ATRIBUIÇÃO
DE NOMES PRÓPRIOS E SEU PAPEL NO DESENVOLVIMENTO SEGUNDO RELATO DOS NOMEADOS
[1]
Elaine Pedreira Rabinovich [2]
Daniela travaglini
[3]
Anna Cristina Pereira Hulle Coser [3]
Eloane Neves Esteves [3]
Resumo:
O presente estudo replica e amplia a pesquisa anteriormente realizada por Rabinovich, et al (1991), sobre o
processo de nomeação de crianças tendo como base agora a fala de sujeitos
adultos sobre o próprio nome. As categorias propostas foram validadas e
ampliadas. Concluiu-se que o nome, enquanto “script” outorgado pelos pais,
indica, entre outros fatores, o futuro papel do nomeado no seu contexto
familiar e social, sendo essa influência, em grande parte, desconhecida do
nomeado.
Palavras-chave:
nomes próprios, nomeação.
Introdução
Em
palestra intitulada “A morte do sujeito” proferida no Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo (13/05/192),
Agnès Heller afirmou não haver cultura sem
nome. O nome, segundo ela, em contexto com outros nomes, identifica a pessoa,
não havendo sociedade no mundo em que as pessoas não sejam distintas umas das
outras pelo nome. A identificação, para ela, seria dada pelo “olhar que nomeia”
dos outros.
O
nome é uma característica presente e enfatizada em todas as culturas. Conforme
dizem CHEVALIER e GHEERBRANT (1991), Adão foi encarregado de nomear os animais
e isto concedeu-lhe poder sobre eles (Gn 2,9). A invocação do nome, segundo esses autores,
evocaria o próprio ser, o nome pessoal sendo bem mais que um signo de
identificação: seria uma dimensão do indivíduo.
Para
MARTINS (1991), o estudo do nome é interdisciplinar por situar-se na fronteira
da elaboração do natural em direção ao cultural, já que é recebendo um nome que
algo se torna um objeto cultural no circuito maior da sociedade, por intermédio
da linguagem. “O nome próprio é mais que
um signo ou significante: ele é um texto”.
Estudando
o mito de Édipo, VOLPI (1990) menciona que o homem está lançado no palco de sua
existência buscando realizar continuamente um "script" que lhe foi
entregue na entrada do Teatro de sua vida, ou mesmo antes. Participar deste
Drama é reconhecer-se integrante de uma trama cujo sentido escapa sempre; é
entrar numa “fala" dada por outrem, estruturada ao longo das gerações e
transmitida pela linguagem e pela rede de papéis sociais. Inconsciente e
destino podem ser entendidos como sinônimos, no sentido de que o inconsciente é
vivido como um destino obscuro e desconhecido. Já MARTINS lembra que “o nome
não é um destino, uma vez que o sujeito pode vir a escolher um outro destino
para si". Esta questão já havia sido levantada por ABRAHAM (1961) que ao
defender a idéia de que o nome contribui para determinar a maneira de ser das
pessoas, a contrapõe à concepção de que o nome obrigaria a um determinado
destino (op. cit.).
Para
MARTINS o nome, embora sem ser um destino, é portador de desejos e da trama
simbólica urdida em torno de cada sujeito. "O inconsciente pesa sobre o
nome de cada um, infiltrando-se na urdidura das letras e dos significados do
nome. O nome próprio é suporte da representação psíquica primária. Esta é fruto
do desejo de um outro e funciona como uma fantasia inconsciente fabricando
sentido". (MARTINS, 1991)
Esse
"texto", que o nome significa, é recebido, sendo a expressão do
desejo de um outro. O segundo "parto", que é o nascimento do sujeito
para si, para os outros e para a sociedade, se daria pela fala: a
"parição" de um sujeito articulado em uma genealogia e num discurso
que o sustenta. "O nome próprio é a própria expressão da existência da
intersubjetividade e do inconsciente. Ele é mensagem e mensageiro de mitos que
são transmitidos de geração em geração. Ele é também pura virtualidade enviando
através das associações múltiplas ao universo do sujeito. Este aspecto transgeracional é marcado essencialmente pela articulação
existente entre um nome e o afluxo de impulsões desejantes,
que nem sempre estão sob controle voluntário consciente daquele encarregado de
fazer a nomeação" (MARTINS, 1991).
Desde
o estudo de EAGLESON (1946) e o de SAVAGE e WELLS (1948) os nomes próprios
passaram a ser objeto de estudo, principalmente enfocando a questão do nome ser
"não usual" (MARCUS, 1976) ou "peculiar" ou
"incomum" ou "único" (SCHOMBERG e MURPHY, 1974). Estes estudos, assim como o de HARTMAN et al (1968) apontaram para ajustamentos perturbados a
partir de nomes peculiares, enquanto outros estudos (ZWEIGENHAFT et al, 1980) apontam para resultado em direção aposta no
caso de mulheres. EAGLESON, aliás, já sugeria que um dos principais fatores
para a pessoa gostar ou não do nome é sua individualidade, ou seja, sua
capacidade de identificar a pessoa. Considera também em seus estudos que muitos
sujeitos nunca haviam pensado sobre seus nomes anteriormente à pesquisa.
Segundo
KOSKAS (1985), desde a origem, os futuros pais começam a esboçar a escultura e
modelagem de sua progenitura, tanto corporal quanto
socialmente.
RABINOVICH
et al (1991), a partir de um estudo longitudinal com
crianças de zero a um ano, abordou a questão do nome através de duas perguntas
respondidas pelos pais, visando estudar a dinâmica subjacente ao
desenvolvimento da criança: Quem escolheu e o porquê da escolha do nome.
Classificou as respostas à primeira pergunta em cinco categorias: mãe, pai, mãe/pai, casal e outros. O conjunto dessas categorias foi
denominado contexto. As respostas a segunda pergunta foram classificadas em três categorias:
estética, parente e fantasia, que foram denominadas conteúdo.
Segundo
esses autores, o nome revelaria tanto o universo relacional dos pais, quanto o
contexto situacional onde a criança irá adquirindo a
sua personalidade; neste sentido, a análise do nome poderia ser um importante
instrumento auxiliar na compreensão do trama de significações implicadas nesse
contexto e das forças incidindo sobre a psique infantil.
Baseados
nessa pesquisa, foram feitas diretamente a pessoas já
adultas, as mesmas perguntas que haviam sido feitas aos pais de recém-nascidos
(quem escolheu o nome e o porquê da escolha do nome), acrescidas de outras
duas: o que o sujeito acha do próprio nome e a influência do mesmo no decurso
de sua vida.
Essas
perguntas tiveram como objetivo:
1.
Replicar, validar e complementar a pesquisa anteriormente realizada.
2.
Avaliar as premissas subjacentes à pergunta sobre o conteúdo do nome, isto é,
como o sujeito interage com o desejo dos pais de acordo com o manifestado no
nome.
3
Apreender a reação subjetiva do sujeito ao próprio nome.
Através
de entrevista semi-estruturada, foram feitas a 120 adultos de classe social
média e média alta (60 homens e 60 mulheres), as seguintes perguntas:
1.
Quem escolheu o seu nome?
2.
Porque o nome foi escolhido?
3.O
que você acha do seu nome?
4.
Como você acha que seu nome influi na sua vida?
5.
Qual o nome de seus irmãos?
As
respostas foram transcritas literalmente e, posteriormente, analisadas em
categorias, obedecendo, de forma geral, aos critérios usados por RABINOVICH et al (1991).
Quem
Escolheu o Nome?
As
respostas à pergunta “Quem escolheu seu nome?” foram classificadas nas
seguintes categorias (Tabela 1)
1.
MÃE – quando a mãe escolhe sozinha
As
mães escolheram o nome em 47 dos casos (39%). Este dado confirma a pesquisa de
RABINOVICH et al (1991) e também a sugestão de
CHEVALIER (1991) “quem nomeia tem poder
sobre o nomeado”, espelhando a organização familiar na qual a mulher,
voluntária ou involuntariamente, é colocada como dona do filho e, preferencialmente,
da filha. (*)
2.
PAI – quando o pai escolhe sozinho.
Em
contraposição às mães, apenas 20 (17%) dos pais nomearam seus descendentes.
3.
PAIS – quando o casal escolhe em conjunto.
Os
PAIS escolheram em 22 dos casos (18%). A relação harmônica tende a se refletir
na escolha do nome do filho, confirmando RABINOVICH et
al (1991). Este nome pode resultar da combinação de nomes dos pais. Exemplos:
Caso
1 – Marcel, Combinação dos nomes dos pais, Marli e Célio
Caso
2 – Silvia Helena, nome do pai Silvio e da mãe Helena.
Conforme
MARTINS (1991), estas formas de fusão e condensação podem representar o amor
dos pais para com aquele filho, mas podem indicar também um desejo de
continuidade através desses filhos. No caso de Marcel, havia uma expectativa de
ser mais do que o pai e a mãe individualmente:
“a expectativa do meu pai era de que eu fosse diferente, sempre para
mais”. Marcel, aparentemente, buscava cumprir essa vontade impressa em seu
nome.
Na
maioria dos casos, porém, a classificação PAIS se refere a nomes mais neutros,
com pequena carga projetiva, geralmente na categoria ESTÉTICA.
Caso
3 – Marina: “acho que meu pai e minha mãe, porque eles acharam bonito. Estavam
entre Fernando e Marina e escolheram Marina”.
4.
PAI/MÃE – o pai ou a mãe da criança escolhe dentro de
uma regra pré-estabelecida ou através de um nome composto.
Ocorreu
em 5 casos (4%). Contrapõe à categoria PAIS, podendo revelar um estado de
desarmonia entre o casal. Exemplo:
Caso
4 – Milena Thais: “Minha mãe queria Milena, mas meu pai só deixou colocar esse
nome se ele colocasse Thais também”.
Caso
5 – Cíntia Aline: a mãe escolheu Cíntia e seu pai escolheu Aline e os dois
juntos acharam o nome todo bonito.
5
. OUTROS – outra
pessoa escolhe o nome além dos pais, ou em conjunto com eles.
Esta
categoria esteve presente em 16 dos casos (13%). Ela indica a importância de
alguém além do casal. O significado desta categoria depende de cada caso
específico. Exemplos:
Caso
6 – Claudia Sayuri:
“Claudia porque a minha tia achava legal e Sayuri
porque é pequeno lírio e a minha avó adora lírio”. Desde os 4 anos, com o
falecimento da mãe, Claudia foi criada pela avó e pela tia. Este caso ilustra
uma “coincidência” entre a posse e o nome.
Caso
7 – Patrícia: “Estava passando uma novela e a minha irmã deu um escândalo em
casa e meus pais mudaram o nome”. Há uma
suspeita neste caso de que os pais tenham se omitido frente à responsabilidade
de ter o segundo filho, devido aos ciúmes do primeiro.
Caso 8 – Natasha: “Minha avó materna me deu esse nome por causa
de uma princesa russa. Eu acho que passa uma personalidade forte”. Neste caso,
sendo a avó russa, através do nome Natasha é passada
a tradição da família.
Casa
9 – Dimitri - Minha avó escolheu esse nome porque
tinha tendências comunistas e gosta de tudo referente á Rússia”.
Os
dois últimos exemplos demonstram a influencia da avó sobre o casal, atingindo a
criança.
6.
COLETIVO – quando um grupo, que pode ou não ter uma relação de parentesco com
os pais, escolhe. Esta categoria está sendo proposta neste trabalho.
Representa
3 dos casos (3%) . Esta maneira de nomear pode indicar uma dificuldade de “corporificação” dos
pais, que pode ser transmitida para o sujeito como uma dificuldade de assumir
responsabilidades, quer sociais, quer sobre seus desejos. Exemplos:
Caso
10 – Alexandre Augusto: “A família fez
uma lista com vinte nomes para menina e dez para menino, quando nasci colocaram
os dois primeiros nomes mais votados na lista”.
Caso
11 – Armando: “Aos
seis anos, no dia do meu batizado, sorteei meu nome de uma urna onde os
familiares haviam colocado as sugestões.
7.
NÃO SABE- quando o entrevistado não tem conhecimento de quem o nomeou.
Esteve
presente em 7 dos casos (6%), havendo cinco homens para duas mulheres que
desconheceram a origem da nomeação.
As
respostas à segunda “porque seu nome foi escolhido?”, foram classificadas em
seis categorias:
I
– ESTÉTICA: “porque é bonito”.
Foi
a categoria de maior freqüência, atingindo 37,5* (31%). Esta categoria pode estar
camuflando outras, denotando apenas o desconhecimento dos próprios pais sobre
os motivos que os levaram à escolha do nome 27 (45%) de nomes de mulheres estão
nesta categoria para 10,5 (17%) de homens.
2.
FANTASIA – nomes de personagens históricos, bíblicos, de novelas, filmes,
livros, músicas, nomes de atores, etc. além próprio significado do nome. Do
mesmo modo que a anterior, esta categoria se concentra em nomes femininos.
Representa 27,5 (24%) dos casos em geral e 18 (30%) das mulheres. Exemplos:
Caso
12 – Aline: “Tinha uma música que minha
mãe adorava e chamava Aline”.
Caso
13 – Luthero: “Minha mãe queria que eu fosse pastor e
me deu o nome de Luthero”.
Há
também o caso particular do significado do nome, que pode acarretar ou não
conseqüências em função do nome ser um símbolo. Exemplos: Ângela, Lílian, Salma, Estela, Alegria, Esperança, etc.
Caso
14 – Estela: “minha mãe queria que eu
fosse uma estrela, que eu tivesse um brilho que eu nunca consegui ter”!.
Caso
15 – Salma: “Traduz a maior característica da minha
personalidade – a alegria”.
A
categoria parente da pesquisa de
RABINOPVICH et al (1991) foi, neste trabalho,
subdividida em TRADIÇÃO, HOMENAGEM e IRMANDADE.
3.
TRADIÇÃO - “Através da transmissão de uma geração à outra por intermédio da
linguagem, a pessoa passa a estabelecer uma filiação de ordem cultural familiar
onde o desejo se inscreve”
(MARTINS, 1991) Quanto
mais rígida for a tradição, maior será a exigência sobre a criança Esta categoria se diferencia da HOMENAGEM
justamente por estes aspectos. Ambas servem para homenagear, dar prestígio e
fortalecer laços, contudo, na categoria TRADIÇÃO a função da linhagem é muito
enfatizada, enquanto que na categoria HOMENAGEM o conteúdo afetivo é mais
forte.
Caso
16 – Afonso: “Foi meu tio paterno, porque era o nome do meu
avô paterno, e ele queria que eu continuasse esse nome. (TRADIÇÃO)
Caso
17 – Raimundo “Meu pai escolheu o nome
do meu avô como uma forma de dar continuidade e homenagear alguém da família” .
(TRADIÇÃO/HOMENAGEM)
Caso
18 – Lílian: “Minha
mãe não engravidava, mas ficou grávida com um médico. Se fosse menino teria o
nome do médico, mas como foi menina teve o nome da mulher do médico..... “
(HOMENAGEM)
HOMENAGEM/TRADIÇÃO
significa a força da linhagem e da estrutura de parentesco. A pessoa que é
nomeada desta maneira geralmente tem uma responsabilidade de corresponder à essas expectativas.
As
categorias HOMENAGEM e TRADIÇÃO correspondem, respectivamente, a 14 (12%) e 18
(15%) dos casos. Na categoria TRADIÇÃO predominam os
nomes masculinos: 16 em 18 nomes
representando 27% do total dos nomes masculinos.
4.
NÃO SABE – desconhece a razão da nomeação. Assim como a categoria NÃO SABE da
primeira pergunta, 9 homens para 2 mulheres não sabem a origem do nome.
5.
IRMANDADE – é um tipo especial de TRADIÇÃO em que o nome é escolhido segundo
uma regra de nomeação dos filhos. Essa regra pode ser pela inicial, pela
repetição de um mesmo nome (ex Luiz Roberto e Luiz Eduardo) ou pela combinação
de sons dos nomes (ex.: Luciana e Tatiana) . Presente em 4,5 (4%) dos casos.
Caso
19 – Tatiana “meu pai queria um nome
russo que combinasse com Luciana, o nome da minha irmã”.
Caso
20 – Roberto “meu pai chama Rubens, meu
irmão mais velho Ricardo e o irmão que morreu com poucos dias chamava Renato.
Eu sou chamado pelo sobrenome”.
Este
caso ilustra a força da origem paterna, não apenas pela inicial, mas também
pelo uso do sobrenome no lugar do nome. Roberto seguiu a profissão do pai,
assim como seu irmão.
A
classificação IRMANDADE parece indicar que os pais ou iniciam ou dão
continuidade a uma “produção” . Os nomes
são como marcas que reforçam o clã e a união familiar. No caso de Tatiana e
Luciana, as irmãs, com um ano de diferença entre seus nascimentos, comportam-se
como se fossem gêmeas idênticas.
6
– ACASO – É a escolha do nome por um processo aleatório. Esta categoria
demonstra a “não elaboração” na escolha do nome. Através dos dados obtidos
foi observada a vinculação desta categoria com o COLETIVO da primeira pergunta (3 casos,
3%).
7.
SOCIAL – O nome é dado em função de uma significação social. Trata-se de um
caso equivalente à moda (por nós classificada em Estética
ou Fantasia), porém com referencia a alguma etnia ou grupo social. Ocorreu em
um caso.
Caso
21 – Maria Helena: “ não
queriam que eu me chamasse Ingrid, um nome alemão por causa da guerra”.
Esta
categoria articula a trama pessoal, familiar e social que
está necessariamente presente em todos os casos.
Embasando-se
na terceira pergunta “o que você acha do
seu nome?” foram obtidas as seguintes
categorias (Tabela 3):
1.
BOM – o sujeito gosta do nome. A maioria dos entrevistados se encontra nessa
categoria, 79,5 (66%). Exemplo:
Caso
22 – Christiane: “ Acho
lindo! Adoro! Não trocaria”.
2.
CRÍTICA – o sujeito descreve características tanto positivas quanto negativas
do nome 21 (17%). Houve um predomínio de mulheres nessa categoria (14,5
mulheres para 6,5 homens)
Caso
23 – Luciane: “Acho bonito, forte, mas
seco”.
3.
COMUM – representado por um nome que é freqüente na população. Aparece
descrevendo o nome de 9 (10,2%) entrevistados
Caso
24 – Ana Cristina: “Não cria problemas”
Caso
25 – Ana Maria: “Comum. Não me identifica.
Preciso complementar com o sobrenome ou com mulher do fulano” .
Na
maioria dos casos o COMUM vem associado ao BOM, porém, determinando uma
característica negativa.
Caso
26 – João de Deus: “Acho bem brasileiro, mas acho fácil achar no cartório
vários sujos na praça..... (com o mesmo nome dele), mas eu gosto”.
4.
RUIM – o sujeito não gosta do nome. É representado por 6 (5%) dos sujeitos.
Caso
27 – Neusa Maria:
“Acho nome de empregada, nunca gostei”.
MARTINS (1991) comenta que a apreciação positiva ou negativa
do nome influencia o modo como a pessoa é julgada pelos outros, o que, por sua
vez, tem um impacto sobre a auto-estima. Nomes não usuais apareceriam
relacionados a pessoas desajustadas (SAVAGE e WELLS, 1948: MARCUS, 1976: ANDERSON 1989). Contudo, esse mesmo autor, assim como o próprio SAVAGE
et al (1948). SCHOMBERG et
al (1974) e SWEINGENHAFT
et al (1980), lembra que o nome único
comporta possibilidades positivas, o que foi por nós várias vezes
evidenciado: o nomeado tem orgulho do
seu nome que o identifica e personaliza.
Caso
28 – Eloane
“Eu gosto porque cria uma coisa única que eu posso ser”.
5.
ADAPTAÇÃO – Nesta categoria se enquadram os sujeitos
que declararam ter mudado de opinião em relação ao nome, passando a gostar do
mesmo 4% , 4,5 casos).
Segundo
MARTINS (1991) resolvendo o seu nome, a pessoa resolve conflitos essenciais
latentes que em muitas vezes se prolongam desde a primeira infância. Para este
mesmo autor, a adolescência marca um processo de estabilização das identificações
do adulto jovem, podendo o nome tornar-se também um obstáculo, o que não ocorreu em nossa
pesquisa, onde esta mudança ocorreu “positivamente”, num encontro da pessoa
consigo própria. Exemplos:
Caso
29 – Irene: “teve uma época que eu não gostava, depois aprendi a gostar, pelo
fato de ter sido do meu pai que escolheu.
Caso
30 – Gemma Eleonora: “O
nome foi escolhido pela minha mãe....Hoje estou acostumada apesar de causar
surpresa a todos.”
Para
MARTINS (1991), o desejo de quem nomeia pode ser concebido
como um investimento narcísico do próprio Eu no mundo
exterior. “Do ponto de vista interior, daquele que relata sua história, o nome
próprio é muito mais que um signo referencial. Além de permitir a identificação
no mundo exterior do individuo, o sujeito se identifica a ele. Isso implica em uma
“vasta aprendizagem”, que é um movimento de revelação para o sujeito daquilo
que ele é, sem o saber de forma prévia. É muito mais que uma descoberta, do
quanto o sujeito se identifica com determinadas figuras” (MARTINS, 1991). Neste
movimento identificatório, dois eixos de análise
aparecem. São eles: a identificação imaginária e a simbólica. A
imaginária se nutre e enraíza na vida de fantasia do sujeito. Ela está
relacionada com o Eu enquanto objeto. Já a identificação simbólica ancora o
sujeito no campo do símbolo, através, sobretudo, da constituição do ideal do
Eu.
Conforme
um movimento de revelação, a pessoa irá, aceitando ou não seu nome,
identificando-se ou não, quer com seu próprio Eu, quer com seu ideal do Eu.
Deste modo, explicam-se as categorias acima descritas.
Através
dos dados obtidos à quarta pergunta
“como você acha que seu nome influi na sua vida?” , chegamos a cinco
categorias. (Tabela 4)
1.
POSITIVA – o sujeito admite a influência, sendo esta benéfica , 47,5 (40%).
Caso
4 – Claudia Sayuri: “o nome é um cartão de visitas e
o meu é apresentável”.
Quase
todos os casos POSITIVA, mostram uma identificação da pessoa
com o nome. A pessoa incorpora o próprio nome, não se imagina com outro. Esta
marca sua individualidade, ilustrando a afirmação de CHEVALIER (1991) e “o nome é uma dimensão do indivíduo”. A consciência da importância do nome é
observada nestes sujeitos. Exemplos:
Caso
34 – Luiz Guilherme: “O Guilherme com
certeza tem a ver com a grande admiração pelo meu pai, mas o Luiz garantiu a
minha individualidade”
Caso
29 – Irene “Eu acho que meu nome é
simples como eu, cai muito bem com a minha pessoa”.
2 – NEGATIVA – O sujeito admite a
influência, sendo esta de alguma forma prejudicial. Aparece com 13,5 (11%) dos
casos. Exemplos:
Caso
31 – Cláudio - “
Não foi importante para mim, só para a minha mãe”.
Caso
32 – Daniela: “Só atrasou minha vida”.
3 – NENHUMA – O sujeito declara que não existe influência
(39%) N=47) (*). Exemplo:
Caso
33 – Marina: “Eu
não acho que influi o fato de eu me chamar Marina, Fernanda ou Carolina!”.
4.
NÃO SABE – O sujeito ignora se existe ou não influência (10%, N=12).
Essas
categorias podem ser divididas em dois grandes grupos:
1.
INFLUÊNCIA: (51%): positiva e negativa.
2.
NÃO INFLUÊNCIA: (49%) nenhuma e não sabe.
De
um modo geral, o que os sujeitos demonstram quando admitem a influência é
conhecer a relação entre nome e identidade, seja ela positiva ou negativa.
Porém desconhecem em geral a dinâmica subjacente ao
processo de nomeação e sua influência sobre a própria constituição da
identidade da pessoa.
Muitas
pessoas acham que o nome não tem influência, porém, algumas têm noção desse
conteúdo:
Caso
35 – João de Deus: “Influi tanto quanto minha vida. Até esta idade, graças a
Deus, estou trabalhando com saúde (conteúdo religioso). Quem sabe se eu tivesse
um nome mais bonito......O nome é um signo”.
Caso
36 – Juliana: "Acho que combina comigo. Acho que passa um estado de
espírito, é alegre, mas o alegre é meio subjetivo meu. Se fosse Júlia....,
Júlia é um nome pesado e Juliana é cheia de juventude. Se eu fosse Júlia, teria
de assumir uma postura mais séria".
Caso
37 – Betina: "A gente escuta comentários de que
o nome é diferente e acaba se sentindo muito especial".
Caso
38 - Sérgio Fernando: "Acho que é a base sobre o qual reconstruo a minha
pessoa".
Caso
39 - André Luiz (conteúdo religioso, FANTASIA): "influencia porque é o
número 8, é a matéria, e eu sou comerciante".
Caso
40 - Federico: "Por ser um nome diferente
comecei a pensar diferente".
Caso
41 - Arnaldo Augusto: "Acho legal. Tenho sido confundido com meu pai e
isso não me faz mal porque ele é uma pessoa correta e eu me orgulho dele (...)
Interfere ainda que inconscientemente até na profissão porque a família do meu
pai é de médicos como eu (...). Dá idéia de que faz tempo que tem pessoas
corretas na família e eu sou correto".
Segundo
este tipo de leitura pode-se perceber que a questão subentendida é a da
identificação pelo e com o nome: tanto o nome pode identificar ou não,
quanto a pessoa pode se identificar com o nome ou não.
Em
alguns relatos pode-se observar que a pessoa forneceu indicações sobre a
importância e a influência do nome sem, contudo, ter consciência do que fazia,
Exemplo:
Caso
42 - Débora lrene: "Não tem nenhuma influência.
Acho forte, bonito, bem forte. Débora. Levar o nome da minha avó não interfere
em nada, mas toda vez que toco no meu nome lembro-me
dela".
Este
discurso nos revela que, de início, o sujeito diz que o seu nome não tem
influência mas, em seguida, nega o que acabara de enunciar, colocando que o seu
nome é forte. A nível consciente, o depoente pode não associar o caráter forte
do nome a qualquer influência, mas, o simples fato dele enunciar tal ordem de
idéias indica a associação entre dois exertos de
fala, o que, do ponto de vista psicanalítico, indicaria, estar um exerto associado ao outro. Em seguida nega novamente a
idéia da não influência de modo mais flagrante, ao associar seu nome ao da avó,
que é por ela recordada cada vez que ela é denominada, ou seja, haveria uma
confluência entre a sua identidade e a lembrança da avó.
Da
leitura de alguns nomes pelos pesquisadores foi possível levantar a hipótese de
que a fala pode revelar conteúdos inconscientes, não explícitos para o sujeito,
mas dedutíveis de sua fala pelo Outro.
Retornamos,
pois, ao campo, com hipóteses sobre a influência de alguns desses nomes:
Caso
1 - Angélica: "Quando nasci, minha pele era muito clara e lembrava um
anjo... Acho que é um bom nome que acabou combinando de certa forma com meu
tipo de pele, olhos claros e cabelos claros".
Retorno:
Você se identifica com um anjo?
Angélica:
"Eu acho que sou uma anja, exijo demais de mim,
minha mãe mesma diz, todo mundo diz que eu preciso dar um tempo."
Caso
2 - Vera Lúcia: "O nome foi escolhido porque era de uma menina que fazia
companhia para minha mãe, e o pai gostava do significado do nome – verdadeira
luz do amanhecer".
A
hipótese era de que existia uma expectativa que a criança viesse a preencher a
solidão dos pais, principalmente da mãe, e foi confirmada, após perguntar-se
aos pais da nomeada. Esta estrutura de apego perpetuou-se da família de origem
para a sua descendência, segundo relato da nomeada.
Caso
3 - Anna Cristina: O nome foi escolhido em função de um concurso de beleza.
Retorno:
Qual a importância da questão estética na sua vida?
Ana
Cristina: "Nossa, eu fui Miss."
Esses
exemplos ilustram a força modeladora subjacente à escolha, ou seja, os fatores
que levaram os pais a escolher um dado nome também atuaram, no sentido de fazer
o filho se dirigir àquela direção. Ilustram a trama do simbólico sobre o
"segundo parto" e a inconsciência dos nomeados quanto a isso.
Tipos
de Nomeação
Conforme
já foi dito, na maioria dos casos a mãe é quem escolhe o nome dos filhos. A
categoria preferida pelas MÃES para escolher o nome das filhas recai em ESTÉTICA
e FANTASIA, assim como quando a escolha é feita pelo PAI para as filhas,
enquanto que para os filhos homens, os PAIS, o PAI e a MÃE preferem a categoria
TRADIÇÃO. (Tabela 5)
Não
foi encontrado nenhum caso de escolha ESTÉTICA do PAI para um filho homem,
assim como de TRADIÇÃO do PAI para filha mulher. Já a MÃE escolheu dois nomes
compostos para filhas por TRADIÇÃO. Todos esses casos apontam para diferenças
sociais associadas ao gênero.
Partindo
da hipótese de que os nomes são a projeção dos desejos (conscientes e
inconscientes) dos pais nos filhos, nota-se que a escolha da TRADIÇÃO para os
filhos homens mostra as expectativas dos pais quanto à continuidade da família:
enquanto que para as filhas o projetado é ESTÉTICA e
FANTASIA, um ideal ligado à atratividade e a emotividade. Desse modo, pode-se
pensar haver um tipo de nomeação feminino
e um tipo de nomeação masculino, provavelmente associado à valoração atribuída
a cada um dos gêneros.
Observou-se
anteriormente a predominância das categorias NENHUMA e POSITIVA na pergunta
sobre a influência do nome.
A
categoria BOM foi aparentemente usada para encobrir a
indiferença ante o nome, o que aparece na alta relação entre as categorias BOM/NENHUMA e BOM/NÃO SABE.
Quanto
à influência NEGATIVA, ela se correlaciona com as categorias RUIM e CRÍTICA,
porém, apenas homens acham o nome RUIM/NEGATIVO
enquanto a categoria CRÍTICA se associa à influência NEGATIVA principalmente em
mulheres. Com essa diferença entre gêneros, pode-se concluir que quando a
pessoa não gosta de seu nome ele influencia negativamente em sua vida, mas as
mulheres , resistem em assumir tal influência.
A
categoria COMUM aparece muitas vezes correlacionada à categoria NENHUMA
influência, o que pode indicar uma indiferença ao próprio nome, em oposição às duplas POSITIVA/BOM ou NEGATIVA/RUIM. Pode-se, pois pensar haver tipos POSITIVO,
NEGATIVO e INDIFERENTE em relação ao nome, referidos tanto à avaliação quanto à
influência do nome segundo o nomeado. Haveria uma diferença de gênero no tipo
NEGATIVO: enquanto às mulheres a criticam seu nome, os homens assumem não
gostar dele.
De
um modo geral, pode-se dizer que quando há acordo entre o casal quanto ao nome,
ao mesmo tempo em que o casal em conjunto escolhe, parece ocorrer uma
facilitação no sentido de o nomeado incorporar o seu nome, aceitando-o e sendo
por ele identificado, enquanto situações de conflito apontam para a direção
aposta.
Há
casos em que o nível de conflito é tão intenso (COLETIVO ACASO) em que parece
ocorrer o que KOSKAS (1985) denominou a "paralisia dos escultores". A
desistência ou transferência da responsabilidade do casal pelo filho parece
gerar um processo de "desinvestimento"
afetivo do nomeado em relação ao próprio nome, o que levaria ao uso de um
apelido ou do sobrenome como substituto do nome. Esta mesma dinâmica, de modo
mais mitigado, pode ser apreendida em várias pessoas que, ao
mesmo tempo que desconheciam a origem e a influência do nome, não tinham
problemas com o nome e o achavam comum ou bom. As pessoas para quem o nome tem
uma significação maior, tem usualmente conhecimento da
origem de seus nomes e se posicionam, favorável ou desfavoravelmente a eles.
Desse modo, parece-nos que, quando se
pesquisa o nome a partir do adulto, pode-se aprender algo do inter-relacionamento
do sujeito com seus pais.
Podemos
supor dois tipos de investimento no próprio nome: o investido e o desinvestido, com
graduação entre eles. Esta tipologia estaria relacionada à questão da
identidade construída a partir da relação com o contexto sócio-familiar.
Observando-se
as categorias do conteúdo e a influência/avaliação
dos nomes, parece haver um tipo TRADIÇÃO/POSITIVO
masculino, em que os homens gostam e são influenciados positivamente ao
receberem nomes de antepassados (vide caso 41).
Conclusão
As
categorias de conteúdo e contexto propostas pelo estudo
anteriormente realizado (RABINOVICH et al, 1991)
foram mantidas e ampliadas. As categorias de contexto, mãe, pai, pais, pai/mãe, outro, foi
acrescentada a categoria coletivo. A categoria de conteúdo parente foi subdividida em três novas
categorias: tradição, homenagem e
irmandade, acrescentando-se ainda as categorias originalmente propostas, estética e tradição, às novas categorias
acaso e social.
Foram
confirmadas também as principais conclusões do estudo supracitado: a dinâmica
familiar e as expectativas/desejos parentais formam
um contexto de desenvolvimento com o qual o neonato irá interagir, e que pode
ser apreendido, em parte, pelo estudo do processo de nomeação. No processo de
nomeação, pode-se perceber e inferir o modo como a pessoa foi inserida como ser
social no contexto onde irá se desenvolver.
As
crianças teriam, ao nascer, papéis pré-estabelecidos pela sociedade, endossados
e interpretados pelos pais em "scripts" individualizados segundo o
tipo de afiliação e o tipo de expectativas destes com relação à criança.
Pode-se verificar que o papel social influencia no processo de escolha do nome
e no próprio nome.
Do
ponto de vista macro-social, observou-se uma primeira e ampla especificação por
gênero, isto é, meninos recebem nomes masculinos e meninas, nomes femininos.
Embora haja nomes que se adequem a ambos os sexos, em
nossa pesquisa 100% dos nomes foram claramente de homens ou de mulheres.
Meninas
receberam preferencialmente nomes por estética
e fantasia, dados na maioria das vezes por suas mães, enquanto praticamente só meninos
receberam nomes ligados à tradição
familiar. Isso parece indicar que às mulheres, em nossa sociedade, cabe o papel
da atratividade, enquanto os homens são responsabilizados pela continuidade
familiar. Os meninos, além disso, receberam nomes que indicam o desejo dos pais
de que seus filhos ocupem posições de poder na sociedade, o que aponta para a
perpetuação de papéis reprodutivos e produtivos tradicionalmente ocupados em
nossa sociedade por mulheres e homens na própria atribuição dos nomes.
Tal
continuidade também pode ser percebida pelo fato de serem as
mães a escolherem os nomes dos filhos, o que indica ser ainda a mulher a
responsabilizada pelos cuidados da prole em nossa sociedade. Por outro lado,
ela escolhe também o nome do filho homem, em conjunto com o pai, o que parece
indicar o desejo da mulher de "possuir" o seu filho através do nome.
O fato de muitos desses nomes confirmarem a tradição familiar em linha
patriarcal, sugere que a mãe compõe com o pai possivelmente para não perder a
posse do filho. A hipótese de que a nomeação apenas pelo pai, sem anuência da mãe, indicaria conflito no casal e possíveis
perturbações no desenvolvimento da criança, levantada pelo estudo anterior, não
foi confirmada nesse estudo.
Por
outro lado, o conteúdo irmandade
forneceu indícios de uma estrutura familiar em que os pais colocam o peso da
tradição sobre todos os filhos, instituindo uma união, solidariedade e
continuidade pela identidade simbolizada no nome.
Com
base nesses dados, podemos concluir que pelo nome, a pessoa é inserida no
contexto social, tanto familiar quanto da sociedade em geral, ao mesmo tempo que, através dele, constrói a sua identidade.
Esta identidade é construída em função de um duplo referencial: a pessoa em
relação ao grupo e a pessoa em relação a si própria.
Conforme
a relação da pessoa com o projeto parental e, pressupondo-se a própria relação
pais-filho, haverá uma facilitação da incorporação dos conteúdos projetados
pelos pais no filho e, desse modo, na relação consigo próprio.
Pudemos
verificar que quando a pessoa aceita seu nome e, deduzimos, os conteúdos nele
implicados, ela gosta de seu nome, é por ele influenciada positivamente e o
nome a identifica.
Quando
a pessoa não aceita o nome ou não gosta do mesmo, é por ele influenciada
negativamente, ou, no caso de desconhecer tal influência, acha o nome comum ou
ruim e não é por ele identificada.
Desse
modo, do ponto de vista do sujeito, a questão mais importante associada ao nome
é a da própria identidade: ou a pessoa o assume como uma marca ou é por ele
marcado, mesmo que através da indiferenciação.
Porém,
identificadas ou não, as pessoas usualmente desconhecem a influência do nome em
suas vidas. Conforme MARTINS (1991) "Je est un autre"
(RIMBAUD): somos o pensamento elaborado por outro e desconhecido, em grande
parte, por nós mesmos.
Entre
a escuta da história do nome e a fala do nomeado há uma lacuna que parece
mostrar que o que está representado no
nome é tão constituinte da pessoa que ela não consegue "descolar" o
nome de si própria. Tal descolamento é possível através de hipóteses
interpretativas que, trazidas à consciência da pessoa, são por ela assimiladas
como verdadeiras. Desse modo podemos concluir que as pessoas geralmente
desconhecem as forças que operam na constituição de sua identidade.
Notas
[1] Contribuíram para a
coleta e discussão dos dados Vera Lúcia Ehlers Villele, Verônica Stangles Kraemer e Ana Emília F. Mac Dowell,
Instituto de Psicologia/USP.
[2] Psicóloga
Clínica, Mestre em Psicologia, pesquisadora do CDH e bolsista CAPES.
[3] Aluna do Instituto de Psicologia/USP.
[4] s resultados foram
analisados pela fórmula 0 – e = 3 V E (Aspery). A
presença de um asterisco durante o texto indica resultado significante.
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sobre Psicoanalise y psiquiatria. Ed.Horme,
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particular]
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VOLPI, A.J. Edipo, psicodrama do
destino.Agora, São Paulo, 1990.
ANEXOS
Tabela 1: Respostas à
pergunta: “Quem escolheu o nome?” dadas por homens e mulheres. São Paulo, 1992.
|
feminino |
masculino |
total |
MÃE |
27* |
20 |
47* |
PAI |
9 |
11 |
20 |
PAIS |
7 |
15 |
22 |
PAI/MÃE |
5 |
- |
5 |
OUTROS |
10 |
6 |
16 |
COLETIVO |
- |
3 |
3 |
NÃO SABE |
2 |
5 |
7 |
TOTAL |
60 |
60 |
120 |
Tabela 2: Respostas à
pergunta: “Porque escolheu o nome?” dadas por homens e mulheres. São Paulo,
1992
|
feminino |
masculino |
TOTAL |
ESTÉTICA |
27,0* |
10,5 |
37,5* |
FANTASIA |
18,0* |
11,5 |
29,5* |
HOMENAGEM |
8,0 |
6,0 |
14,0 |
TRADIÇÃO |
2,0 |
16,0 |
18,0 |
IRMANDADE |
1,0 |
3,5 |
4,5 |
SOCIAL |
1,0 |
- |
1,0 |
ACASO |
1,0 |
2,5 |
3,5 |
NÃO SABE |
2,0 |
10,0 |
12,0 |
TOTAL |
60,0 |
60,0 |
120,0 |
Tabela 3: respostas
à pergunta “O que acha do seu nome?”
dadas por homens e mulheres. São Paulo, 1992.
|
feminino |
masculino |
Total |
BOM |
35,5* |
44,0* |
79,5* |
RUIM |
1,5 |
4,5 |
6,0 |
CRÍTICA |
14,5 |
6,5 |
21,0 |
ADAPTADO |
3,5 |
1,0 |
4,5 |
COMUM |
5,0 |
4,0 |
9,0 |
NÃO SABE |
- |
- |
- |
TOTAL |
60,0 |
60,0 |
120,0 |
Tabela 4: respostas à
pergunta; “Como você acha que o seu nome influi na sua vida?” dadas por homens e mulheres. São Paulo, 1992.
|
feminino |
masculino |
Total |
POSITIVA |
20,5* |
27,0* |
47,5* |
NEGATIVA |
5,5 |
8,0 |
13,5 |
NENHUMA |
27,0* |
20,0* |
47,0* |
NÃO SABE |
7,0 |
5,0 |
12,0 |
TOTAL |
60,0 |
60,0 |
120,0 |
Tabela
5: Cruzamento entre as respostas ás perguntas “Quem escolheu...?” e “ Por que escolheu...?”,
São Paulo, 1992.
|
MÃE F -
M |
PAI F -
M |
PAIS F -
M |
P/ M F -
M |
OUTROS F -
M |
COLETIVO F -
M |
Ñ
SABE F -
M |
TOTAL |
ESTÉTICA |
10,5 2,5 |
4,5 - |
2,5 4 |
3 - |
5,5 3 |
- 1 |
1 - |
27 10,5 |
FANTASIA |
10 5
|
2,5 2,5 |
1 2 |
1 - |
3,5 1 |
- - |
- 1 |
18 11,5 |
HOMEN. |
4 1,5 |
0,5 2,5 |
3,5 2
|
- - |
- - |
- - |
- - |
8 6 |
TRADIÇÃO |
1 4,5 |
- 4,5 |
- 6 |
- - |
1 1 |
- - |
- - |
2 16 |
IRMAND. |
0,5 1,5 |
0,5 - |
- 1 |
- - |
- - |
- - |
- 1 |
1 3,5 |
ACASO |
1 - |
- 0,5 |
- - |
- - |
- - |
- 2 |
- - |
1 2,5 |
SOCIAL |
- - |
1 - |
- - |
- - |
- - |
- - |
- - |
1 - |
NÃO SABE |
- 5 |
- 1 |
- - |
1 -
|
- 1 |
- - |
1 3 |
2 10 |
TOTAL |
27 20 |
9 11 |
7 15 |
5 - |
10 6 |
- 3 |
2 5 |
60 60 |
Tabela 6: Cruzamento
entre as respostas às perguntas “ O que você acha....?” e “ Qual a influência....?”. São
Paulo. 1992.
|
POSITIVA F - M |
NEGATIVA F -
M |
NENHUMA F - M |
NÃO
SABE F - M |
TOTAL F - M |
BOM |
16,5 22,5 |
1 1 |
15 15,5 |
3 5 |
35,5 44 |
RUIM |
- - |
- 3,5 |
0,5 1 |
1 - |
1,5 4,5 |
CRÍTICA |
3,5 3 |
2 2 |
7 1,5 |
2 - |
14,5 6,5 |
ADAPTADO |
- - |
1,5 1 |
1 - |
1 - |
3,5 1 |
COMUM |
0,5 1,5 |
1 0,5 |
3,5 2 |
- - |
5 4 |
TOTAL |
20,5 27 |
5,5 8 |
27 20 |
7 5 |
60 60 |
Texto extraído da Revista .Bras.Cresc.Des.Hum. São Paulo, III (2):
119-137, 1993.