CRENÇAS DE
TRABALHADORES SOCIAIS SOBRE FAMÍLIAS POBRES E SUAS POSSIBILIDADES DE
RESILIÊNCIA
Maria
Angela Mattar Yunes
Doutora em Educação.
Heloísa
Szymanski
Doutora em Psicologia da Educação.
.
Resumo: O presente estudo teve por
objetivo pesquisar idéias, crenças e percepções de profissionais acerca das famílias
em situação de pobreza e suas
possibilidades de resiliência. Tomou-se como base a
noção vigente de resiliência aplicada à Psicologia, a
qual se refere a fenômenos que explicam a superação de adversidades. Foram
entrevistados individualmente oito trabalhadores sociais - quatro educadores,
um assistente social e três profissionais da saúde. Desconhecedores do termo “resiliência”, os entrevistados foram primeiramente informados sobre o conceito e
depois solicitados a caracterizar: a) as famílias que compõem a sua experiência
cotidiana e b) as famílias que "superam as dificuldades da pobreza".
Os trabalhadores evidenciaram acreditar que a maioria das famílias é acomodada
à pobreza e "desestruturada". Segundo os profissionais, estas
famílias têm escassas probabilidades de sucesso diante das adversidades da
pobreza. Portanto, a noção de resiliência associada à
condição de pobreza, pode sugerir preconceitos sobre a desvantagem
socioeconômica, o que revela a necessidade de cautela na atribuição do termo.
Palavras-chaves: resiliência; resiliência em famílias; famílias de baixa-renda; crenças; pobreza.
Abstract: The present study aimed to research the dominant notion of resilience
from the ideas, beliefs and perceptions of professionals who work with families
that face the adversities of poverty. Eight professionals – four educators, one
social worker and three health service workers – were individually
interviewed. Unknowledgeable of the term
“resilience” they first received information on the dominant notion of the
concept. After they were asked to characterize: a) families
that belong to their everyday experience and b) families who “succeed despite
poverty”. The professionals believe that the majority of poor families
are passive at the condition of poverty and "dysfunctional".
According to the professionals these families are unlikely to succeed at the
adversities of poverty. Also, their discourse reveals that most of their
clients “do not succeed” at the situation of poverty. Therefore, the notion of
resilience in the professional’s ideas is organized with prejudices on
socioeconomic disadvantage that suggests that the attribution of the term
should be careful.
Key words: resilience; family resilience; low-income families; beliefs; poverty
Em vários países da Europa, nos Estados Unidos e Canadá, a palavra resiliência é utilizada com freqüência, seja no cotidiano de conversas informais como para justificar, referendar e direcionar programas políticos de ação social e educacional. No entanto, seu uso no Brasil ainda provoca estranhamento, com exceção de pequenos grupos de pessoas em alguns círculos acadêmicos.
Na Física, resiliência refere-se à capacidade de um material absorver
energia sem sofrer deformação plástica ou permanente. Em Psicologia os estudos sobre o tema datam
de menos de trinta anos e as definições não são tão precisas, mas em geral
referem-se aos fenômenos que explicam o enfrentamento e a superação de crises e
adversidades (Yunes & Szymanski, 2001).
Os
precursores do conceito de resiliência são os termos invencibilidade ou invulnerabilidade, os quais sugerem que as pessoas podem ser
totalmente imunes a qualquer tipo de desordem independente das circunstâncias (Rutter, 1987; 1993, Masten & Garmezy, 1985; Walsh, 1998).
Apesar das considerações e questionamentos que os referidos termos suscitam,
esta versão inicial de resiliência como
invulnerabilidade frente às adversidades
ainda é encontrada na literatura vigente e parece orientar a produção
científica de muitos pesquisadores da área (Martineau,
1999). Tal fato pode dar lugar à construção de uma noção de resiliência
engessada em um conjunto de traços e condições passíveis de ser reificadas e replicadas.
A maioria
dos estudos sobre resiliência vem sendo realizada
numa abordagem quantitativa tendo como
foco a criança, que é identificada como resiliente ou
não, a partir de testes psicométricos, notas na
escola, testes de personalidade ou de perfil de temperamento, que levam a um
conjunto de características observáveis que definem a "criança resiliente" (Grotberg, 1995, Werner,
1986; 1993, Werner & Smith, 1982; 1989; 1992, Zimmerman & Arunkumar,
1994).
Embora a
literatura sobre a resiliência na criança seja
consideravelmente vasta, a resiliência em
família é um construto relativamente
novo (Hawley & DeHann,
1996) que traz consigo uma ênfase “salutogênica”, ou
seja, foca os aspectos sadios e de sucesso do grupo familiar
ao invés de remarcar desajustes e falhas.
A pesquisa
bibliográfica sobre o tema indica que, foi no final dos anos 80 que um dos
primeiros trabalhos específicos desta área foi publicado (McCubbin
& McCubbin, 1988). O potencial de pesquisas
passou a ser explorado e alguns autores (Walsh, 1996;
Hawley e DeHann, 1996)
preocuparam-se em esclarecer, conceituar, definir e propor novas perspectivas
teóricas sobre a resiliência em famílias. Segundo Froma Walsh (1996), "o foco
da resiliência em família deve procurar identificar e
implementar os processos chaves que possibilitam famílias, não só a lidar mais
eficientemente com situações de crise ou estresse permanente, mas saírem
fortalecidas das mesmas" (p.263). Walsh (1998)
organizou seu conhecimento nesta área e desenvolveu um quadro conceitual que
apresenta a resiliência familiar em três domínios: o
sistema de crenças, os padrões de organização e as formas de comunicação
familiar. A autora deixa evidente que o
nível de análise difere dos trabalhos centrados na resiliência
individual, pois quando se trata de resiliência em
família, a mesma deixa de ser
considerada uma característica pessoal que sofre a influência da
família, e passa portanto, a ser conceituada como uma qualidade sistêmica das
mesmas (Hawley & DeHann,
1996).
Portanto,
refere-se a “processos de adaptação e coping do grupo enquanto unidade funcional" (Walsh, 1998, p. 14). Vale ressaltar que estes processos
devem ser analisados na perspectiva ecológica, ou seja, deve-se levar em conta
todas as esferas de influência presentes ao longo do ciclo de vida das pessoas.
Sendo assim, além da família, o grupo de
amigos, a escola, o local de trabalho, as instituições governamentais e o
sistema político e social são considerados importantes contextos de
desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1979; 1996).
Apesar dos pesquisadores da resiliência em família defenderem teorias que ampliam a compreensão anteriormente limitada pelo espectro no indivíduo, ainda surgem importantes questões. Como definir critérios para se decidir que uma determinada família “é ou não” resiliente ou “tem ou não tem” resiliência? Como evitar esta adjetivação/substantivação e o possível uso do termo por políticas públicas que apoiam e mantém as desigualdades sociais baseadas no "sucesso" ou "insucesso" de indivíduos e das famílias? Será possível escapar da concepção de resiliência dominante no discurso dos pesquisadores e apontada por Martineau (1999, p. 11): “resiliência como um código ideológico de conformidade às normas sociais vigentes”? Dependendo da forma como tratarmos a questão no Brasil, esta espécie de "armadilha ideológica" pode apenas nos induzir a "culpar as vítimas" (Yunes, 2001).
As contradições e controvérsias crescem em proporção quando se trata de pensar a resiliência em famílias de baixa renda. Muitas considerações sobre pobreza e sua associação com a questão do risco e resiliência provêm de pesquisas realizadas em outros continentes, cujas condições socioeconômicas diferem muito das brasileiras. Não se pretende com isso negar o papel crítico da pobreza no desenvolvimento humano, amplamente reconhecido por estudos internacionais (Garbarino & Abramowitz, 1992; Luthar, 1999) e nacionais (Rosemberg, 1994; Mello, 1995; Szymanski Gomes, 1995). No contexto brasileiro, parece lógico pensarmos na pobreza ou nas comunidades de baixa renda como grupos que sofrem uma diversidade de pressões e opressões, mas alguns estudiosos brasileiros apontam a relação linear que se faz entre fatores de risco e grupos sociais desvalorizados (Rosemberg, 1994). A mídia, instituições e até mesmo alguns pesquisadores tem contribuído para incrementar imagens de famílias pobres brasileiras num panorama de conflito, abuso, violência e negligência. Nesta lógica, é fato que comunidades oprimidas (considerando-se o “pobre” nesta categoria) são muitas vezes representadas como “não-resilientes” a priori (Sonn & Fisher, 1998, Brodsky, 1999).
Na realidade, pouco se sabe sobre os processos e a dinâmica de funcionamento de famílias pobres, mas alguns estudos brasileiros mostram que estas famílias mostram-se muitas vezes hábeis na tomada de decisões e na superação de grandes desafios, evidenciando uma unidade familiar e um sistema moral bastante fortalecidos diante da proporção das circunstâncias desfavoráveis de suas vidas (Sarti, 1996; Melo, 1995).
Assim como outros grupos oprimidos por uma sociedade moderna, mas desigual em suas bases econômicas, a família pobre não é avaliada em seus próprios termos (Yunes, 2001). Sabe-se que as condições indignas e a precariedade das contingências econômico e sociais que castigam a maioria das famílias brasileiras, podem afetar de forma adversa o desenvolvimento de crianças, adultos e grupos. Entretanto, isso não pode ser considerado regra sem exceção. Muitas vezes estes grupos desenvolvem processos e mecanismos que garantem sua sobrevivência, não só física, mas dos valores de sua identidade cultural, e tornam-se o contexto essencial para o desenvolvimento saudável de seus membros. Poderíamos classificar estes grupos como "resilientes"?
Tendo em
mente estas dificuldades conceituais, foi delineado este trabalho com o objetivo
de conhecer e investigar idéias, sentimentos e percepções acerca da noção
vigente de resiliência em profissionais que atuam com
famílias pobres. Com isso buscou-se a compreensão dos diferentes significados
de “resiliência em família” nas perspectivas dos que
têm a experiência cotidiana de lidar com famílias que vivem e enfrentam as
adversidades da situação de pobreza.
Método
Participantes
Foram
contatados aleatoriamente oito trabalhadores de diversas áreas: um do Serviço Social,
três da Saúde e quatro da Educação, residentes na cidade de Rio Grande (Rio
Grande do Sul, Brasil). Todas eram do sexo feminino e tinham de cinco a onze
anos de experiência no atendimento à famílias de baixa
renda. Duas das educadoras trabalhavam como professoras e as outras duas eram
diretoras de escolas públicas situadas em áreas pobres da cidade. A assistente
social era funcionária do Fórum da Infância e da Juventude e atendia a Vara de
Família. Uma das profissionais da Saúde era médica que prestava atendimento por
meio-turno para crianças e famílias de uma escola estadual. As outras duas
profissionais da saúde eram agentes comunitárias e vinculadas a um programa do
Governo Federal brasileiro para atender famílias dos bairros de baixa renda.
Cada
profissional foi contatado aleatória e individualmente em seus locais de
trabalho. Inicialmente foram perguntados se teriam interesse em participar de
um estudo sobre populações que vivem em situação de pobreza. Os objetivos do
estudo foram explicados brevemente da seguinte maneira: Primeiramente se
perguntava se o profissional conhecia o conceito de resiliência
em família ou no indivíduo, ou se já havia ouvido a palavra anteriormente. Em
caso negativo, se dava a seguinte explicação: "Resiliência
refere-se a fenômenos que procuram estudar e explicar os processos de
enfrentamento e superação de crises, traumas e adversidades. Como este fenômeno
ainda não está suficientemente explorado no Brasil, estamos conduzindo um
estudo para investigar famílias que têm uma história de enfrentamento de dificuldades decorrentes da situação de
pobreza. Sua participação é importante na medida em que gostaríamos de conhecer
suas percepções e idéias a respeito deste assunto". Tendo o profissional
concordado em participar, o mesmo era
convidado para uma entrevista aberta que continha duas questões
desencadeadoras. A primeira pergunta tinha por objetivo explorar como o
profissional percebe as famílias pobres: "Como você descreveria as
famílias com as quais você trabalha? Como são elas? Fale-me sobre elas". A
segunda questão procurava identificar os sistemas de crenças e valores
subjacentes às percepções acerca dos modos de enfrentamento de dificuldades das
famílias pobres: "Dentre estas famílias, como você descreveria aquelas que
parecem "felizes", "vivem bem"?
Fale-me sobre elas." Diante destas questões, o entrevistado fazia o seu
discurso, e o entrevistador interferia o mínimo possível, e só o fazia para
esclarecer pontos considerados obscuros.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra para posterior
análise dos dados.
Resultados
Apenas uma
das entrevistadas já tinha tido contato com a palavra resiliência,
porém sem clareza do conceito. Apesar da singularidade de expressão encontrada
em cada depoimento, há evidências de percepções e concepções comuns dos
profissionais sobre a vida das famílias pobres conforme mostra a figura 1.
Figura 1: Categorias que compõem a
experiência das profissionais com famílias de baixa renda
A acomodação das famílias à situação de miséria é uma das principais categorias representativas do sistema de crenças das profissionais. Famílias resignadas, acostumadas a viver na miséria, desesperançosas em relação ao futuro, desinteressadas e despreocupadas com a sua condição de vida, configuram as percepções de todas as profissionais. Para as trabalhadoras, é praticamente impossível mobilizar as famílias pobres, que, além de não valorizarem o próprio crescimento, desvalorizam o crescimento dos outros. Fica a constatação da percepção de um grupo familiar que além de pobre é apático, desmotivado, imediatista e sem objetivos, conforme ilustra o segmento do relato abaixo:
"Parece que perderam a
vontade, ninguém planta pra sobreviver, ninguém faz um pão, ninguém quer limpar
um chão em troca... Eles não fazem mais nada para melhorar". (Ieda, Saúde-ag.).
Ao relatar sua experiência pessoal com famílias de baixa renda, as entrevistadas descreveram as famílias pobres usando algumas vezes palavras como "desestruturadas", "descaracterizadas" , "desorganizadas" ou "comprometidas". Assim, embora a palavra estrutura ou desestrutura não tenha sido explicitada em algumas entrevistas, as seguintes subcategorias dimensionadas de maneira relacional e interdependente, refletem a forma como as profissionais a caracterizam (Figura 2):
Figura 2: O modelo de família
"desestruturada"
Como se pode observar, a crença das profissionais na família pobre "desestruturada" transcende a questão da composição ou estrutura familiar, mas refere-se também a aspectos relacionais e de funcionamento do grupo familiar.
Relatos de experiências
com famílias pobres nas quais diferentes formas de violência se manifestam em diferentes contextos das relações foram
freqüentes em todos os depoimentos analisados. Seja nas interações entre pais
biológicos ou substitutos com as crianças, como nas relações entre marido e
mulher, as situações de maus tratos, abuso físico e/ou psicológico, abandono e
negligência foram as principais referências das entrevistadas para exemplificar
as formas de expressão da violência
familiar.
"No silêncio da família eles (os pais) fazem isso com os filhos, negligência, maus
tratos, assim... elas me contavam que o pai trocava a menina por um som, ou
algo assim, deixava sair com alguém". (Taís, S. Social).
A subcategoria denominada desassistência dos filhos se apresenta em muitos
relatos como a conseqüência final da "desestruturação" da família. Na
opinião da maioria das entrevistadas, as famílias de baixa renda, além de
negligentes com os cuidados básicos e bem-estar de seus filhos, tendem a
apresentar pautas educativas prejudiciais ao desenvolvimento dos mesmos.
"Como é que uma criança que
foi criada pedindo, esperando migalhas pra se alimentar, de repente, sofrendo
vários tipos de violência, como é que vai entender de sentimentos que a gente
tenta passá?". (Alice,
Educ.).
Intimamente
relacionado à questão da violência no lar, o
uso de drogas, em especial do álcool, é um outro fato bastante referido
como o responsável pela "desorganização" da unidade familiar. As
entrevistadas apontam que a presença do álcool no ambiente familiar, mais
freqüentemente usado pela figura paterna, desencadeia uma série de fenômenos,
tais como o desemprego do usuário (com as decorrentes dificuldades de
sobrevivência de todos), a violência e o desrespeito como base das interações
entre os membros, o rompimento das relações familiares de apoio e afeto, a
desvalorização do outro e a conseqüente separação da família.
O
significado de família "desestruturada" também se expressa nos
relatos das profissionais pelas alusões feitas ao funcionamento de famílias na
composição de um modelo não-nuclear.
Algumas profissionais chamaram a atenção para o modelo monoparental,
citando as famílias que na maioria das vezes são lideradas por mulheres, sejam
elas mães ou avós. Estas mulheres foram abandonadas por seus companheiros e são
percebidas como pessoas fortes que enfrentam grandes dificuldades para manter a
unidade familiar, cuidar dos filhos e garantir a sobrevivência de todos.
A
transmissão multigeracional da experiência vivida
pela família aparece fortemente nos discursos da maioria das profissionais, em
diferentes momentos de suas exposições, formando portanto uma categoria a mais
que se relaciona as duas já citadas (vide Fig.1).
Há evidências de que esta relação se dá pela
condição causal que lhe é atribuída, ou seja, as profissionais acreditam que as
famílias pobres "acomodadas à situação de miséria" e
"desestruturadas" passam ou transmitem sua experiência de
"acomodação" e "desestruturação" para os seus membros. O
relato abaixo exemplifica:
"Porque eles têm os valores
completamente distorcidos, diferentes..., da vivência que já traz..., o pai, o
avô, a vivência deles, vem sendo criados como animais, então se comportam como
animais..". (Janice, Educ.).
A experiência
das profissionais com as famílias de baixa renda que "enfrentam as
dificuldades" e "vivem bem"
Durante a
segunda etapa das entrevistas com as profissionais uma diversidade ainda maior
de concepções foi suscitada. É importante ressaltar que o fenômeno de maior
constância foi a insistência de todas as profissionais
em reportar-se durante a maior parte da entrevista à sua experiência com as
famílias categorizadas sob a ótica da "acomodação" e
"desestruturação". Ou seja, mesmo quando o tema abordado era as "famílias
que vivem bem", as entrevistadas voltavam a falar das famílias que
"não superam" as dificuldades.
No que se
refere às "famílias que vivem bem", foi possível observar que cada
profissional tem modelos de pensamento que explicam esta questão no seu sistema
de crenças. Algumas profissionais acreditam que, entre outros aspectos, as
questões relacionais são as mais determinantes. Outras desenvolveram um
discurso mais voltado para a mobilização de recursos externos, do tipo
valorização do estudo e trabalho e a padronização das formas de organização da
família. O agrupamento das categorias forma, pois, dois modelos: um relacional
e o outro normativo/organizador.
O modelo
relacional é ilustrado pela Figura 3 representada abaixo:
Dos filhos
Do
ambiente
Figura 3: Modelo relacional de famílias que
"superam" as adversidades
A presença
de pessoas significativas na história de vida das famílias foi citada
enfaticamente por profissionais que acreditam que as famílias podem enfrentar
melhor os obstáculos se contarem com a presença de figuras de apoio nos
momentos de grandes dificuldades. Estas presenças são referidas como sendo a da
mulher (no papel de mãe ou avó) ou de alguém forte. A presença da família
extensa e da vizinhança também é lembrada por algumas entrevistadas. As
profissionais deixam clara a importância da dimensão afetiva destas presenças
no que tange à influência destas figuras de apoio para a criação de um clima
familiar propício ao desenvolvimento dos filhos e melhoria da qualidade das
relações entre os membros.
"Uma mãe presente também, dali
um pouco, não trabalhadora, porque numa dessa são pessoas que têm mais de um
filho, são dois, três, porque a mãe tem que estar presente... Mas, gente
presente, tu compensa chegando em casa e botando o filho no colo. Isso eu acho
uma família estruturada. Dali um pouco o material não tem, mas tem o humano, o
afetivo". (Amanda, Educ.).
"Ter
alguém forte" e presente nas
relações, que proporcione afeto e segurança, é um dos fatores que aparece com
bastante freqüência no modelo relacional. As profissionais que fazem esta
referência acreditam que uma família que vive em condições de pobreza necessita
de ajuda. A presença constante de alguém participativo e que ofereça uma
vivência de elos e de relações que traga "força" é necessária para
enfrentar os revezes de suas vidas. Nestes casos, o "alguém" não é
especificado.
Ainda
dentro do modelo relacional, algumas profissionais (menos da metade)
reconheceram que formas afetivas de tratamento e cuidado que as famílias - e em especial os adultos - dão às
outras pessoas e ao ambiente onde vivem refletem a sua
maneira de atuar no mundo. O tratamento
das crianças, no que se refere ao
apego e proximidade nas relações pais-filhos, foi um dos temas que estas profissionais
escolheram para ilustrar suas percepções sobre famílias que vencem as dificuldades.
Algumas
profissionais reforçam os cuidados básicos que toda criança necessita, de
alimentação, higiene e abrigo como indicadores de relações de afeto, enquanto
para outros o afeto estaria acima de qualquer necessidade primária. Referências ao
tratamento do ambiente foram feitas como exemplos das formas de
relacionamento das pessoas com seus pertences pessoais e o seu ambiente mais
imediato. Os relatos evidenciam que o tratamento de cuidado
dado aos objetos e à natureza refletem o bem-estar e a integração da
família na sua comunidade.
O modelo normativo/organizador é representado pela figura 4 abaixo:
Figura 4: Modelo normativo/organizador
das famílias que "superam" as adversidades
A pobreza é
uma situação cujo contexto impulsiona padrões e estratégias de ações da família
como um todo. Estas ações podem se expressar por uma dinâmica de funcionamento
da família, onde existirão determinadas normas e padrões para organização e
mobilização de recursos externos. Esta
normatização é vista por muitas profissionais como
uma maneira eficaz de enfrentar as "durezas" e pressões do cotidiano.
Os elementos que compõem esta categoria serão explicados pelas subcategorias
denominadas prioridade para formas de ocupação e padrões de organização.
Na opinião
das trabalhadoras, ter uma ocupação e adotar como valores familiares o estudo e
o trabalho podem ser estratégias de enfrentamento da miséria socioeconômica:
iniciativa, responsabilidade, perseverança e disposição para o estudo e
trabalho são essenciais para que toda a família possa reverter um quadro de
muitas dificuldades. Segundo o depoimento das entrevistadas, na criatividade e
no uso adequado dos recursos disponíveis na comunidade pode estar a solução de
muitos problemas emergenciais. O relato abaixo exemplifica:
"A mãe faz alguma coisa, vende
muda de plantas, paninho de pratos. Elas contam pra gente, a gente anota isso
em ficha e vai se conseguindo. Roupa de algum parente que passa e a coisa vai
indo". (Helena, Saúde-méd.).
Segundo a
maioria das profissionais, as famílias cujo funcionamento se dá num determinado
padrão de organização tendem a "superar" as adversidades da pobreza.
Esta organização é compreendida através da constatação de uma rotina de colaboração conjunta que envolve todo o grupo familiar no
planejamento, tomada de decisões e execução das ações. Tais famílias geralmente
apresentam a configuração dentro do modelo nuclear.
"Creio que seja a organização
dentro do lar, que de, por exemplo, casais, até tem um caso assim, casais que
marido e mulher trabalham juntos, então combinam as coisas, vamos adquirir tal
coisa, por exemplo... ". (Inara, Educ.).
Como já foi mencionado, as profissionais acreditam que as famílias
"acomodadas" e "desestruturadas"são passíveis de transmitir
sua experiência de uma geração a outra. Da mesma forma elas acreditam que as
famílias que "superam" as dificuldades decorrentes da pobreza podem
passar esta condição de "superação" para as gerações posteriores. Assim,
na medida em que os desafios surgem, a família "passa" determinados
padrões de enfrentamento de dificuldades através do afeto, da segurança e da
confiança como bases do sistema familiar.
Discussão
As famílias
pobres que compõem o cotidiano do trabalho das profissionais entrevistadas são
descritas como acomodadas e submissas à situação de miséria, além de
"desestruturadas", não apenas pela sua configuração não-nuclear, mas
também pelas características de violência nas relações intrafamiliares,
de abandono, negligência das crianças e incidência do uso de drogas na família.
As profissionais acreditam que estas características podem ser transmitidas
através das gerações, o que perpetua os mitos familiares de
"acomodação" e "desestruturação". Tal crença encontra
suporte parcial na teoria dos "scripts
da família", de Byng-Hall (1995). Segundo esse
autor, através da vida em família, ensaiamos nossas vidas em nossas futuras
famílias, replicando ou corrigindo os "scripts"
de vida de nossos pais e experimentando várias maneiras de nos relacionarmos.
Por alguma razão as profissionais acreditam que as famílias pobres SEMPRE
replicam (nunca corrigem) os scripts das
gerações precedentes, sejam estes indicativos da "superação ou
não-superação de dificuldades". Não foram encontrados em
pesquisas brasileiras, evidências científicas que comprovassem a linearidade
destas conclusões.
Ao
descreverem famílias "que enfrentam as adversidades da pobreza e vivem
bem", muitas profissionais apresentaram dificuldades em organizar suas
idéias, pois parecia difícil fugir da configuração inicial de seus sistemas de
crenças (formados por famílias pobres "acomodadas e desestruturadas")
que insistiam em aparecer no seu discurso. Na opinião destas profissionais, as "famílias
que superam" os desafios da pobreza podem encaixar-se em dois modelos não
exclusivos: relacional e normativo ou organizador.
O modelo
relacional enfatiza a presença de pessoas significativas na dinâmica interna da
família, tais como a mulher, no papel de mães ou avós. Talvez estas crenças
tenham relação com algumas teorias de desenvolvimento feminino e masculino, que
reforçam pressupostos tais como: "Os valores de cuidado,
apego, de interdependência, relacionamentos e atenção aos contextos são
primordiais no desenvolvimento feminino.
Os homens
definem-se em termos de trabalho e carreira, e as mulheres tendem a definir-se
no contexto das relações humanas e julgam a si mesmas em termos de suas
habilidades de cuidar" (McGoldrick,
Heiman e Carter, 1993, p. 412). Mas estas crenças
podem ao mesmo tempo ter suas raízes nas concepções de pobreza e suas relações
com chefia feminina nestes contextos. Segundo Sarti
(1996, p. 45), "as famílias desfeitas são mais pobres, e, num círculo
vicioso, as famílias desfazem-se mais facilmente". O papel do homem como
provedor na família é o mais afetado na pobreza (Montali,
1991). São as mulheres que lideram as famílias, e a experiência das
entrevistadas confirma este dado. A vulnerabilidade destas famílias chefiadas
por mulheres é reconhecida por alguns pesquisadores (Lopes e Gottschalk, 1990), mas não o é integralmente por nossas
profissionais, que percebem a mulher como "forte e poderosa" na
dinâmica familiar monoparental. Outras questões
relacionais apontadas pelas profissionais como indicativas de famílias que
"superam" as adversidades são a presença de
"mentores" e a afetividade nas interações com as crianças e
com o ambiente. A teoria de processos de resiliência
em família de Walsh (1998), apontados pela autora nas
dimensões de "Processos de Comunicação" confirma este achado.
O segundo
modelo de crenças das profissionais que enfoca as prioridades de ocupação e
reforçam o papel do estudo, do trabalho e das rotinas de organização e
colaboração do grupo familiar também se apresenta em linha com outra dimensão
da teoria de Walsh (1998) denominada "Padrões de
Organização". Se focarmos a questão do trabalho na perspectiva de Sarti (1996) tal qual apresentada em seu estudo sobre a
moral dos pobres, temos que: "é através do trabalho que os pobres
demonstram não serem pobres"
(p. 66) e buscam, como trabalhadores, a dimensão positiva de sua identidade e a
força moral para "quando caírem no buraco, se levantar" (p. 67). Os
resultados da análise das entrevistas das profissionais neste estudo validam
esta posição, na medida em que se pode encontrar na perspectiva daquelas que
atendem as famílias a qualificação do "pobre
estudioso e trabalhador" como aquele que "dá certo na vida" .
Mas mostra também que as profissionais não reconhecem a perspectiva da
exploração na forma como se organiza o trabalho na sociedade capitalista.
Dentro do
sistema de crenças das profissionais, o grupo familiar que "vive
bem", tem maiores chances se estiver no modelo nuclear tradicional, onde
juntos vivem, pai, mãe e filhos. Nas concepções estudadas por Szymanski Gomes (1988) em famílias de baixa renda, a
família nuclear é uma expressão da "família pensada" como a
"boa", a "natural" e a "certa". Pode-se constatar
que tal ideologia não está apenas presente nas representações das próprias
famílias pobres (Szymanski Gomes, 1988), mas faz
também parte do ideário daqueles que atendem profissionalmente estas mesmas
famílias de baixa renda e que talvez desqualifiquem aqueles que divergem do que
julgam "certo".
Portanto, a
compreensão da experiência das profissionais entrevistadas sugere que a maioria
acredita que as famílias pobres têm escassas probabilidades de sucesso diante
das adversidades da pobreza. O discurso das entrevistadas postula que sua
clientela é formada basicamente por aqueles que "não superam" as
adversidades.
As
profissionais entrevistadas revelaram de início o seu desconhecimento do
conceito de resiliência, mas, ao confrontarem-se com
a noção, suas idéias a respeito do assunto organizaram-se com base em preconceitos
de pobreza e desvantagem socioeconômica, o que confirma a inspiração ideológica
do construto e a "patologização" da
pobreza. Tais atitudes não são exclusividades de trabalhadores sociais
brasileiros, pois o trabalho de Boyd-Franklin (1993)
nos Estados Unidos sobre a atitude de trabalhadores de saúde mental também
mostrou que os profissionais naquele contexto apresentam uma visão de pessoas
negras e pobres como "desmotivadas", "preguiçosas",
"desorganizadas" e impossíveis de serem tratadas. Estas reflexões,
fazem-nos pensar no modelo de relações que tem sido adotado por estas
profissionais no seu dia-a-dia com as famílias pobres.
Parece
haver evidências suficientes de que a complementação diádica
de papéis na linha de "culpabilizar a
vítima" poderia servir para descrever o modelo das interações técnico e famílias pobres". Ao que parece, estas profissionais
desconsideram a difícil trajetória política e social destas pessoas ao longo de
um caminho de pobreza de oportunidades que vem de gerações anteriores. O
resultado desta relação? Com toda certeza não tem sido o reconhecimento das
reais dificuldades vivenciadas historicamente por estas famílias, nem tampouco
a relação empática e genuína capaz de gerar o desenvolvimento de uma identidade
positiva e a consciência transformadora nestes grupos. Ao contrário, esta
atitude negativa e de descrédito das profissionais em relação às famílias,
parece agir no sentido de provocar uma atuação "paralisada" e
governada por um sistema de crenças que dita: "Famílias pobres nada fazem
para modificar sua condição de vida. Sendo assim, não há muito
o que fazer por elas...". Desta forma, ao que parece, se depender
destas trabalhadoras, a identidade destes grupos manter-se-á nos personagens da "desestrutura" e "desorganização", e a
qualidade de vida destas populações permanecerá inalterada...
Este artigo está no prelo e será publicado pela revista do programa
de Estudos Pós-Graduados de Psicologia da Educação da PUC/SP,
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BOUSSO, Regina S. (1999) Buscando preservar a integridade da unidade
familiar: a família vivendo a experiência de ter um filho na UTI pediátrica.
Tese de Doutorado não-publicada, Escola de Enfermagem, Universidade de São
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