Eduardo Marcondes
Professor titular de Pediatria.
A Pediatria tem sido definida como a
parte da Medicina que estuda o ser humano em crescimento e desenvolvimento,
desde o nascimento até a adolescência, inclusive. A ciência que estuda o
crescimento (auxologia) é, pois, integrante da
própria doutrina pediátrica e a vigilância do crescimento e desenvolvimento é a
mais importante ação do pediatra.
O crescimento, encarado globalmente, é a
somatória de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos e morfogenéticos,
cuja integração é feita segundo um plano predeterminado pela herança e
modificado pelo ambiente. O estudo do crescimento da criança é, atualmente,
fundamentalmente antropológico e, como tal, não considera o indivíduo objeto de
estudo como padrão estático no tempo e no espaço, mas, sim, trata de pôr em
destaque suas diferenças, esmerando-se por estabelecer grupos naturais
definidos de acordo com suas características, procurando averiguar o
significado biopsicossocial de cada grupo.
Embora não se conheça ainda a intimidade
do fenômeno crescimento, os dados antropométricos são
de grande valia em Pediatria como indicadores de saúde, pois:
a) Sem serem o fenômeno, podem
representá-lo;
b) São passíveis de expressão numérica;
c) Suas principais limitações são
conhecidas; e
d) Podem ser obtidos por pessoal
não-médico.
Do ponto de vista social, a estatura dos
indivíduos de uma comunidade é um bom indicador do estado de saúde de toda a população;
índice melhor, segundo Tanner, do que o produto bruto
nacional. Estatura é status, o cartão
de visita biológico do indivíduo e a baixa estatura pode ser considerada como
um desastre biológico.
O crescimento é um atributo indelével dos
organismos jovens, sejam seres humanos, animais ou plantas. Na espécie humana,
isso depende da interação homem/ambiente,
aquele representado pela sua constituição ("existência de modos
individuais genéticos de ser e de reagir") e este pela totalidade dos
fatores que cercam o indivíduo, bióticos,
abióticos e psicossociais. Poder-se-ia dizer que o homem possui a capacidade genotípica ou constituição individual e que, de sua
interação com os fatores ambientais, resulta a capacidade fenotípica ou vitalidade.
De acordo com as normas do Departamento
de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a estatura
normal é a que se localiza entre os percentis 2,5 e
97,5, segundo o referencial adotado ("Padrão Santo André"). O canal
de vigilância para baixa estatura é delimitado pelos percentis
10,0 e 2,5.
As causas da baixa estatura são múltiplas
e podem ser distribuídas em três grupos:
1. Baixa estatura de causa familiar.
2. Baixa estatura decorrente de doenças ligadas
aos fatores intrínsecos, orgânicos ou individuais do crescimento: doenças
genéticas (gênicas ou cromossômicas), neuro-endócrinas
e primárias do esqueleto.
3. Baixa estatura decorrente de agravos
ligados aos fatores extrínsecos, ambientais ou populacionais do crescimento:
agravos nutricionais e psicossociais, doenças que
comprometem a economia corpórea como um todo (baixa estatura visceral) e baixa
estatura ao nascer.
A presente publicação, em sua versão
original, diz respeito a dois importantes aspectos do crescimento: fatores
ambientais e monitorização.
Os fatores ambientais do crescimento são
da máxima importância; pode-se dizer que o crescimento da criança é
enfaticamente ambiente-dependente. Como os fatores orgânicos são normais ao
nascimento na quase totalidade dos recém-nascidos, pode-se afirmar que o
desastre biológico, citado antes a propósito da baixa estatura, é sobretudo um desastre ecológico no vasto campo da
ecologia humana.
A monitorização
do crescimento é uma das ações básicas de saúde no atendimento primário à criança, juntamente com o aleitamento
materno, as imunizações e a terapia de reidratação
oral (Alma Ata, 1978).
É um procedimento indispensável e
insubstituível na assistência à criança, pois permite acompanhar, avaliar e controlar
o crescimento da criança com vistas à promoção da saúde, do desenvolvimento
humano e da qualidade de vida.
Ecologia é o ramo das ciências humanas
que estuda a estrutura e o desenvolvimento das comunidades humanas em relações
com o meio-ambiente e sua conseqüente adaptação a ele, assim como novos
aspectos que os processos tecnológicos ou os sistemas de organização social
possam acarretar para as condições de vida do homem.
O ambiente é constituído pela totalidade
dos fatores bióticos (os animais e as plantas), abióticos (de natureza
fundamentalmente físico-química, como a atmosfera, a água, o solo, o clima, a geomorfologia e outros) e psicossocioculturais.
Com esses elementos, estrutura-se a unidade de estudo em ecologia - o
ecossistema -, definido como a totalidade de fatores que se inter-relacionam em
um determinado lugar da biosfera.
A ecologia humana estuda os fenômenos
ambientais em função do indivíduo e das comunidades humanas: além dos fatores
bióticos e abióticos, ela enfatiza os fatores psicossocioculturais
relacionados com a organização da sociedade, surgindo, então, a valorização das
abstrações, dos símbolos, das crenças e dos valores. Como escreve Carcavallo, o homem não só modificou profundamente os
ecossistemas, como, sobretudo, criou o seu próprio sistema, o antropossistema:
...
distinto e antagônico em relação aos anteriormente formados pela natureza.
Ignora as características que definem um ecossistema e os substitui por campos
de monoprodução; mata todas as espécies vegetais e
animais de uma área e semeia uma única espécie; queima uma selva de mil
espécies de reino natural para reflorestá-la (se é que o faz!), com uma única
espécie de rápido rendimento madeireiro; inunda enormes extensões da biosfera
para obter quilowatts de energia elétrica para suas indústrias; nas cidades (o antropossistema máximo), os únicos vegetais existentes são
ornamentais e os únicos animais são cachorros, gatos e algumas aves e os que
até agora sobreviveram à matança do homem: roedores e uns poucos artrópodes.
Na Tabela 1 apresentam-se as principais
diferenças entre o ecossistema e o antropossistema,
segundo Bennett e Carcavallo.
Tabela 1 - Diferenças entre o
ecossistema e o antropossistema (segundo Bennett e Carcavallo).
CARACTERÍSTICAS |
ECOSSISTEMA |
ANTROPOSSISTEMA |
Variedade de espécies |
Grande |
Ausente |
Informação genética |
Rica |
Uniforme |
Estabilidade temporospacial |
Sim |
Não |
Regulação e controle |
Autógena |
A cargo do homem |
Suficiência material |
Autógena |
Necessidades de aportes constantes |
Fonte energética |
Solar |
Pluralidade de fontes |
Dinâmica populacional |
Relacionada ao ambiente |
Não relacionada ao ambiente |
Metabolização sistêmica de matéria
e energia |
Completa |
Incompleta |
Informação semântica |
Escassa |
Rica, em contínua acumulação |
Biomassa |
Ótima – de espécies inter-relacionadas |
Máxima de espécies pouco ou nada
inter-relacionadas |
Alterações estruturais |
Muito lentas (séculos ou milênios) |
Muito rápidas (em alguns casos, segundos) |
Retroalimentação sistêmica |
Constante |
Inconstante, insuficiente e variável |
Cadeias energéticas |
Fundamentalmente tróficas |
Fundamentalmente não tróficas |
Energia utilizada |
Em quantidade necessária e suficiente para a
manutenção da vida |
Desperdício, sem relação com as necessidades
vitais |
Emprego de elementos químicos |
Relacionado com moléculas e atividades
orgânicas |
Não relacionado com moléculas e atividades
orgânicas |
Relação com água, solo e ar |
Estreita |
Escassa |
Crescimento ilimitado |
Impossível |
Explosão demográfica humana |
Autodestruição |
Não |
Sim |
Símbolos abstratos |
Inexistente |
Existente, imprescindível e em constante
criação |
Agressão |
Não agride o antropossistema |
Agride, modifica e destrói o ecossistema |
A ecologia humana preocupa-se tanto com o
ecossistema como com o antropossistema, pois, para a saúde
do homem, ambos se completam, para o bem ou para o mal. A doença é conseqüência
da inexistência, insuficiência ou ineficiência dos mecanismos adaptativos do
individuo ou do grupo a que pertence, o que pode ser analisado à luz de
alterações na entrada do sistema (input), no manejo ou incorporação do agente
e/ou da informação, na saída (output) e no retromuniciamento
(feedback). O esquema é válido para a doença de um individuo ou de populações.
Alguns exemplos:
- A distrofia por carência se deve a uma
insuficiente entrada de material nutricional e/ou mau aproveitamento ou má
distribuição do mesmo e/ou excesso de saída. Sabe-se que, nesse caso, o
fundamental é a presença de fatores sociais e econômicos que não permitam a
correta distribuição do material alimentar dentro do sistema (o antropossistema comprometendo a viabilidade do
ecossistema).
- A delinqüência
juvenil é uma doença social devida a um desajuste adaptativo individual em relação
ao ambiente. Do ponto de vista ecológico, trata-se de anomalia de fluxo de
informação, com ingresso superior à capacidade de metabolização,
pelo indivíduo e pela sociedade. A publicidade e a propaganda promovem a
valorização de bens de consumo que acabam por constituir-se em símbolos de
condição social.
- A contaminação
ambiental é a incapacidade sistêmica de metabolizar
um fluxo (não obrigatoriamente aumentado) de matéria, ou de energia, ou de
informação (respectivamente, DDT, resíduo atômico e ruído, como exemplos).
Nem mesmo o homem-físico é o mesmo em
todas as latitudes e longitudes, embora possamos admitir que as variabilidades
biológicas sejam de pequena amplitude. Diferentes genótipos, resistências e
vulnerabilidades específicas e a eventual presença de tais ou quais doenças não
ligadas ao ambiente fazem com que o indivíduo, sempre que possível, deva ser
considerado como ele mesmo.
E que dizer da variabilidade do ambiente,
a soma dos agentes bióticos, abióticos e psicossocioculturais?
A compreensão das combinações possíveis escapa à capacidade da mente humana!
Contudo, o médico há de se esforçar, na assistência prestada para detectar tais
ou quais fatores ambientais, estes favoráveis e aqueles desfavoráveis, uns
devendo ser preservados pelo que representam de proteção ao indivíduo e outros
minimizados o quanto possível por constituírem agravos à saúde.
A tarefa poderá ser facilitada à medida
que prevalecer o conceito de nichos ecológicos, isto é, um conjunto de fatores ambientais referente a um espaço reduzido, porém marcante,
para a saúde do indivíduo. Para cada nicho ecológico urge estipular os melhores
padrões de saúde para aquelas condições. Monge chama a atenção para esse
aspecto, questionando inclusive o conceito que ele chama de "normalidade
internacional" (como referido nos livros) com desconhecimento das
características do nicho ecológico, sejam elas físicas ou psíquicas. Pergunta o
autor se é realmente verdade que os níveis normais de hemoglobina no homem,
sejam de 15,0 g por 100 ml de sangue somente porque
são os valores constantes nos Tratados de Medicina: se for verdade, como fica a
situação das pessoas que vivem em um nicho ecológico especial, o altiplano
boliviano?
Monge afirma:
Se aceitamos
o conceito ecológico de saúde, devemos nos perguntar como proceder para definir
um nível satisfatório de saúde para um determinado nicho ecológico e o que
fazer para atingir esse nível. É claro que nem o médico, nem o sanitarista ou
qualquer outro profissional da saúde está preparado para, sozinho, assumir a
tarefa. Assim, impõe-se uma equipe multiprofissional:
sociólogos, antropólogos, profissionais da saúde, autoridades políticas,
líderes religiosos e outros devem especificar e regular as atividades de saúde
dentro de uma determinada comunidade cujos limites são definidos em termos
ecológicos.
Assim vai o ser humano interagindo no
decurso de sua existência com o conteúdo biótico, abiótico
e psicossociocultural de variados nichos ecológicos.
Melhor será substituir, então, a conhecida relação homem/ambiente por outra
relação, um pouco mais trabalhada:
HOMEM
Constituição NICHO ECOLÓGICO
(modo de ser e de reagir)
E como fica a criança nesse contexto?
Penso que o relacionamento da criança com
o seu ambiente tem uma importância que transcende a verificada para o adulto,
tendo em vista a característica ímpar dos seres vivos jovens, o crescer e o
desenvolver, a partir de um ponto de vulnerabilidade máxima, decrescente ao
longo do processo de crescimento, mas relevante por muitos anos. Quanto mais
jovem a criança, mais dependente do ambiente: o adulto reage, briga, foge ou
mata na busca de sua adaptação e a criança é muitas vezes inerme em relação ao
meio. Se Robinson Crusoé fosse criança, sua história seria bem curta!
Reproduzo as palavras de Pedro de
Alcântara ao discutir a forma da dependência da criança em relação ao meio e as
conseqüentes responsabilidades da sociedade.
Na gestação normal, a criança de equipamento
genético favorável vive em condições ímpares de segurança: inércia
respiratória, digestiva, de absorção intestinal, de eliminação de escórias, de termorregulação; limitação de movimentos; proteção
quase completa contra os traumas físicos; ausência de traumas psíquicos.
Mas a vida, como a saúde, resulta do
valor da relação entre a resistência do organismo e os obstáculos ou agravos
que ele tem que enfrentar. Acabada de nascer a
criança, seu impulso vital tem a mesma intensidade imediatamente anterior, mas
agora vai funcionar em condições de vida muito diferentes e, com freqüência,
adversas. Grande número de funções, até então em condições potenciais, é
convocado ao trabalho. A diversidade das novas condições de vida, aliada à
inércia anterior dos mecanismos de adaptação, cria o grande caráter da criança,
sua vulnerabilidade, a qual exige peculiaridades assistenciais que promovam sua
adaptação àquelas condições.
Essa adaptação pode ser esquematizada nos
seguintes setores:
1. Função nutritiva, atuante na vida intra-uterina quanto ao
metabolismo celular, mas inoperante quanto à precisão dos alimentos, à
sua digestão e absorção e à eliminação de escórias - tudo isso se fazendo
através da placenta.
2. Psiquismo,
cujo componente afetivo é altamente vulnerável desde o nascimento e sujeito, a
partir de então, a nocivos sofrimentos pela perda das regalias da vida
intra-uterina, pela inibição educativa dos impulsos instintivos, pelas
contradições que a criança tem que enfrentar, pelas emoções súbitas e penosas
que decorrem de fatores ambientais fortuitos e pelos erros de conduta dos
adultos que criam ou intensificam esses fatores de sofrimento.
3. Função imunitária, para a qual a criança
nasce dotada apenas de imunidade inespecífica,
proporcional à sua resistência constitucional, e de imunidade específica
passiva transplacentária e transitória, apenas para
algumas poucas infecções.
4. Ambiente físico, cujos caracteres (temperatura, umidade,
ventilação, luminosidade, ruídos, odores) apresentam variações por vezes
bruscas, intensas e freqüentes, bem como valores permanentes muito
acentuados, tudo muito diverso da "monotonia" ambiente da vida
intra-uterina.
5. Oportunidades
de acidentes, para os quais a criança é, no início, totalmente
auto-indefesa.
A importância da mãe na ecologia da
criança é de tal magnitude que Wolanski a conceitua
como fator paragenético
(genes não transmitidos), não só em função da influência dos traços
constitucionais da mãe sobre a formação da personalidade do filho, mas também
em relação às características metabólicas do organismo da mãe capazes de
influir no crescimento fetal.
Assim, a tradicional divisão dos fatores
do crescimento em genéticos (ou intrínsecos) e ambientais (ou extrínsecos),
Crescimento Da Criança
Fatores Genéticos Fatores Ambientais
talvez devesse ser repensada
segundo Wolanski e apresentada da seguinte maneira:
Crescimento da Criança
fatores
Fatores paragenéticos
Fatores
Genéticos ex-mãe Ambientais
Wolanski também lembra a existência de uma
verdadeira interfase entre a herança e o ambiente: é o modo de vida, o ponto de
encontro de muitos traços herdados com muitas características ambientais. Atividades motoras, tempo de sono, postura, engorda.
Explicitando: há famílias de insones (herança), mas o pouco dormir é
intensificado pelo assistir TV (ambiente); há famílias de atletas (herança),
mas o viver com pouca atividade física pode ser decorrência da falta de local
para práticas esportivas, coisa freqüente nas grandes cidades (ambiente); há
pessoas com predisposição para engordar (herança), mas só o farão se houver
generosa oferta de alimentos associada a maus hábitos alimentares (ambiente).
Enfatiza-se a postura que, quando incorreta, ocasiona distúrbios das vísceras, hipóxia cerebral e retardo do desenvolvimento físico: uma
criança pode apresentar importantes problemas em decorrência da má postura na
escola (onde ela passa várias horas por dia, um nicho ecológico de grande
importância) em virtude de mobiliário inadequado.
O esquema apresentado a seguir deve ser,
então aceito como uma visão mais abrangente dos fatores do crescimento muito
útil para o propósito deste artigo.
Crescimento da Criança
fatores
Fatores paragenéticos Fatores
Genéticos ex-mãe
Ambientais
Modo de vida
A ecossensibilidade
é variável de pessoa para pessoa bem como para uma mesma pessoa em função do
tempo. As evidências mostram que a maior sensibilidade ocorre quando o processo
de crescimento e desenvolvimento é mais rápido e/ou quando a atividade
metabólica dos tecidos é mais intensa: decorrência natural, os momentos de
maior ecossensibilidade para o ser humano parecem ser
os primeiros quatro ou cinco anos de vida e a puberdade.
Outro aspecto muito importante: admite-se (segundo Wolanski) que
os organismos homozigotos (ou, melhor dito, as
características determinadas em um dado indivíduo por genes homólogos) são
menos sensíveis aos estímulos ambientais do que os heterozigotos. Assim,
demonstra-se que a progenia heterozigosidade
é mais alta do que a progenia homozigótica,
em iguais condições de nutrição. E é forçoso reconhecer que o fenômeno da
heterozigótica em nível populacional está crescendo, como resultado das
correntes migratórias e a minimização das comunidades isoladas. Portanto, vemos
um aumento da ecossensibilidade, em função do
crescente apequenamento do nosso mundo.
Quais as perspectivas ecológicas para as
crianças que estão nascendo agora?
Para a reflexão dos leitores, sugere-se o
seguinte:
1. Aumento absoluto de estímulos ambientais independente de sua qualidade (benéfica ou
maléfica).
- estímulos físicos, através
do aparecimento de novas substâncias químicas e da crescente poluição do ar, da
água e do solo, bem como do resíduo atômico;
- estímulos psicossocioculturais, através do avanço das comunicações,
das redefinições políticas e sociais e da crescente permissividade.
2. Aumento da ecossensibilidade.
- crescente taxa de heterozigose na população;
- urbanização.
3. Diminuição progressiva das atividades
motoras em decorrência da automação, da monitorização
e do confinamento, do que resultará uma vida sedentária cada vez mais presente
e uma diminuição do potencial de resistência do organismo.
4. Controle de alguns fatores ambientais
bióticos.
5. Conseqüências ainda imprevisíveis da
energia nuclear e das viagens interplanetárias.
Os fatores ambientais que influenciam o
crescimento são incontáveis e em contínua variabilidade, o que obriga o indivíduo
a uma constante adaptação fisiológica.
Variáveis sócio-econômicas exercem
importante influência no crescimento: renda per
capita, idade dos pais, tamanho da família,
condições de habitação e de saneamento, escolaridade e cultura dos pais. Uma investigação
do Instituto da Criança de São Paulo com 1.010 crianças faveladas de zero a
doze anos de idade mostra claramente a devastação que as más condições
sócio-econômicas de vida determinam em relação ao crescimento das crianças. Os
dados referentes à altura revelam grave situação. Sobretudo, a partir dos dois
anos de idade, a média aritmética da estatura bordeja o limite inferior da
normalidade e, por outro lado, o limite inferior da população favelada mostra
situação desalentadora. A situação referente ao peso é mais animadora, o que
sugere baixa estatura residual com eventual superação dos fenômenos da fase
aguda da desnutrição.
A população que encontramos espalhada
pelas favelas estudadas é fruto de fluxo rural-urbano. Hoje, essa população,
normalmente designada por "população marginal", corresponde aos
resultados de uma situação nas áreas rurais, a que os demógrafos chamam de
"repulsiva" e que, no quadro da sociedade brasileira, se faz presente
a partir dos momentos de crise que afetaram o processo monocultor regional ao
longo da história do período colonial, dando origem à chamada "plebe
rural".
Essa população, caracterizada por uma
típica marginalidade em relação à vida econômica, sócio-cultural e
político-institucional, agrupa-se em torno de um conjunto subnormal de
habitações instaladas em terrenos abandonados ou em litígio, ou de propriedade
do poder público, geralmente insalubres, aparecendo a
madeira, a lata, o zinco e o papelão como materiais de construção.
A saúde é um estimulante fundamental para
o crescimento; conseqüentemente, o mau funcionamento do organismo como um todo,
ou através dos principais territórios de sua economia, é uma causa importante
de baixa estatura, constituindo o grupo assim chamado visceral. O nome é
bastante sugestivo no sentido de não incluir as doenças das glândulas
endócrinas (pois não são consideradas vísceras) e do esqueleto, bem como os
agravos diretos à nutrição da criança.
Inúmeras doenças de origem ambiental
comprometem o crescimento da criança, sobretudo por agentes físicos bióticos.
Os mecanismos através dos quais uma
doença visceral compromete o crescimento são complexos e vários tipos de
agravos podem atuar concomitantemente. Os seguintes conjuntos são importantes:
1. Comprometimento direto dos músculos,
ossos e articulações.
- doenças primárias da
musculatura;
- infecções (miosites, artrites e osteomielites),
- poliomielite,
- traumatismos.
2. Comprometimento indireto na nutrição
(prejuízo da deglutição, digestão, absorção, metabolização,
consumo e excreção de nutrientes).
- infecções,
- parasitoses
intestinais,
- neoplasias,
- intoxicações.
3. Prejuízo da oxigenação dos tecidos.
- anemias,
- cardiopatias,
- pneumopatias.
4. Obrigatoriedade de repouso prolongado.
5. Obrigatoriedade de determinados
tratamentos, como, por exemplo, cortisonoterapia.
Estudo em crianças guatemaltecas
mostrou que a freqüência e a intensidade de episódios diarréicos guarda relação
com períodos de desaceleração do crescimento, o que foi observado em relação a
doenças respiratórias: enfatizam mais estes aspectos em relação à importância
social da síndrome diarréica. Tolentino propõe a lei da prevalência, segundo a
qual o organismo, em situação de emergência pela presença de processo
infeccioso, deriva calorias para o combate à infecção em prejuízo do
crescimento.
Suprimido o processo mórbido causador da
interrupção do crescimento, a criança apresentará um período de crescimento
acelerado, a fim de retomar seu padrão anterior à doença. O crescimento é como
um projétil teleguiado, sob o controle de complexos sistemas que se enquadrara
definitivamente na cibernética. Uma questão totalmente a resolver é a maneira
pela qual o organismo sabe quando desacelerar a fase do crescimento intensa
após um período crítico de desaceleração decorrente de inúmeros agravos. À
capacidade dos indivíduos em crescimento de retomarem seus padrões evolutivos
quando deles afastados, deu-se o nome de homeorrese (rhe-fluir).
Marshall, analisando as variações
geográficas e étnicas do ser humano, comenta as variações das proporções
corpóreas, como, por exemplo, o comprimento dos membros inferiores e as
diferenças de distâncias bio-acromiais e bi-cristais ilíacas.
Sabe-se que o segmento superior é mais ecorresistente do que o segmento inferior. Predição da
altura final em função do segmento superior é o "mínimo potencial genético
da estatura final"; já a predição em função do segmento inferior é o
"máximo dano ambiental possível de ser sofrido" e a predição
considerando a estatura total é o "máximo objetivo a ser atingido".
As predições com base no segmento superior (ecorresistente)
parecem anunciar as diferenças entre classes sócio-econômicas.
A seguir serão analisados três fatores
ambientais de grande importância auxológica:
nutrição, estimulação biopsicossocial e atividade
física. E no final, comentários sobre a variação secular do crescimento.
Como todo esforço, o crescimento consome
energia: 40% das calorias fornecidas normalmente à criança no primeiro ano de
vida são destinadas ao crescimento. No final do primeiro ano, essa cifra baixa
a 20%. A dieta deve ser suficiente em calorias e equilibrada em suas
proporções, sem o que não haverá crescimento normal.
Deve-se fornecer energia a uma criança
para atender às necessidades de:
a) metabolismo basal;
b) ação dinâmico-específica dos alimentos;
c) atividade muscular; e
d) crescimento.
O metabolismo
basal consome proporcionalmente menos calorias conforme a criança aumenta
de idade. O "custo calórico" dos alimentos (ação dinâmico-específica) varia com a dieta, sendo
proporcionalmente mais elevado quando aumenta a taxa de proteínas da dieta, mas
é importante lembrar que proteína incorporada para o crescimento está livre da
ação dinâmico-específica. A parte referente à atividade muscular varia muito de
indivíduo para indivíduo, em diferentes idades e conforme o sexo. A taxa
calórica reservada ao crescimento varia com a idade, tendo em vista a
desaceleração do mesmo. Nos prematuros, as necessidades calóricas para o
crescimento podem ser duas vezes as do recém-nascido normal. Na Tabela 2 estão
as necessidades calóricas médias por quilo de peso para os diferentes setores
em diferentes idades.
Tabela 2 – Necessidades
calóricas totais em cal/Kg de peso corpóreo
SETORES |
RECÉM- NASCIDO |
LACTANTE |
PRÉ-ESCOLAR/ ESCOLAR |
ADULTO |
Metabolismo basal |
35 |
55 |
35 |
25 |
Crescimento |
25 |
25 |
10 |
0 |
Atividade |
10 |
25 |
25 |
10 |
A.D.E. |
10 |
10 |
10 |
5 |
Total |
80 |
115 |
80 |
40 |
Tem-se dito que "crescer é sinônimo
de proteinizar", isto é, reter nitrogênio. A proteína
é o material único insubstituível e fundamental do crescimento e da
reconstrução incessante; a albumina leva em si a excelência do crescimento. O
nitrogênio como elemento especifico de crescimento não se acumula em depósito
como ocorre com os hidratos de carbono e as gorduras, mas destina-se em sua
quase totalidade para a histogênese. Cada 30 g de aumento de peso corpóreo
necessitam 6,25 g de albumina, que correspondem a 1 g de nitrogênio.
As gorduras, além de serem fonte poderosa
de energia, constituem material indispensável para a constituição de
protoplasma (como fosfolípides, por exemplo), são
veículos de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e
K), contribuem para o sabor da dieta e a sensação de saciedade, são essenciais
para a síntese de esteróides. Os ácidos graxos não
saturados são essenciais, visto que o organismo não os sintetiza. Dietas
normais, exceto pelo baixo teor de gorduras, falharam em promover um
crescimento e desenvolvimento normais. Provou-se em
experimentação animal que o ácido linoléico (algumas
vezes referido como vitamina F) é essencial para o crescimento.
Quanto aos minerais, a criança necessita
de pelo menos 12 minerais em quantidade adequada para a formação de novos tecidos.
Entretanto, seis deles têm uma ação mais direta: cálcio, fósforo e magnésio
pela contribuição importante e fundamental na formação de tecido ósseo,
influenciando por isso na altura do indivíduo; potássio por ser elemento
intracelular e indispensável na formação protoplasmática; ferro por ser
indispensável na formação de hemoglobina e, finalmente, iodo, que participa de
um dos hormônios mais diretamente ligados ao crescimento, o hormônio tireoidiano.
Todas as vitaminas são indispensáveis
para o crescimento, mas as vitaminas A, D e C têm ação mais evidentes sobre o
crescimento e desenvolvimento; todo o complexo B também atua sobre o
crescimento, porém de maneira menos direta.
A vitamina A participa ativamente no
crescimento, pois é um fator estimulante das células endoteliais da zona de
ossificação e regulador da atividade osteoblástica.
Na zona de cartilagem epifisária não há alinhamento normal das células quando
falta vitamina A, o que determina alteração de ritmo de crescimento.
Basicamente a vitamina D favorece a
absorção intestinal de cálcio, a reabsorção tubular de fósforo e a formação de
matriz óssea; além disso, provoca a mobilização do cálcio a partir dos ossos e
influencia positivamente a reabsorção tubular de animoácidos.
Na carência de vitamina D ocorre fundamentalmente uma desarmonia entre as
cifras de calcemia e fosfatemia,
com produto cálcio e fósforo inferior a 40; nessas condições, não há deposição
da hidroxiapatita sobre a matriz óssea, ocorrendo
maior estimulação da atividade osteoblástica da qual
resulta a formação excessiva de tecido osteóide e o
aumento da atividade da fosfatase alcalina.
A vitamina C exerce influência marcante
sobre o crescimento. É tão importante sua função, que se pode estabelecer um paralelismo entre
atividade metabólica dos órgãos e seu conteúdo de ácido ascórbico. É
indispensável para a manutenção da substância intercelular do tecido conetivo,
ossos e dentes. Sua carência determina alteração da osteogênese endocondral e nos estudos graves de carência há interrupção
do crescimento, já que nessas condições os osteoblastos são incapazes de
fornecer matriz óssea. Demonstra-se, então, uma rarefação óssea, substituição
da medula óssea por tecido fibroso e desprendimento do periósteo.
A Tabela 3 informa sobre as necessidades
nutricionais diárias de crianças e adolescentes.
Em seguida, apresentam-se alguns dados
sobre a baixa estatura de causa nutricional com ênfase na desnutrição
(distrofia carencial protêico-energética
primaria).
Além da dieta carente, há agravos
ambientais importantes representados principalmente, por
infecções e infestações graves e repetidas, O abandono psicossocial pode ser tão grave que alguns autores sugerem
a existência de dois tipos de desnutrição primária. O
primeiro, dito sócio-econômico, resultante da miséria e do analfabetismo
e o segundo tipo, dito sócio-cultural, devido a condições culturais adversas,
prevalente em comunidades pseudo-industrializadas que retiveram em parte os
valores culturais de uma vivência agrária em choque permanente com os valores
decorrentes da urbanização caótica e da industrialização, do que resulta a
desagregação familiar com ruptura do equilíbrio bioecológico.
Inicialmente, o prejuízo da estatura é
menos intenso do que o do peso em decorrência da utilização dos escassos
nutrientes, segundo uma hierarquia de modo a certos tecidos e certas funções
serem preservadas mais tempo. Assim, a perda de peso inicial constitui a homeostase imediata, a desaceleração ulterior do
ganho de altura é a homeostase
mediata e a diminuição do metabolismo
basal, a hipotermia, a imobilidade e a hipotrofia,
seguida de atrofia de tecidos e órgãos, é a homeostase tardia (Ramos Galvan).
Tabela 3 – Recomendações nutricionais
diárias baseadas no informe do Comitê misto FAO/OMS de especialistas (1973)
Idade |
Energia |
Proteína (g) |
Vit. A (µ)* |
Vit. D (µ)** |
Tiamina (mg) |
Riboflavina (mg) |
Niacina (mg) |
Ácido Fólico (µ) |
Vit. D12 (µ) |
Ácido Ascórbico (mg) |
Cálcio (g) |
Ferro (mg) |
|
(Kcal) |
(MJ) |
||||||||||||
Lactantes <6 meses 6-12 meses |
117Kg 108Kg |
0,49Kg 0,45Kg |
2,2Kg 2,0Kg |
420 400 |
10,0 10,0 |
0,3 0,3 |
0,4 0,6 |
5,0 8,0 |
50 50 |
0,3 0,3 |
35 35 |
|
10 15 |
Crianças <1 ano 1-3 anos 4-6 anos 7-9 anos |
820 1.360 1.830 2.190 |
3,4 5,7 7,6 9,2 |
14 16 20 25 |
300 250 300 400 |
10,0 10,0 10,0 2,5 |
0,3 0,5 0,7 0,9 |
0,5 0,8 1,1 1,3 |
5,4 9,0 12,1 14,5 |
60 100 100 100 |
0,3 0,9 1,5 1,5 |
20 20 20 20 |
0,5-0,6 0,4-0,5 0,4-0,5 0,5-0,5 |
5-10 5-10 5-10 5-10 |
Adolescentes (sexo masc.) 10-12 anos 13-15 anos 16-19 anos |
2.600 2.900 3.070 |
10,9 12,1 12,0 |
30 37 33 |
575 725 750 |
2,5 2,5 2,5 |
1,0 1,2 1,2 |
1,6 1,7 1,8 |
17,2 19,1 20,3 |
100 200 200 |
2,0 2,0 2,0 |
20 30 30 |
0,6-0,7 0,6-0,7 0,5-0,6 |
5-10 9-10 5-10 |
Adolescentes (sexo fem.) 10-12 anos 13-15 anos 16-19 anos |
2.350 2.490 2.310 |
9,8 10,4 9,7 |
29 31 30 |
575 725 750 |
2,5 2,5 2,5 |
0,90 1,0 0,9 |
1,4 1,5 1,4 |
15,5 16,4 15,2 |
100 200 200 |
2,0 2,0 2,0 |
20 30 30 |
0,6-0,7 0,6-0,7 0,5-0,6 |
5-10 12-24 14-23 |
*
1 UJ de vitamina A equivale a 0,5µ de retinol, ou
vitamina A.
1µ
de B caroteno equivale a 0,167µ de retinol, ou
vitamina A.
**
1 UJ de vitamina D equivale a 0,025µ de vitamina D pura.
O auxograma do
desnutrido grave tem as seguintes características:
a)
Idade-altura comprometida com déficit relativo à idade cronológica de
50%;
b)
Idade-peso inferior à idade-altura com déficit relativo à idade
cronológica de 75%; no marasmo, a idade-peso pode ser inferior ao nascimento do
que resulta - no tempo - um "peso negativo";
c)
Idade-óssea acompanhando os parâmetros somáticos e localizando-se entre
as idades-altura e peso; o atraso da idade-óssea sugere que a maturação óssea
também está atrasada com conservação do potencial de crescimento;
d)
Idade-desenvolvimento atrasada, sobretudo nos setores pessoal-social e
da linguagem no teste de Gesell,
O comprometimento ósseo na desnutrição
traduz-se através dos seguintes aspectos:
1. Sinais de homeostase
deficiente de cálcio e fósforo.
a) tendência à hipocalcemia
e hipofosfatemia,
b) tendência para manifestações tetânicas,
2. Sinais de deficiente formação de
matriz óssea.
a) osteoporose,
b) pouca freqüência de raquitismo,
c) diminuição da atividade da fosfatase
alcalina.
3. Sinais de parada do crescimento e
desenvolvimento.
a) imagens radiológicas de "linhas de parada do crescimento",
b) atraso na idade-óssea.
Estimulação
Biopsicossocial
Os fatores psicológicos e de estimulação
social de há muito são considerados de grande importância no desenvolvimento neuro-psicomotor e intelectual da criança. Mais
recentemente, foi reconhecida a importância dos referidos fatores também para o
crescimento físico.
A carência afetiva estudada, entre outros
autores, por Bakwin, Bowlby
e Spitz, consiste na falta de carinho e de
solicitação afetiva materna. A necessidade instintiva de receber afeto, atenção
e contato físico agradável não é satisfeita e surge assim uma síndrome carencial complexa; as crianças tornam-se irritadiças e
choronas, perdem peso, não têm apetite, seu desenvolvimento neuro-psicomotor
se retarda e o crescimento desacelera.
Durante algum tempo essa síndrome só foi
estudada em instituições (hospitais, creches e asilos) e daí o termo hospitalismo. Posteriormente, a síndrome foi evidenciada em
famílias de nível sócio-econômico baixo e, mais recentemente, também em
famílias de nível médio ou superior.
A baixa estimulação biopsicossial
determina, em associação à desaceleração do crescimento, variada gama de
distúrbios da conduta: alimentar (ruminação, bulimia, polidipsia),
do sono (insônia, vagar pela casa à noite) e de outros setores (enurese, agressividade, crises intensas de birra).
Para explicar os efeitos da carência psicossocial sobre o crescimento físico, Patton e Gardner enumeram as
seguintes possibilidades:
a)
Baixa de ingestão de dieta adequada, não obrigatoriamente por carência
econômica, mas sim por problemas afetivos que inclui, entre outros fatores, a
negligência,
b)
Redução do apetite pela depressão,
c)
Diminuição do ácido clorídrico gástrico,
d) Stress
emocional interferindo no apetite, digestão, absorção e metabolismo
intermediário,
e) A produção de hormônios da hipófise
anterior está sob influência de centros hipotalâmicos
que, por sua vez, recebem estimulação do córtex cerebral e de outras estruturas
ligadas às emoções. Na síndrome da baixa estimulação psicossocial,
a hipófise não responde aos estímulos habituais no sentido de liberar hormônio
de crescimento.
O tratamento da carência afetiva consiste
sobretudo na orientação da família no sentido de garantir para a criança segurança
afetiva. Em muitos casos, será necessária a psicoterapia dos pais,
principalmente a mãe, e nos casos graves pode ser necessário conseguir para a
criança uma mãe substituta que dê à criança carinho e apoio emocional. No caso
de instituições, o pessoal deverá ser adequadamente treinado e orientado para
criar laços afetivos permanentes com as crianças.
Coloca-se, aqui, a situação de milhares
de lactentes que permanecem 4 a 8 horas em creches enquanto suas mães
trabalham. Embora a creche possa ser considerada uma boa solução para essas
famílias, é importante refletir sobre as condições de estimulação biopsicossocial dessas crianças e a responsabilidade dos
pais em promovê-la, supletivamente se for o caso, em seus lares.
Atividade
física
A atividade física deve ser encarada sob
dois aspectos. Em primeiro lugar, a atividade física não
programada, própria das crianças saudáveis e que diz respeito a todas as idades. Há, na
realidade, um forte impulso para a atividade física por parte
das crianças, sobretudo pré-escolares: eles simplesmente não conseguem
permanecer quietos se algo não prender fortemente sua atenção (esse algo tem
sido – cada vez mais – o assistir TV). Em segundo lugar, considere-se a
atividade física programada, a assim chamada prática esportiva: é aqui que o pediatra com freqüência é solicitado a opinar quanto à
conveniência de a criança praticar continuadamente alguma modalidade de
esporte, sob supervisão.
De uma maneira mais abrangente, a
educação física (ginástica, jogos, esportes, dança e competição) contribui para
o desenvolvimento de:
a) Qualidades puramente físicas como
força, flexibilidade, resistência, equilíbrio, velocidade,
b) Qualidade
físico-psíquicas, como capacidade de contração e de relaxamento, bem
como coordenação, e
c) Qualidades psicossociais,
como força de vontade, disciplina, domínio de si mesmo, coragem, confiança,
solidariedade, respeito às leis.
A educação física é, pois, um auxiliar
valioso para o aprimoramento do crescimento e do desenvolvimento da criança, nos
seus aspectos morfofisiopsicológicos.
A motivação da criança para a prática
contínua e programada de esportes é muito importante. Até 10 anos, predomina a
motivação baseada no prazer e no contato social com amigos; após essa idade,
começa a haver uma preocupação com a competição em si mesma, a busca de
sensações cinestésicas ligadas à movimentação do
corpo, não se excluindo a relação do esporte com impulsos sexuais, o esporte
desempenhando um papel importante no processo de sublimação próprio da idade. Se
o pediatra for chamado a opinar, ele deve evitar a antiga posição de considerar
apto quem não é inapto e tentar levantar os fatores ligados à criança (quais
suas necessidades e desejos? O que acha da prática desportiva? Que esporte
prefere?), à família (que expectativa existe? O que pensam das atividades
competitivas?) e ao local (distância, segurança, supervisão).
É de consenso que “um mínimo de atividade
muscular é essencial para a obtenção de um crescimento normal e a integridade
protoplasmática dos tecidos: o que esse mínimo representa em termos de
intensidade e duração não está estabelecido", porém certamente decorre de
forte impulso para atividade física que todas as crianças apresentam, impulso
esse que parece ser uma das grandes necessidades da vida. As crianças hipoativas podem ter prejuízo do seu crescimento, bem como
redução de seus potenciais na adultícia, tendência à
obesidade e níveis altos de risco de doenças arteriais por toda a vida. Mas, em
contrapartida, também pode haver problemas físicos e mentais, se a criança,
desde a idade escolar, for submetida a treinamento físico intenso competitivo.
No que se refere às ações da atividade
física sobre o crescimento e desenvolvimento do esqueleto, há aspectos
importantes.
A forma básica do osso é determinada pela
herança e está estabelecida embriologicamente na
cartilagem. Sabe-se, hoje, que o comprimento do osso está sob forte controle de
fatores intrínsecos do crescimento e que o diâmetro é muito mais sensível aos
fatores ambientais, entre os quais o exercício físico.
Experimentação animal revela dados
interessantes. Os ossos dos membros inferiores de animais imobilizados e denervados mostraram-se mais leves, com menor teor mineral
e maior conteúdo hídrico, porém mais compridos e mais finos do que o observado
em grupos controles. Radiológica e embriologicamente
havia sinais de atividade aumentada na zona epifisária. O aumento em
comprimento foi atribuído à ausência de forças compressivas inibidoras do
crescimento, e a maior delgadez à remoção dos tendões
musculares que constituem um notável estímulo para o crescimento lateralizado dos ossos.
Um dos melhores exemplos de que o
crescimento ósseo também depende do
stress mecânico, é o caso da criança que nasceu sem a tíbia em uma das pernas:
com a idade de 2 anos, os ortopedistas mudaram a posição do perônio,
colocando-o mais no meio da perna, a fim de melhor distribuir o peso corpóreo.
Pois bem, 18 meses após a operação, o perônio tinha o aspecto de tíbia. A falta
da tíbia foi um acontecimento ligado à herança (fator intrínseco) e a "tíbialização" do perônio deveu-se ao stress mecânico (fator extrínseco). Esse
caso, publicado por Houston, é citado por Bailey.
Segundo Evans (citado por Molina) a função - compressiva ou tensional
- é "o real estímulo para a formação e o crescimento ósseo". A
situação pode ser assim sumarizada:
a. Dentro dos limites de tolerância, o
aumento das forças de pressão e tensão determinam formação de novo tecido ósseo
desde que atuem sobre superfícies adaptadas para resistir à pressão e à tensão;
b. Aumento de pressão ou tensão além dos
limites de tolerância leva à destruição óssea através da reabsorção;
c. Sempre que a pressão - continua ou
intermitente - interferir com a circulação sangüínea do osso, haverá uma
reabsorção osteoblástica do mesmo;
d. Os citados limites de tolerância não são
conhecidos.
A ausência de suporte de peso corpóreo
retarda a restauração de ossos fraturados. O pessoal da missão espacial Gemini, por causa da falta de gravidade, apresentou perda
de densidade óssea por desmineralização. As pessoas
imobilizadas apresentam elevadas perdas urinárias de cálcio e nitrogênio e
conseqüente diminuição da densidade óssea. A situação reverte-se com a remobilização do paciente, mas a correção final do desbalanço pode levar muito tempo. O desuso leva, pois, à
osteoporose, do que resulta a afirmação seguinte: o suporte do peso corpóreo e
a contração muscular são importantes para a higidez do esqueleto. Alguns
autores lembram que permanecer de pé seja talvez mais importante do que alguns
exercícios físicos realizados na posição deitada. Enfim, em termos de manter a mineralização óssea, caminhar é mais importante do que
beber leite.
Conclui-se que a compressão energética
intermitente, a força da gravidade, o suporte de peso corpóreo e a contração
muscular são indispensáveis para o crescimento ósseo adequado: o excesso parece
ser prejudicial. Contudo, não está esclarecido o exato mecanismo através do
qual a atividade física promove um melhor crescimento ósseo: contração
muscular, mecanismos neurais ou fatores circulatórios? Mas os pesquisadores
aceitam a existência de um fator de crescimento ósseo "exercício-mediado”
durante os anos de crescimento da criança.
A idade óssea, como índice de avaliação
da maturidade, tem sido muito estudada entre pré-adolescentes e adolescentes
praticantes de esportes. A maior parte dos praticantes do sexo masculino
apresenta idade óssea avançada em relação à idade cronológica, o que permite
especular em relação à estatura final desses jovens em comparação aos não
praticantes. Quanto às meninas, os dados são menos conclusivos, mas a
literatura sugere (tanto em relação à idade da menarca quanto à idade óssea)
haver relação entre maturidade atrasada e desempenho atlético, sobretudo em
relação à natação e ginástica. Outros autores afirmam que a relação entre idade
óssea e desempenho físico é mais estreita do que entre idade cronológica, ou
altura, ou peso com o desempenho: sugerem que o parâmetro para dividir em
grupos praticantes de esportes entre 10 e 16 anos deve ser a idade óssea e não
a idade cronológica, principalmente no sexo masculino.
Emerge, então, a questão crucial da idade
mínima a partir da qual as crianças podem participar de atividades físicas
programadas competitivas, o assim chamado esporte agonístico.
Negrão chama a atenção para os inúmeros campeonatos entre crianças, as
conhecidas categorias fraldinha, dentinho, dente-de-leite, pré-mirim, mirim,
infantil, e que - promovidos por federações esportivas oficiais, bem como por
clubes e associações - esses campeonatos podem envolver crianças de até cinco
anos de idade. Um exemplo claro e atual: o voleibol, esporte de popularidade
crescente em função do sucesso da seleção brasileira em campeonatos
internacionais. Ainda citando Negrão, o voleibol envolve, em sua prática
competitiva, um componente predominantemente anaeróbico lático, isto é,
atividade em débito de oxigênio, levando, conseqüentemente, seu praticante a
atingir níveis elevados de lactacidermia nos músculos
e na circulação sangüínea, bem como alta taquicardia: isso implica em esforços
de alta intensidade, entre 80% e 100% da condição física máxima, com duração
entre 45 segundos e três minutos, para os quais a criança não está devidamente
preparada. A atividade anaeróbica lática provoca liberação de catecolaminas e
conseqüente vasoconstrição, do que resulta aumento da
força de contração do coração, situação que crianças de baixa idade não
superam. A persistência do trabalho anaeróbico lático nas crianças pode provocar
uma hipertrofia precoce da musculatura cardíaca, o que limitará o potencial
físico máximo da criança, além de poder, predispô-la a uma futura hipertensão
arterial. Crianças e adolescentes pré-púberes devem participar de atividades
físicas de média intensidade e longa duração (atividade aeróbica, na qual
predomina o consumo de oxigênio, com utilização entre 40%, e 80% da condição
física máxima e duração superior a três minutos) e não de alta intensidade e
curta duração (atividade anaeróbica).
Tatafiore[1] lembra que a criança se encontra entre duas situações: a
primeira constituída pelas normas sanitárias em relação ao preparo físico pré-agonístico e ao início do agonismo;
e a segunda representada pelas "lisonjas dos organizadores incompetentes
de competições infantis, que estimulam o agonismo até
os mais pequenos", com apoio de autoridades públicas (aspecto político) e
dos próprios familiares (aspecto social). O agonismo
precoce pode levar a criança a um conjunto de alterações somatopsíquicas,
os danos do esporte. No campo somático têm sido descritas modificações
irreversíveis da relação tronco-membros, hipertrofia
cardíaca, pseudo-nefrite atlética, enfísema
e um cortejo de lesões esqueléticas traumáticas. No campo psíquico, cite-se o
aparecimento de tiques, enurese, dificuldades do
aprendizado escolar, repetição de cursos, transtornos do caráter e a síndrome
do medo do insucesso.
A idade cronológica não é um bom critério
para a decisão de permitir ou não que uma determinada criança participe de
competições esportivas: crianças "grandonas"
não são obrigatoriamente amadurecidas. Melhor será um critério de ordem
biológica, sendo certo a impossibilidade operacional de submeter as crianças a variadas provas funcionais. Daí, a
valorização, por muitos autores, como referido antes, da idade óssea que nunca
deverá ser inferior a 14 anos. Tatafiore sugere como
"sinal verde" o aparecimento do osso sesamóide
do dedo mínimo.
Finalizando, cite-se Parizková.
Nas atuais condições ecológicas e com o presente padrão de vida e de trabalho
em muitos países, encontra-se uma permanente restrição de atividade física,
isto é, uma hipocinesia prolongada, com seqüelas
importantes como a obesidade e defeitos ortopédicos, sobretudo durante a
infância e o início da adolescência. Há quem afirme que a vida contemporânea
não exige maiores aptidões físicas; entretanto, vale a pena mencionar que um nível mais elevado de aptidão física e capacidade aeróbica do
organismo leva a uma menor fadigabilidade, uma
sensação de bem-estar e, finalmente, à prevenção de várias situações que criam
condições para o desenvolvimento de diversas doenças, particularmente as do
sistema cardiovascular. O homem contemporâneo está exposto ao stress emocional e, sob sua influência,
a reação de alarma desenvolve-se no organismo: ele é a vítima dos anacronismos
emocionais e dos estímulos internos que foram indispensáveis para a sobrevida
no passado primitivo. Estão envolvidos velhos mecanismos filogenéticos fixos
que, sob condições contemporâneas, levam a uma resposta inoportuna (liberação
de catecolaminas, freqüência cardíaca aumentada, débito cardíaco aumentado,
elevação da pressão arterial, mobilização maior de ácidos graxos) que
constituem a preparação para a luta ou fuga, isto é, trabalho muscular. Pelo
fato desse trabalho muscular não ser executado, desenvolve-se situações
desarmônicas no organismo que são a base das doenças
de civilização. Nesse sentido, a atividade física de tipo aeróbico pode ser
considerada como fator compensador de alterações metabólicas resultantes de
situações estressantes.
A importância de um bom esquema para as
crianças em relação à atividade física, um dos mais importantes fatores
ambientais na garantia de ótimo desenvolvimento da função e da saúde, já foi
explicitada há muito tempo: .
Quanto
mais a criança está dedicada a alguma coisa, brincando com liberdade, ocupada
em fazer algo, tanto mais suave o seu sono, mais fácil sua digestão, mais
precioso seu crescimento, tornando-se forte e desenvolvendo-se tanto corporal
como mentalmente, devendo-se protegê-la exclusivamente de lesões. Para essa
finalidade, deve-se procurar e encontrar um lugar seguro onde a criança possa
correr livremente e exercitar-se, devendo-se mostrar um modo inofensivo para
tais exercícios. (Escrito por John Amos Comenius, no
ano de 1632).
Variação secular do
crescimento
Possivelmente, como resultado conjunto
dos fatores ambientais, tem sido possível comprovar uma nítida tendência, com o
correr dos anos, para a aceleração do crescimento e desenvolvimento, tanto no setor
físico (estatura cada vez mais elevada para uma determinada idade) como na
maturidade biológica (por exemplo, menarca em idades cada vez mais precoces).
A causa da aceleração secular do
crescimento ainda não foi definitivamente esclarecida. Meredith
relaciona as seguintes: maior participação em atividades esportivas, menor
morbidade, urbanização, imigração, diminuição do trabalho do menor, melhoria da
higiene da comunidade e das habitações, vestuário menos restritivo, aumento da
ingestão de nutrientes, melhoria dos cuidados médicos, mudanças na umidade e
temperatura do planeta, tendência evolucionista para os organismos de um phylum aumentarem o seu tamanho, expressão
cumulativa da heterose, diminuição do tamanho das famílias.
Os dados na literatura sugerem fortemente
que a aceleração do crescimento tem algo a ver com a urbanização, pois ela é
muito mais intensa nos centros urbanos do que na zona rural. Não há dúvida que
a urbanização está modificando a organização psicobiológica
do ser humano, e a ciência que deve assumir as responsabilidades de clarear o
assunto é a antropologia. Ela nos informa sobre a aceleração mental determinada
pelos estímulos urbanos; a “desnaturalização
biológica” que se processa na formação das comunidades urbanas; a dilatação da
vida fértil (menarca mais precoce e menopausa mais tardia); a tipificação do
homem nas grandes cidades. A intensificação do crescimento que foi verificada
no pós-guerra significa não somente modificações do corpo, mas também uma
definitiva aceleração na maneira de encarar e sentir o meio-ambiente, do que
resulta ser essa nova criança capaz de adquirir experiências de um modo muito
diferente do observado nas crianças em épocas anteriores. A esse conjunto de
influências, Takai reserva a denominação trauma da urbanização, capaz de
modificar a sensibilidade dos órgãos efetores aos
estímulos do crescimento, através - talvez - do sistema límbico. Contudo, a
resposta favorável em termos de aceleração do crescimento só existirá se houver
adequado aporte nutricional.
Comentários
finais
Wolanski refere que o crescimento é um processo
formativo de estruturas e funções conforme certas leis da genética, bem como
das condições de vida: o conjunto ambiental consiste de um complexo de fatores
biogeográficos, modificado, no homem, pelas condições sócio-econômicas. É sob a
influência de fatores genéticos específicos e do seu meio-ambiente que o homem
atinge, primeiro, sua maturidade individual e, em seguida, a maturidade da
espécie, isto é, a capacidade reprodutora. A antropologia talvez possa resolver
alguns dos problemas fundamentais da auxologia:
1. Estabelecimento de diferentes
respostas dos indivíduos genotipicamente diferentes
(com definidos fenótipos) aos mesmos fatores ambientais, ou vice-versa, as
reações de indivíduos genotipicamente iguais e
diferentes condições ambientais;
2. Estabelecimento das condições
ambientais ótimas em relação à especificidade genotípica,
isto é, integração coordenada dos fatores endógenos e exógenos (compatibilidade
molecular entre determinantes paternos e maternos, e a influência ambiental na
produção de enzimas, por exemplo); e
3. Estabelecimento das modificações da
sensibilidade tissular responsável pelas diferentes respostas em diferentes
períodos do crescimento.
As combinações ambientais que podem
influenciar o crescimento são infinitas (Figura 1). A partir do tecido uterino
que cerca o ovo nidado, o ambiente expande-se
continuamente por força da necessidade que o homem tem de explorá-lo, sendo
certo que, no presente momento, a exploração ambiental já atingiu o espaço
sideral.
Figura 1 - Interação dos fatores do
crescimento (modificado de Wolanskí, 1967).
A partir de uma certa idade, variável de individuo
para indivíduo, o meio-ambiente começa a retrair-se e o homem, em sua velhice,
busca a segurança de sua cidade, e depois de sua casa e de seu dormitório.
Nossa última morada, o túmulo, assemelha-se, em parte, à nossa primeira morada,
o útero materno.
O ambiente é uma força extremamente
poderosa na filogênese, capaz de determinar a freqüência de genes através dos
vários mecanismos controladores da população e por isso capaz, também, de
definir os limites para o aparecimento de novos padrões genotípicos,
através de mutações. Em outras palavras, o ambiente é a fonte primeira e última
da variabilidade do crescimento dos seres vivos.
O crescimento está em contínua homeostase biopsicossocial com
sua dinâmica (fatores e processo),
sua cinética (o fenômeno em si mesmo)
e sua energética (nutrição e
estimulação). E por ser continuo na vida do individuo, em seus desdobramentos
tissulares e celulares, bem como no suceder das gerações, cabe afirmar que o
crescimento da criança é um momento e
não um estado; em termos auxológicos, a criança está
e não é, o que bem aponta o conteúdo
antropológico do fenômeno.
Notas:
[1] Tatafiore
lembra que cavalos de raça jamais são treinados para competir antes dos dois anos
de idade e somente com três anos participam dos páreos (três anos de cavalo
correspondem a 15 anos para o ser humano). Pois bem, a ninguém ocorre submeter
potrinhos a esforços incompatíveis com sua idade, mas, em relação a crianças, é
um verdadeiro vale-tudo, sob a responsabilidade, ou melhor, sob a
irresponsabilidade de autoridades, treinadores e familiares.