(Assentiu). Eu não conseguia acordar
P.
Então, isso foi um pesadelo.
V
Aí o homem começava a dar risada e não parava de rir Aí meu pai deixou eu
sozinha no matão. (...) Eu não conseguia acordar tia.
Só os sonhos bons que eu acordo.
P.
(.. ) Você lembra de um sonho bom ?
V.
Lembro, espera um pouco (ficou pensando). Foi quando eu sonhei que minha mãe
comprou um apartamento. Aí ela não precisava de pagar.
Tinha piscina e comecei a nadar Aí só sonhei um pouquinho, eu acordei, não
consegui ficar dormindo. Mas eu queria sonhar até à noite.
No caso de uma outra criança, a tia
"assumiu" seus cuidados mas não supria as necessidades de afeto
conforme suas expectativas. Apesar da criança não tecer comentários a respeito
de seu pai, em um momento da entrevista deixou evidente que ele não teve bom
desempenho.
T
É um pouco bom, um pouco ruim. Nunca é bom ficar na rua, porque agente não tem
o carinho de uma mãe. (...) Quando minha mãe morreu, eu tinha um ano e três
meses. Aí meu pai não tinha condições de me criar então ele deu
eu pra minha tia. Eu sou filha da minha tia, agora. (..). a gente pode
até gostar da rua, mas chega uma hora que a gente se enche. Mas, a gente não se
esquece da rua, do nossos amigos, porque um dia... se
eu voltar para minha casa, eu não vou falar com ninguém, eu não vou ter amigos.
E na rua eu tenho muitos amigos.
P.
Na tua casa você não tinha amigos?
T
Não. Não podia sair para brincar
P.
Sua tia não deixava?
T
Não. Ela não deixava sair pra rua. Aí depois ela mandou eu morar com o meu pai,
aí eu peguei e fugi e vim pra cá pra rua.
Em um dos casos, a criança saiu de casa
por uma combinação entre o estímulo de seus amigos e o tratamento recebido por
sua madrasta. A entrevista feita com ela ajudou-a a expressar seus sentimentos
e a encorajá-la a tomar uma atitude, a de voltar para casa de sua avó. A
criança parecia estar sofrendo calada, não compartilhava sua dor e suas
dúvidas. Após a entrevista, foi encaminhada para casa e, se não houvesse essa
oportunidade, talvez ainda estivesse na rua.
P.
O que fez você vir pra rua ?
C.
Eu vim por causa eu fui no embalo dos outros. (...) Eu
fui no embalo dos outros e me ferrei. E até hoje eu tô aqui querendo ir pra casa, sem poder.. sem poder me
movimentar, brincar bem.
P.
Você tem mãe?
C.
Tenho mãe, mas ela não mora comigo, eu moro com a minha avó.
P.
Então, você saiu da casa da sua avó.
C.
É. Minha avó, a essas horas, tá preocupada comigo. Eu
não queria que nenhuma mãe desses moleque (referia-se
aos meninos do albergue) tivesse sofrendo. Mesmo que fizesse mal pro filho, mas
é mãe, é mãe, quantas vezes eu não sofri com a minha mãe, e tô
aí hoje querendo voltar com ela, querendo ficar em casa. Porque essa vida é
ruim, você passa frio, fome, desespero. Uma hora você fica louco.
P.
Você gostaria de ver a sua avó ?
C.
Eu gostaria. Minha avó nunca me catou pra me bater assim pra me tirar sangue de
mim, pra me espancar
P.
Sua mãe te batia?
C.
Nem minha mãe, ninguém da minha família. Única pessoa que chegou a tirar sangue
do meu nariz foi minha madrasta.
P.
Você morava com a sua madrasta?
C.
Morava. Eu fugi, aí eu voltei a morar com a minha avó. Eu fugi de novo... aí
até hoje eu tô aqui. Acho que faz uns cinco ou dez
dias que eu fugi de casa.
P.
Como você pensa em voltar pra casa?
C.
Não sei, eu acho que vou ficar rodando minha casa, se minha avó me vê, de
repente ela me chama e fala que não vai me bater
P.
Você tem medo que ela bata em você?
C.
Tenho.
P.
Por isso que você não voltou até agora?
C.
É. (Pausa)
P.
E se você for junto com um adulto?
C.
É, pode até dar certo.
P.
Você quer que eu peça pra alguém daqui encaminhar você? (Pausa) Eu não vou
fazer isso se você não me pedir. (Pausa) Você gostaria?
C.
Gostaria. (Chorando) Eu vou pra casa sim porque eu não gosto de fica passando frio e de ninguém me judiando, não
gosto de ver ninguém me judiando.
P.
Lógico. Criança tem bom coração, é boa, não é pra sofrer
C.
(Ainda chorando) Eu queria que ninguém, nenhuma criança ficasse nesse mundo aí
passando frio. Se eu fosse Deus, eu tirava todas as crianças e levava pro meu
céu. Transformava elas em lindas, lindas e limpas, sem
passar fome. (Chorava bastante)
b)
Agressões dos genitores
Algumas crianças fugiram de casa porque
os próprios pais legítimos as maltratavam. Em alguns casos, a mãe não conseguia
proteger o filho porque o pai era violento com ela e com a criança. Surgiram
casos em que a mãe morreu, ficando a criança aos cuidados de um pai agressivo.
Mas também houve relatos de crianças cujas mães eram quem as maltratavam As
crianças que sofreram maus-tratos desde muito pequenas estão em abrigos há
muito tempo, sendo caracterizadas como crianças institucionalizadas, sem
perspectiva de retorno a via convívio familiar.
No caso a seguir, ambos os pais eram
agressivos com a criança.
P.
Você recebe visita?
M
Não.
P.
Você tem mãe, pai?
M.
Tenho (pausa).
P.
Eles vêm aqui?
M.
Acenou negando (Respondeu cabisbaixo).
P.
Como você foi pra rua?
M
Ah, minha mãe estava me batendo demais. Eu fugi.
P.
E o seu pai? Também batia em você?
M.
Também (Continuava cabisbaixo).
Em outro caso, a criança conta que a mãe
morreu e o pai tornou-se alcoólatra e agressivo.
P.
E a sua mãe?
W
Morreu quando eu era pequeno, eu nem conheci ela. Quando minha mãe morreu, meu
pai começou a beber pinga. A mulher do lado ligou pro Juizado de Menor Aí me
pegaram, me mandaram pro J.M. e depois pro abrigo. Me pegaram
de dentro de casa.
P.
Então, você sempre ficou em abrigo?
W.
É.
P.
Seu pai vem te visitar?
W.
Ele nem sabe que eu tô aqui.
Adiante, as crianças relatam que seus
pais eram agressivos com elas e com suas mães.
P.
Porque você foi pra rua?
S.
Meu pai me batia, me batia de fio, aí eu fugi de casa.
P.
E sua mãe? Você tem mãe?
S.
Tenho. Minha mãe não podia fazer nada, meu pai também batia nela. Aí eu fugi de
casa.
P.
E faz tempo que você não vê sua mãe?
S.
Faz. (Pausa)...
P.
Você tem irmãos ?
S.
Tenho oito, seis em casa e dois na rua. Nunca mais eu vi meus irmãos, tia.
Outro relato:
A.
Minha vida é rua, por causa que eu não gosto do meu
pai, ele fica bebendo muita cachaça e fica batendo em mim e na minha mãe. Agora, só tá eu e meu pai.
Minha mãe morreu de ataque do coração. Levaram ela pro
Pronto Socorro mas não deu certo. Aí fizeram um caixão e levaram
ela lá no cemitério. Enterraram, aí meu irmão começou a brigar com meu
pai, meu pai bateu nele e ele fugiu de casa. Aí eu fugi também. Eu não gosto de
ficar com meu pai porque ele bebe muito e fica me batendo, todos
dia..
Houve um caso em que, segundo a criança,
sua mãe era agressiva. A criança expressava hostilidade clara com todos os
membros da família. Guardava consigo muito rancor e mostrava-se determinada a
romper laços com a família, apresentando-se disposta a eliminar todos os
obstáculos que impeçam seu propósito:
E.
Eu ficava em casa, bagunçava. Na escola, bagunçava. Aí minha mãe começou a me
bater me batia, batia. Meu irmão fuxicava muito de mim. Aí minha mãe me batia,
me batia. Aí, quando minha mãe saía, nos fins de semana, eu batia no meu irmão,
batia, batia. Minha avó ia lá, me batia de vez em quando. Meus
irmãos me batia. Eu pegava coisas escondida,
comia, comia. Aí minha mãe chegava do trabalho, me batia. Aí eu comecei a fugir
Os outros (a polícia) me pegava e me levava pra casa
de novo. Eu fugia de novo. Comecei a fugir de casa, fugia, ia fugindo. Aí, um
dia, eu catei um lugar (um abrigo) e fiquei lá.
E.
Se meu pai estivesse lá (em sua casa), ele ia ser preso. Porque ele ia bater na
minha mãe, e eu ia ajudar ele.
P.
Seu pai não está mais lá ?
E.
Meu pai tá morto.
P.
Quando ele estava vivo, sua mãe não te batia?
E.
Quando eu... crescia... tinha oito...dez... meu pai já tinha
morto.
P.
Você era pequeno quando ele morreu.
E.
Eu não cheguei a conhecer nem um pouquinho dele.
P.
Faz tempo que você não vê sua família?
E.
Eu não quero saber deles.
P.
(...) Não tem vontade de ver ninguém?
E.
Não. Nem minha mãe. Se eu ver minha mãe qualquer dia
aqui, e se eu estiver com uma faca eu mato ela.
P.
Você não gosta dela?
E.
Odeio. Se eu tiver com uma faca, se eu tiver com alguma coisa de crime e se ela
passar aqui eu mato ela. Eu posso ir pra Febem, posso ir pra qualquer lugar mas
que eu mato ela pra sair da minha vida, eu faço. Ela só vai com a cara dos meus irmão. Se não fosse minha avó, pra me pegar pra me criar eu já estaria com outra pessoa. Quando
eu era pequeno, ela ia me dar pra outra pessoa.
P.
Você tem algum irmão que você gosta?
E.
Só minha irmã.
P.
Ela nunca veio aqui?
E.
Se ela vem, eu vou pra outro lugar não venho mais pra cá. Eu quero meter minha cara sozinho, eu vou ter minha família sozinho.
c)
A miséria e a desagregação familiar
Houve crianças que, embora não revelassem
claramente, deixavam implícito que a rua já fazia parte do seu dia-a-dia como
um habitat habitual em suas vidas.
Ainda assim, usavam a expressão "fugir de casa" quando apresentavam o
motivo para estarem longe de seus pais. Usavam essa expressão porque saíram de
casa sem o consentimento dos pais, embora estes sabiam onde encontrá-las.
Eventualmente, essas crianças voltavam espontaneamente para casa a fim de
"fazer uma visita", por estarem com saudade de sua família ou por
estarem cansadas da rua. Nos relatos das crianças sobre sua história familiar
revelavam fatos que evidenciavam um quadro de pobreza acentuada: pertenciam às
famílias numerosas, desagregadas, com história de algum membro envolvido com a
marginalidade.
Algumas crianças não fugiam propriamente
de casa, mas da escola. A obrigatoriedade de estudar levavam-nas a "cabular às aulas'' e, dessa forma, ficavam nas ruas. A
princípio permaneciam aos arredores de casa e pouco a pouco iam se afastando.
P.
Você não quer ficar na sua casa?
K.
Não.
P.
O que acontece lá?
K.
Nada. É que eu não gosto de ir pra escola.
P.
Sua mãe quer que você vá pra escola?
K.
É, mas eu não gosto. Eu gosto de estudar à tarde, não gosto de estudar de
manhã.
P.
Por isso que você saiu de casa?
K.
(Assentiu com a cabeça).
P.
Você não tem vontade de voltar pra casa?
K.
Tem vez que eu volto. Quando eu arrumo mais dinheiro, eu volto pra casa.
K.
Quando eu estava na segunda série ainda, meu irmão saía por trás da escola. (... ) Eu também estou de busca pressão, porque eu saí de
casa, (... ) nós saímos sem ordi.
P.
Fale um pouquinho de sua família (..)
K.
Eu tenho nove irmão. Quatro está no orfanato e o resto está com a minha mãe.
(...) Na minha casa não tem televisão, aí minha irmã assiste na casa dos
outros.
P.
E você?
K.
Eu ia nas outras casas assistir televisão, chegava só
de noite
Algumas crianças relatavam sobre o
envolvimento de algum membro da família com a delinqüência.
P.
Quantos irmãos você tem?
V
Somos em quatorze, eu estou no meio.
P.
Onde eles estão?
V
Na minha casa. (Respondia cabisbaixa agitando o fio do microfone)
P.
Só você está aqui.'
V.
Só eu. E mais dois que estão um na cadeia e outro na Febem. Um de 16 e outro de
17 que está na cadeia.
P.
Ele fez alguma coisa?
V.
Ele roubou. Ele roubou laranja. (Riu e parou de agitar o fio).
P.
Roubou laranja? Foi pra cadeia porque roubou laranja?
V.
Não, pra Febem.
P.
E o que está na cadeia?
V.
O que está na cadeia roubou banco
Era comum as crianças tecerem comentários a respeito de sua
famílias que deixavam transparecer a situação de desagregação familiar.
P.
Você morava com seu pai?
B.
Com meu pai e com a minha madrasta.
Minha mãe morava em Santos, meu irmão estava preso e minha outra irmã não sabia
onde estava.
P.
E seus irmãos, estão com quem agora?
B.
Com meu pai e com minha madrasta.
P.
Os menores, mas você tem irmãos maiores que você?
B.
Tenho.
P.
Eles estão aonde?
B.
Estão tudo em Suzano, em Mogi.
P.
O que é lá?
B.
É a casa da minha tia. Eu tenho duas irmãs que estão morando com a minha tia.
P.
Com quem você gostaria de ficar se não for com a sua madrasta?
B.
Com a minha tia.
P.
Ela não pode ficar com você?
B.
Ela pode, mias só que não conversou com ela ainda. Eu tenho outros irmãos
(citou seis nomes). Tem ... (citou mais três nomes).
Outro caso:
P.
Você tem irmãos?
W.
Tenho um que tá adotado, o outro tá com a madrinha e outro tá preso.
As crianças em que a rua já fazia parte
de seu cotidiano, como se fosse a extensão de sua casa e parte integrante de
seu ambiente, não apresentavam queixa de nenhum membro da família, mas afastavam-se de casa por vários dias sem consentimento dos
pais e sem aviso prévio.
P.
Por que você saiu de casa?
L.
Por nada. Fugia por nada.
P.
Não veio ninguém atrás de você?
L.
Minha mãe já procurou eu, já fui pra casa. Ia pra casa e fugia, ia pra casa e
fugia.
Uma das crianças relatou que os conflitos em casa motivou sua fuga. Embora ela não fosse diretamente atingidas por tais conflitos, não
encontrava ambiente harmonioso em sua casa.
P.
Como tudo começou? Como você saiu de casa?
H.
Minha mãe perdeu a casa, por ordem do juiz. Daí a gente vinha pra cá, pra SP.
Nós tava morando na casa de uns tios nosso. Daí eles vendeu a casa. Minha mãe
conseguiu (ajuda para) construir unta casa. (... ) Meu
pai que é ex-marido da minha mãe, (...) não mora com minha mãe. Ela não se dá
bem com ele, eles ficavam sempre brigando, e por isso eu saí...
P.
Agora, ela está morando com seu padrasto..
H.
Meu padrasto. E, minha mãe também não se dá bem. A gente mora em casa, mas só
que não se dá bem, tia.
Apreciação
dos dados
Recapitulando os relatos das crianças
referentes à ausência materna, às agressões dos genitores e à miséria e
desagregação familiar, notei que havia um ponto em comum entre esses três
requisitos que motivaram a fuga das crianças: a falta de uma mãe carinhosa, com
qualidades pessoais e recursos materiais suficientes para a manutenção familiar
parece ser a condição principal para a criança permanecer em casa.
Ao avaliar os relatos das crianças quanto
à ausência da mãe, fica bem evidente que a mãe protetora era o alicerce de suas
vidas. Salvo algumas exceções, tudo começou a desabar quando as crianças
perderam, por algum motivo, o cuidado materno. Através de seus relatos, estava
implícito que se uma outra pessoa (pai, madrasta, avó ou tia) assumisse com
competência esse cuidado, as crianças conseguiriam suprir suas carências. Mas a
falta de uma mãe substituta desencadeou um processo de destruição na vida das
crianças que perderam sua mãe. Suas madrastas não conseguiram suprir suas
necessidades de afeto, fracassando no papel de mãe substituta.
BOWLBY (1993) faz referência sobre como o binômio mãe-filho repercute no desenvolvimento da criança.
Define os conceitos de "figura materna'' e "mãe
substituta" relacionando-os ao vínculo que a criança estabelece com ambas.
Diz ele: "Por figura materna
entende-se aquela pessoa para a qual a criança orienta, de acordo com
preferências, seu comportamento de apego; por mãe substituta entende-se qualquer outra pessoa para a qual a
criança está disposta, provisoriamente, a dirigir seu comportamento de apego"
(p.23/v.2).
O autor define o "comportamento de
apego" como um forte sentimento decorrente da dependência da criança em
relação à figura materna. "Nenhuma forma de comportamento é acompanhada
por sentimento mais forte do que o comportamento de apego. As figuras para as
quais ele é dirigido são amadas, e a chegada delas é saudada com alegria.
Enquanto uma criança está na presença incontestada de uma figura principal de
apego, ou a tem em seu alcance, sente-se segura e tranqüila. Uma ameaça de
perda gera (na criança) ansiedade, e uma perda real, tristeza profunda; ambas
as situações podem, além disso, despertar cólera, sentimento de raiva, ódio ou
desprezo" (p.224/v. l).
Refere que a falta da figura materna, ou
de sua substituta, traz sérias conseqüências futuras no desenvolvimento da
criança. Ele explica que "a principal causa de uma personalidade instável
e angustiada é a incerteza torturante quanto a se mostrarem as
figuras de apego acessíveis e receptivas; verificamos haver também fortes
razões para acreditar que o alicerce sobre o qual se constrói uma personalidade
estável e autoconfiante é a certeza despreocupada de contar com a presença e o
apoio das figuras de apego" (p.340/ v.2).
Segundo ROBERTSON (apud BOWLBY/1993), se a criança é retirada dos cuidados matemos
ainda pequena (entre 18 e 24 meses), "quando está
apegada de forma tão possessiva e apaixonada à mãe é, na verdade, como seu
mundo desabasse. Sua intensa necessidade da mãe permanece insatisfeita e a
ilustração e saudade pode torná-la desesperada de dor. (...) Ela não conhece a
morte, mas apenas a ausência, e se a única pessoa que pode satisfazer sua
necessidade imperativa está ausente, é como se estivesse morta, tão esmagador é
o seu sentimento de perda'' (p.6/v.3).
Quando a perda da mãe ocorre por sua
morte, o processo para superar seu sofrimento é muito penoso e de longa
duração, diz BOWLBY (1993). "Acreditou-se, durante algum tempo, que a
criança pequena logo esquecia a mãe e, portanto, superava seu sofrimento.
Acreditava-se que o pesar na infância tinha vida curta. Hoje, porém, uma observação
mais profunda mostrou que não é assim. O desejo ardente do retorno da mãe persiste”
(p.7/v.3).
"Depois de uma fase de retraimento e apatia (...), a criança começa a buscar novas relações. A maneira pela qual estas se desenvolvem depende da situação em que ela se encontra. Desde que exista uma determinada figura materna com a qual possa se relacionar e que desempenhe para ela o papel de mãe carinhosa, com o tempo acabará por aceitá-la e tratá-la quase como se fosse sua própria mãe. Nas situações em que, ao contrário, a criança não tem ninguém com quem se relacionar, ou em que há uma sucessão de pessoas com as quais se estabelece um breve relacionamento, o resultado é diferente. Em geral, a criança toma-se cada vez mais egocêntrica e inclinada a estabelecer relações passageiras e superficiais com todos, sem exceção. Essa condição é um mau presságio para seu desenvolvimento consolidar-se em um padrão estável" (p, 11, v.3).
O autor desenvolveu alguns estudos para
avaliar os efeitos da privação da figura materna na vida adulta e concluiu que,
dependendo da idade em que ocorre a privação, há prejuízos no desenvolvimento
do raciocínio abstrato ou da personalidade. "As
diferenças individuais nas reações de adultos à perda durante a infância
dependem das circunstâncias dos acontecimentos e do momento mais ou menos
crítico do desenvolvimento da criança'' (p.30, v.3).
"Algumas descobertas sugerem que a
privação da mãe pode ter efeitos particularmente negativos sobre determinados
processos. Dentre os processos intelectuais, os mais vulneráveis parecem ser a
linguagem e a abstração. Dentre os processos de personalidade, os mais
vulneráveis parecem ser os que são subjacentes à capacidade de estabelecer e
manter relações interpessoais profundas e significativas e à capacidade de controlar
os impulsos em beneficio de objetivos de longo alcance" (BOWLBY, 1981,
p.202).
"A privação após a idade de três ou
quatro anos, (...) não tem os mesmos efeitos destrutivos sobre o
desenvolvimento da personalidade e sobre a capacidade de raciocínio abstrato.
Contudo, tem ainda como resultado uma necessidade excessiva de afeto e
exagerados impulsos de vingança, que provocam um agudo conflito interno,
infelicidade e atitudes sociais muito negativas. (...) A limitada noção de tempo
da criança e sua tendência a interpretar mal uma situação contribuem muito para
suas dificuldades. (...) Mesmo para uma criança de cinco ou seis anos, as
semanas são terrivelmente longas e os meses são algo quase infindável. Esta
noção muito restrita de tempo precisa ser compreendida para que possamos
apreender totalmente o desespero que uma criança pequena sente por ser deixada
sozinha num lugar estranho" (BOWLBY, 1981, p.63-4).
De modo geral, a perda do cuidado materno
pode gerar um adulto incapaz de confiar no outro. "Hoje é admitido que não
apenas crianças, mas seres humanos de todas as idades são mais felizes e mais
capazes de melhor exercitar seus talentos quando seguros de que, atrás de si,
há uma ou mais pessoas em quem confiam e que lhes darão ajuda em caso de
necessidade. A pessoa em quem se confia representa base segura para a ação"
(p.375, v.2).
O autor pondera que, embora haja diversos
estudos que diferem quanto às fontes de observação e quanto aos quadros e
modelos teóricos, "há forte concordância quanto a certos princípios
básicos''. A autoconfiança e a capacidade de confiar nos outros "são produto de uma família que dá a seus filhos forte
apoio, que lhes respeita as aspirações pessoais, o senso de responsabilidade e
a capacidade de lidar com o mundo. Dessa forma, longe de comprometer a
autoconfiança de uma criança, muito a estimulam a base segura e o forte apoio
proporcionados pela família" (p.378/v.2).
BOWLBY (1981) refere que o adulto que
sofreu privação na infância tende a reproduzir o tratamento que recebeu quando
criança. "A assistência adequada às crianças privadas de
uma vida familiar normal pode, agora, ser encarada como essencial para o
bem-estar mental e social da comunidade e não apenas como um ato de humanidade.
Isto por que, quando esses cuidados são negligenciados, como ainda hoje ocorre
em todos os países do mundo ocidental, elas crescem e reproduzem a própria
privação. As crianças que sofrem privação, quer em seus lares quer fora deles,
são uma fonte de contaminação social'' (p.217).
Seu pensamento é coerente com a anual
vertente de incluir os casos de maus-tratos e negligência como um problema de
saúde pública. GUERRA, SANTORO & AZEVEDO (1992) fazem referência a essa
questão; além de defenderem a inclusão desses casos na saúde coletiva, sugerem
o envolvimento de equipes multidisciplinares nos projetos de intervenção para
assistir o binômio criança-família.
A adesão a essa vertente implica rever o
conceito de família; do contrário, os projetos destinados a ela tendem ao
fracasso. É preciso considerar como está constituída a família no Brasil, tendo
em vista as diferenças sócio-econômicas e culturais, para daí se obter um
diagnóstico real da criança em situação de rua e, a partir daí, estabelecer
metas e elaborar projetos multidisciplinares com perspectivas de intervenção
que gerem resultados mais eficazes e com maior impacto social.
GOMES (1994) faz referência à respeito dizendo que a política pública não pode ignorar
as condições concretas das populações destinatárias. E, ainda, atribui a todo
cidadão a tarefa de descobrir um modo de ajudar as famílias mais pobres.
Segundo a autora, "as famílias pobres não podem arcar
por mais tempo, sós e desamparados, com a responsabilidade da construção do
futuro de seus filhos (...), do maior contingente das novas gerações
brasileiras'' (p.60).
Considerações
finais
A identidade do "eu" é sempre
construída na relação com o "outro". Em se tratando de
desenvolvimento infantil, a identidade da criança é formada principalmente na
relação com sua família. Se esta for conceituada negativamente, a criança
assimilará para si parte dessa identidade negativa.
Quando a criança recorre à rua por
maus-tratos, não está apenas fugindo da dor física; está tentando preservar sua
integridade e sua auto-estima; está se afastando daquilo que a destrói e a
humilha. Mas a vivência na rua, e mesmo em alguns abrigos, também não lhe
atribui identidade positiva; ao contrário, reforça e acentua a identidade
negativa de "menino de rua" e, ainda, a identidade do porvir, a de
suposto "futuro marginal''.
Desse modo, a criança em situação de rua
parece não encontrar saída. Ela precisa estar inserida em uma família para
sentir-se protegida de todo tipo de violência, seja esta física ou moral.
Precisa pertencer a um grupo familiar que lhe dê perspectivas de um futuro
promissor. Precisa acreditar que é bem-vinda na sua comunidade e na sociedade a
qual pertence. Sem esses requisitos, torna-se difícil reagir positivamente às
exigências que a sociedade lhe impõe.
Segundo CIAMPONE (1998) "a família
constitui a sede dos acontecimentos mais significativos na vida do indivíduo.
Se a experiência familiar é negada ou de alguma forma desatendida, em função
das condições concretas de vida e dos seus perfis, em função também dos
processos de saúde e doença a que ela está submetida, o indivíduo estará mais
predisposto a estados de confusão intrapsíquica, que
podem levar ao desenvolvimento de condutas que variam numa gama muito grande
entre o normal e o patológico".
Assim, é importante a participação de
profissionais de saúde nos programas (governamentais ou não) de reinserção da
criança na família de origem ou substituta, nas realizações de pesquisas, no
ensino de graduação e em eventos técnicos-científicos
que conduzam a adesão de mais adeptos em defesa dessa causa.
Referências
Bibliográficas
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa:
Edições 70, 1979.
BOWLBY, J. Cuidados maternos e saúde
mental. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
______ . Apego. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1990, v, 1.
______ . Separação: angústia e raiva.
2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. v.2.
______ . Perda: tristeza e depressão. São
Paulo: Martins Fontes, 1993. v.3.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho
Nacional de Saúde. Resolução n. 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos.
Brasília, 1996.
CIAMPONE, M.H.T. Uma proposta de
intervenção baseada na família. In: SILVA, L.A.P.; STANISCI, S. A.;
BACCHETTO, S. (Orgs.). Famílias:
aspectos conceituais e questões metodológicas em projetos. Brasília / São
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GOMES, J.V. Socialização primária: tarefa
familiar? Cadernos de Pesquisa, 91: 54-61 , 1994.
GUERRA, V.N.D.A. ; SANTORO ir, M.;
AZEVEDO, M.A. Violência doméstica contra crianças e adolescentes e políticas de
atendimento: do silêncio ao compromisso. Revista Brasileira Crescimento
Desenvolvimento Humano, 2(1) : 71 -96, 1 992.
JOVCHELOVITCH, S. Representações sociais:
para uma fenomenologia dos saberes sociais. Psicologia & Sociedade, 10(1):
54-68, 1998.
MINAYO, M.C.D.S. O desafio do conhecimento:
pesquisa qualitativa em saúde. 2.ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1993.
SPINK, M.J. (Org.), O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1993.
Notas
[1] Parte da Tese de Doutorado apresentada à Escola de
Enfermagem da USP em 10/12/99. Título: A
criança de/na rua em idade escolar: um olhar sobre sua trajetória de vida.
[2] Enfermeira. Prof. Dr. do Departamento de Enfermagem
Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo. Av. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 419 -
Cerqueira Cesar - São Paulo. E-mail : moneda@usp.br