Jornalista, doutoranda
em Comunicação.
Resumo:
A discriminação racial vigente na sociedade influencia a construção das identidades
jovem e étnica, afetando ainda as relações de gênero. Na chamada sociedade
global, percebe-se o aumento dos conflitos sociais, marcados principalmente
pela desigualdade das oportunidades. Somente através da percepção das
diferenças é que se pode construir a igualdade. O objetivo do presente artigo é
tratar os temas Sexualidade e Drogas, concomitantemente a um terceiro tema, a
Cidadania, através da tomada de consciência dos direitos e deveres individuais
que afetam a coletividade. O público-alvo foi alunos dos Cursos
Pré-Vestibulares direcionados à população de baixa renda, prioritariamente
negra, interessada em estudar na USA. Foram selecionados os alunos de ambos os
sexos interessados em participar do Projeto JUVENTUDE INTERATIVA. Eles atuaram
como agentes multiplicadores de informação junto a outros jovens que terão a
chance de vir a conhecer o Projeto. O núcleo temático das aulas, oficinas e
produção de textos priorizou a construção positiva das identidades jovem e
étnica, calcada no conhecimento da cosmovisão africana sobre a sexualidade, o
corpo, a fertilidade, além das noções básicas sobre saúde, beleza, auto-estima,
prazer, equilíbrio físico e mental.
Palavras-Chave: Juventude negra; Multiplicadores de
cidadania; Prevenção; Vulnerabilidade.
“A cidadania é mutilada na educação...
Quem por acaso passeou ou permaneceu na maior universidade deste país, a USP,
não tem nenhuma dúvida de que ela não é uma universidade para negros. E na
saúde também - a cidadania é igualmente mutilada - já que tratar de saúde num
país em que a medicina é elitista e os médicos se comportam como elitistas,
supõe freqüentemente o apelo às relações, aquele telefone que distingue os
brasileiros entre os que têm e os que não têm a quem pedir um pistolão”.
(MILTON SANTOS)
Este artigo narra algumas constatações
feitas durante a realização do Projeto JUVENTUDE INTERATIVA (1997-1999) (1),
direcionado à formação de jovens negros(as), agentes multiplicadores(as) de
cidadania e informação à prevenção ao uso de drogas, à contaminação pela AIDS e
demais Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).
A juventude negra vem sendo
historicamente visibilizada em espaços permitidos, como a marginalidade das
ruas e das instituições de “menores", na servidão dos postos do subemprego
e da informalidade, no entretenimento como "artistas" da música ou do
esporte - fato este que tem servido como paradigma de ascensão social às demais
crianças e jovens pobres da periferia.
Nos Estados Unidos, país que emprega a
classificação étnica-racial nos dados populacionais, estudos (2) sobre
saúde comprovam que as pessoas negras, com o mesmo nível salarial das brancas,
apresentam piores condições de saúde. (BARBOSA: 1998, p.35)
No Brasil, o racismo também afeta
objetivamente as condições de vida da população negra e do perfil de
morbi-morbidade desse segmento. “As explicações socioeconômicas para as
disparidades nos perfis de morbi-mortalidade entre negros e brancos, não
dimensionam as diferenças de grau e intensidade do que venha a ser pobre e
negro em sociedades históricas estruturadas pelo racismo.” (Idem)
Como ignorar um problema que
historicamente perpassa as relações sociais, econômicas e culturais deste país?
O JUVENTUDE INTERATIVA nasceu das
reflexões sobre as relações sócio-raciais travadas na sociedade brasileira, que
afetam objetiva e subjetivamente a saúde física e mental das pessoas.
Disparidades sócio-econômicas, discriminação no acesso ao mercado de trabalho,
estereotipias nos meios comunicacionais, são alguns dados que demonstram a
urgência na proposição de trabalhos que contemplem a questão étnica-racial como
viés analítico, assim como se faz com os conceitos classe e gênero.
O olhar pessoal de pesquisadora tem
definido nas pesquisas e/ou intervenções desenvolvidas por mim, quem compõe a
juventude negra: "jovens de ambos os sexos, inseridos nas categorias de
classificação racial - preto e pardo - (adotadas no Brasil pelo IBGE) e que se
enquadram no período etário de transição à vida adulta". (MALACHIAS, 1996)
(3).
Admito um certo receio metodológico dessa postura, porém tento sustentá-la teoricamente a partir do que escrevem PIZA & ROSEMBERG (1995, p.3-4) que entendem por autoclassificação tanto as escolhas de cor feitas pelos indivíduos entrevistados no rol das cores existentes no vocabulário racial brasileiro quanto no vocabulário utilizado pelos censos. Por hetero-classificação, entendem a atribuição de cor ou raça realizada, pelo conjunto da sociedade brasileira, aos descendentes de pretos, pardos, índios e brancos em que um componente racial ou de cor vem associado a posições sociais simbólicas e/ou concretas.
As autoras explicam ainda que, “apesar do
procedimento do censo ser o de assumir a cor explicitada pelo entrevistado como
cor auto-atribuída, as cores escolhidas fora do grupo de cor utilizado pelos
censos fazem parte do conjunto de cores sugeridas nos processos de integração
social entre grupos racialmente diferentes, onde auto e hetero-classificação se
mesclam”.
Por ser e me autoclassificar negra,
durante uma pesquisa por mim realizada em 1994 e 1995 (4),
automaticamente selecionava com prioridade os jovens fenotipicamente negros,
porque esta atitude facilitava o trabalho de coleta numérica significativa dos
freqüentadores dos espaços sociais de lazer definidos. Isto seria mais difícil,
se utilizasse uma classificação genotípica (que não é visível). Porém, minha
opção trouxe-me surpresas particularmente agradáveis (e outras nem tanto),
quando, em algumas ocasiões, durante a aplicação dos questionários, jovens
aparente e fenotipicamente identificáveis como 'brancos' (no Brasil) pediam
para ser entrevistados. Autodenominavam-se "pretos", às vezes
explicando em seguida serem descendentes diretos de negros (mãe, pai ou avós).
Houve também poucos que, inegavelmente pretos, autodefiniam-se
"pardos" (5).
O debate sobre o conceito de
"identidade" avança significativamente nas décadas de 80 e 90 como
uma nova expressão de resistência ao racismo brasileiro, pela perspectiva das
ciências sociais. Todavia, o que também consideramos significativo no período é
o aumento de estudos produzidos por e sobre negros. O olhar do
pesquisador sobre a sua própria realidade propicia críticas enriquecedoras ao
debate metodológico, além de ampliar a discussão do que é ser negro numa
sociedade excludente.
Vejamos o que escrevem alguns autores:
ROLAND (1999, p. 18) faz uma pergunta
interessante: por quê será que no Brasil os brasileiros inventaram mais de cem
termos para descrever a característica racial das pessoas? - E responde: - Acho
que essa diversidade de palavras, ao invés de ser um indício de que é algo
intratável, de que é algo que não pode ser captado por políticas públicas, é,
pelo contrário, um indício da importância dessa questão e da necessidade de
políticas públicas que realmente possam promover a igualdade racial em nosso
país.
LOPES (1987, p.38-39) conceitua a
identidade como "a construção que cada um faz de si mesmo como
pessoa".
SOUZA (1983, p. 77-78) considera a
construção de uma identidade negra "tarefa eminentemente política",
que exigiria imprescindivelmente "a contestação do modelo advindo das
figuras primeiras" aprendidas com os pais ou substitutos e que ensinara
"a ser uma caricatura do branco". A autora exibe sua condição de
negra para propor a construção de uma “nova” identidade "gerada a partir
da voz de negros (...) fundada, portanto, em seus interesses, transformadora da
História - individual, coletiva, social e psicológica".
TEODORO (1987, p.47-48) ao escrever sobre
identidade, cultura e educação ressalta:
(...) nós negros, nos reconhecemos
primeiro no discurso do branco, e só quando percebemos o modo como tal sistema
nos exclui é que dizemos não a ele e iniciamos o conhecimento de nós mesmos, de
nosso próprio ponto de vista.
A exclusão começaria com a linguagem
expressa pelos sentidos - audição, visão e ainda pela escrita e fala
estabelecendo nossa visão de mundo e do existir.
Daí resulta a exteriorização do pacto
semântico, isto é, a maneira pela qual nos identificamos ou não com os valores
culturais humanos (...) Daí, uma certa normalidade que consiste na aberração de
um indivíduo ter preconceitos negativos contra si mesmo ou contra seu grupo
étnico; é que, antes de mais tudo, ele é um ser humano dentro do mesmo processo
cultural do seu opressor. Ele participa do mesmo pacto semântico, até que se
instale nele o espírito crítico e a necessidade de re-identificação.
SOUZA (1983, p. 77-78) discorda da idéia
sobre o negro não aceitar a sua identidade. É que, no Brasil, nascer com a pele
preta e/ou outros caracteres do tipo negróide e compartilhar de uma mesma
história de desenraizamento, escravidão e discriminação racial, não organiza,
por si só, uma identidade negra.
Com este pensamento elabora o conceito
sobre o "ser negro", ou seja, a tomada de posse desta consciência
para a criação de uma nova, que reassegure o respeito às diferenças. Assim, ser
negro não é uma condição dada, a priori, é um vira ser. Ser negro é
tornar-se negro.
Outro autor que discorre sobre a
identidade (étnica e cultural) do 'ser negro' é BIKO, (1990, p.65/66), que ao
elaborar o conceito de "Consciência Negra" (utilizado na luta contra
o apartheid sul-africano, extinto oficialmente no início dos anos 90) une a
subjetividade de sua crença espiritual em Deus à objetividade da urgência
participativa dos negros na luta para a transformação das estruturas da
sociedade.
"(...) numa breve definição, a
Consciência Negra procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração
do 'normal', que é ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que,
ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a
inteligência de quem os criou negros. Portanto, a Consciência Negra toma
conhecimento de que o plano de Deus deliberadamente criou o negro, negro. Procura
infundir na comunidade negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços,
seus sistemas de valores, sua cultura, sua religião e sua maneira de ver a
vida".
Aproximando Teodoro, Biko e Santos,
diríamos que a participação no pacto semântico ou a 'venda de sua alma ao
branco' ocorreria até o momento em que assume a sua 'consciência negra' ou
ainda até 'tornar-se negro'.
O Projeto JUVENTUDE INTERATIVA tenta
também construir um discurso calcado na conscientização e exercício dos
direitos e deveres de cidadania para fortalecer nos jovens a vontade de
continuar vivendo. A saúde, nessa perspectiva, é um dos componentes da condição
cidadã vislumbrada pelos multiplicadores, que na sua maioria são moças e
rapazes oriundos da periferia de São Paulo, afro-brasileiros de pele negra e de
outros matizes mais claros, que têm em comum a experiência como alunos de
cursos pré-vestibulares direcionados à população negra de baixa renda.
Esses jovens têm sonhos, querem ingressar
numa universidade pública, estudar e ter uma profissão. Também têm em comum a
consciência da origem africana, vendo-a com positividade, ao contrário do que
acontece com muitas pessoas negras, que internalizam o racismo e por isso
sentem vergonha do passado de escravidão.
Por exemplo, a juventude negra da
periferia de São Paulo mobilizada em torno do Rap (Rhythm and Poetry/Ritmo e
Poesia) elabora transculturalmente um discurso marcado pela constatação de sua
realidade: desemprego, analfabetismo, miséria, e outras facetas do racismo sui generis do país. O estilo musical
fortemente inspirado nos rappers
norte-americanos mostra-se ideal para passar mensagens 'revolucionárias' (6).
A concepção de um discurso sobre saúde
pública que contemple a cidadania, no atual contexto político econômico
neoliberal e globalizante é, sem dúvida, um paradoxo. SANTOS (1996/97) alerta
que na saúde também - a cidadania é igualmente mutilada - já que tratar de
saúde num país em que a medicina é elitista e os médicos se comportam como
elitistas, supõe freqüentemente o apelo às relações, aquele telefone que
distingue os brasileiros entre os que têm e os que não têm a quem pedir um
pistolão.
O acesso aos equipamentos públicos de
saúde obriga ainda aos usuários, a capacidade de decodificar informações nem
sempre precisas. A burocracia afasta os que não são alfabetizados ou os empurra
para as filas enormes, nem sempre imprescindíveis. Essas dificuldades
demonstram que as pessoas capazes de pedir e processar as informações já se
diferenciam muito das que mal balbuciam uma
palavra, apenas esperam.
Quando a desigualdade é tanta que ter
AIDS torna-se apenas um problema a mais dentre os já vivenciados, a mudança de
postura no que se refere às práticas preventivas deve ser obrigatória. Repetir
decoradamente fórmulas de como se pega ou não se pega AIDS, alertar para a
importância do uso do preservativo nas relações sexuais e divulgar os endereços
dos postos e centros de referência mais próximos, não altera a exposição aos
riscos.
Todavia, quando viver vale a pena, porque
é uma experiência nova a cada dia, quando se tem sonhos e objetivos, quando a
luta pelo respeito aos nossos direitos se mostra concomitante à assunção das
nossas responsabilidades para com a sociedade e para com o nosso corpo, a
vulnerabilidade se deteriora e a exposição aos riscos, sempre possível de
acontecer, nos remete imediatamente à reflexão e à escolha certa, manter-se com
saúde.
O racismo vem sendo combatido pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948 e também por legislações
específicas de diferentes países através de ações individuais e coletivas.
Todavia, sobrevive nas práticas legitimadas (e nem sempre conscientes) dos
indivíduos e das estruturas de poder que, contraditoriamente, adoram o discurso
da igualdade.
Para o geógrafo Milton Santos, o Brasil,
ao longo de sua história, vem assumindo uma subordinação à economia, calcada no
regime escravista de expropriação. Valoriza-se os que têm em detrimento dos que
são. Vale mais ter do que ser e quem tem é uma minoria, que acessa privilégios
confundindo-os com direitos.
Embora o Brasil não assuma o racismo como
prática legitimada no país, dados oficiais sobre a condição de vida da
população indicam a vulnerabilidade dos negros, tal qual ocorre nos países onde
o racismo sempre foi assumido, reconhecido e legislado (7) pelo governo
como os Estados Unidos e a África do Sul. (BARBOSA, 1998).
Nos centros urbanos, os jovens ocupam
espaços geográficos definidos não somente por questões sócio-econômicas, mas
principalmente por identidades culturais. São as gangues, galeras e grupos de
orientação diversificada: musical, esportiva (torcidas de futebol), violenta,
racista, étnica, religiosa, etc. (SPÓSITO, 1994). A rua toma-se palco de novas
manifestações de socialização, sociabilidade e violência. Cresce o número de
moradores de rua, muitos deles, meninos e meninas.
Estar na cidade, fazer parte dela
representaria a idéia de cidadão, se a noção de cidadania também não implicasse
o acesso aos direitos e deveres individuais e coletivos. Como conceber
igualdade numa sociedade fundamentada na escravidão, e que ao longo de sua
história concentrará suas riquezas nas mãos de uma elite minoritária, branca,
em detrimento de uma massa jogada na miserabilidade?
Talvez uma das possibilidades seja a
constatação da desigualdade seguida de propostas alternativas que insiram os
excluídos. Inserir significa também dar voz àqueles que não falam; expor o que
está implícito, tocar na ferida, sentir sua dor e cauterizá-la. Perceber a
cicatriz, não escondê-la, mas orgulhar-se dela, como um sinal que assume o
passado, vivencia o presente e acredita nas perspectivas do futuro.
Por essa razão, os estudos que contemplam
a questão étnica e racial são um indicativo à busca de soluções às desigualdades;
e quando são produzidos sobre e por negros tornam-se ainda um
exercício metodológico, porque impõem aos seus propositores, uma vigilância
constante do uso do discursa científico e não militante; não dogmático, porém,
abertamente compromissado (FALS BORDA, 1988) com a transformação da história.
Alunos e ex-alunos de cursos
pré-vestibulares direcionados à população de baixa renda, preferencialmente
negra, participaram (e participam) do Projeto JUVENTUDE INTERATIVA. Essa
juventude reside em diferentes e afastados bairros da cidade, sonha com a
possibilidade de ingressar na USP ou em qualquer outra universidade de alto
nível. É este sonho que diferencia esses rapazes e moças daqueles que apenas
almejam o 'espaço permitido', limitado pela crença de que as pessoas têm os
seus lugares, "o lugar de negro". Lugar estereotipado pela
marginalidade ou exaltado pelo lúdico, o entretenimento musical, futebolístico,
e praticamente inacessível à grande maioria dos jovens pobres.
Em comum, tem a história ancestral de
apresamento, resistência, expropriação. Graças à obrigatoriedade da disciplina
Cidadania (8), e também à identidade étnica fortalecida no espaço da
sala de aula, onde pela primeira vez são maioria, vêem-se como cidadãos com
direitos e deveres. Querem fazer parte da sociedade que os exclui e para isso
lutam pela aquisição do que deveria ser básico: a educação.
São estes jovens que compõe o JUVENTUDE
INTERATIVA, porque eles são multiplicadores natos. Em geral conquistam o
respeito da família, porque atingiram o maior nível de escolaridade do grupo
(embora ela ocorra tardiamente comparada ao aluno branco, que concluí o ensino
básico e o médio antes do negro). Estes jovens são respeitados no bairro. Há
relatos de alunos que frente a uma abordagem de um possível assaltante foi
protegido por outros jovens, que os identificaram. "Os caras da rua sabem
que estamos vindo do cursinho e não deixam ninguém mexer com a gente” - explica
um aluno residente na periferia.
Por terem um sonho - que necessariamente
não é estimulado por drogas lícitas ou ilícitas - eles já se diferenciam de um
contingente juvenil excluído desse novo milênio. Muitos têm em seu breve
currículo etário - de 18 a 24 anos de vida em média - experiências concretas e
violentas de discriminação racial: na procura de emprego, na volta para casa
depois de uma festa interrompida pela abordagem policial, nas brigas ocorridas
na escola com colegas e até no relacionamento com professores que expressaram
seu preconceito.
Logicamente nem todos conseguem passar na
Fuvest, todavia o processo que vivenciaram, estudo, debates, auxilia a
construção de uma identidade cidadã, que não restringe mais a mobilização dessa
juventude na cidade. A mobilização referida não é solvente a geográfica, mas
sim a que os faz 'conquistar a cidade, o urbano’, apropriando-se dos espaços culturais antes
ignorados; alterando a sua relação com os equipamentos públicos, que passam a
ser reivindicados para eventos por eles organizados. A USP deixa de ser um
lugar inatingível e se torna um local para a população adquirir conhecimento,
informação, além de usufruir de seus serviços oferecidos à comunidade. Os
Postos de Saúde, os Centros de Referência, passam a ser freqüentados para a
solicitação do preservativo, para a orientação sexual e demais serviços.
Os jovens que chegaram no curso
pré-vestibular olhando para o chão, tomam consciência do seu lugar no mundo e
tal como definiu Biko, erguem a cabeça em desafio aos discriminadores.
Tornam-se referência àqueles que vivem em condições tão ruins, que nem se
importam com a contaminação da AIDS e outras DSTs.
Nas dinâmicas desenvolvidas no Projeto
JUVENTUDE INTERATIVA falamos de história, arte, saúde, sexualidade, gênero,
racismo, cidadania, trabalho, drogas, família e outros temas, objetivando o
nosso fortalecimento enquanto indivíduos que buscam laços de solidariedade nas
relações sociais travadas no coletivo.
Relato - Cidadania Contra o Racismo
Dois outros Projetos, denominados
respectivamente Anexo I do JUVENTUDE INTERATIVA e Anexo II, foram elaborados
para mim, após os encontros de Consultoria com a Educadora de Saúde Pública Ana
Maria Souza, do CRT AIDS - do bairro Saúde e assistente social do Hospital do
Servidor Público do Estado de São Paulo. A escolha de Ana tem a ver com a sua
história. Filha de mãe branca e pai negro, sempre se identificou como negra,
apesar de sua pele clara. A identidade étnica frisada por ela resultou de seus
estudos sobre o Movimento Negro na sua pós-graduação na PUC/SP, nos anos 80. As
dificuldades iniciais para a ascensão no mercado de trabalho também a fizeram
perceber que a cor da pele de uma pessoa pode, no Brasil, determinar as suas
chances.
Há mais de 12 anos trabalhando com
educação e saúde pública, Ana Maria, ao ler o Projeto original da JUVENTUDE
INTERATIVA, compreendeu que, além do trabalho específico da prevenção teríamos
o desafio de tentar intervenções direcionadas à cidadania e a etnicidade.
Apesar de sua experiência também como membro de uma entidade do movimento negro
(9), afirmou não saber como proceder e me sugeriu um
desdobramento, ou seja, a releitura do Projeto original priorizando os
objetivos. Discutimos os passos a serem tomados com o cuidado de escolher os
verbos que realmente indicassem as ações esperadas. O mesmo foi feito na
redação do Projeto para a Produção do Material informativo.
Na verdade, Ana ministrou-me dois exercícios redacionais, e eu mudei meu papel de professora de Redação para aluna. Foi difícil reduzir as idéias iniciais a passos concretos, factíveis de serem realizados. Ambos projetos têm praticamente a mesma justificativa, diferem nos objetivos gerais e específicos.
O treinamento aconteceu nos meses de
abril e maio de 1999, embora as turmas (10) de 1997 e 1998 tenham
participado de dinâmicas regulares que aliavam a prática redacional com
exercícios de observação e abstração. Os relatórios dos grupos e os textos
individuais priorizavam temas como cidadania, amor, sexo, prevenção, drogas,
violência, mídia...
Nem todos os alunos que deram seu nome
puderam participar do treinamento e as razões eram mais do que justificáveis.
Duas alunas comprometidas com as oficinas (Kamila e Débora) ingressaram na
UNESP - Universidade Estadual Paulista, no interior de São Paulo,
respectivamente nas cidades de Franca e Presidente Prudente e tiveram que se
mudar para lá. Confesso que ao "perdê-las” senti um pouco de tristeza,
porém, ao ver duas novas alunas negras ingressando na universidade pública, a
alegria foi bem maior.
Alunos multiplicadores – primeira turma:
1. Flaviane Aparecida da Silva, 21 anos;
2. Jone Geraldo Ferreira, 30 anos;
3. Kátia Regina da Silva, 22 anos;
4. Leandro Santos, 22 anos;
5. Marcos Silva Freitas, 21 anos;
6. Rachei Quintiliano, 21 anos;
7. Robson Leite Brasil, 23 anos;
8. Rosangela de Oliveira Santos, 21 anos.
O uso da primeira pessoa faz-se
necessário neste breve relato.
Coube a mim, coordenar as atividades mais
específicas sobre cidadania e etnicidade e este desafio foi explicitado aos
alunos. Eles sabem quais são os objetivos da JUVENTUDE INTERATIVA e como negros, vivenciam o
racismo, podem percebê-lo, assim como reconhecem a dificuldade que muitos
negros têm na sua afirmação identitária. Estas coisas são freqüentemente
debatidas por eles.
Soluções? Quem as tem? Resolvemos
procurá-las, com a consciência de que podemos estar repetindo fórmulas já
usadas, todavia, o reconhecimento e a visibilidade de nossa preocupação, já a
diferencia das abordagens que sequer admitem a possibilidade da diferença
étnica-racial ser um fator de vulnerabilidade relevante, que deve ser
considerado nos trabalhos de prevenção.
Assim, Leandro, Jone, Rachel, Flaviane,
Marcos, Kátia, Rosangela Oliveira, Marcelo e eu, seguimos para o Parque da Luz.
Na entrada, propus ao grupo (éramos nove pessoas, um dos alunos trabalhava
naquela manhã e não pôde ir) que nos dividíssimos em três grupos e entrássemos
no parque para um passeio silencioso. Deveríamos observar tudo, em especial, os
rostos das pessoas que ali estavam e imaginar uma história para cada um delas.
Este passeio duraria 15 minutos e marcamos um ponto de encontro, no alto de um
monte, no centro do parque.
Quinze minutos depois estávamos lá, os
nove, e fizemos um círculo para trocar nossas impressões. Antes, porém, fizemos
uma dinâmica de apresentação, trocando os pares e conversando sobre nossa vida
e nossos sonhos. Apesar de já nos conhecermos, um apresentou o outro e todos se
impressionaram com o "sonho" de Leandro, (que foi lembrado depois, em
outras ocasiões) - "Ter uma vida digna”.
Rachel, que apresentou Leandro explicou:
"para ele, ter uma vida digna significa ter onde morar, onde dormir, o que
comer, estudar, ter trabalho, e condições de viver com dignidade, coisas que
estas pessoas aqui não têm".
Apesar do abandono, o Parque da Luz mostrava ainda sinais de um passado glorioso, com coretos, estátuas e fontes. Dentre os visitantes, observamos que algumas mulheres eram "prostitutas pobres" e que usavam o parque para seus programas. Leandro disse que eram pessoas "que ninguém quer", isto porque eram na maioria “moradores de rua, velhos e prostitutas”. Marcelo percebeu que as pessoas olhavam para ele e seus dois colegas com surpresa, talvez porque comparados aos dentais "estavam bem vestidos". Marcos notou alguns homens lavando roupa no lago. "Eles devem morar aqui. Rosangela Oliveira supôs que fossem imigrantes nordestinos e eu senti a falta de crianças, que em geral lotam os parques nos finais de semana".
Sugeri depois que saíssemos em direção a
outro lugar ali perto. Fomos à Pinacoteca, conhecida apenas por mim e por
Rachel. Para os demais, era a primeira visita a um museu. Marcelo Dias,
desenhista, quase "pirou" quando entrou no prédio e começou a ver
todas as telas do acervo, perguntou-me se um dia poderia ver seus desenhos num
museu e eu disse que isto dependeria dele e da sua dedicação à arte. O grupo se
espalhou pelo prédio imenso e foi engraçado ver os meninos brincando de
"esconde-esconde''com os seguranças. "É que eles não saem do nosso
pé", disse Marcos.
Rachel chamou a todos para a sacada e
disse: "olhem o Parque da Luz, daqui ele fica mais bonito, nem parece que
está abandonado". Jone não deixou por menos, comparou os rostos das
pessoas que estavam no museu (muito cheio, àquela hora da manhã, 11h, mais ou
menos) com as que estavam no Parque, lembrando que não caminhamos mais de 200
metros.
Kátia disse que sempre pegou o trem e
nunca havia entrado no Parque, nem na Pinacoteca. Como é possível estar numa
cidade e não olhar para ela?
Meses depois retomamos ao parque da Luz,
o JUVENTUDE INTERATIVA na sua fase final - ou melhor - inicial. O fim do
patrocínio MacArthur representa a vida própria que o Projeto ganha, caminhando
com os pés dos jovens negros partícipes.
Voltar àquele parque deu ânimo aos
alunos. O abandono foi substituído por um trabalho restaurador, que deu vida
nova ao lugar. Há agora, muitas flores nos jardins antes abandonados. Turistas
argentinos e japoneses tiram fotografias substituindo os mendigos e moradores
de rua que antes ocupavam o espaço. O portão de acesso à Pinacoteca do Estado -
imaginem - estava aberto e o público, circulava livremente de um lugar para o
outro.
"As pessoas que ninguém quer” já não
fazem parte do novo Jardim da Luz. Ficamos felizes com tanta beleza, valorizada
ainda mais com as esculturas de artistas internacionais famosos, espalhadas
pelo parque, dando brilho e estranheza às alamedas antes desertas.
Associamos o novo parque ao nosso novo
momento. Afinal, o JUVENTUDE INTERATIVA também se modifica. Seria um sinal de
bom augúrio? Sim, se pensarmos positivamente e contabilizamos os resultados:
1) o projeto ganhou sede própria;
2) os jovens saem pela cidade e interior
do estado ministrando oficinas;
3) parcerias são estabelecidas
propiciando novos caminhos de atuação: Instituto do Negro Padre Batista, Fala
Preta Organização de Mulheres Negras, Estação Ciência/USA; Grupo Luz e
Esperança da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), Fundação
Cultural Palmares.
"As pessoas que ninguém quer"
não deixaram de existir. Cientes de seu direito à vida, tomando nas mãos o seu
destino, terão condições de superar a vulnerabilidade que os cerca, de
reivindicar e lutar por uma vida digna, com saúde, moradia, escola, trabalho,
lazer...
A saúde física e mental da população
negra foi histórica e dialeticamente afetada pela sua condição de vida. Com o
passar dos séculos, a violência da escravidão deu lugar às práticas racistas e
discriminatórias.
Embora haja bibliografia abundante sobre
escravidão no Brasil, nem sempre quando se fala do assunto menciona-se a idade
dos homens e mulheres inseridos nesta condição. MORENO FRAGINALS (1977,
p.16-19) ao contrário, faz um inventário preciso do sistema escravista analisando
diversos aspectos levados em consideração pelo tráfico negreiro para a
normatização do trabalho nas plantações cubanas, nas demais colônias caribenhas
e latino-americanas. O autor inclui a faixa etária dos homens e mulheres
traficados para nosso continente evidenciando a lógica econômica da
expropriação.
A juventude era um fator fundamental para
o tráfico negreiro, pois representava longividade para o trabalho e
conseqüentemente lucro para os compradores. Entenda-se longividade como um
período muito curto, pois o excesso de trabalho, em média de 18 horas diárias
(Idem, p. 18), e os maus tratos - que se iniciavam no apresamento e embarque
nos navios negreiros - causavam elevados índices de mortalidade dos
escravizados.
Até princípios do século XIX, os jovens
de 15 a 20 anos de idade eram os mais cobiçados pelos negociantes e a partir de
1830, inicia-se o tráfico maciço de crianças com idade entre 9 a 12 anos. As
idades eram fixadas aproximadamente pela aparência dos jovens, logo, uma
técnica passível de erro, Todavia, Moreno Fraginals comenta a experiência dos
traficantes com redutora dessa margem principalmente porque faziam descrições
detalhadas da aparência física dos africanos e africanas levados ao mercado.
O fato de o continente Africano reunir uma
multiplicidade de grupos étnicos com idiomas, religiões, e demais manifestações
culturais diversificadas foi utilizado como “ferramenta" ao processo
expropriatório. Estos
africanos provenían de culturas cimentadas en la tradición oral donde el saber,
es decir, la formación integral, era privilegio de los mas viejos y,
específicamente, de los ancianos. (MORENO
FRAGINALS, 1997, p.18).
A lógica do sistema favoreceu a
interrupção do processo de socialização dos jovens africanos pertencentes a
diferentes grupos étnicos, pois ao priorizar o tráfico exclusivo dos mais
jovens, importava-se para as colônias os "menos cultos" no sentido da
"acumulação do saber" e da tradição africana, transmitida oralmente
aos mais jovens pelos anciãos dos
grupos. Facilitava-se a imposição de novos padrões culturais aos adolescentes,
que acabavam vivendo mais tempo fora da África, distantes de uma socialização
tradicional ao seu grupo de origem e, portanto, mais propícios à adaptação que
a sublevação.
A diversidade étnica favorecia, portanto,
muito mais o conflito entre os escravizados que a sua união. Obstaculizava-se
assim, a formação de uma consciência de classe frente à exploração comum,
fomentando em seu lugar a constituição de grupos excludentes (11). À
diferença interétnica somar-se-iam outras formas de distinção entre negros
africanos e crioulos (12); entre negros e mulatos, mamelucos, caboclos e
outras designações dadas aos frutos da miscigenação.
Ao refletirmos sobre esses fatos
constatamos que para aquela massa negra, a principio, a cor da epiderme não era
o fato mais importante, que a pudesse unir e organizar. A solidariedade e a
resistência nasciam muito mais da identidade étnica-cultural (língua, religião,
crenças) e logicamente da própria condição de aprisionamento.
Do ponto de vista dos colonizadores, a
cor também era um detalhe, pois a literatura indica que os escravizados eram
comumente identificados pela sua etnia (Mina, Angola, Bantu...) comprovando que
os negros não foram escravizados porque eram negros, (MUNANGA, 1986) e sim
porque nascia um sistema de dominação e enriquecimento calcado na exploração de
outros povos. Todavia, a hierarquização imposta na divisão social do trabalho
relegará aos portadores de tons epidêmicos escuros, os postos mais baixos no
mercado de trabalho que começava a se configurar.
Durante 3,5 séculos, apresamento,
tortura, trabalho compulsório, perda da identidade, violência, foram os
instrumentos utilizados para a perpetuação do sistema. Em contra-partida, os
negros e descendentes expressaram a sua resistência cotidiana nas manifestações
transculturais.
A abolição tardia (13)
da escravidão no Brasil obriga o enfrentamento de uma nova realidade: como
incorporar a imensa população negra à sociedade nacional?
O tempo evidencia que esta questão ainda
não seria totalmente respondida, pois a mobilização negra, em especial nas
grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador retrata, no início do
século XX, a luta pela "integração" social efetivada na denúncia do
preconceito e do racismo.
Nos anos 60 e 70, os movimentos negros
recusam o mito da democracia racial brasileira e na década de 80, a
universidade evidencia científica e oficialmente os índices de exclusão
registrados no acesso ao sistema educacional e ao mercado de trabalho (IBGE).
Nos anos 90, aumenta a visibilidade de uma classe média negra com poder de
consumo reivindicando o empoderamento (enpowement)
da população negra, com políticas de ação afirmativa.
O discurso de saúde perpassa esses
momentos da história ganhando sonoridade nas reivindicações dos movimentos
sociais, em especial no das mulheres, que na luta feminista passam a construir
o conceito de gênero.
Dentro dessa luta, a diversidade
étnica também é exaltada, primeiro nos EUA, pelas woman of colour e posteriormente no Brasil, pelo movimento de
mulheres negras.
A luta das mulheres explícita a
necessidade do debate dos direitos individuais e coletivos à saúde reprodutiva,
à sexualidade e se torna referencial para os trabalhos futuros no campo da
prevenção com outros grupos sociais.
Notas:
(1) Patrocínio: Programa de População da Fundação MacArthur. Esta pesquisa de intervenção decorre de outra, teórica: MALACHIAS, Rosangela - Ação transcultural: a visibilidade da juventude negra nos bailes black de São Paulo (Brasil) e Havana (Cuba) - Dissertação de Mestrado – PROLAM/USP, outubro/1996.
(2) The Bureau of the Census, in BARBOSA, 1998,
p. 35.
(3) A Unesco (1980) admite a existência de juventudes, pois ser jovem nos países desenvolvidos é diferente de ser jovem nos países pobres, nos quais a exploração do trabalho infantil é comum. O Projeto JUVENTUDE INTERATIVA delimitou inicialmente os multiplicadores na faixa etária de 16 a 20 anos, a fim de envolver os pais no processo formativo. A realidade, entretanto, obrigou-nos a ampliação dessa faixa etária, pois os negros chegam tardiamente à escola, comparados com os brancos. Isto também reflete no público dos cursos pré-vestibulares.
(4) Dissertação de Mestrado - vide nota 1.
(5) Em Cuba, a maioria questionada identificou-se “negra”, embora tenham sido registradas autoclassificações na categoria “mulata”.
(6) O mundo rapper apropria-se de conceitos das ciências sociais como "revolução", "ideologia" adaptando-os a sua realidade. Ideologia, por exemplo, define os grupos de rap que denunciam as desigualdades sócio-econômicas.
(7) Racismo é crime inafiançável no Brasil, todavia, prová-lo e puni-lo na justiça constitui-se um esforço imenso dos denunciantes que encontram pela frente uma estrutura de poder que tenta, de todas as formas, desconfigurar o crime, transformando-o, por exemplo, em injúria, fiançável. Em 1994, o regime do Apartheid que legislava o racismo na África do Sul em detrimento da população negra foi abolido, o que não significa o seu fim. Nos EUA, a tradição de igualdade de direitos sobrevive, em alguns estados, com a prática da segregação. "Segregados, mas iguais"
(8) A maioria dos cursos pré-vestibulares para a população de baixa renda adota a disciplina Cidadania, que em geral é obrigatória. Nela são discutidos diferentes assuntos que propiciam o debate e a consciência dos problemas sociais do país.
(9) O NAÇÃO CERCAB (NC) é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1989 por um grupo de estudantes negros preocupados com a questão educacional e cultural. O NC promoveu diversos seminários e um Congresso Estadual, na Faculdade de Direito da USP.
(10) Refiro-me aos alunos do curso Pré-Vestibular NCN – Núcleo de Consciência Negra, localizado no campus da USP, que sediou o Projeto JUVENTUDE INTERATIVA durante um ano - 1997 a 1998. Em agosto de 98, o Projeto sai do NCN e passa a objetivar alunos dos diferentes cursos similares.
(11) Tradução livre do espanhol. Ver original MORENO FRAGINALS, 1977 p.18.
(12) Embora no Brasil, popularmente, a palavra crioulo possa designar pessoas da raça negra, neste caso, ela se refere à correta significação, ou seja, às pessoas nascidas na América Latina.
(13)
Tardia também em Cuba, ano 1886, em relação aos demais
países latino-americanos e caribenhos, a saber: "(...) Haiti (1790); Santo Domingo españoÍ (1801);
México (1829); Colômbia (1851); Uruguay (1853); Venezuela (1854); Perú (1855);
Argentina (1864); Cuba (1886) y, por último, en Brasil (1888). En las colônias
inglesas del Caribe la esclavitud dejó de existir en 1833; en las francesas, en
1848; y en EEUU, en 1863” (apud SERVIAT, 1986, p.56/57).
Fonte: MALACHIAS, R. Juventude Interativa:
Cidadania Contra o Racismo. Rev Bras. Cresc. Desenv. Hum., S. Paulo, 9(2), 1999.