ADOLESCENTES, JOVENS E AIDS NO BRASIL

 

 

Vera Lopes dos Santos

Cledy Eliana dos Santos

 

 

A AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, causada pelo vírus da imunodeficiência humana - HIV, teve o seu primeiro caso registrado no início da década de 80. No Brasil, os primeiros casos confirmados ocorreram em 1982, no Estado de São Paulo.

 

Inicialmente, foi associada, de forma estigmatizadora, a “grupos de risco”, tais como homossexuais, prostitutas, dependentes químicos e hemofílicos, localizados em grandes centros urbanos. A associação da doença aos “grupos de risco” disseminou a falsa noção de que as pessoas não pertencentes a estes “grupos” estariam “a salvo da ameaça”. Por outro lado, reforçou preconceitos e estigmas vigentes contra algumas minorias.

 

A epidemia, ao longo dos anos 80 e 90, tem atingido homens, mulheres, jovens e crianças, indistintamente: indivíduos de diferentes segmentos sociais, com graus de instrução diferenciados, de diversas etnias, habitantes de grandes centros urbanos e cidades de pequeno porte, nas mais remotas regiões do país, de diferentes religiões e orientações sexuais.

 

O fenômeno biomédico e social da Aids “interfere no curso das relações humanas, no estilo de vida, na organização das famílias, no livre-arbítrio em relação aos papéis sexuais”.(Schall, 99).

 

O advento da epidemia lançou novos desafios no campo da ética, impulsionando a reflexão sobre os direitos humanos e a construção de uma sociedade mais justa e solidária. A luta contra o preconceito e a discriminação de indivíduos, segmentos e grupos sociais constitui parte integrante da agenda política de diversos países do mundo. O tratamento interpessoal e social dispensado aos portadores do HIV ainda serve ao preconceito da sociedade, favorecido pela desinformação.

 

A noção de “grupos de risco”, portanto, cedeu lugar à noção de comportamento de risco. Essa nova abordagem considera, essencialmente, as práticas que levam o indivíduo a um menor ou maior grau de exposição ao HIV. Associada a esta noção, a identificação do grau de vulnerabilidade[1] para indivíduos ou grupos, passou a ser fundamental na definição das estratégias de prevenção.

 

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (Boletim Epidemiológico Aids fev/99), foram notificados 155.590 casos de Aids entre 1980 e fevereiro de 1999. Desses, 20.064 referem-se a pessoas entre 15 e 24 anos, ou seja, 13% do total. A faixa etária de 25 a 34 anos concentra o maior número de notificações acumuladas: 67.267, ou seja, 43,23% do total de casos. Considerando-se que o portador do HIV pode viver em média durante 10 anos sem apresentar os sintomas da doença, estima-se que o número de pessoas que se tornaram HIV-positivas, na faixa etária de 15 a 24 anos, pode ser elevado. Desenvolver ações de prevenção voltadas para esses jovens é uma prioridade para o controle da epidemia no país.

 

Inicialmente, a epidemia atingiu indivíduos de maior renda, mas a tendência atual aproxima-a da população de baixo ingresso econômico, diretamente afetada pela exclusão social, desemprego ou subemprego, baixa escolaridade e carência de moradia e dificuldade de acesso aos serviços de saúde[2].

 

Outra tendência da epidemia aponta para a sua feminização e heterossexualização. Um número crescente de mulheres têm sido infectadas, acarretando o aumento da transmissão vertical, ou seja, da mãe para sua criança.

 

Vulnerabilidade e Aids entre os Jovens de 15 a 24 anos:

 

(Re)pensar a especificidade dos jovens, na perspectiva da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, Aids e uso indevido de drogas, significa dissociá-los dos estereótipos engendrados pela sociedade, que costumam identificá-los como “drogados”, “agressivos” ou “irresponsáveis”.

 

Este ano, o Programa conjunto das Nações Unidas para a AIDS - UNAIDS lançou a Campanha Mundial de prevenção da Aids, dirigida especialmente a Crianças e Jovens, OUÇA, APRENDA,VIVA! – Desafios para a América Latina e Caribe. A Campanha alerta que mais da metade do número de pessoas que são infectadas com o HIV no mundo, adquirem o vírus antes de completar 25 anos.

 

Na América Latina e Caribe, estima-se que, em 1998, aproximadamente 65.000 indivíduos entre 15 e 24 anos de idade adquiriram o HIV (UNAIDS, 1999).

 

A partir dos dados do Ministério da Saúde, quanto à distribuição de casos de Aids entre indivíduos de 13 a 24 anos de idade, segundo Unidade Federada de Residência e Sexo, no período de 1982-1999,[3] definimos 3 categorias, segundo o coeficiente de incidência, por 100.000 habitantes: Grupo 1 – alto coeficiente de incidência: SP (146,0), SC (78,8), RS (78,2), RJ (71,9), MT (65,0) e DF (60,0), Grupo 2 – médio coeficiente de incidência: MS (54,2), GO (42,4), PR (39,1), ES (33,6), MG (33,3), AP (33,3), AM (29,6), Grupo 3 – baixo coeficiente de incidência: CE (19,9), PE (19,4), RR (18,3), SE (16,5) e AC (14,9); RO (13,6), BA (13,2), PB (12,9), RN (11,7), AL (11,7), MA (11,5), PA (9,5), TO (9,0) e PI (7,7). Tabela 1:

 

Distribuição dos casos de Aids e incidências (taxa por 100.000 habitantes) entre indivíduos de 13 a 24 anos, segundo UF de Residência e Sexo. Brasil 1980 - 1999*

 

UF

HOMENS

MULHERES

TOTAL

População

Casos

Incidência

População

Casos

Incidência

População

Casos

Incidência

Rondônia

148.443

30

20,2

146.104

10

6,8

294.547

40

13,6

Acre

53.155

14

26,3

54.008

2

3,7

107.163

16

14,9

Amazonas

272.811

117

42,9

274.590

45

16,4

547.401

162

29,6

Roraima

29.332

7

23,9

25.205

3

11,9

54.537

10

18,3

Pará

635.662

101

15,9

637.062

20

3,1

1.272.724

121

9,5

Amapá

36.955

20

54,1

38.175

5

13,1

75.130

25

33,3

Tocantins

118.748

7

5,9

115.267

14

12,1

234.015

21

9,0

Maranhão

595.622

105

17,6

609.242

34

5,6

1.204.864

139

11,5

Piauí

320.497

33

10,3

340.429

18

5,3

660.926

51

7,7

Ceara

758.245

240

31,7

800.632

70

8,7

1.558.877

310

19,9

Rio Grande do Norte

293.937

39

13,3

302.734

31

10,2

596.671

70

11,7

Paraíba

388.740

64

16,5

408.054

39

9,6

796.794

103

12,9

Pernambuco

883.517

267

30,2

921.869

83

9,0

1.805.386

350

19,4

Alagoas

319.845

64

20,0

336.229

13

3,9

656.074

77

11,7

Sergipe

190.558

44

23,1

196.277

20

10,2

386.835

64

16,5

Bahia

1.500.227

270

18,0

1.525.703

130

8,5

3.025.930

400

13,2

Minas Gerais

1.878.763

912

48,5

1.875.896

339

18,1

3.754.659

1251

33,3

Espírito Santo

313.344

138

44,0

314.910

73

23,2

628.254

211

33,6

Rio de Janeiro

1.378.541

1399

101,5

1.410.091

605

42,9

2.788.632

2004

71,9

São Paulo

3.568.353

7477

209,5

3.574.264

2948

82,5

7.142.617

10425

146,0

Paraná

1.028.986

517

50,2

1.036.168

291

28,1

2.065.154

808

39,1

Santa Catarina

536.371

539

100,5

529.431

301

56,9

1.065.802

840

78,8

Rio Grande do Sul

969.832

1043

107,5

965.363

470

48,7

1.935.195

1513

78,2

Mato Grosso do Sul

217.273

154

70,9

218.117

82

37,6

435.390

236

54,2

Mato Grosso

265.895

210

79,0

258.782

131

50,6

524.677

341

65,0

Goiás

512.189

300

58,6

520.190

138

26,5

1.032.379

438

42,4

Distrito Federal

199.057

185

92,9

224.361

70

31,2

423.418

255

60,2

Total

17.414.898

14296

82,1

17.659.153

5985

33,9

35.074.051

20281

57,8

 

(*) 1999 (Dados recebidos até 27/02, sujeitos à revisão)
Fonte: CN DST e AIDS – IBGE População de 1991

 

A distribuição dos casos de aids para a faixa etária de 13 a 24 anos, segundo ano do diagnóstico e escolaridade, 1982-1999, (20.281 casos), mostram que a maior concentração de casos se encontra entre os indivíduos com o 1º grau completo ou incompleto: 58,1% (2.075 casos) na faixa etária de 13 a 19; e 53,7 (8.972 casos) na faixa etária de 20 a 24 anos. A CN DST/AIDS do Ministério da Saúde, realizou uma avaliação do grau de conhecimento e uso de preservativo em conscritos do Exército Brasileiro, 1997, aplicando questionário respondido por 10 mil jovens de 18 anos. O estudo identificou que, embora 90% dos conscritos avaliem que qualquer jovem pode contrair o HIV, 50% deles afirmaram que não teriam relações sexuais sem o uso do preservativo, e apenas 37% disseram que sempre usam o preservativo em suas relações sexuais. A avaliação constatou que o uso do preservativo é tanto menor quanto é maior o número de parceiros sexuais, e que, quanto maior a escolaridade, maior a freqüência do uso da camisinha. E ademais, confirmaram que a escola e a família são as suas fontes mais confiáveis de informação sobre o assunto.

 

Estima-se que, a cada ano, um contingente de 4 milhões de jovens tornam-se ativos sexualmente no Brasil. O início precoce da vida sexual pode ser considerado um agravante para o comportamento de risco frente ao HIV/ Aids. Segundo a BEMFAM, DHS 1996, a idade mediana da primeira relação sexual, para homens, é de 14 anos e para as mulheres 15 anos. Em alguns países da América Latina e Caribe, pesquisas revelam um baixo índice do uso freqüente do preservativo entre os jovens de baixa escolaridade e um alto índice de gravidez e abortos realizados em condições de alto risco, entre pré-adolescentes e adolescentes.

 

A gravidez e a maternidade precoce é o principal fator de evasão escolar entre as adolescentes ou jovens entre 15 a 19 anos (PNDS/1996), concorrendo também para aumentar o baixo nível de escolaridade deste segmento da população. Pesquisa realizada pela BEMFAM (1997-53) em todas as regiões do país revela que indivíduos do sexo feminino e masculino, entre 15 a 24 anos, e com maior grau de escolaridade, apresentam os percentuais mais altos quanto ao uso de preservativo na sua última relação sexual.

 

Outro fator de vulnerabilidade relacionado às jovens, diz respeito ao aumento da taxa de fecundidade na faixa de 15 a 19 anos, nos últimos anos, diferentemente da tendência nacional de decréscimo da curva da fecundidade no país.

 

A violência sexual praticada contra adolescentes, incluindo o abuso sexual e a exploração sexual comercial, caracteriza-se como fator de vulnerabilidade dos jovens frente ao HIV/Aids. Um grande número de adolescentes exploradas sexualmente foram vítimas de abuso sexual, na maioria das vezes praticados por parente próximo. A Rede Feminista de Saúde identificou que 48% dos atendimentos nos serviços de abortos previstos por lei são de jovens entre 10 e 19 anos.

 

Quanto à distribuição dos casos de Aids segundo a categoria de exposição, ano de diagnóstico e sexo, no período de 1982 a 1999, o maior número de casos, para os grupos de 13 a 19 e 20 a 24 anos, encontra-se na subcategoria UDI – usuário de drogas injetáveis, que se enquadra dentro da categoria de transmissão sanguínea. São 7.015 casos de UDI, assim distribuídos: na faixa etária de 13 a 19 anos, 1.337 casos, que representam 37,4% do total e na faixa etária de 20 a 24 anos, 5.678 casos, que representam 34 % do total. Somado o número total de casos, a subcategoria (dentro da categoria de transmissão sexual) de exposição de maior freqüência é a de heterossexuais (4.487 casos), seguida dos homossexuais (2.874 casos) para ambas faixas etárias.

 

Na faixa etária de 13 a 19 anos, quando se trata de indivíduo do sexo masculino, a subcategoria UDI representa 41,7% dos casos, seguida de homossexuais, com 15,3%. Quando são indivíduos do sexo feminino, a subcategoria heterossexuais representa 49%, seguida de UDI, com 27%. Vale salientar que grande parte das mulheres heterossexuais pode estar sendo infectadas em relações sexuais desprotegidas, com parceiros UDI.

 

Na faixa etária de 20 a 24 anos, quando consideramos indivíduos do sexo masculino, a subcategoria UDI representa 37,6%, seguida dos homossexuais, com 21%. Quando são indivíduos do sexo feminino, a subcategoria de maior exposição é a heterossexual, com 51% dos casos, seguida de UDI, com 25% dos casos.

 

O uso de drogas lícitas ou ilícitas aumenta o risco do usuário, seja por meio do compartilhamento de seringas - no caso das drogas injetáveis, seja pelo consumo abusivo de álcool ou outras drogas, que facilita a adoção de práticas sexuais desprotegidas e com múltiplos parceiros.

 

Castilho & Landmann (1998) destacam que a principal via de transmissão do HIV entre os jovens brasileiros está associada ao “compartilhamento de seringas ou agulhas contaminadas, quando do uso de droga lícita ou ilícita por via parenteral, entre homens e mulheres, seguido da transmissão heterossexual do homem UDI infectado pelo HIV para sua (s) parceira( s) sexual (ais)...”.

 

Quanto à distribuição dos casos de Aids na faixa etária de 15 a 24 anos, segundo sexo e idade, no período de 1982-1999, o maior número de casos ocorre no sexo masculino, 14.116 casos em relação ao feminino, 5.948 casos. O número de registros de Aids em mulheres cresceu vertiginosamente, nessas quase duas décadas de epidemia, a razão média entre casos masculinos e femininos, atualmente, é de 2M:1F. Isto confirma a tendência da feminização da epidemia, uma vez que esta proporção já foi de 23M:1F, em 1984. Em algumas idades, como 18 e 19 anos, esta relação já se equipara, 1M:1F, a partir de 96/97, conforme demonstra tabela 2:

 

Distribuição dos casos de Aids entre indivíduos de 15 a 24 anos de idade, segundo Ano do Diagnóstico, Sexo e Idade. Brasil 1982 - 1999*

 

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

0

0

0

0

0

0

6

1

2

2

6

0

8

3

12

4

9

3

0

0

0

0

0

0

2

0

9

1

7

2

18

1

23

3

27

3

0

0

0

0

1

0

3

0

4

0

13

4

19

5

34

7

42

25

1

0

0

0

2

0

5

1

10

0

21

1

38

9

45

13

57

17

0

0

0

0

3

0

6

0

9

1

34

9

55

14

60

14

99

28

0

0

0

0

2

0

5

0

21

2

29

17

55

18

93

21

109

32

0

0

2

0

3

0

7

1

19

1

38

8

70

20

105

22

165

41

0

0

0

0

3

0

16

0

30

0

59

15

94

16

121

25

177

44

0

0

3

0

5

1

15

1

31

5

76

11

114

28

142

41

231

59

1

0

2

0

4

0

12

1

28

4

79

8

130

22

171

28

284

58

2

0

7

0

23

1

77

5

163

16

362

75

601

136

806

178

1200

310

 

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

TOTAL

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

Mas.

Fem.

29

4

12

3

7

4

16

10

13

8

8

4

12

2

4

4

0

0

144

52

37

3

25

12

22

9

17

13

21

7

15

10

14

15

10

6

0

0

247

85

50

21

38

18

34

14

33

21

35

11

31

21

25

21

23

18

0

0

385

186

77

19

67

30

73

29

69

26

56

34

37

29

35

33

26

22

1

1

620

264

124

24

107

32

83

46

90

50

85

62

63

56

67

53

47

49

1

2

933

440

154

48

143

64

151

67

146

62

126

65

108

84

115

78

76

60

0

2

1333

620

187

49

210

75

189

87

183

82

162

73

163

116

160

118

91

84

4

2

1758

779

257

75

281

89

275

121

261

117

236

117

180

134

188

129

128

96

4

0

2310

978

279

77

322

103

358

146

327

148

314

141

275

176

259

159

149

108

3

1

2903

1205

304

76

391

132

402

149

400

154

383

172

370

199

312

191

205

143

5

2

3483

1339

1498

396

1596

558

1594

672

1542

683

1431

690

1250

829

1187

799

759

590

18

10

14116

5948

(*) 1999 (Dados recebidos até 27/02, sujeitos a revisão)

(**) A tabela acima foi dividida em duas partes para melhor visualização

 

 

Linhas de ação da prevenção

 

Os adolescentes, de uma maneira geral, necessitam ter conhecimentos e habilidades que os auxiliem na adoção de comportamentos que previnam a infecção das DST e do HIV e o uso indevido de drogas.

 

Alguns jovens são mais vulneráveis do que outros, pois além de vivenciarem as mudanças próprias da idade, ainda se deparam com mudanças relacionadas com a estrutura familiar e condições de vida, como pobreza, desemprego, baixa escolaridade e violência, além da falta de acesso amplo aos meios de comunicação, serviços de saúde e aos meios de prevenção (preservativos e seringas descartáveis).

 

Somadas aos diversos fatores de vulnerabilidade, algumas características próprias dos jovens aumentam o desafio que representa o desenvolvimento de estratégias e ações eficazes para o controle da epidemia: despreparo para lidar com a sexualidade; onipotência e sentimento de invulnerabilidade; barreiras e preconceitos; dificuldade de tomar decisões; indefinição de identidade, conflito entre razão e sentimento; necessidade de afirmação grupal; e dificuldade de administrar esperas e desejos.

 

Os adolescentes constituem, um contingente populacional prioritário das ações de prevenção para controle das DST, HIV, Aids e drogas. As ações fomentadas pela Coordenação Nacional DST e Aids do Ministério da saúde para trabalhar com os jovens dentro ou fora da escola, têm buscado promover o desenvolvimento das suas habilidades específicas, de forma a exercitar a tomada de decisão mais acertada e a resolução de problemas. Os principais objetivos desse trabalho são: reduzir a morbimortalidade pelas DST e pelo HIV; promover a adoção de práticas seguras relacionadas à transmissão sexual e parenteral do HIV e das DST; promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV e com as DST e Aids; fortalecer as instituições públicas e não-governamentais que lidam com as DST e o HIV/ Aids.

 

A limitada informação sobre sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas contribui para a vulnerabilidade dos jovens. Portanto, é na educação para a saúde que identificamos a forma mais eficaz de controle da epidemia, particularmente na juventude.

 

Finalizando, as ações de prevenção desenvolvidas têm sido construídas com a participação de setores governamentais nos níveis federal, estadual e municipal, e organizações não-governamentais, cujos princípios foram sistematizados no documento Sexualidade, Prevenção das DST/AIDS e Uso Indevido de Drogas - Diretrizes para o Trabalho com Crianças e Adolescentes (Ministério da Saúde – 1999), e entre os quais destacamos:

 

Promoção da educação sexual nos processos formais e informais de ensino, considerando-se os aspectos psico-afetivos, biológicos e sócio-culturais, e as relações de gênero, respeitando-se as etnias e a orientação sexual, e tendo como objetivo a construção da cidadania;

 

Garantia de acesso e permanência na escola, que é o espaço privilegiado de construção e socialização do saber, promoção da participação e integração da família e da comunidade no processo educativo;

 

Garantia de acesso aos processos de promoção da saúde, prevenção, assistência médica e social;

 

Respeito aos direitos fundamentais do adolescente definidos na Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente;

 

A prevenção das drogas e o tratamento do usuário devem ser prioritários em relação à repressão ao uso;

 

A classificação das drogas lícitas e ilícitas não deve ser utilizada como critério discriminatório para a definição de prioridades nas ações de prevenção;

 

Promoção do protagonismo dos adolescentes e jovens nas ações de prevenção;

 

Na capacitação de recursos humanos, as especificidades regionais devem ser respeitadas, valorizando-se as informações epidemiológicas. A formação dos profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social deve contemplar a sua atuação na área da prevenção das DST, Aids e drogas.

 

 


Bibliografia

 

Castilho G A, Swarcwald CL. Mais uma pedra no meio do caminho dos jovens brasileiros: a Aids. In: Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Comissão Nacional de População e Desenvolvimento. Brasília, 1998. V.1, p. 197-207.

Paiva V. Em tempos de aids. São Paulo: Summus, 1992.

 

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Ribeiro M. O Prazer e o pensar: orientação sexual para educadores e profissionais de saúde. São Paulo: Editora Gente, 1999. V. 1 e 2.

 

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Zagury T. O adolescente por ele mesmo. Rio de Janeiro: Record, 1996.

 

Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST/Aids. Um projeto de prevenção de DST/Aids e drogas na escola: proposta pedagógica. In: Prevenir é sempre Melhor (manual da série). Brasília, 1996. P. 105-9.

 

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Instituto Kaplan. Viver positivamente: manual de atenção à educação sexual de crianças adolescentes portadoras do HIV. São Paulo, 1998.

 

Béria J. Ficar, transar...: a sexualidade do adolescente em tempos de Aids. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1998.

 

Weiss SP, Vargas – Truigillo E. Yo, adolescente: respuestas claras a mis grandes dudas. México: Ariel Escolar, 1998,. 10ª ed.

 

Pick S. Planeando tu vida: programa de educación sexual y para la vida dirigido a las jovenes: manual para el instructor. México: Grupo Editorial Planeta, 1998. 7ª ed.

 

Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Boletim Epidemiológico Aids. Ano I nº 01 – Semana Epidemiológica 48/1998 a 08/1999 – Dezembro/98 a Fevereiro/99. Brasília, 1999.

 

Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Sexualidade, DST, Aids e uso indevido de drogas: diretrizes para o trabalho com crianças e adolescentes. Brasília, 1999.

 

Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Conhecimentos sobre os meios de transmissão da Aids: uma avaliação com conscritos do Exército – Brasil-1996. Brasília, 1998.

 

Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Avaliação do grau de conhecimento e uso de preservativo em conscritos do Exército Brasileiro, ano de apresentação – 1997. Brasília, 1998.

 

UNAIDS. Ouçam, Aprendam, Vivam! Campanha Mundial de Aids com crianças e jovens. Discurso de Peter Piot, por ocasião do lançamento da Campanha em Brasília, Brasil, 24/02/99.

 

UNAIDS. Fatos e números: Campanha Mundial da Aids 1999. In: Listen, Learn, Live! World Aids Campaign with children and young people. Genebra, 1999.

 

UNAIDS. Os Jovens e o HIV/Aids. Informativo. In: Listen, Learn, Live! World Aids Campaign with children and young people. Genebra, 1999.

 

Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Aids no Brasil: um esforço conjunto governo – sociedade. Brasília, 1998.

 


Notas:

 

[1] A vulnerabilidade é aqui entendida como o “conjunto de fatores de natureza biológica, epidemiológica, social e cultural cuja interação amplia ou reduz o risco ou a proteção de uma pessoa ou população frente a uma determinada doença, condição ou dano. A falta de acesso a ações e serviços de saúde e educação é considerado um fator "programático" de ampliação da vulnerabilidade” (MS/CN DST e AIDS). A vulnerabilidade pode agregar diversas dimensões: a individual, que se relaciona aos comportamentos adotados pelo indivíduo e que pode favorecer oportunidade de se infectar, como, por exemplo, o não uso do preservativo; a social, que implica questões econômicas e sociais que influenciam o aumento da violência sexual, prostituição e tráfico de drogas; a institucional, que se relaciona à ausência de políticas públicas que tenham por objetivo o controle da epidemia em populações e/ou localidades.

 

[2] A AIDS tem atingido um número crescente de pessoas com baixa escolaridade, sendo que esta tem sido adotada como um indicador do extrato sócio-econômico dos casos noticiados, por ser uma informação disponível nas fichas de notificação.

 

[3] Dados recebidos até 27/02/99 - os casos notificados na faixa etária de 13 a 19 anos, representam 2,3% do total de casos até 1999 e na faixa etária de 20 a 24 anos, representam 10,7% do total de casos até 1999. Fonte: CN DST e AIDS - IBGE/1991.

 

[4] Unidade de Prevenção da Coordenação Nacional de DST e Aids/MS.

(Documento publicado no “Cadernos Juventude, Saúde e Desenvolvimento” do Ministério da Saúde -1999).

 

[5] Texto extraído em: http://www.aids.gov.br/adolescentes.htm