EDUCAR O EDUCADOR
José Manuel Moran
Professor de Novas Tecnologias.
Um dos eixos das mudanças na
educação passa pela transformação da educação em um processo de comunicação
autêntica e aberta entre professores e alunos, principalmente, incluindo também
administradores, funcionários e a comunidade, principalmente os pais. Só vale a
pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo,
interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não
vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma
autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo
- os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não
aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos.
Com ou sem tecnologias
avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de
ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação
mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as
possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num
processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada
pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as
dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as
habilidades disponíveis do professor e do aluno.
Cada um de
nós professores/pais colabora com um pequeno espaço, uma pedra, na
construção dinâmica do "mosaico" sensorial-intelectual-emocional de
cada aluno. Ele vai organizando continuamente seu quadro referencial de
valores, idéias, atitudes, a partir de alguns eixos fundamentais comuns como a
liberdade, a cooperação, a integração pessoal.
Só podemos educar para a
autonomia, para a liberdade com autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais
urgentes é educar o educador/pai para uma nova relação no processo de ensinar e
aprender, mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da
cada aluno, das habilidades específicas de cada um.
É importante
termos educadores/pais com um amadurecimento intelectual, emocional e
comunicacional que facilite todo o processo de organizar a aprendizagem.
Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado
pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de
estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação.
Aprender a ensinar
Só podemos ensinar até onde
conseguimos aprender. E se temos tantas dificuldades em ensinar, entre outras
coisas, é porque aprendemos pouco até agora. Se admitíssemos nossa ignorância
quase total sobre tudo - tanto docentes como alunos - estaríamos mais abertos
para o novo, para aprender. Mas ao pensar que sabemos muito, limitamos nosso
foco, repetimos fórmulas, avançamos devagar.
Sabemos muito, mas não
sabemos o principal. Temos conhecimentos pontuais, mas nos falta o referencial
maior, o que dá sentido ao nosso viver. Por que e para que aprendemos? Quando
só temos objetivos utilitaristas - como conseguir um diploma, um emprego,
ganhar dinheiro - isso concentra nossos esforços, mas estreita nosso raio de
visão, de percepção.
Temos visões parciais, que
se constróem com dificuldade e estão inseridas numa dinâmica informativa
volátil. Se aceitamos isso profundamente e com
confiança, poderemos começar a procurar com menos ansiedade, a intercambiar
nossas pequenas descobertas, a estarmos mais atentos a tudo, a não acreditar em
verdades dogmáticas, simplistas. Perceberemos que a realidade é muito mais
complexa do que as explicações científicas e que, ao mesmo tempo, iremos
apoiando-nos na ciência para avançar a partir dela sem cair em explicações sem
consistência.
Ensinar não é só falar, mas
comunicar-se com credibilidade. É falar de algo que conhecemos intelectual e
vivencialmente e que, pela interação autêntica, contribua para que os outros e
nós mesmos avancemos no grau de compreensão do que existe.
Ensinaremos melhor se
mantivermos uma atitude inquieta, humilde e confiante com a
vida, com os outros e conosco, tentando sempre aprender, comunicar e
praticar o que percebemos até onde nos for possível em cada momento. Isso nos
dará muita credibilidade, uma das condições fundamentais para que o ensino
aconteça. Se inspirarmos credibilidade, poderemos ensinar de forma mais fácil e
abrangente. A credibilidade depende de continuar mantendo a atitude honesta e
autêntica de investigação e de comunicação, algo não muito fácil numa sociedade
ansiosa por novidades e onde há formas de comunicação dominadas pelo marketing,
mais do que pela autenticidade.
Só pessoas livres - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem educar livremente. Só pessoas livres merecem o diploma de educadoras. Necessitamos de muitas pessoas livres na educação que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino. Só pessoas autônomas, livres podem transformar a sociedade.